Sendo Salvaterra do Extremo, devota de Santa Maria, tendo por padroeira Nossa Senhora da Conceição (tal como Portugal, desde D. João IV) e tendo sido Comenda da Ordem de Cristo, distribui ainda a sua devoção por Santa Luzia, Santo António e por Nossa Senhora da Consolação que, por obra da sua intersecção durante uma praga de gafanhotos se veio a transformar num símbolo agregador da diáspora salvaterrenha.
Essa devoção é visível nas capelas que lhes foram erigidas e que são:
Capela de Santa Luzia, localizada na rua de Santa Luzia, entre a rua da Corredoura e a Praça. A festa, em sua honra, é em Agosto, no fim de semana anterior ao dia 24. Porém, por estranho que pareça, o vigário de Salvaterra, Frei Sebastião Pires Moreira, em 17 de Maio de 1758, nas “Memórias Paroquiais” escreve que os espanhóis costumavam visitar esta capela no dia 13 de Dezembro. Qual o motivo, desconhece-se!
Capela de Santo António, localizada ao fundo da rua das Cruzes, no caminho da Deveza. Chama-se rua das Cruzes porque era onde estavam colocadas as 3 cruzes (o Calvário) que daí foram retiradas e transferidas, em 1895, para junto do Cemitério Novo, então construído por iniciativa de João Henriques de Carvalho, benemérito salvaterrenho!
A sua festa, embora neste momento me pareça sem especial significado, é em Junho, no dia 13, como é natural!
Esta ermida é bem antiga, sendo já referida em Outubro de 1695, onde se lhe mandam fazer mordomos para que tratassem da manutenção e decoro da ermida, bem como da festa anual em louvor do santo.
Capela de Nossa Srª da Consolação, erguida em 1905, na Deveza, onde outrora existiu a capela de Santo Amaro e, mais tarde, a Capela do Senhor de Pedra.
É aqui que, todos os anos (desde 1905), se faz um Bodo em honra da padroeira em virtude de promessa antiga por via da intersecção de Nossa Senhora da Consolação durante uma praga de gafanhotos que assolou estas terras, pelos anos 80 do século XIX segundo alguns autores, muito embora a devoção a Nossa Senhora da Consolação seja de origem bastante mais remota. Pensa-se que remonte ao século XVI (em Salvaterra, mas no lugar de Monfortinho).
Enquanto a Igreja Matriz, é de suposta construção no séc. XV, pode ver-se nos desenhos de Duarte d’Armas que estas capelas não parecem estar aí representadas, pelo que deverão ter sido construídas no séc. XVI ou XVII, uma vez que a igreja da Misericórdia se supõe da primeira metade, ou do princípio, do séc. XVI. Talvez a de Santa Luzia, por estar dentro dos muros da vila, tenha sido anterior mas as de Santo António e de Santo Amaro serão, porventura, mais tardias. Por isso, talvez fins do séc. XVI ou já no séc. XVII.
Ainda nas “Memórias Paroquiais”, escreve o vigário de Salvaterra, Frei Sebastião Pires Moreira, que:
“Dentro do castelo … há uma capela chamada de S. Benedito sem ornato”…
“Há mais fora dos muros três capelas arruinadas, de sorte que de uma só há vestígios, e das duas ainda se conservam as paredes, e estas se chamam S. Pedro e S. Domingos, e aquela de S. João”.
Da de São Pedro, junto ao que resta do Cemitério Velho (Cemitério de São Pedro), ainda hoje se podem ver as ruínas.
A de São Domingos, consta que se localizasse no Couto, onde se diz haveria um convento e existe a ribeira de S. Domingos.
A de São João, seria no local onde hoje é o Poço de São João.
Nota: As fotos não são as que pretendia apresentar pois que algumas são referentes a momentos da vida pessoal e que nada representam no que concerne à importância do património apresentado. Porém, não tinha outras! Do facto as minhas desculpas.
Este blogue foi criado após insistência de muitas pessoas, amigas (assim as considero). Porém não vou utilizá-lo só para a promoção da minha terra, Salvaterra do Extremo, vila de 780 anos, situada (para que conste) no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, na província da Beira Baixa. Vou igualmente tentar diversificar os assuntos e trazer aqui alguns que são do meu interesse e espero que sejam do interesse de mais alguém. Mais um leitor que seja, já valeu a pena!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
Jóias de Salvaterra ( 4 ) - Igreja da Misericórdia
Tem, Santa Luzia e Santo António,
mais a Igreja da Misericórdia,
para afastar o Demónio
e o povo ter concórdia.
Em 1498 era fundada em Lisboa a primeira irmandade da Misericórdia, sob a égide da rainha D. Leonor, que tinha como objectivo prestar assistência a pobres e enfermos. O exemplo foi seguido por diversas localidades um pouco por todo o território continental, e nos 25 anos que se seguiram foram criadas cerca de 60 irmandades. Na vila de Salvaterra do Extremo, conhecida no início do século XVI como Salvaterra da Beira, a Misericórdia terá sido criada poucos anos depois da irmandade lisboeta, possivelmente no ano de 1505.
Terá sido, então, algum tempo depois de 1505 que a Misericórdia local deu início à construção da sua igreja no centro da vila e, num dos arruamentos laterais ao largo da igreja, foi edificado o hospital da irmandade, que prestava assistência aos enfermos do então concelho de Salvaterra da Beira, havendo comunicação entre este e a igreja pelo interior do quarteirão.
Este hospital, era administrado por um religioso de S. João de Deus a que se chamava prior do dito hospital, ajudado por outro religioso, custeando o Rei as despesas.
Em tempo de guerra era de grande serviço este hospital. Posteriormente, o hospital acabou por perder a sua importância quando o concelho de Salvaterra do Extremo foi extinto em 1855, o que possivelmente levou também à sua extinção.
A fachada principal da igreja apresenta-se simples e depurada de decoração, estando dividida em dois registos. Ao centro foi aberto um portal de volta perfeita com impostas salientes, ladeado por duas pilastras jónicas e enquadrado num alfiz coroado por dois pináculos. No enquadramento do portal, no segundo registo, uma janela de moldura em arco perfeito. A fachada é rematada em empena, coroada ao centro por cruz, tendo sido colocado no extremo esquerdo do remate uma sineira encimada por empena. Na fachada lateral esquerda está adossada uma construção, enquanto que a fachada lateral oposta possui janela no volume correspondente à sacristia, existindo aí uma porta de acesso ao coro-alto com moldura de volta perfeita e impostas salientes, que actualmente se encontra emparedada.
O interior do templo é de nave única, articulada com capela-mor e sacristia. Ao fundo possui coro-alto suportado por pilares toscanos assentes em plintos, ao qual se tem acesso por lanço de escadas do lado do Evangelho. Neste lado, perto dos altares colaterais, foi colocado o púlpito, de secção quadrada assente em pilar. Ao centro, arco triunfal em arco apontado ladeado por dois altares em madeira, elaborados no século XIX. A capela-mor é coberta por tecto de madeira tripartido, e possui retábulo de madeira pintada, com representação do Calvário, estando guardada neste espaço a bandeira da irmandade elaborada no século XVII.
Devido às guerras com os espanhóis muita da documentação existente foi destruída.
Sabe-se também que, até meados do séc. XX, havia sempre um caixão colocado, talvez ao fundo da igreja, para serviço de alguém falecido. Isto porque não havia muita gente com posses para mandar fazer urna para quando ocorresse o seu falecimento. As pessoas de fracos recursos, tentavam arranjar maneira de ter em casa, lençol e duas toalhas, para o dia em que se finassem. Após o serviço fúnebre, corpo lançado à terra, o caixão retornava à igreja.
Recentemente recuperada, reabriu ao culto no dia 13 de Setembro de 2003.
Colocada defronte do adro da Igreja Matriz, com esta dava as boas vindas a quem na vila entrava, pela Porta do Adro. Isto, muito possivelmente até 1882, ano em que esta porta terá sido demolida, devido à chegada da estrada a Salvaterra.
Bibliografia: Descrição baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net, livros e jornais. Foto, retirada da net, www.salvaterrazimbra.blogspot.com
As quadras fazem parte duns versos, da minha autoria, dedicados a Salvaterra.
mais a Igreja da Misericórdia,
para afastar o Demónio
e o povo ter concórdia.
Em 1498 era fundada em Lisboa a primeira irmandade da Misericórdia, sob a égide da rainha D. Leonor, que tinha como objectivo prestar assistência a pobres e enfermos. O exemplo foi seguido por diversas localidades um pouco por todo o território continental, e nos 25 anos que se seguiram foram criadas cerca de 60 irmandades. Na vila de Salvaterra do Extremo, conhecida no início do século XVI como Salvaterra da Beira, a Misericórdia terá sido criada poucos anos depois da irmandade lisboeta, possivelmente no ano de 1505.
Terá sido, então, algum tempo depois de 1505 que a Misericórdia local deu início à construção da sua igreja no centro da vila e, num dos arruamentos laterais ao largo da igreja, foi edificado o hospital da irmandade, que prestava assistência aos enfermos do então concelho de Salvaterra da Beira, havendo comunicação entre este e a igreja pelo interior do quarteirão.
Este hospital, era administrado por um religioso de S. João de Deus a que se chamava prior do dito hospital, ajudado por outro religioso, custeando o Rei as despesas.
Em tempo de guerra era de grande serviço este hospital. Posteriormente, o hospital acabou por perder a sua importância quando o concelho de Salvaterra do Extremo foi extinto em 1855, o que possivelmente levou também à sua extinção.
A fachada principal da igreja apresenta-se simples e depurada de decoração, estando dividida em dois registos. Ao centro foi aberto um portal de volta perfeita com impostas salientes, ladeado por duas pilastras jónicas e enquadrado num alfiz coroado por dois pináculos. No enquadramento do portal, no segundo registo, uma janela de moldura em arco perfeito. A fachada é rematada em empena, coroada ao centro por cruz, tendo sido colocado no extremo esquerdo do remate uma sineira encimada por empena. Na fachada lateral esquerda está adossada uma construção, enquanto que a fachada lateral oposta possui janela no volume correspondente à sacristia, existindo aí uma porta de acesso ao coro-alto com moldura de volta perfeita e impostas salientes, que actualmente se encontra emparedada.
O interior do templo é de nave única, articulada com capela-mor e sacristia. Ao fundo possui coro-alto suportado por pilares toscanos assentes em plintos, ao qual se tem acesso por lanço de escadas do lado do Evangelho. Neste lado, perto dos altares colaterais, foi colocado o púlpito, de secção quadrada assente em pilar. Ao centro, arco triunfal em arco apontado ladeado por dois altares em madeira, elaborados no século XIX. A capela-mor é coberta por tecto de madeira tripartido, e possui retábulo de madeira pintada, com representação do Calvário, estando guardada neste espaço a bandeira da irmandade elaborada no século XVII.
Devido às guerras com os espanhóis muita da documentação existente foi destruída.
Sabe-se também que, até meados do séc. XX, havia sempre um caixão colocado, talvez ao fundo da igreja, para serviço de alguém falecido. Isto porque não havia muita gente com posses para mandar fazer urna para quando ocorresse o seu falecimento. As pessoas de fracos recursos, tentavam arranjar maneira de ter em casa, lençol e duas toalhas, para o dia em que se finassem. Após o serviço fúnebre, corpo lançado à terra, o caixão retornava à igreja.
Recentemente recuperada, reabriu ao culto no dia 13 de Setembro de 2003.
Colocada defronte do adro da Igreja Matriz, com esta dava as boas vindas a quem na vila entrava, pela Porta do Adro. Isto, muito possivelmente até 1882, ano em que esta porta terá sido demolida, devido à chegada da estrada a Salvaterra.
Bibliografia: Descrição baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net, livros e jornais. Foto, retirada da net, www.salvaterrazimbra.blogspot.com
As quadras fazem parte duns versos, da minha autoria, dedicados a Salvaterra.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Jóias de Salvaterra ( 3 ) - Antigos Paços do Concelho e Torre Sineira
Este edifício, localizado na Praça, resultou da demolição da anterior Casa da Câmara, em 1911, e destinou-se, até 1940, às escolas oficiais de instrução primária que ficaram a funcionar no piso inferior. Ali funcionaram a cadeia e os postos da Guarda Nacional Republicana e Guarda-Fiscal. Também ali se faziam os actos solenes e espectáculos (que poucos havia). Hoje a parede exterior, que era rebocada e pintada de branco, encontra-se de pedra à vista, com o seu aspecto granítico muito mais de acordo com o meio que a rodeia.
Esta Praça, onde também se encontra o Pelourinho, foi palco dos episódios mais significativos da vida de Salvaterra.
Era aqui, na Praça, que se montavam tendas e se faziam as trocas comerciais e venda de produtos a portugueses e, aos espanhóis em tempos de tréguas. Era aqui que se liam e deitavam os pregões, fazendo saber aos vilões o que se passava de mais importante, na vila e no reino. Era aqui que se fazia, em tempos carnavalescos, a leitura de episódios caricatos, escarnecendo os merecedores dessa troça. Era aqui que se sentenciavam os malfeitores mas, também era aqui que se louvavam os homens bons. Enfim, era aqui que palpitava o coração de Salvaterra!
No quadro do pintor de ascendência galega, nascido no Porto, José Dominguez Alvarez, pintado a óleo sobre cartão, em 1929, aos seus 23 anos, aquando da sua estadia em casa duma família de Salvaterra, podemos ver, além do acima descrito, o amontoado de sacas de cereal à porta dum forno de pão, hoje já inactivo mas ainda ali existente.
José Alvarez, viria a falecer, com 36 anos de idade, vítima de tuberculose.
Nota: O quadro de José Dominguez Alvarez é uma reprodução de gravura retirada da net.
Esta Praça, onde também se encontra o Pelourinho, foi palco dos episódios mais significativos da vida de Salvaterra.
Era aqui, na Praça, que se montavam tendas e se faziam as trocas comerciais e venda de produtos a portugueses e, aos espanhóis em tempos de tréguas. Era aqui que se liam e deitavam os pregões, fazendo saber aos vilões o que se passava de mais importante, na vila e no reino. Era aqui que se fazia, em tempos carnavalescos, a leitura de episódios caricatos, escarnecendo os merecedores dessa troça. Era aqui que se sentenciavam os malfeitores mas, também era aqui que se louvavam os homens bons. Enfim, era aqui que palpitava o coração de Salvaterra!
No quadro do pintor de ascendência galega, nascido no Porto, José Dominguez Alvarez, pintado a óleo sobre cartão, em 1929, aos seus 23 anos, aquando da sua estadia em casa duma família de Salvaterra, podemos ver, além do acima descrito, o amontoado de sacas de cereal à porta dum forno de pão, hoje já inactivo mas ainda ali existente.
José Alvarez, viria a falecer, com 36 anos de idade, vítima de tuberculose.
Nota: O quadro de José Dominguez Alvarez é uma reprodução de gravura retirada da net.
domingo, 17 de outubro de 2010
Jóias de Salvaterra ( 2 ) - O Pelourinho
O Pelourinho na Praça,
símbolo perfeito e fiel,
representa, para quem passa,
o foral de D. Manuel.
O pelourinho de Salvaterra do Extremo, classificado Imóvel de Interesse Público (Decreto 23122, no Diário do Governo de 11/10/1933), é um monumento quinhentista, erguido na praça central da povoação, junto de uma torre sineira e da antiga Casa da Câmara, ambas de raiz igualmente quinhentista (provavelmente datadas de quando D. Manuel I renovou o foral de Salvaterra, em 1 de Junho de 1510). Assenta em plataforma de feitura recente, datada de uma intervenção de meados do século XX.
Sobre soco moderno, de três degraus quadrangulares de aresta, assenta o conjunto da base, coluna, capitel e remate, de clara tipologia manuelina. A base da coluna é oitavada, de faces ligeiramente côncavas, e decoradas com pequena rosetas. Nela encaixa o fuste, liso e de secção octogonal (de cerca de 3 metros de altura), encimado por capitel oitavado, molduras salientes na zona inferior e no topo. As faces do capitel são decoradas com rosetas e botões lisos. O remate é constituído por um prisma oitavado de boas dimensões, cujas faces alternadas apresentam relevos heráldicos, nomeadamente um escudo nacional coroado, uma esfera armilar, uma cruz da Ordem de Cristo e, possivelmente, uma cruz da Ordem de Avis. O pelourinho é finalmente coroado por pirâmide oitavada de topo truncado, com faces ornadas de séries verticais de três botões, de tamanhos decrescentes.
De realçar a presença do conjunto da heráldica manuelina tradicional, nomeadamente o escudo das quinas, a esfera armilar, símbolo pessoal de D. Manuel e a cruz da Ordem de Cristo, da qual Salvaterra do Extremo foi comenda.
A tradição local afirma ter sido este monumento inspirado no ceptro do monarca.
Bibliografia: Descrição baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net, livros e jornais. Gravura, retirada de carteira de fósforos duma série intitulada “Pelourinhos Portugueses”.
A quadra faz parte duns versos, da minha autoria, dedicados a Salvaterra.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Jóias de Salvaterra ( 1 ) - A Igreja Matriz
A Igreja Matriz, numa aguarela da pintora Maria da Conceição Ventura
A Igreja Matriz de Salvaterra do Extremo (Igreja de Santa Maria) é um templo de tradição medieval, incluindo-se, por isso, no original foco tardo-renascentista da Beira Baixa raiana, apresentando curiosas analogias com outras obras de Idanha-a-Nova e Monsanto. A povoação foi agraciada com foral por D. Sancho II (1229), mas a sua igreja só está documentada no século XV. Em 1505, D. Manuel I mandou reconstruir e alargar a igreja matriz que se encontrava muito danificada e fez erguer a torre sineira e o campanário. Porém, em 1509, a crer no desenho de Duarte D’Armas, as obras não se teriam iniciado, pois pode ver-se o estado lastimável em que se encontrava, completamente destelhada, aquela que parece ser a Igreja Matriz.
Ainda, em 1537, uma visita do Fr. António Lisboa, da Ordem de Cristo, dá conta do mau estado em que se encontrava o monumento, em particular as obras artísticas do interior (pinturas do retábulo e uma caixa de damasco branco, oferecida por D. Manuel I, por ocasião do foral novo, passado à povoação em 1 de Junho de 1510).
Portanto, a actual configuração do templo data de meados do século XVI, altura em que se terá refeito a fachada principal, passando a ostentar portal axial de arco de volta perfeita, inscrito em alfiz limitado por pilastras, e um cenográfico varandim ao nível do segundo andar. Do lado Sul, ergueu-se um poderoso campanário. Admite-se a possibilidade do risco desta igreja ter sido feito pelo arquitecto beirão Pedro Sanches (ou Pêro Sanches) que fez, nesta região, a matriz de Idanha-a-Nova e a de Penamacor, entre outras obras ainda não totalmente identificadas. Quanto ao retábulo do altar-mor, feito ao moderno, é obra barroca do estilo português ou nacional, com colunas e arquivoltas torsas e profusamente decoradas com os motivos mais comuns neste tipo de manifestações, como sejam parras, cachos, fénices, anjinhos, etc., o qual terá substituído um retábulo anterior, mais ou menos contemporâneo da igreja. Foi feito por Francisco Álvares Gramacho, de Penamacor, e dourado em 1724 por Manuel Gomes Calado, de Tortosendo, e José Ramos, de Salvaterra.
O arco triunfal deve também corresponder a finais do séc. XVI ou inícios do XVII, enquanto que os elementos devocionais (retábulos principal e laterais) foram executados na época barroca, provavelmente na primeira metade.
Em 12 de Maio de 1758, dizia nas Memórias Paroquiais, o Vigário de Salvaterra do Extremo, Frei Sebastião Pires Moreira:
“A igreja está dentro dos muros, e orago dela é a Senhora da Conceição; tem cinco altares, a saber: capela maior, com sua tribuna feita de talho de relevo, aonde está o Santíssimo Sacramento e a dita Senhora em o trono da dita tribuna, e nos lados desta S. Domingos e S. Francisco; em um dos colaterais à parte direita está uma imagem de Cristo Crucificado, e em o da esquerda a Senhora do Rosário, aonde está erecta uma irmandade das almas, com tão pequena renda que apenas é bastante para satisfazer à disposição de seu compromisso, e da parte direita da dita igreja há um da Senhora da Conceição que contém em os lados as imagens de S. Pedro e S. Sebastião, e da parte esquerda outro de S. Miguel, que nos lados tem as imagens de Santa Bárbora e S. João, todas estofadas e os altares dourados com talha moderna, e a igreja é de uma só nave”.
Restaurada em 1969, à custa dos seus paroquianos, encerrou durante algum tempo, sendo reaberta ao culto no dia 24 de Maio desse mesmo ano, com a presença de S. Exª Rev.ma o Bispo da nossa Diocese, do Ex.mo Governador Civil do Distrito de Castelo Branco e do Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova. São dessa data os sinos que se encontram hoje no campanário.
Já na década de 70, ou 80, do século passado, o Altar-mor, de bela talha dourada, tinha sido restaurado.
Apenas como curiosidade se refere aqui a existência dum ninho de cegonha, já com alguns anos e que no cimo do campanário serve de ornamento e é quase um “ex-libris”!
Foi considerada “Imóvel de interesse público” pelo decreto nº 67/97, de 31 de Dezembro.
Bibliografia: Esta descrição foi baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net , livros e jornais.
A Igreja Matriz de Salvaterra do Extremo (Igreja de Santa Maria) é um templo de tradição medieval, incluindo-se, por isso, no original foco tardo-renascentista da Beira Baixa raiana, apresentando curiosas analogias com outras obras de Idanha-a-Nova e Monsanto. A povoação foi agraciada com foral por D. Sancho II (1229), mas a sua igreja só está documentada no século XV. Em 1505, D. Manuel I mandou reconstruir e alargar a igreja matriz que se encontrava muito danificada e fez erguer a torre sineira e o campanário. Porém, em 1509, a crer no desenho de Duarte D’Armas, as obras não se teriam iniciado, pois pode ver-se o estado lastimável em que se encontrava, completamente destelhada, aquela que parece ser a Igreja Matriz.
Ainda, em 1537, uma visita do Fr. António Lisboa, da Ordem de Cristo, dá conta do mau estado em que se encontrava o monumento, em particular as obras artísticas do interior (pinturas do retábulo e uma caixa de damasco branco, oferecida por D. Manuel I, por ocasião do foral novo, passado à povoação em 1 de Junho de 1510).
Portanto, a actual configuração do templo data de meados do século XVI, altura em que se terá refeito a fachada principal, passando a ostentar portal axial de arco de volta perfeita, inscrito em alfiz limitado por pilastras, e um cenográfico varandim ao nível do segundo andar. Do lado Sul, ergueu-se um poderoso campanário. Admite-se a possibilidade do risco desta igreja ter sido feito pelo arquitecto beirão Pedro Sanches (ou Pêro Sanches) que fez, nesta região, a matriz de Idanha-a-Nova e a de Penamacor, entre outras obras ainda não totalmente identificadas. Quanto ao retábulo do altar-mor, feito ao moderno, é obra barroca do estilo português ou nacional, com colunas e arquivoltas torsas e profusamente decoradas com os motivos mais comuns neste tipo de manifestações, como sejam parras, cachos, fénices, anjinhos, etc., o qual terá substituído um retábulo anterior, mais ou menos contemporâneo da igreja. Foi feito por Francisco Álvares Gramacho, de Penamacor, e dourado em 1724 por Manuel Gomes Calado, de Tortosendo, e José Ramos, de Salvaterra.
O arco triunfal deve também corresponder a finais do séc. XVI ou inícios do XVII, enquanto que os elementos devocionais (retábulos principal e laterais) foram executados na época barroca, provavelmente na primeira metade.
Em 12 de Maio de 1758, dizia nas Memórias Paroquiais, o Vigário de Salvaterra do Extremo, Frei Sebastião Pires Moreira:
“A igreja está dentro dos muros, e orago dela é a Senhora da Conceição; tem cinco altares, a saber: capela maior, com sua tribuna feita de talho de relevo, aonde está o Santíssimo Sacramento e a dita Senhora em o trono da dita tribuna, e nos lados desta S. Domingos e S. Francisco; em um dos colaterais à parte direita está uma imagem de Cristo Crucificado, e em o da esquerda a Senhora do Rosário, aonde está erecta uma irmandade das almas, com tão pequena renda que apenas é bastante para satisfazer à disposição de seu compromisso, e da parte direita da dita igreja há um da Senhora da Conceição que contém em os lados as imagens de S. Pedro e S. Sebastião, e da parte esquerda outro de S. Miguel, que nos lados tem as imagens de Santa Bárbora e S. João, todas estofadas e os altares dourados com talha moderna, e a igreja é de uma só nave”.
Restaurada em 1969, à custa dos seus paroquianos, encerrou durante algum tempo, sendo reaberta ao culto no dia 24 de Maio desse mesmo ano, com a presença de S. Exª Rev.ma o Bispo da nossa Diocese, do Ex.mo Governador Civil do Distrito de Castelo Branco e do Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova. São dessa data os sinos que se encontram hoje no campanário.
Já na década de 70, ou 80, do século passado, o Altar-mor, de bela talha dourada, tinha sido restaurado.
Apenas como curiosidade se refere aqui a existência dum ninho de cegonha, já com alguns anos e que no cimo do campanário serve de ornamento e é quase um “ex-libris”!
Foi considerada “Imóvel de interesse público” pelo decreto nº 67/97, de 31 de Dezembro.
Bibliografia: Esta descrição foi baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net , livros e jornais.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Um castelo ... na cidade de Ulisses!
No dia dos 100 anos da República. A seus pés, a urbe e a velhinha Sé
Não! Não vou falar do meu castelo preferido (o de Almourol), apenas porque, infelizmente, o não conheço suficientemente bem. A verdade é que enchia de insondáveis pensamentos a minha cabecita de criança quando, de comboio, pouca-terra, pouca-terra, o avistava ali mesmo, no meio do Tejo, nas poucas viagens à minha terra natal.
Vou, então, falar do castelo que tenho mais à mão, ou seja, mais à vista.
Plantado numa das sete colinas desta Lisboa que eu amo, apesar de tudo, o castelo de S. Jorge, um dos maiores emblemas da cidade, lá está dominando a parte ocidental da cidade e tendo vista privilegiada do imenso estuário do Tejo, outrora pejado de pequenas embarcações, a remos ou de velas bandas ou enfunadas e onde os golfinhos vinham fazer as suas acrobacias.
Com um passado que remontará ao séc. VII a.C., foi abrigo de muitos povos, desde gregos, fenícios, romanos e visigodos. Também aqui estiveram Afonso II, das Astúrias, e Ordonho III, de Leão, nas suas lutas contra a ocupação muçulmana.
Testemunho de grandes momentos da nossa história, a tudo ele assistiu, sempre atento à entrada da barra e a possíveis ataques inimigos.
Conquistado aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1147, após um cerco de cinco meses, com a ajuda dos cruzados (uma frota da Segunda Cruzada) e, segundo a lenda, com a preciosa ajuda dum soldado, Martim Moniz, que terá dado a vida morrendo entalado na porta do castelo, impedindo o seu fecho. Verdade ou lenda, o certo é que lá está, para o perpetuar, a Praça de Martim Moniz, hoje em dia local de concentração multirracial e multicultural.
Devido às guerras sofreu de muita destruição, a última, pior que uma guerra, foi o terramoto de 1755. Mas, tal como as destruições, também as reconstruções se sucederam e, assim, são encontrados muitos vestígios de outras civilizações e também restos das muralhas que foram alargando o perímetro de defesa do castelo. Ainda podemos ver restos da muralha fernandina, mandada construir por D. Fernando I.
É este o Castelo que foi residência de Reis, que hoje é atracção de turistas nacionais e estrangeiros, orgulho da cidade e do país e que no dia 16 de Junho de 1910, por decreto de D. Manuel II, foi considerado Monumento Nacional. Foi apenas há 100 anos, para quem tem tantos séculos de vida!
Este é o texto com que participo na Blogagem de Outubro do Blog "Aldeia da Minha Vida".
A participação é livre, com textos e comentários e, como convém, continua a distribuição de prémios. Não fazem a coisa por menos, exemplares do magnífico "Guia Turístico" editado pela empresa Olho de Turista e da autoria de Susana Falhas. A não perder!
Para aceder ao blog, basta "clicar" no selo, à esquerda!
Não! Não vou falar do meu castelo preferido (o de Almourol), apenas porque, infelizmente, o não conheço suficientemente bem. A verdade é que enchia de insondáveis pensamentos a minha cabecita de criança quando, de comboio, pouca-terra, pouca-terra, o avistava ali mesmo, no meio do Tejo, nas poucas viagens à minha terra natal.
Vou, então, falar do castelo que tenho mais à mão, ou seja, mais à vista.
Plantado numa das sete colinas desta Lisboa que eu amo, apesar de tudo, o castelo de S. Jorge, um dos maiores emblemas da cidade, lá está dominando a parte ocidental da cidade e tendo vista privilegiada do imenso estuário do Tejo, outrora pejado de pequenas embarcações, a remos ou de velas bandas ou enfunadas e onde os golfinhos vinham fazer as suas acrobacias.
Com um passado que remontará ao séc. VII a.C., foi abrigo de muitos povos, desde gregos, fenícios, romanos e visigodos. Também aqui estiveram Afonso II, das Astúrias, e Ordonho III, de Leão, nas suas lutas contra a ocupação muçulmana.
Testemunho de grandes momentos da nossa história, a tudo ele assistiu, sempre atento à entrada da barra e a possíveis ataques inimigos.
Conquistado aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1147, após um cerco de cinco meses, com a ajuda dos cruzados (uma frota da Segunda Cruzada) e, segundo a lenda, com a preciosa ajuda dum soldado, Martim Moniz, que terá dado a vida morrendo entalado na porta do castelo, impedindo o seu fecho. Verdade ou lenda, o certo é que lá está, para o perpetuar, a Praça de Martim Moniz, hoje em dia local de concentração multirracial e multicultural.
Devido às guerras sofreu de muita destruição, a última, pior que uma guerra, foi o terramoto de 1755. Mas, tal como as destruições, também as reconstruções se sucederam e, assim, são encontrados muitos vestígios de outras civilizações e também restos das muralhas que foram alargando o perímetro de defesa do castelo. Ainda podemos ver restos da muralha fernandina, mandada construir por D. Fernando I.
É este o Castelo que foi residência de Reis, que hoje é atracção de turistas nacionais e estrangeiros, orgulho da cidade e do país e que no dia 16 de Junho de 1910, por decreto de D. Manuel II, foi considerado Monumento Nacional. Foi apenas há 100 anos, para quem tem tantos séculos de vida!
Este é o texto com que participo na Blogagem de Outubro do Blog "Aldeia da Minha Vida".
A participação é livre, com textos e comentários e, como convém, continua a distribuição de prémios. Não fazem a coisa por menos, exemplares do magnífico "Guia Turístico" editado pela empresa Olho de Turista e da autoria de Susana Falhas. A não perder!
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