quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Angola", já foi ... nome de navio ! ( 3 )

( Angola , III )

O "Albertville" saindo do porto de Anvers (Antuérpia), rumo ao Congo (ex-belga)
(retirado de www.simploc.co.uk )
O terceiro, um navio construído em 1912 ( lançado à água em 30 de Junho e entregue em Dezembro) nos Estaleiros John Cockerill, Hoboken, Bélgica, com o nome de “Albertville” (também já o quarto com esse nome), para o serviço da Compagnie Belge Maritime du Congo, era já um cargueiro de razoáveis dimensões, com 7.050 tons deadweight, 439,5 pés de comprimento, 55,7 pés de pontal e 37 pés de boca. Tinha acomodações para 164 passageiros em 1ª classe e 136 em 2ª; 2 propulsores; motor John Cockerill, Seraing, de 8 cilindros, 964 bhp, que lhe permitia atingir uma velocidade de 14 nós; dois conveses e um convés de abrigo.
Durante a 1ª Guerra Mundial, foi requisitado pelo governo britânico e utilizado como navio hospital no período de 1914/1915.
Só em 24/4/1923,quando foi adquirido pela CNN, recebeu o nome de “Angola” e, após uma completa revisão nos estaleiros construtores, em 16/6/1923 deixou Antuérpia, rumo a Lisboa, ficando então ao serviço da companhia.
Ostentando, já, o nome de "Angola"
( retirado de www.photoship.co.uk)

Logo nesse ano de 1923, no dia 4 de Outubro, talvez no regresso da sua 1ª ou 2ª viagem com o novo nome, chegava a Lisboa trazendo a bordo, vindos de Angola, o Alto Comissário de Angola, general Norton de Matos, e o elefante “Maputo”, este muito provavelmente com destino ao Jardim Zoológico de Lisboa.

Em 1924, Pedro Muralha escrevia na pág. 17 do seu livro “Terras de África: S.Tomé e Angola”: “…Há seis longos dias que não divisamos terra. O “Angola”, era um dos navios mais importantes da Companhia Nacional de Navegação…”



Em 1929, no dia 26 de Setembro, durante a viagem , aos 46 anos, morre o passageiro, Tomaz de Aquino de Almeida Garrett, 2º visconde de Almeida Garrett.

E em 1932, Julião Quintinha, também depois de ter viajado neste navio, escrevia na pág. 148 do seu livro “Terras do sol e da febre: impressões do Congo Belga, África Equatorial Francesa, Transvaal, Nyassaland, Tanganyk, Zanzibar, Mombaça, Aden, Egipto”: “…O navio em que viajo é o “Angola” da Companhia Nacional de Navegação, bastante confortável e até com mais luxo do que alguns navios alemães…”e mais adiante, na pág. 149, “…Salva-me desta ameaçadora monotonia o momentâneo e alegre tumulto que invade o navio quando ele toca em algum porto.”
Ainda neste ano de 1932 realiza, o "Angola", uma única viagem redonda, ao Brasil.
Em Julho de 1939, levou com destino a Angola, numa viagem de trabalho, o Presidente da República, General António Óscar de Fragoso Carmona e o Ministro das Colónias, Dr. Francisco José Vieira Machado, perspectivando a consolidação dos laços de solidariedade moral e política entre as Colónias e a Metrópole.
À chegada a Cabinda a colónia procurou dar a conhecer, ao Chefe do Estado, todas a s suas potencialidades e em cerimónia de boas vindas fez sobrevoar o paquete por todos os aviões do Aero Clube de Angola, com o intuito de conseguir apoios para o desenvolvimento da aviação civil.

Nesta viagem entre os muitos tripulantes do “Angola” estava o pai de Maria Ivone Salvadora Fernandes, de Vila Real, que em Dezembro de 2007 resolveu participar num blog dando a conhecer o seu interesse por este navio, fruto do que tinha ouvido a seu pai.
 

Em Outubro do ano de 1939, o “Angola” faz a sua primeira viagem transatlântica, rumo ao Brasil, ligando Lisboa a Santos, via Rio de Janeiro. Leva, nessa viagem, Vinicius de Moraes e sua mulher Tati que, vindos de Paris, onde se encontravam aquando da eclosão da II Grande Guerra, no dia 2 de Setembro, tinham decidido regressar ao Brasil. Fortuitamente tinham encontrado em Lisboa o escritor modernista Oswaldo de Andrade e sua esposa, Bárbara, resolvendo esperar cerca de 45 dias pela partida do “Angola” para juntos fazerem a viagem. No Estoril, enquanto aguardava a partida do navio, Vinicius escreveu aquele que talvez seja o mais famoso poema da sua obra: “Soneto da Fidelidade”.

Nesse ano de 1939, o Comandante seria António R. de Betencourt, o 4º Oficial de Navegação seria Eduardo Mariano da Fonseca Pereira e o 3º Oficial Maquinista seria Américo da Silva Tomar que, mais tarde, viriam a ser, respectivamente, comandantes os dois primeiros e Chefe de Máquinas o terceiro, no último navio “Angola”. Também neste navio andaram Manuel B. Russo Belo, como 3º Oficial Maquinista e Joaquim Cipriano da Silva, como 4º Oficial Maquinista (este foi também Chefe de Máquinas no último navio “Angola”).

Decorria o ano de 1940, já em tempo de guerra quando, de novo a caminho do Brasil, o navio que, para fácil identificação e assim evitar ataques de submarinos, levava pintadas em branco e em ambos os bordos, em grandes letras: Angola, Lisboa, Portugal, foi abordado pelos alemães em alto mar, tendo ficado a aguardar cerca de 24 horas até que fosse autorizado a prosseguir viagem.
Embora a tripulação, pacientemente, tentasse acalmar os passageiros, estes, assustados, choravam e gritavam de medo. Entre os passageiros estavam, Maria Gomes, menina portuguesa, nascida em 1931, na freguesia do Líria, onde viveu até ao dia desta viagem, com sua mãe e seus três irmãos e que se iam juntar a seu pai, trabalhador no Banco do Estado de São Paulo.
No dia 5 de Junho o navio entraria no porto de Santos e a sua saída, após uma permanência de cerca de 3 semanas, estava prevista para o dia 22 com destino a Lisboa e Leixões, via Rio de Janeiro e Recife.


No dia 27 de Julho de 1940, sai o navio de Lisboa, que chega ao Rio de Janeiro no dia 5 de Agosto, levando consigo representantes das mais ilustres famílias polacas, entre outros, Roman Sanguszko, Karolina, Olgierdi i Konstanty Czartoryski e Jolanta Radziwill e grandes figuras da cultura polaca, tais como, os poetas Julian Tuwim e Jan Lechon e a actriz Irena Eichlerówna, que fugindo da guerra, emigravam para o Brasil.
Ainda em 1940, no dia 20 de Outubro, também para o Brasil, muito abatido, partia para o exílio Jaime Cortesão, acompanhado de sua mulher e de sua filha Maria Judite, também ela exilada. No cais, na despedida, estiveram aqueles poucos que não quiseram deixar de se despedir dum amigo, arrostando com tudo o que politicamente isso lhes acarretava. Foram eles, além de dois dos seus filhos, Mário Salgueiro, António Sérgio, Francisco Mendes, Montalvor, Câmara Reys, Augusto Casimiro (seu cunhado), Hernâni Cidade, Álvaro Pinto e seu filho, e a chefe e duas guardas da cadeia das Mónicas (que se vieram despedir de Maria Judite).



Em 1946, o seu nome foi alterado para “Nova Lisboa”, para dar lugar ao novo “Angola” que iria ser construído ao abrigo do Despacho 100.

Em 1950 o, agora, “Nova Lisboa” foi vendido à British Iron & Steel Cº, Ltd ( BISCO) mudando o nome para “BISCO 3” e no dia 4 de Julho desse mesmo ano, levado pelo rebocador “Turmoil”, deixou Lisboa, rumo a Inglaterra, para ser desmantelado em Blyth, por Hughes Bolckow Shipbreaking Cº, Ltd..
Tinha também, este navio, em 1939:
Convés: 1º, 2º , 3º e 4º (2) Oficiais de Navegação e Praticantes (2); Carpinteiro e Contra-mestre.
Saúde: Médico e Enfermeiro.
Máquinas: 1º, 2º e 3º (2) Oficiais de Máquinas e Praticantes (4).
Câmaras: 1º e 2º Comissários e Praticante; 1º e 2º Despenseiros

Um total de 24 oficiais e equiparados!

Características Principais

Tipo de navio.......................................... Misto (carga e passageiros), 2 hélices
Construtor …………………………….. John Cockerill
Local de construção ............................... Hoboken, Bélgica
Ano de construção ................................. 1912
Nº de registo .......................................... 415-E, na Capitania do porto de Lisboa
Sinal de código ...................................... C.S.A.F.
Comprimento fora a fora ....................... 139,64 m
(Length overall)
Comprimento entre pp. .......................... 439,5’ ( 133,96 m )
(Length between perpendiculars)
Boca (Breadth).......……... 55,7’ ( 16,98 m )
Pontal (Depth moulded) . 7,74 m
Calado a vante (Draft forward) …... 10,45 m
Calado a ré (Draft after) …....… 11,28 m
Porte bruto (Deadweight) …...… 7.050 ton
Arqueação bruta ……………………... 7.884 ton
(Gross Tonnage)
Arqueação líquida ................................ 4.844 ton
(Net Tonnage)
Aparelho propulsor ………………….. John Cockerill, Seraing / 8 cilindros
(Main engine)
Potência (Horse power) …... 964 nhp
Velocidade (Speed) .................. 14 nós
Total de passageiros ............................ 474 ( 96 em 1ª; 134 em 2ª; 144 em 3ª e 100 em 4ª classe) *
* Caso fosse necessário a 4ª podia alojar mais 64 passageiros

(continua)

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