CRONOLOGIA
1)
Em Março de 1655, D. Alonso de Sande y Ávila, governador militar de
Ceclavin, com promessas de mercês várias, tentou persuadir António Soares da
Costa a entregar-lhe a fortaleza de Salvaterra do Extremo. António Soares da
Costa, decerto dum modo astuto, mostrou-se receptivo à ideia mas, de imediato,
comunicou a D. Nuno da Cunha de Ataíde, Tenente General do Partido de
Penamacor, em substituição de D. Sancho Manuel, que também sem perder tempo,
informou D.João IV.
Claro que isto é a versão lusitana. A
versão espanhola é exactamente inversa, dizendo que foi António Soares da Costa
que se ofereceu a D. Alonso. Até pode ter sido, mas não só não faz grande
sentido como toda a documentação conhecida a desmente.
Decerto não ficaria bem a Espanha
reconhecer que um seu fidalgo, tido de grande inteligência, exorbitando das
suas qualidades, ou sendo ingénuo, subestimando a inteligência do oponente,
tinha tentado apoderar-se da fortaleza aconselhando-o a trair a sua Pátria e
que para isso até teria usado o selo do Rei de Espanha. Assim, o desaire só
teria sido possível devido a alta “traição” do outro e não ao pouco cuidado
posto na empresa e a imagem de Espanha e dos intervenientes ficaria limpa!
A tudo isto acresce que, nunca se
saberá se Espanha, apesar de todas as promessas feitas, as iria cumprir, uma
vez que da posse da fortaleza, não seria fácil a António Soares da Costa fazer
cumprir o que nas cartas estava escrito e se o não fosse, em Portugal também
não teria futuro. Mesmo em Espanha, a sua vida estaria ameaçada. Muitos outros,
não viveram para contar!
2)
Em 13 de Abril, já uma carta de D. João IV para Nuno da Cunha de Ataíde lhe
pede para “armar ao inimigo” e que o mantenha ao corrente de tudo o que se for
passando.
3)
Em 20 de Abril, uma Cédula de Filipe IV que diz “conceder ao dito
Sargento mor António Soares da Costa os ditos quatro mil ducados de renda cada
ano, dois mil de eles perpétuos para a sua pessoa e sucessores, e os outros
dois mil pelos dias de sua Vida, e que além disso se lhe entregarão todas as
mercadorias que se acharem no dito Castelo. Tudo isto terá inteira execução
desde logo que as minhas Armas estejam na posse da dita Praça de Salvaterra”.
4) Em 24 de Abril, uma carta de D. Luiz Mendez de Haro, valido de Filipe IV,
para o sargento mor António Soares da Costa, agradecendo-lhe um serviço tão considerável e
garantindo-lhe o pontual cumprimento de tudo o que lhe foi oferecido e
oferecendo-lhe a sua protecção.
5)
Em 5 de Junho, uma carta do Duque de San Germán, governador das Armas da Extremadura,
a António Soares da Costa, expressando-lhe estima e agradecimento e, também
ele, assegurando que correriam por sua conta todas as conveniências e que tudo
se cumpriria com pontualidade. Pedia-lhe ele, ainda, que o negócio se
executasse com brevidade e se mantivesse ... secreto!
6)
Em 14 de Junho, carta de Nuno da Cunha Ataíde para D. João IV, dando conta
de que o duque de San Germán pensa valer-se das forças de baijos (cavalaria?)
para, depois de ganha a praça, se meter nela e a defender com todo o empenho.
Para tal, viria dormir a Valência de Alcântara, na noite anterior à
operação.Diz desconhecer o dia dessa operação, dá conta dos poucos efectivos de
que dispõe e que pedirá socorro a André de Albuquerque e João de Mello, ao
mesmo tempo que pede brevidade numa resposta e instrucções para o que há-de
fazer.
7)
Em 19 de Junho, carta de D. João IV para Nuno da Cunha Ataíde,
ordenando-lhe que não vá por
diante com o intento de armar ao inimigo na praça de Salvaterra do Extremo mas
que publicite o intento do inimigo, para que este desista dele.
8)
Em 27 de
Junho, carta de Nuno da Cunha Ataíde para D. João IV,
onde acusa a recepção da carta de dia 19 e lhe diz não entender muito bem as
ordens recebidas, pois não lhe diz o que fazer a D. Alonso portador de tão infame
proposta. Diz ainda que tem a praça bem municiada e que o inimigo, se não levar
um castigo exemplar, tentará por outra via obter o que quer. Assim, propôs “que
o sargento mor António Soares recolhesse os 30 homens, e os fosse degolando à
medida que entrassem, e depois fingindo que
lançava a gente fora se ficasse com ela na praça e fizessem o sinal e,
chegando o inimigo com a gente à garupa, lhe desse carga com a mosquetaria, e
artilharia”! Com esta carta, envia também, “as cópias das cartas de dom
Luis de Aro e do duque de São Germão que escreveram ao sargento mor António
Soares da Costa com a Cédula delRei de Castela em que lhe prometia quatro mil
cruzados de Renda”.
9)
Em 5 de
Julho, carta de D. João IV para Nuno da Cunha Ataíde,
que só chegou às mãos deste no dia 10 e em que lhe ordena que prossiga o que
inicialmente (por carta de 13 de Abril) estava previsto, ou seja, armar ao
inimigo!
10)
Em 21 de
Julho, carta de António Soares da Costa para Nuno da
Cunha Ataíde, informando do sucesso que desejavam e que foi “degolhar-lhe
trinta e sete homens que em hábito de mercadores meteu neste Castelo hoje 21 de
Julho de 655 para efeito de lho eu entregar na forma que V. S.ª tem dado conta
a S.mg.de que Deus guarde : e não lhe degolamos a gente que traziam para socorrer
estes 37, por que assim como anteciparam o dia da facção mudaram o sinal com
que haviam de arrimar ao Castelo, e puseram nele tantas circunstâncias de
cautela que lho não pude eu desmentir por mais bem feitas que se lhe fizeram as
diligências; sendo a primeira alcançar todo o desígnio do inimigo, de Dom
Alonso de Sande, que era a pessoa por quem ElRey de Castela me mandou propor
este negócio, e vinha por cabo dos que morreram; e deixá-lo vivo até que o
inimigo deu mostras de que conhecia o dano que se lhe tinha feito.” Informa
ainda que :”O duque de San Germán chega hoje à Sarça com 400 Cavalos e
alguma Infantaria. Quando queira despicar-se espero em Deus que lhe havemos de
dar muito mais que sentir, e com esta confiança esperamos todos muito alegres”.
E como última nota, acrescenta : “Se o inimigo puzer sítio a esta praça não
se apresse V.sª com socorro para que lhe não falte a segurança; que eu tenho
muitos mantimentos para a gente com que me acho, e assim pode V.s.ª estar muito
descansado da defesa.”
11)
Em 22 de Julho, carta de Nuno da Cunha Ataíde para D. João IV, dizendo ter recebido aviso de António Soares
da Costa assim como o relato do soldado que lho tinha entregue. Tudo o mais
seria relatado a D. João IV por Garcia Velez de Castelbranco, portador desta carta e do aviso de António Soares da
Costa, informando do sucesso da empresa.
12)
Em 25 de Julho, carta de D. João IV para Nuno da Cunha Ataíde, em que El
Rei, acusa a recepção da carta de dia 22, apressando-se a responder-lhe,
elogiando tudo o que foi feito e ficando a aguardar mais notícias do que for
sucedendo.
13)
Em 25 de Julho, carta de Nuno da Cunha Ataíde para D. João IV, fazendo um
relato mais pormenorizado e informando que o Duque de San Germán se retirou
para Zarza e daí para Alcântara, onde está agora.
14)
Em 1 de
Agosto, carta de Nuno da Cunha Ataíde para D. João IV, informando, entre outras
coisas, que em Salvaterra tudo está bem e que o Duque de San Germán se recolheu
ontem para Badajoz com grande sentimento da gente que perdeu em Salvaterra.
(continua)
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