domingo, 5 de dezembro de 2010

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 1 )





Romanceiro é um género poético de origem medieval, que corresponde, na Península Ibérica à balada narrativa medieval europeia.





Ora, no "Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna", versões publicadas entre 1828 e 1960, I volume, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, na pág.321, podemos ler a versão de Salvaterra do Extremo, recolhida por Jaime Lopes Dias e editada em 1948, intitulada:


"Conde Claros em hábito de frade."

No quintal da Dona Ausência `stá uma árvore bem plantada,
2 aquela que bulir nela logo ficará ocupada.
Dona Ausência buliu nela, por ser a mais desgraçada.
4 Lá no fim de sete meses já seu pai a reparava.
--O que é isso, ó Dona Ausência, o que é isso dessa saia?
6 --Esta saia não tem nada, o que está é mal talhada.
Mandou chamar três mestras das melhores que havia em Braga.
8 --Vejam lá, senhoras mestras, o que é isso dessa saia.
--Esta saia não tem nada. Ela está mui bem talhada,
10 lá no fim de nove meses ela será igualada.
--Prepara-te, ó Dona Ausência, já te podes preparar,
12 que hoje cortam a lenha amanhã te vão a queimar.
Assomou-se a uma janela que deitava para o chão.
14 --Há por aí algum pastor que queira comer do meu pão,
que queira ir levar cartas ao Conde de Montalvão?
16 --Aqui está um pastorinho que quer comer do seu pão,
que quer ir a levar cartas ao Conde de Montalvão.
18 --Se o achares a dormir deixa-o acordar,
se o achares a comer deixa-o acabar,
20 se o achares a passear cartas lhe irás entregar.
Foi em tão boa hora que o achou a passear.
22 --Cartas trago, senhor Conde, cartas de muito pesar,
a pobre da Dona Ausência amanhã a vão queimar.
24 --Não se me dá que a queimem nem que deixem de a queimar,
dá-se-me só do seu ventre que leva sangue real.
26 Não fosse ela tão tola, não se deixasse enganar.
Mas dali por um momento começou a considerar.
28 --Alto, alto, meus criados, meus cavalos a ferrar,
com ferraduras de bronze que esta noite temos de andar
30 lonjura de sete léguas, e numa hora se há-de andar.
Tinham tudo preparado para a irem a queimar.
32 --Alto, alto, meus senhores, má acção vão praticar,
que essa senhora que aí vai, ela vai por confessar.
34 --Confesse-a, senhor vigário, enquanto vamos almoçar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
36 que no meio da confissão um beijinho me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
38 que onde um Conde pôs a boca um frade venha a beijar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
40 que no meio da confissão um abraço me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
42 que onde um Conde pôs os braços um frade venha a abraçar.
Montou-a no seu cavalo à sua terra a foi levar.
44 --Acompanhai-me, ó cavaleiros, se me quereis acompanhar.--
Apenas chegou à sua terra, assim se foram casar.

Existem versões de Salvaterra, referentes a outros romances. Em breve espero aqui dar conhecimento delas.

3 comentários:

  1. Adorei!
    Fico à espera dos próximos...

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  2. Se adorou, esteja então atenta a cenas dos próximos capítulos, que espero sigam dentro de momentos...

    Abraço,
    João Celorico

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  3. Muito Bonito sim senhor.
    Estou á espera de mais como a minha querida amiga Cris.
    Ana

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