(E a Espanha, ali tão perto. O castelo de Peñafiel)
A terra onde o meu pai cresceu, mas não muito, pois a sua estatura, exterior, era pequena, era uma terra sem electricidade, tinha candeias e candeeiros, sem água ao domicílio, tinha cântaros e bilhas para a irem buscar às fontes, da Ribeira, das Fontainhas, aos chafarizes, poucos, e aos poços, de Santo António, de São João, da Rua de cima e da Rua de baixo e ao poço Novo, todos parcos de água e nos quais, no Verão, ainda noite, as mulheres atiravam o caldeiro lá para dentro, passavam umas boas horas até encher a cântara, e punham as conversas em dia. Era uma terra de muito trabalho, quando o havia, e de pouco proveito. Onde se passava o dia, e até a noite, por lá, apascentando rebanhos e sofrendo com cada um dos animais, dormindo mal, por aqui e por ali, mal vestidos, em leito de palha, numa qualquer toca ou palheiro mas, só depois do rebanho estar recolhido. E, havia chuva! E, havia frio! E no Verão, que parecia melhor, lá vinham as "malditas" ceifas na sua dureza e com elas as sezões (ou, maleitas) e outros padecimentos. Padecimentos que se tornavam maiores quando atingiam a cachopada. Maus para elas próprias, e aos quais muitas não resistiam (não chegando ao fim do Verão), e para os próprios pais. Mas era uma terra que vivia as suas festas, com grande devoção. Onde se vivia de portas abertas (não havia alarmes, nem empresas de segurança). Normalmente estavam na cravelha mas, quando estas estavam fechadas, era fácil abri-las pois que a chave, deixada num prego por dentro da porta, devido a um orifício suficientemente largo, na parte inferior da porta e que só era tapado com uma pedra para não permitir a entrada de gatos (podiam ir aos chouricitos, claro!), estava acessível a um qualquer.
Era uma terra onde não havia jornais, nem rádio, nem televisão, as notícias corriam de boca em boca e havia pregoeiros. À noite, ao serão, aproveitando a luz bruxuleante duma vela ou até do luar, os pais ainda arranjavam tempo para ensinar, aos filhos, estórias que já os seus pais lhes tinham contado e que são, hoje, grande parte do que deles resta nas nossas memórias.
Também não havia telefone (talvez só na estação de correio) e o correio era feito por um "carreiro" que, além de levar e trazer cartas e encomendas, a 5 km de distância da terra, também fazia o transporte de pessoas, isto tudo num carro puxado a machos (mais próprios para o trabalho do que os cavalos). Os automóveis eram um objecto raro e receado por alguns. As pessoas deslocavam-se a pé, até para grandes distâncias, ou de burro. Eram, realmente, auto mobilizados pois moviam-se eles mesmo! Os homens muitas das vezes, a primeira vez que saíam da terra era para assentar praça e, as mulheres era para levarem os filhos lá "longe", a Idanha-a-Nova, para fazerem o exame da 4ª classe! Esse exame, era uma festa e um orgulho para a família!
Era uma terra onde os Manéis ainda se casavam com as Marias e não com outros Manéis! Ainda não tinham dado o "salto civilizacional" ou lá o que isso é!
Era esta uma terra, onde não havia quase nada mas, onde havia gente! Gente que vivia com o pouco que tinha e onde todos se respeitavam, ajudavam e tinham 2 escolas. Hoje em dia é uma terra que tem quase tudo (água, electricidade, Centro de Dia, Posto Médico, etc.) mas, ironia das ironias, já não tem escolas e quase não tem pessoas!
Mantém-se nela o ar que se respira, a recordação doutros tempos e o amor que os filhos da terra e seus descendentes lhe devotam!
Seu nome, Salvaterra do Extremo!
Este texto é a minha contribuição para a Blogagem Colectiva do blogue http://aldeiadaminhavida.blogspot.com, " Onde cresceu o meu pai", que decorre de 10 a 31 de Março.
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FICOU MUITO BOM AMIGO. GOSTEI.. MAS UMA VEZ, ESTAMOS JUNTOS NESTA COLETIVA.
ResponderEliminarPOR ESTE MOTIVO VENHO CARINHOSAMENTE LHE CONVIDAR PARA COMPARTILHAR COMIGO.
CONVIDO COM MUITO CARINHO PARA VIM VISITAR MEU BLOG E VER A TERRA DE MEU PAI. COLETIVA DA ALDEIA. VOU TE ESPERAR NESTE LINDO CANTINHO.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
FICAREI MUITO FELIZ COM A SUA CHEGADA.
SANDRA
ESTAS TERRAS RELEMBRAM AS NOSSAS LEMBRANÇAS, GUARDADAS EM NOSSAS MEMÓRIAS.
ResponderEliminarCARINHOSAMENTE,
SANDRA