"Cutty Sark", arvorando bandeira britânica (retirado de http://www.rmg.co.uk) |
O primeiro, construído em 1869, andou na “Rota do
Chá” e em 1895 foi vendido à firma portuguesa Joaquim Antunes Ferreira &
Companhia, tomando o nome de “Ferreira” até 1916, ano em que depois de
reparações, foi transformado em escuna e recebeu o nome de “Maria do Amparo”
Porém, em 1922 passou de novo a mãos britânicas e em 1954 foi levado para a
doca seca em Greenwich, onde tem estado exposto ao público servindo de museu,
não sem deixar de passar por vários infortúnios, o último dos quais um violento
incêndio em 2007.
Ainda em relação a este veleiro, tive o grato
prazer de, nos idos anos 60, ouvir da boca de um dos seus antigos tripulantes,
homem dos seus 80 anos, a descrição pormenorizada de episódios passados com
data e tudo, às tantas horas do dia tal entrava o navio no porto tal e o tempo
estava desta maneira. Incrível essa descrição que só não era mais incrível
porque o dito senhor tinha em casa, feito por suas próprias mãos, uma miniatura
do “Ferreira”, completíssima com tripulação e tudo. Queria entregar aquilo a
quem de direito para que fosse conservado mas, pelos vistos, ainda nenhuma
entidade oficial se tinha dignado receber o espólio! Isto só não é incrível
porque se passava em Portugal!
De referir que também, noutra doca, ao lado do
“Cutty Sark”, se enconta o “yawl” “Gipsy Moth IV”, relembrando a volta ao
Mundo, em solitário, de Sir Francis Chichester, em 1966/67.
Isto, em Inglaterra!
Quanto à barca “Rickmer Rickmers”, muita gente a
conheceu mas hoje em dia está um pouco esquecida por via daquela que a veio
substituir.
Esta barca, foi construída em 1896, nos estaleiros
Rickmers, em Bremerhaven e em 1912 mudou o nome para “Max”.
Durante a Primeira Guerra Mundial foi capturada na
Horta (Açores) e emprestada à Grã Bretanha como auxiliar na guerra, tomando o
nome de “Flores”.
Aqui está a "Sagres", antes de se chamar "Santo André" (retirado de http://www.ancruzeiros.pt) |
Terminada a Guerra, foi devolvida ao Governo
Português e, agora, com o nome de “Sagres”, ficou ao serviço da Marinha de
Guerra como navio escola, para treino dos cadetes da Escola Naval.
Em 1960, foi retirada do serviço de navio escola e
foi rebaptizada, agora como “Santo André”. E foi em Setembro de 1962 que
estando eu a cumprir o 1º ciclo da recruta, como cadete da Reserva Marítima,
tive oportunidade de conhecê-la, embora nunca tenha subido às vergas ou ao
cesto da gávea porque, além de não ser obrigatório, eu não era trapezista!
A esse tempo e com a vinda da “nova” “Sagres”, a
“Santo André” foi reclassificada como navio depósito e permaneceu atracada na
Base Naval do Alfeite para ser desmantelada em 1975. Triste fim seria o seu!
Mas, como estamos em Portugal, há males que vêm por bem e a demora proporcionou
que uma organização alemã a comprasse e a transformasse em navio museu que se
pode visitar atracada no porto de Hamburgo e com o seu nome original.
Em Outubro de 1996, atracada e "disfarçada" no porto de Hamburgo, a mim não me enganou. De verde pintado o casco mas, como era bem mais bonita, toda de branco! |
Parece ser, então, um fim feliz para uma vida
atribulada.
Também neste caso, a Alemanha quis de volta o que
foi seu e honra o seu passado!
Posto isto e tendo em linha de conta que um navio
construído em 1896, foi retirado em 1962, portanto com 66 anos de serviço, o
que dizer do futuro da “Sagres” actual que foi construída em 1937, o que
equivale a dizer que já tem 77 anos. Será que esta tomou o elixir da juventude?
É um facto que me parece esta ter sido sempre
objecto de mais cuidados que a anterior que eu, por acaso, considero mais
esbelta. E se esta é bonita, a anterior com mais um pano (6 em vez de 5),
quando enfunada era um verdadeiro espectáculo!
Para concluir, quero referir que a Alemanha para
reaver a “Rickmer Rickmers”, deu-nos um
palhabote, o “Polar”, para treino dos cadetes.
Agora a minha dúvida põe-se. Para quê a “Sagres”?
Note-se que eu também gosto muito de vê-la, mas não será hora de “encostá-la” e
criar um museu?
Quais os custos de manutenção desta embarcação,
pessoal incluído? Será que algum dos cadetes nela treinados, algum dia, vai
navegar num tal veleiro? Será que o treino de navegação não pode ser feito
nesse tal “Polar” ou até num qualquer navio da Marinha de Guerra?
Será assim tão grande o benefício dumas viagens à
volta do Mundo que tal não possa ser feito noutro navio ou será apenas para o
currículo dos cadetes e de mais alguém?
Ou será, apenas, para darmos ao mundo uma imagem
daquilo que já não somos?
Temos e tivemos navios que apodreceram, e
apodrecem, que podiam, podem, fazer esse serviço.
Sem procurar muito, lembro-me do “Gil Eanes”que,
no fim de longa agonia, foi recuperado para museu; do “Creoula” que, depois de
recuperação, mantém vivo algum do espírito marinheiro das lusas gentes; da
“D.Fernando II e Glória” que, no fim de agonia ainda mais longa e trágica, lá
foi recuperada e posta à visita mas que duvido seja motivo de grande afluência;
da “Boa Esperança” que, “esperança” do António Vilar o levou à falência (segundo
constou) e agora, depois da saga da viagem ao Cabo da Boa Esperança, se vê
quase sem esperança, em águas algarvias e do “Funchal” que também teve o seu
fim bem próximo e parece tê-lo adiado, sabe Deus até quando. Este, julgo eu,
ainda poderia não ser só para cruzeiros mas fazer também algumas viagens de
“marketing”, relembro uma embaixada comercial espanhola em 1957, a bordo do
“Cabo de San Roque” ou navio semelhante. Os nomes que aponto não resultam de
nenhum estudo prévio, apenas são nomes que eu lembro, depois de ver o que se
tem feito à Marinha Mercante Nacional.
Por último, ponho a questão. Será que os oficiais
da Marinha Mercante não sabem navegar? Terão algum atestado de incompetência?
Que eu saiba, eles nunca tiveram treino na
“Sagres”!
A “Sagres”, como museu, talvez possa gerar mais
receitas e menores despesas que a “D. Fernando II e Glória” que tão mal
aproveitada parece estar, devido à sua localização!
A não ser que pensem deixá-la apodrecer, por não
haver dinheiro para a manutenção, ou vendê-la à Alemanha a troco de um “prato
de lentilhas”!
Enfim, termino o meu desabafo!
Bom dia!
ResponderEliminarEssa história do tripulante do barco Ferreira é muito interessante!Estou a fazer um trabalho sobre o barco e há pouca informação disponível. Gostava de lhe pedir mais informações, podemos conversar sobre isso?
Caro Ricardo Guerreiro,
EliminarLamento não lhe poder dar mais informação que aquela constante do meu texto. De qualquer modo se vir que lhe poderei ser útil, disponha sempre.
Bem haja pela sua visita!
Melhores cumprimentos,
João Celorico