A igreja de Santa Maria, fortemente ligada aos nados, casados e falecidos em Salvaterra do Extremo, bem como lugar de fé da população desta terra, julga-se que desde o séc. XV |
A população de Salvaterra do Extremo no período (1860-1910)
Socorrendo-nos de um trabalho feito sobre o concelho de Idanha-a-Nova,
poderemos dizer algo sobre Salvaterra do Extremo.
Assim, historiando um pouco, a legislação saída da República, logo em 1910,
obrigava os párocos a entregar todos os Livros de Registos de Baptizados,
Casamentos e Óbitos, nos registos civis da área. Face a esta situação os bispos
ordenaram aos párocos uma rápida cópia-resumo dos mesmos livros, originando
então os Livros de Extractos de Registo de Baptismos, Casamentos, Óbitos e dos
Expostos
E é com este tipo de fontes que poderemos ter uma rápida consulta e um
trabalho quantitativo à escala dum Concelho, dum Distrito e mesmo a nível
nacional. Estes livros, porém, não são o espelho fiel dos Livros de Registo
porque o tempo urgia e, assim apresentam, decerto, erros cometidos não só
devido à pressa como também ao trabalho minucioso e cansativo. Algumas
paróquias não têm os Livros completos e outras nem sequer os têm. Estas
deficiências são mais notadas nos anos de 1910 e 1911, anos conturbados durante
os quais o anti-clericalismo foi mais notado. Só em 1919 parece estar tudo normalizado,
pois, no dizer do pároco do Ladoeiro, é escrito com satisfação que os dois
últimos casamentos civis, que havia na freguesia, tinham sido legalizados.
Da análise dos Livros de Extractos, algumas conclusões se podem tirar e, em
relação a Salvaterra do Extremo, assumir que os valores encontrados para o
concelho de Idanha-a-Nova, não serão muito diferente para esta sua freguesia.
Verificamos, então, uma taxa de natalidade rondando os 40 nados/1000
habitantes e uma taxa de mortalidade variando entre os 20 e os 39 mortos/1000
habitantes. Valores estes que, na Europa, se situarão na 5ª posição, atrás da
Rússia, Hungria, Espanha e Itália ou Grécia (estes três, países
mediterrânicos). Verifica-se também que há uma relação directa entre a
natalidade e a mortalidade. Ao aumento da natalidade, corresponde um aumento da
mortalidade.
Quanto à taxa de nupcialidade (casamentos), os valores parecem andar entre
os 15 e os 20 casamentos/1000 habitantes.
Verifica-se também que os dias mais escolhidos para o casamento são a
quarta e quinta-feira enquanto terça e a sexta-feira raramente eram utilizados.
Porém, a partir de 1885, o sábado começa a ser também bastante escolhido.
Explicação para isto, talvez a de que tanto a terça-feira como a sexta-feira
são dias aziagos e quanto à escolha do sábado talvez, devido a uma evolução da
sociedade, a ideia de colocar a festa mais próxima do domingo, único descanso
semanal!
Os meses privilegiados para o casamento vão de Agosto a Outubro, certamente
relacionado com o fim dos trabalhos agrícolas, após as ceifas. O mês de
Outubro, a partir de 1880-1884, passa a ter uma maior incidência, talvez devido
a uma maior ruralização, o que fazia estender o trabalho dos campos até mais
tarde. Por outro lado os meses menos escolhidos para o casamento são Fevereiro
e Março (meses da Quaresma) e Junho e Julho (meses das ceifas).
Quanto à idade do casamento, considerando o período de 1860 a 1921,
admite-se que o mais frequente seja de 25 anos para o homem e 22 para a mulher.
A ancestral pia baptismal da igreja de Santa Maria |
Entrada do "Campo da Egualdade"! Última morada dos habitantes de Salvaterra, a partir de 1905 |
É claro que a fraca alimentação, à base de vegetais, pão, azeitonas e um
naco toucinho, estava na origem da pouca resistência do povo às doenças. As
crianças bebiam água dos regatos, comiam fruta ainda verde, suportavam as
agruras do clima e bebiam o leite, enfraquecido, das mães. Os costumes também
ajudavam, pois enfaixavam-se as crianças em baietas,
logo ao nascimento e durante três meses, apertando-as para que a cabeça não
pesasse para a frente e ficasse marreca. A criança devia ficar bem rija!
Também se verifica que as mulheres, após os 60 anos, duram mais que os
homens.
Bibliografia:
António Maria Romeiro de Carvalho, in Medicina na Beira Interior da Pré-História até ao Séc. XX, Cadernos de Cultura, vol. 5, Out.1992
Bibliografia:
António Maria Romeiro de Carvalho, in Medicina na Beira Interior da Pré-História até ao Séc. XX, Cadernos de Cultura, vol. 5, Out.1992
Sem comentários:
Enviar um comentário