José Celorico
19/02/1906 ---- 29/04/1991
Sem pai aos 15 anos, o segundo de 6 irmãos e o primeiro de 2 varões, cedo teve de se fazer à vida, o que naquele tempo não era tão estranho quanto isso.
Com uma esporádica passagem pelos bancos da escola, um luxo que a vida não permitia, ainda na infância, foi pastor e jornaleiro até à ida para o serviço militar.
Na tropa, onde entrou como refractário, situação só possível devido à falta de informação e comunicação da época, foi maqueiro e impedido. Terminado o serviço militar, casou e fazendo frente à desdita, pastoreou, cavou, ceifou e contrabandeou, até ao dia em que emigrou com mulher e os dois filhos, rumo à cidade capital do Império. Não sem antes ter uma passagem de 6 anos, digamos que um estágio, nos arrabaldes. Aí foi servente de pedreiro, cavador, e jornaleiro. Uma vez na cidade, agora já assalariado num organismo do Estado, ainda foi espalhando o seu suor, em “part-time”, como taberneiro, bagageiro, jardineiro. Enfim, a tudo o que pudesse acrescentar um pouco aos seus parcos proventos ele não virava a cara. A vida, não era doce! Mesmo que a saúde, por vezes não o ajudasse muito. A asma era o inimigo!
Muito embora não fosse muito hábil de mãos, e as suas obras pudessem não ser uma perfeição, ainda fazia umas incursões na função de sapateiro, onde não se saía mal de todo.
A idade foi avançando, a doença não o largava, o coração também lhe pregava partidas e a hora da reforma soou. Aos 70 anos!!!
Quase destroçado, uma vez que os problemas do Mundo “precisavam” de si, levou algum tempo a recompor-se. Passada essa fase, iniciou uma “reforma agrária” onde desbravou um terreno de calhaus e criou uma horta. Empresa essa que lhe desgastou energias e o deixou quase de rastos. A terapêutica parecia boa mas o resultado ia sendo desastroso! Foi vê-lo, então, a semear e colher o pouco que a terra lhe dava, fazendo-o regressar às origens mas, agora, já sem a vitalidade dos seus 20 anos. Ao princípio chegou a parecer obsessão! E, aos domingos, transístor no bolso lá ia a apanhar sol e guardar a sua “herdade”. Ouvia o relato de futebol, coisa a que nunca tinha ligado e que agora o ajudava a passar o tempo e a ter assunto de conversa. Jogar as cartas num qualquer banco de jardim, não era para ele.
Teve a alegria de ver o nascimento de um neto e três netas, cuja infância sempre acompanhou mas, já não chegou a ver o nascimento da primeira bisneta pois o seu coração pregou-lhe uma partida, que havia de ser a última, acabando por se finar depois de cerca de duas semanas de hospitalização.
Tanta vida, já passada,
e da cabeça não me sai,
está em mim, entranhada,
a memória de meu PAI!
Boa tarde, João
ResponderEliminarO seu pai trabalhou muito,mas deve ter morrido com um imenso orgulho por ter conseguido dar um futuro muito melhor aos seus filhos.
Assim foram também os meus pais:vidas muito penosas,muito trabalho... mas um enorme orgulho por terem conseguido dar aos seus seis filhos estudos e enxadas um pouco mais leves.
Obrigada por partilhar.
Bom fim de semana
Um abraço
Alcinda
Olá, Alcinda!
ResponderEliminarBem haja, pelas suas palavras. O orgulho do meu pai não deve ter sido maior do que o que os filhos mantêm por ele. E esse meu orgulho só findará quando eu não tiver memória!
É bom partilhar!
E, já agora, partilho mais esta. O destino quis que o dia do 13º aniversário da sua morte, fosse também um dia de alegria. Nasceu aquele que, até agora, é o único bisneto varão, filho também do seu único neto!
Bem haja,
João Celorico