sábado, 23 de julho de 2016

A PROFABRIL também existiu e … parece que ainda existe!





Não vou dissertar sobre o que foi, ou é, a PROFABRIL.
Simplesmente vou historiar um pouco o que foi a minha breve passagem por aquela empresa.
Estávamos no ano de 1970 e a Sala de Desenho do Estaleiro da Lisnave já, no Verão de 1968, tinha sido transferida da Rocha para a Margueira.
Entretanto, a Profabril, face ao volume de trabalhos que teria, fez saber à Lisnave que estaria interessada no serviço temporário de dois desenhadores, que poderia transformar-se em definitivo. Cumpre dizer que a passagem da Sala de Desenho para o estaleiro da Margueira, por razões que agora não interessam, trouxe consigo a necessidade de redução do pessoal desenhador, havendo mesmo alguns que já tinham tomado outro rumo, casos do António Ferreira Lima, do Manuel Pimenta, do Ildefonso Borges, do Carapinha Mendes e do José Luís Mendes para a Profabril e do José Carlos Oliveira Barreiros e do Trindade para a Sorefame.
Houveram alguns que se inscreveram mas eu, como tinha aulas no Instituto Industrial durante o dia e tinha vindo dum período de 3 meses de licença sem vencimento, não achei isso possível muito embora a Profabril me ficasse muito mais perto de casa.
Foi então, com alguma surpresa, que passado algum tempo fui contactado pelo Engº Alberto Conceição, ao tempo o chefe da Sala de Desenho, no sentido de me deslocar aos escritórios da Profabril, sitos na avenida do Infante Santo, em Lisboa, para falar com o Engº Pyrrait e aquilatar da possibilidade de ali desenvolver trabalho durante 6 meses ou talvez mais.
Fiz reparo de que eu tinha aulas no Instituto Industrial, horário diurno e que, portanto, não poderia cumprir um horário normal. Apenas poderia compensar em horário extra.
Aceites as minhas condicionantes, só houve que me apresentar ao serviço.
Assim, numa qualquer 2ª feira, suponho que em Fevereiro, depois de picar o ponto no edifício principal, onde hoje funciona o Hospital CUF Infante Santo, lá me apresentei do outro lado da avenida, penso que no nº 17, no 5º andar. Era uma normal casa de habitação, adaptada a escritório. 

Na avenida Infante Santo, a entrada do edifício onde eu ficaria instalado
(retirado do Google maps)
Fiquei instalado, naquilo que seria um quarto, um local de passagem onde cabia o meu estirador e pouco mais.
Começaram (o Engº Juanico), por me dar um desenho onde eu teria que escrever uma qualquer tradução. Suponho que era para um trabalho em Angola. Meia dúzia de palavras escritas e o trabalho estava feito. Fiquei entre o surpreendido e o desgostoso pois não percebia se era para aquilo que eles me queriam.
Fiz esse reparo e disseram-me que estava ali para fazer a implantação do Contacto 6 na CUF do Barreiro. Quis saber mais pormenores e o Engº Técnico (Agente Técnico de Engenharia, era a designação nesse tempo) Claudino Cavaco, que era o responsável pela obra, trouxe-me uma série de desenhos para eu analisar, explicando-me o que se pretendia, ou seja, a implantação dos transportadores de pirite para a instalação de produção de ácido sulfúrico. Era isso, o Contacto 6!




Era tudo muito bonito mas, os desenhos, alemães, com a marcação das coordenadas topográficas, para mim eram pouco menos que “chinês”.
No “quarto” ao lado onde estavam outros 2 desenhadores, perguntei se eles que estavam a elaborar desenhos para a “Celulose do Tejo”, costumavam trabalhar com coordenadas. Também para eles era novidade!
Fui olhando para os desenhos durante uns dias, ao mesmo tempo que ia fazendo perguntas ao Engº Cavaco e lhe ia referindo que eu não sabia o que estava a fazer e necessitava de pelo menos ir ao Barreiro dar uma vista de olhos pelo Contacto 5. Ficou prometido mas os dias iam passando e umas vezes porque as minhas aulas no IIL não mo permitiam outra porque o Engº Vendrel que seria o organizador da visita também não estava disponível, tudo continuava na mesma. Até que, finalmente, chegou o dia!
Fomos ao Barreiro e aí, depois duma reunião com alguns responsáveis, visitámos o Contacto 5 e fiquei então com uma ideia do que estava a ser pedido.
A partir daqui, foi tratar de desenhar a implantação no terreno dos vários transportadores que, penso, terão sido 18. Para esse trabalho partilhei o pouco espaço que eu ocupava e contei, então, com a colaboração dum desenhador que tinha trabalhado na zona têxtil do Barreiro e que regressou do Canadá, onde estava emigrado. Penso que de nome Costa e que tal como grande parte dos desenhadores que compunham o sector onde agora me encontrava, era do Barreiro.
Foi um período agradável pela amabilidade do pessoal e pelo trabalho, que comecei a entender. A parte que me desagradou foi o facto de os transportadores necessitarem duma estrutura metálica para a sua implantação e o cálculo dessa estrutura ser feito no Serviço 55, no edifício defronte. Eu que já estava no 3º ano do IIL, achava-me em condições de fazer esses cálculos e via-me reduzido ao mero trabalho de calcular ângulos e comprimento do transportador e sua implantação atendendo a algum constrangimento.
Esses cálculos seriam efectuados no Serviço 55, no edifício principal, do outro lado da avenida.
Parecerá pouco mas, o facto foi que o trabalho era algo moroso. Tanto assim que o Engº Bastos, certo dia, me referiu isso. Como era pessoa pouco da minha simpatia e também de mais alguém, fiz-lhe ver que eu não andava ali a brincar e que alguns dias tinha eu perdido esperando que me elucidassem realmente do que pretendiam, sem o ter conseguido. De qualquer modo, estariam perfeitamente à vontade para me mandarem de volta para a Lisnave e ficaríamos todos bem! O caso ficou por aqui e com a ajuda do Engº Cavaco, penso que em fins de Julho de 1970, regressei à base, consciente do dever cumprido e foi com satisfação que soube da inauguração, em 1972, do Contacto 6, unidade produtora de ácido sulfúrico, com a capacidade de 625 t/dia H2S04 (228.000 t/ano), primeira unidade portuguesa com ustulação de pirites em fornos de turbulência (processo BASF -2 etapes) e com "catálise dupla"!

Durante estes tempos, em Julho, ainda houve um jantar de despedida, do Eng. Juanico. Foi no restaurante “O Pilar”, ali para a rua Duque de Palmela. Foi uma oportunidade para ficar a conhecer um pouco melhor aquele pessoal.
Foram uns meses em que me pagavam mais do que se estivesse na Lisnave. Acontecia que me pagavam as horas de compensação como se de extraordinárias se tratassem! Ficava a ganhar!
Conheci mais algumas pessoas, embora não desse para reter mais que uma meia dúzia de nomes, tais como, o Castela, que morava no Alto de Santo Amaro, o Carrapiço, o Rijo, o Gasparinho, o Costa, o Fontes, o Januário, o Zarcos (todos na foto acima, aquando do jantar de despedida do Eng. Juanico) e poucos mais.



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