sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

19 de Fevereiro ...

José Celorico
19/02/1906 ---- 29/04/1991


Sem pai aos 15 anos, o segundo de 6 irmãos e o primeiro de 2 varões, cedo teve de se fazer à vida, o que naquele tempo não era tão estranho quanto isso.
Com uma esporádica passagem pelos bancos da escola, um luxo que a vida não permitia, ainda na infância, foi pastor e jornaleiro até à ida para o serviço militar.



















Na tropa, onde entrou como refractário, situação só possível devido à falta de informação e comunicação da época, foi maqueiro e impedido. Terminado o serviço militar, casou e fazendo frente à desdita, pastoreou, cavou, ceifou e contrabandeou, até ao dia em que emigrou com mulher e os dois filhos, rumo à cidade capital do Império. Não sem antes ter uma passagem de 6 anos, digamos que um estágio, nos arrabaldes. Aí foi servente de pedreiro, cavador, e jornaleiro. Uma vez na cidade, agora já assalariado num organismo do Estado, ainda foi espalhando o seu suor, em “part-time”, como taberneiro, bagageiro, jardineiro. Enfim, a tudo o que pudesse acrescentar um pouco aos seus parcos proventos ele não virava a cara. A vida, não era doce! Mesmo que a saúde, por vezes não o ajudasse muito. A asma era o inimigo!
Muito embora não fosse muito hábil de mãos, e as suas obras pudessem não ser uma perfeição, ainda fazia umas incursões na função de sapateiro, onde não se saía mal de todo.
A idade foi avançando, a doença não o largava, o coração também lhe pregava partidas e a hora da reforma soou. Aos 70 anos!!!
Quase destroçado, uma vez que os problemas do Mundo “precisavam” de si, levou algum tempo a recompor-se. Passada essa fase, iniciou uma “reforma agrária” onde desbravou um terreno de calhaus e criou uma horta. Empresa essa que lhe desgastou energias e o deixou quase de rastos. A terapêutica parecia boa mas o resultado ia sendo desastroso! Foi vê-lo, então, a semear e colher o pouco que a terra lhe dava, fazendo-o regressar às origens mas, agora, já sem a vitalidade dos seus 20 anos. Ao princípio chegou a parecer obsessão! E, aos domingos, transístor no bolso lá ia a apanhar sol e guardar a sua “herdade”. Ouvia o relato de futebol, coisa a que nunca tinha ligado e que agora o ajudava a passar o tempo e a ter assunto de conversa. Jogar as cartas num qualquer banco de jardim, não era para ele.
Teve a alegria de ver o nascimento de um neto e três netas, cuja infância sempre acompanhou mas, já não chegou a ver o nascimento da primeira bisneta pois o seu coração pregou-lhe uma partida, que havia de ser a última, acabando por se finar depois de cerca de duas semanas de hospitalização.


Tanta vida, já passada,
e da cabeça não me sai,
está em mim, entranhada,
a memória de meu PAI!

2 comentários:

  1. Boa tarde, João
    O seu pai trabalhou muito,mas deve ter morrido com um imenso orgulho por ter conseguido dar um futuro muito melhor aos seus filhos.
    Assim foram também os meus pais:vidas muito penosas,muito trabalho... mas um enorme orgulho por terem conseguido dar aos seus seis filhos estudos e enxadas um pouco mais leves.
    Obrigada por partilhar.
    Bom fim de semana
    Um abraço
    Alcinda

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  2. Olá, Alcinda!
    Bem haja, pelas suas palavras. O orgulho do meu pai não deve ter sido maior do que o que os filhos mantêm por ele. E esse meu orgulho só findará quando eu não tiver memória!
    É bom partilhar!
    E, já agora, partilho mais esta. O destino quis que o dia do 13º aniversário da sua morte, fosse também um dia de alegria. Nasceu aquele que, até agora, é o único bisneto varão, filho também do seu único neto!
    Bem haja,
    João Celorico

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