sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Episódio da Guerra da Restauração, em Salvaterra. O sarg.º - mor, António Soares da Costa, um traidor ? ( 3 ) (conclusão)


Réplica do que terá sido a Fortaleza de Salvaterra do Extremo ( o nosso Castelo )!
(Trabalho do Sr. Emílio Martins, um salvaterrenho por afinidade)
Posto isto, é altura de fazer algumas considerações finais sobre este episódio:



a)      Apesar de tudo, não parece colher a ideia de que António Soares da Costa teria prometido entregar a fortaleza. Se não foi D. Alonso a persuadi-lo, então António Soares da Costa teve artes de enganar um muito considerado e inteligente fidalgo espanhol a quem, ao que parece toldou a inteligência a miragem de um grande feito que vaidosamente iria ostentar!

Como já referi, aceitar o vexame não podia agradar nada ao reino espanhol e assim, quase me parece acertado dizer que a sorte de D. Alonso, foi a sua triste sorte. Se tivesse sobrevivido ao desaire, decerto que sofreria a mão pesada de Filipe IV, a quem criou tão grave problema! Deste modo, assacar culpas a António Soares da Costa, terá sido o modo mais fácil de lavar a face!

b)     Igualmente, considerar António Soares da Costa como um traidor ou como um vil soldado, é andar muito depressa, uma vez que a ideia para degolar o inimigo, segundo parece, partiu de Nuno da Cunha Ataíde e o próprio D. João IV, estava informado disso. Por iniciativa de António Soares da Costa, terá sido o cruel castigo infligido a D.Alonso mas, ninguém parece saber os contornos de como isso foi decidido. Porém, não custa muito acreditar que a reacção de D. Alonso não terá sido muito pacífica e sabendo do número das tropas espanholas que se encontravam no exterior da fortaleza, António Soares da Costa ter-se-á decidido por uma solução radical, até porque sabia ter a fortaleza devidamente municiada. Aliás, dizia ele, estava preparado para ir degolando todos os que fossem penetrando na fortaleza e só o não fez porque a desconfiança dos espanhóis o evitou. Ainda segundo ele, ficamos a saber que foram 37 os infelizes degolados e não os 23 que D. Alonso dizia que o acompanhariam, nem os 30 que alguns referem.

c)      Como também podemos ver, a operação teve lugar no dia 21 de Julho ao meio dia e não na noite de S. Pedro (29 para 30 de Junho). Isto, talvez porque por indicação de D. João IV se devia retardar o mais possível. Tudo leva a crer que tal decisão se devesse à presença, em Lisboa, do Cavalheiro de Jant (ou Gant, ou Sant, conforme alguns autores) enviado do Cardeal Mazzarino, ministro francês. Portugal, para consolidar a Independência, estava a tentar o apoio da França e a D. João IV não lhe interessava nada que surgisse, nesse preciso momento, um conflito com Espanha. O facto é que os espanhóis começaram a mostrar desconfiança e não houve maneira de retardar mais o processo.

d)     Alguém diz que o Duque de San Germán, sabedor do ocorrido, terá avançado para tomar a fortaleza mas vendo as defesas que esta tinha, recuou e, enfurecido, terá passado à espada mulheres e crianças que se encontravam no campo. Desta resenha, o que podemos dizer é que o Duque terá avançado mas que, em 25 de Julho, depois de ter regressado a Zarza, já está em Alcântara e daqui foi para Badajoz, onde chegou no dia 31.

e)      Por último, também se diz que António Soares da Costa, devido a essa “traição”, terá sido demitido. É fácil de perceber essa “demissão”. Claro que seria a única forma de tentar amainar os ânimos, não só entre Portugal e Espanha como nas terras daquela raia. A vida, com a manutenção de António Soares da Costa no seu posto, se já não era boa, passaria a ser um inferno! Porém, não se julgue que António Soares da Costa terá desmerecido os favores de El Rei. O futuro, falaria por si!

Portanto, em conclusão, António Soares da Costa, não terá sido um traidor! Foi, isso sim, um entrave à ambição mal contida de um fidalgo tão inteligente, quanto imprudente ou ingénuo, que exorbitou da sua inteligência, tendo artes de convencer o próprio Rei de Espanha mas subestimando o adversário, de tal modo que lhe propunha cometesse um acto de vil traição à pátria, quando esta procurava consolidar a sua independência e a quem ele, até aí, tinha já dado sobejas provas de amor e fidelidade.
Foi cruel o modo como se livrou de D. Alonso mas não se devem esquecer os tempos em que se vivia, apesar de bastas vezes se querer dar a entender que haveria alguma ética militar que proibiria tal desmando. Após a degola dos 37 infelizes, o que é que se poderia esperar da reacção de D. Alonso e das tropas espanholas? Seria igualmente, “olho por olho”! Penso haver poucas dúvidas disso e António Soares da Costa terá pensado, de si para si que, mal por mal, talvez fosse conveniente livrar-se logo ali daquele adversário e dum modo que assustasse o inimigo, pelo menos durante algum tempo.


Com esta resenha, espero ter contribuído para um melhor conhecimento do que se terá passado, sem enjeitar a possibilidade de que algo de novo possa ser trazido a lume e torne tudo ainda mais claro!


2 comentários:

  1. E ,ao chegar ao fim , só me resta agradecer-lhe esta bela lição de História .
    Ab.

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    1. Olá, Quina!
      Não tem que me agradecer. Aliás, ninguém tem que me agradecer!E, a mim, só me resta pedir desculpa por me meter por caminhos que não são os meus e que poderei, depois, não saber como sair deles. No entanto vou fazendo o possível por tentar esclarecer algo que me pareça mal esclarecido. Se o conseguir, sem "meter os pés pelas mãos", já fico bem satisfeito! Não nego, como já aqui o afirmei, que estas coisas da História (então... acerca da minha terra) me dão um certo prazer e isso, para mim, já basta.Se outros gostam, tanto melhor...

      Abraço,
      João Celorico

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