domingo, 23 de janeiro de 2011

A vida, também é feita... de acasos( II )

Chegado ao 4º ano, as coisas não estavam a correr muito favoravelmente. Ainda não percebo bem porquê mas, talvez eu precisasse desses tais psicólogos que para aí vêm agora… Eu era muito miúdo, estudava, mas talvez me perdesse um pouco em cogitações ainda muito juvenis. Assim, o “chumbo” espreitava, em várias cadeiras. Principalmente em Oficinas de Serralharia. A avaliar pelas notas, eu seria pouco menos que um “desastre”. O futuro iria desmentir essa ideia!
Mesmo assim, fui a exame de “Português”. Aqui, mais uma vez, o acaso veio em meu auxílio. O examinador seria o Dr. David Mourão Ferreira.
Os alunos dele eram forçados a ler algumas obras, como era natural. Mas eu, que não era seu aluno, tinha uma “arma secreta”. Aquando dos meus 7 ou 8 anos e devido ao filme “As Pupilas do Senhor Reitor”, apareceu-me isso em livro e li-o. Não é motivo para grande admiração porque eu, desde os meus 6 anos comecei a “devorar” tudo o que tivesse letras. Assim, frente a frente com tão distinto examinador, atirei-lhe com essa revelação. O homem desfez-se em elogios, perguntou-me meia-dúzia de larachas, ficou encantado e deu-me uma nota de truz.
Passei no Português e mais umas outras mas “chumbei” em Oficinas de Serralharia, Matemática e Física. “Chumbado” o ano, o acaso, acrescido da falta de condições financeiras ainda mais débeis devido ao meu irmão estar a cumprir serviço militar, levou-me a trabalhar numa oficina, o “Argibay”.
4º ano, incompleto, eram as minhas habilitações. Mais do que suficientes para um aprendiz de serralheiro. O curso, talvez o acabasse. Eu não desgostava do novo trabalho. Ainda estava nas nuvens, não tinha os professores e o mestre de Oficinas a moerem-me o juízo. Mas, lá veio o acaso. No Serviço de Pessoal (a quem estarei eternamente grato), perguntaram-me porque é que eu não me matriculava, ao que eu respondi que a empresa só obrigava ao 2º ano e eu já andava no 4º. Ah, mas isso não era assim, vai mas é já tratar da matrícula e deixa-te de conversas. Então, no último dia de matrículas, já com multa e tudo, lá me matriculei. Talvez tenha sido mesmo o último a fazê-lo. Emprestaram-me o dinheiro para pagar tudo e eu, semanalmente, fui descontando no parco vencimento.
Porém, 9 meses passados (coincidência), quando eu já estava ambientado ao emprego, o meu pai, sempre a querer o melhor para os filhos, arranjou maneira de eu ingressar na AGPL. Chorei, porque o trabalho era o mais baixo que podia haver (moço de picagem), mas havia que obedecer e respeitar o esforço que ele tinha tido, dizendo que eu iria subindo e a AGPL era um emprego de futuro. No Estado, claro! Uns meses de orgulho reprimido, eu já andava no 5º ano do curso, e passei para a Oficina de Mecânica. Seria o grande objectivo! Lá veio o acaso e na Escola apareceu um convite para admissão no Estaleiro Naval da CUF. Não me contive e convenci o meu pai de que tinha que mudar. Foi um problema, mas resolveu-se.

(continua)

4 comentários:

  1. Olá João , a sua história de vida ,faz-me lembrar a de muitos outros beirões que souberam levantar a cabeça , lutar e ir em frente ... Por acaso , ( mais um !) tenho um desses beirões em casa . Eu , pelo contrário , não fiz mais do que a minha obrigação ,que foi fazer o curso aproveitando todas as oportunidades que os meus pais me deram . No entanto ,quem não teve as minhas mordomias , como parece ser o seu caso e , como já disse o que tenho em casa , tem muito mais valor do que eu e , de outros como eu!
    Agora só uma pergunta : Essa ida para a CUF não o fez passar pela Esc. Alfredo da Silva afim de fazer os 2 anos do Preparatório ao Instituto ?! É que se fez , temos mais um dos seus acasos ...
    Espero a continuação da sua história
    Saudações arraianas
    Quina

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  2. Olá, Quina!
    Eu, posso não ter tido muitas mordomias mas, não podia, nem posso, queixar-me muito pois que, mesmo ao meu lado, tinha alguém que ainda ajudou a guardar cabras e que aos 10 anos já estava, em Lisboa, a trabalhar num escritório! Que razão, tinha eu para me queixar?
    Por acaso não passei pela Esc. Alfredo da Silva porque a minha CUF era deste lado do rio e, por acaso, foram 3 anos de Secção Preparatória, porque, e isto já não era por acaso, era ensino nocturno ao qual eu já me tinha habituado.
    Claro que a história vai continuar...

    Bem-haja,
    João Celorico

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  3. Será que as coisas acontecem por acaso? Quando somos jovens tendemos a pensar que sim, porém, com o passar dos anos, acabamos por descobrir que afinal “um acaso”, já era premeditado…
    Não existe a sorte ou o azar, apenas lições que a vida nos quer dar…
    Há sempre um significado por detrás de cada acontecimento; um significado que só passados anos, poderemos ver…

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  4. Ora, Cristina, diga-me, se souber, porque é que eu, por acaso, fui parar ao "brisadoaltodaserra". É que, a partir daí, isto não pára e eu se soubesse o significado, ficava mais descansado. Como o não sei, há que continuar, enquanto houver vida e saúde...
    Esperando que tenha a sua companhia e a de outros, para não sentir a solidão, lol...
    Abraço,
    João Celorico

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