Este blogue foi criado após insistência de muitas pessoas, amigas (assim as considero). Porém não vou utilizá-lo só para a promoção da minha terra, Salvaterra do Extremo, vila de 780 anos, situada (para que conste) no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, na província da Beira Baixa. Vou igualmente tentar diversificar os assuntos e trazer aqui alguns que são do meu interesse e espero que sejam do interesse de mais alguém. Mais um leitor que seja, já valeu a pena!
quarta-feira, 3 de março de 2010
Nasci ...
Aqui estou eu, no dia do meu 5º mês! Domingo de Verão, em Salvaterra! As minhas “fadas madrinhas” (a Luísa Sousa e outras), arrancaram-me das mãos da minha mãe e, qual “menino nas mãos das bruxas”, levaram-me rua acima, a um retratista que andava ali p’rá rua do Castelo. Puseram-me um fio ao pescoço, coisa que não uso nem nunca usei e, desavergonhadas, arrancaram-me as roupinhas! Pela minha expressão se pode ver que, fiquei sem palavras…
Hoje é 2ª feira, dia da Lua, do mês de Março, em homenagem a Marte, deus da guerra, e dedicado a São Marino (entre outros). É Lua Nova, na fase crescente 6, o Sol nasceu às 05h e 59 min, vai pôr-se às 17h e 21 min, Peixes é o signo zodiacal e Serpente o signo do horóscopo chinês. Os planetas dominantes são Neptuno e Júpiter, a cor é o Turquesa, verde-mar, a pedra é a Água marinha e o número base do nascimento é o 3 (três). O significado do número 3 diz que: “Serei um incurável optimista e que tentarei transmitir aos outros esse ponto de vista fundamental. Dado que inspirarei simpatia e confiança, estarei capacitado para desempenhar lugares de primeiro plano e que decerto não me será difícil fazer muitos amigos, incluindo seguidores”. O mês de Março foi durante muito tempo o primeiro mês do ano. É quando começa a Primavera, daí o Setembro, que é o sétimo, o Outubro, o Novembro e o Dezembro.
Decerto, um dia como tantos outros mas que além de, pelo calendário Gregoriano, ser o 3 de Março de 19.. (d. C.), é também, pelo calendário natural, o 13 de Fevereiro de 5955 (era do Mundo) e ainda o Dia Juliano nº 2.430.057. A este dia não lhe falta nada!
O país está ainda sob o terrível efeito do ciclone, com rajadas de vento de velocidade da ordem dos 200 Km/hora, ocorrido no passado dia 15 de Fevereiro (Sábado Magro), entre o meio-dia e a uma da tarde.
O governo, porém, estava atento e, para combater a desgraça, logo no dia 20 de Fevereiro faz sair o Dec. Lei nº 31.147, o qual abre “um crédito de 20.000 contos para despesas provenientes da reparação de estragos e prejuízos causados pelo ciclone de Fevereiro de 19.., incluindo a intensificação de obras públicas para atenuação da crise de trabalho.”
Em plena época de Carnaval, Salazar mandou proibir todos os festejos. A hora é de trabalhar e não de festejar. Mesmo assim, o Carnaval de Loulé (que desde 1902 era chamado de “Carnaval civilizado”), atendendo a que estava muito arreigado na população e a que a sua receita se destinava a fins beneméritos, foi autorizado.
A Guerra continua, com Carnaval ou sem ele e assim; no dia de Carnaval, tropas britânicas já tinham capturado Mogadíscio, na Somália italiana; no dia 1 de Março, a Bulgária tinha aderido ao Eixo, assinando o Pacto Tripartite (Alemanha, Itália e Japão) o que fez com que ontem, dia 2, o exército alemão tivesse entrado na Bulgária procedendo à sua ocupação, instalando o seu quartel general em Chamkuri, a 100km de Sofia e encerrando as fronteiras.
E é este o cenário que o Mundo tem para me oferecer!
Tenho que tomar uma decisão, porventura não a melhor, e vou escolher o dia 3. Deus sabe porque razão. Talvez pela mesma razão que ele deve saber porque, pela vida fora, algumas vezes iria tomar as piores decisões, julgando serem as melhores. E, outras vezes, nem uma coisa nem outra!
Aqui, em Salvaterra do Extremo, a vida gira dentro desta normalidade! Ontem, domingo, dia 2, durante a tarde, o ti’António “Chavelhão” veio convidar o meu pai para ir passar uma carga (uma arroba) de farinha. Era o contrabando para o lado espanhol, a Zarza la Mayor. O meu pai que trabalhava de jornaleiro, ou seja à jorna, viu ali uma maneira de ganhar alguns parcos cobres, que bem necessários eram e aceitou o trabalho. Depois do jantar pediu à minha mãe para não fazer barulho a lavar a louça pois que ele se ia deitar para descansar um pouco. A minha mãe que durante o dia tinha andado a caiar a cozinha, para não o incomodar, deixou a louça no cesto e já não a arrumou na cantareira. À meia-noite, o meu pai saiu de casa e, carga às costas, só houve que escolher a passagem para o outro lado da fronteira. “Plomes” (deturpação de Pelames, local de tratamento das peles, curtumes), “Salto da Cabra” ou “Vale de Idanha” eram itinerários possíveis. O Vale de Idanha era muito utilizado, principalmente pelas espanholas, que o contrabando também era de lá para cá. Uma noite, a Clementa e as duas irmãs, três filhas da Dona, uma espanhola, não conseguiram vencer a força da água da ribeira e mãos agarradas, em desespero, foram corrente abaixo.
O dia 3 está a chegar! Esta noite andou um baile em casa do “Papum”. Quando acabou, às 2 horas da manhã, a Luísa Sousa e outras moças do seu “partido” bateram à porta. A minha mãe estava deitada e ao perguntar “Quem é?”, respondeu-lhe a Luísa Sousa “Olha, eu estou levantada e é para acordares também!”.
Adivinhando o que se aproximava, seriam umas 3 ou 4 horas da manhã, a minha mãe pôs água ao lume para o meu primeiro banho e, candeia na mão, se bem que estivesse uma noite de Lua Nova, saiu direita às Caganchinhas a chamar a prima Maria Cândida, para que esta por sua vez fosse chamar a ti’”Cambalhotas”, “parteira de serviço”.
Bateu à porta, respondeu o ti’Joaquim “Vapor”. A minha mãe disse ao que ia e ficou à porta, pelo que ele perguntou se ela queria ter o filho ali à porta dele.
Voltou para casa, passou pela porta da ti’Encarnação, que vendia carne e que no dia seguinte no seu modo espanholado de falar, que não tinha perdido, lhe disse que até podia ter tido o filho à porta dela e que ali lhe trazia uns “cotunhos” do porco para fazer sopa. Um arrátel de chocolate quase todos davam. Era para fortalecer!
Mas, voltando ao nascimento, propriamente dito, a ti’”Cambalhotas”, a minha avó Amélia e a prima Maria Cândida, lá tomaram conta da ocorrência. Cerca das 6 horas da manhã, o Sol nascia, e eu aproveitei, tinha cumprido o estágio dos 9 meses e nasci também! Estava escrito, para o bem e para o mal, o dia 3 foi o escolhido para vir ao Mundo, virei o rabo para a Lua, segunda-feira era o meu dia mas, nas mãos da ti’”Cambalhotas”, fazendo jus à alcunha, esta deve ter-me virado ao contrário. Ninguém me avisou do que se passava cá fora! Entrei no Mundo, literalmente de olhos fechados, e assim iria andar muitos anos. Quando os começasse a abrir já ia ser um pouco tarde!
Mas, agora, aqui estou, pronto a assinar o contrato que espero vitalício mas, com termo em aberto. O Criador escolherá a data!
É verdade, já me esquecia, sou um menino!
Depois de me lavarem e fazerem uma observação minuciosa e conveniente, embrulharam-me na baeta e levaram-me à minha mãe, não conseguindo esconder uma certa reserva quanto a uma possível deficiência. Tal facto não passou desapercebido à minha mãe e ali estava eu à espera do veredicto da reunião de “sábios” anatómicos porque haveria dois dedos, em cada pé, que estariam mais juntos do que estaria previsto nos “regulamentos”. Tudo falso alarme e lá fui eu para o primeiro sono ao “ar livre”! No fim a ti’”Cambalhotas” apresentou a conta. Almoço e um avental, era o que dizia o regulamento da “Ordem das Parteiras”!
Entretanto, regressou o meu pai, cansado da tarefa mas satisfeito pela novidade que o esperava! Pouco tempo teve para gozar o momento e saiu de novo, que o Sol já raiava! Agora, ia direito à Devesa onde o esperavam as cabras do Alexandre Romão que aí eram deixadas a pernoitar e que havia que levar a pastar! A vida continuava e havia mais uma boca a sustentar!
Chamaram-me João, como os meus, avô e bisavô, maternos (João Valente e João Belchior).
E, desde a "Quélhinha" até à "volta da estrada" e ao "Castelo", por toda a Salvaterra, correu de boca em boca a nova de que a Maria "Parralinha" teve mais um cachopo!
Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida!
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Parabéns,João!
ResponderEliminarQue tenha um dia muito feliz e que todo o ano que agora começa seja repleto de felicidades.
Um abraço
Alcinda
Amiga Alcinda,
ResponderEliminarbem haja pela surpresa da sua visita e pelos seus votos.
Mais um já cá canta. Esperemos que muitos outros por aí venham. Já se vão sentindo. É a ordem natural, portanto nada de pânico. É preciso é ir acordando vivo e ir colorindo os dias, se bem que cada vez se torne mais difícil colorir seja o que for. Pela minha parte, e com a ajuda de pessoas que fazem o favor de me prestar a sua amizade, vou tentando!
Abraço,
João Celorico
João
ResponderEliminarQue lindo nascimento e que dia tão bem escolhido!
Embora atrasada, não vou deixar de lhe dar os Parabéns e de lhe desejar que o contrato tenha um prazo muito prolongado.
Felicidades.
Beijinho
Lourdes
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarComigo tinha que ser um dia assim. Eu, não o fazia por menos! Esperei pela passagem do ciclone e, então, lá me resolvi!
Bem haja, pelos seus votos. Os amigos nunca chegam atrasados porque eles estão sempre connosco!
Abraço,
João Celorico
Pronto,e como sempre,como não sabia,lá venho atrasada dar: OS MEUS SINCEROS PARABÉNS!Espero que tenha tido um dia tranquilo e feliz e desejo-lhe muita saúde e poemas para sempre :)
ResponderEliminarFelicidades!!!
Ai,quando vi a foto,pensei que indiozinho tão fofo.E depois li que era o amigo João.ehehe...Pois as suas fadas fizeram-lhe essa partida,mas estava com ar de quem pregaria alguma depois :)
Jocas gordas
Lena
Muito, mas muito atrasada mesmo, vim visitar seu blog e ler esse texto maravilhoso e engraçado, onde conta de forma deliciosamente irônica e inteligente, o dia do seu nascimento.
ResponderEliminarParabéns pelo aniversário, parabéns pelo texto, parabéns pelo blog, parabéns pelo prêmio !
Um abraço
Flora Maria
Olá, João
ResponderEliminarAqui estou a aplaudir de pé e a dizer-te que GOSTEI, MUITO do Blog.
Um abraço
António Vinagre