Seria então aqui, que eu iria, 3 anos passados, dizer quanto estava enganado quem me tinha “chumbado” em Serralharia. Um ano de aprendizagem, um Concurso Provincial de Trabalho e um Concurso Nacional chegaram para os convencer.
Mas, também aqui, o acaso se meteu. Eu tinha 17 anos (era aprendiz) e estava a competir com rapazes de 21, com muito mais prática do que eu. Aconteceu que no Concurso Provincial, um rapaz da Fábrica Militar de Braço de Prata, 21 anos feitos, achou que já tinha ganho e resolveu ir a uma “matineé” no Império. Esse simples acaso fez com que os tempo de execução fossem semelhantes, só que, por acaso, o meu trabalho estava mais dentro das tolerâncias! E ganhei!
Depois do Concurso Nacional, viria a representação de Portugal no Concurso Internacional, em Bruxelas, em plena Expo58, com o seu simbólico “Atomium”.
Pois, mas uma série de acasos, um dos quais era eu ter os exames finais do Curso Industrial, desta vez não deixaram e eu por cá fiquei! Nem tudo era a favor!
Curso Industrial terminado, recebo convite para Desenhador no LNEC. Começo a equacionar o problema, deixar a “ferrugem”, ou não. O acaso veio em meu auxílio. O Estaleiro abriu admissões para a Sala de Desenho e resolveu-me o problema. Concorri e fiquei. Foram os melhores anos da minha vida. Considerado como um empregado (já era gente) e não como operário, no Natal recebia 100$00 e não apenas 20$00, num envelope, das mãos do Director e não dum simples pagador e tinha uma espécie de semana inglesa. Sentia-me bem e fazia planos para o futuro. Ainda o acaso, fez com que nesse ano fosse criada, no ensino nocturno, a Secção Preparatória aos Institutos. Foi como sopa no mel e, eu lá estava caído. As coisas pareciam ligar-se.
Passados 3 anos, a terminar a Secção Preparatória, fui à inspecção militar. A Guerra Colonial tinha começado e era quase garantido ir lá “bater com os costados”. Ainda pensei que poderia ficar “inapto”, não sei por que razão, mas claro que fiquei apurado. Tudo me parecia ainda muito nebuloso, não entendia muito bem o que me estava para acontecer nesse dia de fim de Junho em que tinha chovido e trovejado durante toda a noite. Após a inspecção e de regresso à Sala de Desenho, com a “boa” nova, quis o acaso que um colega meu me dissesse: - Olha lá, porque é que não vais à Náutica? Eu, já ligado aos navios, mas em terra, não me estava a ver andar embarcado mas, depois de alguma conversa, “embarquei” nessa. O meu fito era entrar no Instituto Industrial mas a agulha, por acaso, tinha que ser feita para outro lado.
O acaso ia fazer com que eu, já malas feitas para ir para Mafra levantar o bilhete para as matas de Angola, me transformasse num precursor dos Gamas e dos Cabrais.
(continua)
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