segunda-feira, 28 de março de 2011

O "Novo Acordo" e ... a Dialéctica em Salvaterra !

"As respigadeiras", quadro de Jean Millet

Espero que a dialé(c)tica de Salvaterra, não cause engulhos aos "puristas" da nova linguagem. O Povo agradece!

Na minha terra as crianças
são cachopos, ou são filhos.,
Grávida é estar de esperanças
e os problemas são cadilhos.

As uvas são, os gatchos,
os pêssegos, melacatões.
As mulas, são matchos,
as perneiras são safões.

Não há tampas nas panelas,
para isso há os testos.
postigos nas janelas
e os rápidos são lestos.

Há burros e burricos,
os tachos são caçolas.
Abanos são abanicos
e pélas são as bolas.

Um cordel é uma guita
e por vezes um baraço.
Uma galinha, é uma pita,
tacho é, também, caço.

Bilha grande é asado,
um balde é um caldeiro.
Cheio é empanturrado
e a lenha é o madeiro.

Também pote é um asado
mas, se muito bem calha
for maior, avantajado,
pode-se chamar, talha.

Quietas é estarem quedas,
ruas estreitas são quelhas
e as romãs são marguedas.
Coisas iguais são parelhas.

Ir em frente é ir a eito,
um porco é um marrano.
Uma cama é um leito,
milhafre é um milhano.

Um lanche é uma merenda,
cabelos lisos são farripas.
Um presente é uma prenda
e os intestinos são tripas.

Um canivete é navalha,
chão de madeira é sobrado.
Os rapazes é a canalha,
acostumado é avezado.

Sirineu é sem vergonha,
porco pode se cotchino.
Máscara é carantonha,
guloso é um lambino.

Pedregulho é cantchal,
é assim esta minha terra:
Ganhar ao dia é a jornal
e incomodar é dar guerra!

5 comentários:

  1. Parabéns João , bela forma de recordar os falares do nosso concelho , mas repare , tão perto e ainda temos algumas diferenças . Assim ,por ex : Limbino (guloso ) ; meguérda (romã)..
    Este é que é o nosso verdadeiro acordo ortográfico !!!
    Muntas Vesitas
    Quina

    ResponderEliminar
  2. Que bom é recordar o modo de falar dos nossos avós que se está a perder tão rapidamente.
    "O vestido é asadinho; Vou pi além que se faz tarde; Vou dar de comer às pititas; As cabras ficaram alfeiras; A broa ficou escochada; Vou mercar pitrol; As chamiças estão a arder; Não enxergo nada; Estou mouca de todo; o bácoro tem um arganel, não me colho a andar, por via das dúvidas vou à botica, ..." Entre outras, estas são expressões que me recordo, usadas cá do meu lado da serra.
    Beijinhos
    Lourdes

    ResponderEliminar
  3. Olá, Quina!
    Foi um modo de recordar aquilo que quase não sei ...
    Tenho "em carteira" já um longo rol do dialecto que é nosso e não necessita de acordo. O "povo" sempre se entendeu. Mais a mais, em Salvaterra até se "aprende" o zarceño desde que se nasce. Eu não tive a aprendizagem mas "está-me na massa do sangue". Só pode ser...

    Abraço,
    João Celorico

    ResponderEliminar
  4. Olá, Lourdes!
    Pois é, esse falar, mesmo sem acordo nem regras gramaticais, usava um léxico próprio que identificava cada região. E, esquecendo as diferenças da fonética, há vocábulos que estão muito mais de acordo com o que se quer identificar do que alguns mais modernos. Na minha terra ainda se usa muito o termo "fresta".
    Hoje estamos mais virados para os anglicismos. Tempos de mudança...

    Abraço,
    João Celorico

    ResponderEliminar
  5. João de facto ,até mesmo os falares da nossa gente nos estão na massa do sangue !!Também eu tenho já alguns milhares de palavras , expressões ,alcunhas (muitas com o seu historial )e vários relatos de acontecimentos naquilo a que eu chamo "idanhense ". Ainda agora me acontece (tal como marido , irmão e até filha ) quando chego à Idanha começo por automatismo a falar assim . Quem sofre é a minha cunhada que sendo transmontana e apesar dos muitos anos a ir à Idanha , quando nós começamos a falar diz : não percebi nada , o que é que vocês estão para aí a dizer ? Claro , termina em riso e brincadeira com um de nós explicando...
    Entã , muntas vesitas

    ResponderEliminar