Ao passarem 93 anos após a batalha de La Lys, venho aqui evocar esse heróico mas infausto acontecimento para as tropas portuguesas que, como sempre, supriram com abnegação o que lhes faltava em apoio de todo género. Mal preparados para uma guerra que não esperavam, deixaram as suas vidas, pobres mas pacatas, para entrarem no mundo real da 1ª Guerra Mundial. Os profetas, que os há sempre, diziam que a Espanha tinha enviado a Legião de Marrocos e Portugal tinha enviado uma legião de “marrecos”, tal era a impreparação que se lhes atribuía!
Principal fornecedora desse exército, foi a juventude beirã e transmontana. Essa juventude, habituada à vida dura, por certo não estranharia muito as condições adversas!
Entre outros salvaterrenhos, lá estiveram o “Této”, que casaria com a Maria “Póvoa”; o João Figueiredo, que casaria com a Juliana “Sêca”; o “Páris”, irmão da “Barita”, que casaria com a Maria Patrocínia; o filho da ti’“Papuda”; o meu tio-avô, José Valente, “Zé da Senhora”, que casaria com a Antónia Rascôa; e o grande actor Raul de Carvalho, também ele nascido em Salvaterra, lá esteve, como cadete de Engenharia. Com apenas 16 anos!
Entretanto, deixo também aqui um postal ilustrado, do dia 9 de Agosto de 1918 (exactamente 4 meses após a batalha de La Lys), enviado da “frente” por José Valente. Tendo escapado com vida, não se livrou, como muitos outros, dos efeitos do gás pimenta, um dos traumas dessa guerra. O motivo do postal, “L’Espérance”, parece simbolizar o desejo de todos em acabar com aquela guerra, julgando ser a última.
Como se enganaram!
Vem isto, também, a propósito da auto proclamada “geração à rasca”. Sem querer falar de cátedra, quer-me parecer que essa dita geração está a ver o “filme” um bocadinho ao contrário e, o pior, é que grande parte da comunicação social e também da geração anterior, aplaude tudo isto. Pois bem, se pensarmos, só um pouco que seja, veremos que a geração de 1900 até 1918 não tinha nada para estar “à rasca” porque teve a queda da monarquia, a pobreza e o trabalho de sol a sol e para completar os efeitos da guerra, lá veio a pneumónica que ceifou milhares de vidas e não havia vacinas como para a tão falada “gripe das aves”. A confusão e o medo eram tais que, alguns, chegaram a ser enterrados vivos!
Até ao Estado Novo, a vida foi do maior aperto, as convulsões políticas mais que muitas e o povo sem estar “à rasca”!
O Estado Novo, até à 2ª Guerra Mundial, foi de aperto do cinto, da “sardinha para três”, e do conflito político “amordaçado”. Havia que fazer cumprir os PEC da altura! Ninguém estava à rasca!
Durante a 2ª Guerra Mundial, o processo continuou, agravado pelo racionamento. Géneros alimentícios, por conta e medida e ir para a “bicha” bem cedinho, se não acabava-se. “À rasca”, ninguém estava!
Décadas de 50 e 60, a vida parecia melhorar um pouco. O esforço da anterior geração tinha valido alguma coisa. Alguns, poucos, começaram a ter reforma, Casas do Povo, emprego com alguma efectividade (até aí, só havia trabalho), ir a pé para o trabalho e para a escola, até fazia bem. Descansavam ao domingo e viviam numa parte de casa porque um andar dava para várias famílias e, mesmo assim, era apanhá-las. Ter casa própria só se saísse na Eva do Natal ou através da Caixa de Previdência, paga a 25 anos (muito difícil). Ter a 4ª classe equivalia a dizer que podia começar a trabalhar. Mas nem tudo podia ser assim tão bom e esta geração, para não ficar “à rasca”, apanhou com a Guerra Colonial!
Na década de 70, para desenrascar tudo isto, veio o "25 de Abril" que, cheio de boas intenções, tratou de “vender bacalhau a pataco” e o engraçado é que foram muitos os que compraram, inclusivé os da geração anterior. Tratou-se de, “democraticamente” impôr os direitos, esquecendo por completo ou quase os deveres que, infelizmente, foram e deviam continuar a ser muitos.
Do que se passa, nos tempos que correm, não me vou alongar pois todos o devem saber, dado já ter sido tratado até à exaustão. Só gostaria que esta geração “à rasca” que, tão infeliz, “curte” até às tantas num qualquer concerto, discoteca ou quejandos, pare um bocadinho para pensar e pergunte aos seus pais porque lhes deram tanta rédea solta e à luz dos seus tão falados “direitos” os deixaram fazer tudo quanto lhes deu na cabeça. E, já agora, deixem de mostrar tanto os seus currículos pois que, dalguns, eu até teria vergonha! É tempo de agradecer a boa vida que a maioria tem levado e não o contrário, pois que, “à rasca” estamos todos nós e sempre estivemos!
Termino com uma frase adequada à época: - Perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que dizem!
Ou, serei eu que já não sei o que digo?
Aplaudo de pé ,subscrevo e digo-lhe mesmo ,eu com a minha licenciatura de 6anos !!! em História ,não faria melhor. Honra a todos os que aguentaram todas as guerras do sé.XX ; que comeram logo na 1ª G, Mundial 1 sardinha por 3 ;que sofreram as torturas e perseguições do Estado Novo que lhes deu a comer pão de bagaço de azeitona e fez racionamentos para enviar o trigo e os outros alimentos para as tropas de Franco em Espanha ; que se viram a ir a salto ,perseguidos pela guarda , para países cujo até a língua desconheciam ; que se viram enviados para a guerra colonial sem muitos sequer saberem qual a razão porque tinham de matar .. Honra a todos eles ... que numa manhã de Abril sonharam com o paraíso para os filhos que tinham ou que viriam a ter ....mas que neste momento se sentem tristes , acabrunhados , vencidos , incompreendidos e até desprezados ,por muitos daqueles que ajudaram a criar e a quem julgaram dar o melhor...
ResponderEliminarBem -haja João , por me permitir toda esta reflexão
Honrado também eu fico com tão elevado elogio!
ResponderEliminarNão quis deixar passar esta efeméride sem libertar um pouco do que, de vez em quando, me vai na alma.
Poderei não ser o melhor dos exemplos, pois "só" comecei a trabalhar aos 14 anos. Fui um felizardo! Além de 8 anos a estudar de dia (Primária incluída), foram 13 anos a trabalhar de dia e a estudar à noite (não nas Novas Oportunidades), ou vice-versa. E, nunca tive a oportunidade de fazer exames ao domingo! O meu irmão começou, "oficialmente", aos 10! Mas, lá na minha terra, aos 7 anos, iniciou a escola primária uns dias depois dos outros, porque o meu pai "foi lá looonge", a Penamacor por causa da revista militar e ele teve que ficar a fazer a "apartadura" dos cabritinhos. A minha mãe não o conseguia e ele com 7 anos sabia quem era filho de quem e não trocava as cabras. E, porquê? Porque acompanhava o meu pai no pastoreio! Mas isto, não era uma vida "à rasca", era a vida!!! Também ele teve a sua conta de uns 13 ou 14 anos de estudo à noite!
Pronto, eu também já reflecti, e já fiquei um pouco mais aliviado!
Bem-haja,
Abraço,
João Celorico
João ,sempre lhe digo algo mais : só tem que se sentir orgulhoso pelo seu trajecto . Quem sobe ,e sobe alto ,unicamente pelo seu pulso , pelo seu trabalho ,só tem que ser louvado ,e tanto ele como a sua família só têm que lhe reconhecer o imenso mérito . Quanto a mim , fico honrada por tê-lo como amigo
ResponderEliminarUma Páscoa Feliz e que possa ser também por terras da Velha Egitânia
Muntas vesitas
Quina