Réplica do que terá sido a Fortaleza de Salvaterra do Extremo ( o nosso Castelo )! (Trabalho do Sr. Emílio Martins, um salvaterrenho por afinidade) |
a)
Apesar de tudo, não parece colher a ideia de que António Soares da Costa
teria prometido entregar a fortaleza. Se não foi D. Alonso a persuadi-lo, então
António Soares da Costa teve artes de enganar um muito considerado e
inteligente fidalgo espanhol a quem, ao que parece toldou a inteligência a
miragem de um grande feito que vaidosamente iria ostentar!
Como já referi, aceitar o vexame não
podia agradar nada ao reino espanhol e assim, quase me parece acertado dizer
que a sorte de D. Alonso, foi a sua triste sorte. Se tivesse sobrevivido ao
desaire, decerto que sofreria a mão pesada de Filipe IV, a quem criou tão grave
problema! Deste modo, assacar culpas a António Soares da Costa, terá sido o
modo mais fácil de lavar a face!
b)
Igualmente, considerar António Soares da Costa como um traidor ou como um
vil soldado, é andar muito depressa, uma vez que a ideia para degolar o
inimigo, segundo parece, partiu de Nuno da Cunha Ataíde e o próprio D. João IV,
estava informado disso. Por iniciativa de António Soares da Costa, terá sido o
cruel castigo infligido a D.Alonso mas, ninguém parece saber os contornos de
como isso foi decidido. Porém, não custa muito acreditar que a reacção de D.
Alonso não terá sido muito pacífica e sabendo do número das tropas espanholas
que se encontravam no exterior da fortaleza, António Soares da Costa ter-se-á
decidido por uma solução radical, até porque sabia ter a fortaleza devidamente
municiada. Aliás, dizia ele, estava preparado para ir degolando todos os que
fossem penetrando na fortaleza e só o não fez porque a desconfiança dos
espanhóis o evitou. Ainda segundo ele, ficamos a saber que foram 37 os
infelizes degolados e não os 23 que D. Alonso dizia que o acompanhariam, nem os
30 que alguns referem.
c)
Como também podemos ver, a operação teve lugar no dia 21 de Julho ao meio
dia e não na noite de S. Pedro (29 para 30 de Junho). Isto, talvez porque por
indicação de D. João IV se devia retardar o mais possível. Tudo leva a crer que
tal decisão se devesse à presença, em Lisboa, do Cavalheiro de Jant (ou Gant,
ou Sant, conforme alguns autores) enviado do Cardeal Mazzarino, ministro
francês. Portugal, para consolidar a Independência, estava a tentar o apoio da
França e a D. João IV não lhe interessava nada que surgisse, nesse preciso
momento, um conflito com Espanha. O facto é que os espanhóis começaram a
mostrar desconfiança e não houve maneira de retardar mais o processo.
d)
Alguém diz que o Duque de San Germán, sabedor do ocorrido, terá avançado
para tomar a fortaleza mas vendo as defesas que esta tinha, recuou e,
enfurecido, terá passado à espada mulheres e crianças que se encontravam no
campo. Desta resenha, o que podemos dizer é que o Duque terá avançado mas que,
em 25 de Julho, depois de ter regressado a Zarza, já está em Alcântara e daqui
foi para Badajoz, onde chegou no dia 31.
e)
Por último, também se diz que António Soares da Costa, devido a essa
“traição”, terá sido demitido. É fácil de perceber essa “demissão”. Claro que
seria a única forma de tentar amainar os ânimos, não só entre Portugal e
Espanha como nas terras daquela raia. A vida, com a manutenção de António
Soares da Costa no seu posto, se já não era boa, passaria a ser um inferno!
Porém, não se julgue que António Soares da Costa terá desmerecido os favores de
El Rei. O futuro, falaria por si!
Portanto, em conclusão, António Soares da Costa, não terá
sido um traidor! Foi, isso sim, um entrave à ambição mal contida de um fidalgo
tão inteligente, quanto imprudente ou ingénuo, que exorbitou da sua
inteligência, tendo artes de convencer o próprio Rei de Espanha mas
subestimando o adversário, de tal modo que lhe propunha cometesse um acto de vil
traição à pátria, quando esta procurava consolidar a sua independência e a quem
ele, até aí, tinha já dado sobejas provas de amor e fidelidade.
Foi cruel o modo como se livrou de D. Alonso mas não se
devem esquecer os tempos em que se vivia, apesar de bastas vezes se querer dar
a entender que haveria alguma ética militar que proibiria tal desmando. Após a
degola dos 37 infelizes, o que é que se poderia esperar da reacção de D. Alonso
e das tropas espanholas? Seria igualmente, “olho por olho”! Penso haver poucas
dúvidas disso e António Soares da Costa terá pensado, de si para si que, mal
por mal, talvez fosse conveniente livrar-se logo ali daquele adversário e dum
modo que assustasse o inimigo, pelo menos durante algum tempo.
Com esta resenha, espero ter contribuído
para um melhor conhecimento do que se terá passado, sem enjeitar a
possibilidade de que algo de novo possa ser trazido a lume e torne tudo ainda
mais claro!