Para os seguidores e visitantes deste blogue, para que se divirtam, mesmo sem "tolerância de ponto", aqui lhes deixo os ecos dum corso de Carnaval para o qual fui convidado mas que, afinal, parece não ser necessário convite. É um corso aberto aos "piegas", aos "não piegas" e a todos que ainda tiverem vontade de brincar a estas coisas!
Foi-me ontem perguntado
se pr’ó Carnaval deste pais Corso do Estoril (premonição dum Carnaval, a preto e branco) (retirado de www.leme.pt) |
Foi-me ontem perguntado
eu desejava ser convidado
e, quem tal diria, eu quis!
Foi-me também informado
de a ninguém se permitir, mesmo a algum mascarado,
gargalhar, ou apenas sorrir.
Com tanta regra a cumprir
e algumas bem fora da lei, respondi que sim, a fingir,
e, gargalhando, eu aceitei.
Preparei-me para o cortejo.
Sentei-me no melhor lugar e olhando ao fundo já vejo
que o Corso vai começar!
Ti’Anibal, vem à frente,
esse “algarvéo marafado”,mostrando a toda a gente
a folha do seu ordenado!
Grita ele aos quatro ventos
e bem alto, como convém. Só recebo mil e trezentos!
Ouviu bem? Ouviu bem?
E traz um cartaz, o inocente,
dizendo, e eu isso não o nego :-O meu dinheiro é insuficiente
para mandar cantar um cego!
Assim, entre tanto mascarado,
vem a medo, mesmo à frente, este personagem, o coitado,
a que chamamos presidente!
Tudo isto ele diz, sem sorrir,
a quem de pão não tem naco, que só me apetece é despir
e oferecer-lhe o meu casaco.
Não parece lá muito esperto
pedir ele a quem já precisa. Pedir-me mais, não é certo,
depois de lhe dar a camisa!
E digo-lhe, bem cá do coração,
quanto me sinto importunado ao saber da sua mísera pensão.
Sinto-me por Deus abençoado!
Eu sei que, para viver em Belém,
num palácio ou em qualquer lado,
precisa mesmo ganhar muito bem
ou ser, então, juro,muito poupado!
Veja lá não gaste todo o dinheiro,
que este Carnaval não é só um dia.
Depois tem que viver o mês inteiro
só com a sua reforma e a da Maria!
E, lá se foi este Rei do Entrudo
sempre armado em bom rapaz.O pessoal, pesaroso, fica mudo
e já um outro carro lá vem, atrás.
Um sucateiro de vara na mão,
montado num muitos cavalos, lá vem arrastando, pelo chão,
uma, só, caixinha de robalos!
Agora vejo lá muito ao fundo,
lento, arrastando-se, feito Job, prevendo o fim deste mundo,
o meio alucinado “Rei Ghob”!
Entre os trajes lindos eu distingo,
neste tão lindo corso do Entrudo,
o de um licenciado ao domingo
vendo Portugal por um “canudo”!
Ele é um senhor, o “inginheiro”,
que a todos deu muita arrelia. Ontem mascarado de Primeiro,
hoje, de estudante de filosofia!
Vejo um lindo carro branco,
branquinho e tão imaculado. Nele, só vem quem no banco
tem limpo e gordo ordenado!
Traz ex-ministro e deputado
e mais pessoal todo contente que além do parco ordenado
ainda trata da vida da gente!
Neste pais em que nada muda
cheio de políticos nova vaga o dinheiro, pr’á gente graúda,
é só o povoléo quem o paga!
Este cortejo cheira muito mal.
É só podridão em ritmo lento! Podem chamar-lhe Carnaval
mas eu, perdão, não aguento!
Neste Carnaval em que alguém ri
mas o povo, coitado, esse chora, sinto que já não faço nada aqui.
Pego na trouxa, vou-me embora!
Levanto-me! Nem vejo o fim!
Para cronista eu não presto e penso, de mim para mim,
para o ano eu conto o resto.
Gosto dum bom Carnaval.
À brincadeira não me furto, mas tão comprido está mal!
Será, pr’ó ano, mais curto?
Estes versos que eu aqui fiz
e que ninguém levará a mal, são bem o retrato deste país.
Pais, com cara de Carnaval!
Divirtam-se! Se puderem...
Amigo não leve a mal,
ResponderEliminarPela Troyka eu não mudo
Não festejo o Carnaval
Mas vou brincar ao Entrudo.
Oh menino João, deixe-se de ser piegas, lol. Mas que mania estar sempre a queixar-se. Só por ter sido convidado para o Carnaval já não está mal, por isso pare lá com as pieguices, sim? Ainda por cima teve o melhor lugar, lol…
ResponderEliminarAgora falando a sério: estes versos estão um primor. Muito me fartei eu de rir ao lê-los, até parece que estava lá, também a assistir, lol.
Infelizmente, este é mesmo o retrato do nosso país, como muito bem diz: “País, com cara de Carnaval!”… Antes fosse só brincadeira.
Esperemos que o Carnaval do próximo ano seja melhor.
Divirta-se, amigo João!
Querias ,ai não querias ?!
EliminarAo "Intrudo " ir reinar ,
Deixa-te ficar em casa ,
Não podes dinheiro gastar.
O "Intrudo Tchocalheiro "
É "ma" grande pieguice ,
Mais todas as tradições ,
Não foi já o que vos disse?!
Amigo ,João , com toda esta carnavalada ,quem precisa de mais ?
Mesmo assim , divirtam-se
AB.
Quina
Gostei sim senhor João;não sou muito(nada) dada a carnavalices,mas estão muito engraçados estes versos ,são de verdade a imagem que o nooso País está mostrando...
ResponderEliminarAssinado: Ana "Piegas" Bernardo
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarQuase um mês depois, aqui estou de novo. Garanto que não se deveu ao Entrudo que, espero tenha sido para si, muito divertido pois que, apesar de todas as contrariedades, também teve alegrias bem recentes!
Abraço,e continuemos este "Carnaval",
João Celorico
Olá, Cristina!
ResponderEliminarEu, sempre tenho dito que digo coisas sérias a brincar mas, desta vez, foi mesmo por ser Carnaval porque até a brincar elas custam a dizer!
Eu não peço que o Carnaval do próximo ano seja melhor. O que peço é que o "Carnaval" durante o ano inteiro não faça chorar tanto...
Abraço,
João Celorico
Olá, Quina!
ResponderEliminarÉ como diz, deixemo-nos de carnavaladas e brinquemos ao Entrudo que, esse sim, é nosso mesmo que a "troyka" não queira e tenhamos esperança para sairmos do fim da lista dos "pessimistas". Até parece impossível, sabendo nós que os nossos políticos tudo fazem para nos alegrar. Que pena não podermos rir com o espectáculo que nos vão dando no dia a dia...
Lá estou eu a dizer mal...
Abraço,
João Celorico
Olá, Ana!
ResponderEliminarBem vinda a este espectáculo carnavalesco. Ainda bem que gostou apesar de, para isso, ter de aderir à "pieguice"...
Bem haja, e um abraço,
João Celorico