Vou voltar um pouco atrás nas minhas descrições e narrar um pouco como se
processou a minha passagem pela Marinha de Guerra Portuguesa.
Volto a repetir a minha pouca apetência para andar embarcado, muito embora
estivesse ligado à construção, e à reparação, naval.
Aconteceu que, ao ser confrontado com a certeza de que me estava reservado
um lugar no exército português, e uma quase certa “excursão” às florestas de
Angola, houve que analisar a situação e tentar minimizar os “estragos”. Foi,
assim, que se configuraram duas soluções para o problema. Uma, dizia-me que
podia tentar as Oficinas Gerais de Aeronáutica, em Alverca, o que me
possibilitava fazer a recruta e trabalhar, pelo menos durante 2 anos nessas
oficinas e depois tratar da minha vida. A outra, seria tentar a Escola Náutica,
2 anos de estudo, fazer a recruta e embarcar se me conviesse. E, foi aqui que o
Mar ganhou ao Ar. Preferi ser “marujo” a ser “araújo”!
Porém, nem sempre o que parece é! Aconteceu a invasão de Goa e os alunos da
Escola Náutica “eram convidados”, a Bem da Nação, a servirem na Marinha
Mercante Nacional, durante cerca de 3 anos. A recruta seria em 2 fases, a
primeira entre o 1º e o 2º ano do curso e a segunda, depois de findo o tempo de
embarque.
Assim foi, andei embarcado no “Angola”, após o que me apresentei para
cumprir aquilo a que me tinha proposto e estava obrigado como mancebo considerado apto para o serviço militar!.
E, aqui estou eu, na Escola de Alunos Marinheiros, em Vila Franca de Xira, com "outros da minha malta", no fim do 1º ciclo! |
No entanto não podia passar pela Marinha de Guerra, nesta altura tão
importante da minha vida, sem registar convenientemente tal facto.
O draga-minas M407 "Angra do Heroísmo" (retirado de www.velhosnavios.blogspot.com) |
Prestei serviço, é uma força de expressão pois só tinhamos instrucção, no
draga-minas M407 “Angra do Heroísmo”, onde encontrei o 2º Tenente da Reserva Naval,
Pereira Coutinho, fazendo o lugar de “Imediato” e o 2º Tenente, Eng. Maquinista Naval, Rodrigues Pereira; e no patrulha P591 “Fogo”, cujo comandante era o
Capitão de Mar e Guerra, Brito e Abreu (que entretanto foi mobilizado para Cabo
Verde), o quase “Guarda-marinha”, Sanches Oliveira, o “Sueco” para os amigos e
o Eng. Maquinista Naval, 2º Tenente, António Salvador Neves de Carvalho.
(Nota: Espero não me ter enganado na correcta identificação dos postos de cada um dos mencionados!)
O navio patrulha P591 "Fogo" (retirado de www.velhosnavios.blogspot.com) |
Foi um tempo de gratas recordações, quer pela leveza das nossas obrigações,
quer pela amizade e gentileza com que sempre fomos tratados. No fim de contas,
éramos uns "Srs. Cadetes" da Reserva Marítima e já com cerca de 3 anos de
embarque!
Tudo isto, merecia uma “Ode” à “vida marítima” e eu não me fiz rogado. Aqui
fica um pequeno excerto dessa “Ode”:
Para a Pátria
defender,
sem o inimigo me
matar,
à Escola Náutica
fui ter,
para depois
embarcar.
E assim foi !
Embarquei !
Por mares nunca dantes navegados,
três anos por lá
andei,
como os meus
antepassados.
Agora, para aqui
estou,
com outros da
minha malta.
Marinheiro não
fui, nem sou !
Decerto não faço
cá falta.
O que agora vos
digo,
é quase de pasmar
!
Ainda não vi o
inimigo,
por estas bandas
passar !
Mas cá a malta
gosta,
assim desta
guerra aberta.
Guerra que nos
foi imposta,
mas que ganhamos
pela certa !
Por isso passo ao
ataque
e a todos vou
avisar
:- Nós vamos pôr
isto a saque
antes da guerra
acabar !
E, no fim da nossa instrução, em jeito de despedida do navio patrulha P591
“Fogo”, após um lauto almoço que meteu: Ameijoas na cataplana, champanhe,
whisky e até charutos! (Tudo à conta do pré que, religiosamente, entregávamos ao navio e com o qual, cozinheiro e despenseiro faziam o verdadeiro milagre de nos darem opíparas refeições!)
Aproveitando este
momento
quero
publicamente mostrar
o nosso
agradecimento
a quem nos soube
tratar.
Peço um voto de
louvor
ao senhor
engenheiro
que mais que
instrutor
foi, sim, nosso
parceiro!
E ao quase
“Guarda-marinha”,
de todos nós faço
eco,
para o futuro que
se avizinha,
muitas
felicidades “Sueco”!
Eh! Com o
Demónio,
que Deus me
valha!
Ao Mónica e ao
António, (*)
obrigado, cá pela
“palha”!
(*) O Mónica e o António eram o Despenseiro e o
Cozinheiro
E, assim, longe ficaram os temores das impenetráveis florestas angolanas!
Ora ainda bem que optou pelo mar ..apesar de ter as raízes na serra . Por vezes assim é necessário e nós, beirões , já estamos habituados a ter de "embarcar " mesmo que ,no nosso caso,seja contra -natura .
ResponderEliminarAb.
Olá, Quina!
EliminarÉ como diz, os apelos, por vezes são mais fortes que nós...
E, como em breve irei aqui escrever, o apelo do ar também começou bem cedo. A todas essas tentações eu fui resistindo, até um dia...
Depois foi só aproveitar o melhor do que me foi "oferecido", caso contrário seria um sofrimento sem remédio! E, pesados os prós e os contras, depois de tudo, sinto-me um privilegiado.
Abraço,
João Celorico