Mal ficaria se eu, a terminar esta minha resenha sobre as primeiras letras, não lembrasse todos os meus companheiros da viagem primeira.
Assim, cá vão os nomes de todos eles. Se por acaso algum faltar, ficam as minhas desculpas e o meu abraço de amizade e saudade. Bem hajam, todos eles!
Da 1ª à 3ª classe:
O Gabriel, da Baratã, bastante alto para a idade mas também mais velho (já teria uns 11 ou 12 anos), bastante pobre, era um bom rapaz embora não muito bom estudante.
O Quintino, que morava no Algueirão, cujo pai era caseiro numa quinta. Aluno médio.
O Eduardo, era com quem eu me identificava mais, quer como maneira de ser, quer intelectualmente. Normalmente, estávamos os dois no “top” da classe.
O Eugénio, o João António, o Rato, o Pinto, o Peralta (que se transferiu para Almada), o Valdemar, o Gaspar e o Luís que também morava no Algueirão de Baixo e que era de Figueiró dos Vinhos e minha companhia no trajecto diário (de família muito humilde, quase sempre descalço, tinha um irmão mais novo e umas calças que dariam, possivelmente, até ir para a tropa uma vez que iam encolhendo na proporção em que ele ia crescendo. Não era muito asseado, no entanto, um aluno acima da média).
Meu amigo, companheiro de muitas horas era o Lino, que embora da minha idade andava um ano atrasado, em relação a mim.
Na 4ª classe:
O Bastos era o meu companheiro de carteira, um forasteiro como eu, embora já com uns dias de avanço. Era de Albergaria-a-Velha. Ainda mantemos contacto. De sargento, foi a oficial da Marinha de Guerra.
O João Luís ,esperto e muito falador, pequenino e gordito, morava ali para o fundo da Calçada Salvador Correia de Sá. Vive no Rio de Mouro.
O Morgado, menino fino que por vezes a mãe acompanhava à escola. Morava ali para a Travessa do Alcaide. Deu em embirrar comigo por me achar pouco citadino e por isso andámos à chapada, a partir daí fomos amigos. É o costume!
O Aníbal, morava na rua do Vale, a Jesus, portanto perto de mim e por isso fomos companheiros de algumas sessões de estudo, ora em minha casa, ora em casa dele.
O Garcia, quanto a mim era o mais vivo da classe. Pequenino e esperto. Muito falador. Julgo que não tinha pai. Morava na Rua Fernandes Tomás. Tinha uma imaginação muito fértil.
O Rita, bastante calado e compenetrado. Talvez o mais calado da classe. Já falecido.
O Salgueiro, havia uma coisa nele que me deixava encantado, uma esferográfica (uma raridade naquele tempo) que escrevia com uma tinta de cor arroxeada, invulgar. Vive na Ericeira.
O Rato (aqui, como no Algueirão, também havia um Rato), alegre e parceiro do Machado. Vive em Coimbra.
O Machado, vivo sem ser muito expansivo e com um nível acima da média. Vive em Barcelos.
O Nelson, vivo, cabelo liso, tez branca. Vive em Queluz
O Jerónimo, alegre, era parceiro do Fonseca e do Abrantes. Poucos anos mais tarde ainda o encontrei.
O Abrantes, ponderado. Era baixo para a largura de ombros.
O Fonseca, mais expansivo, pequeno defeito numa das vistas, o que lhe fazia abri-la um pouco mais que a outra. Faleceu devido a um acidente de mota, na curva do Mónaco, na marginal.
O Pernas, bastante aberto e companheiro, morava para os lados da rua da Quintinha.
O Venâncio, vivo e falador, morava na Rua de S. Bento. Acompanhava com o Pernas.
O Neto, alto, casaco castanho escuro ou camisa branca de meia manga. Já falecido.
O Carvalho, para nós o “Carvalhinho”, franzino, muito vivo e brincalhão.
O Marques que, por estranho que pareça, não me recordo nada dele mas, que lá estava isso é certo!
O Trindade, penso que já seria repetente e pelo que eu ia vendo ia gostar de continuar a ser. De origem humilde, suponho que a mãe ou o pai, a pedido da professora ou por sua própria vontade, de vez em quando tinham algumas conversas acerca do “rapazito”.
Parecia-me que estudar não seria o seu forte. Por isso, bastas vezes tínhamos o Trindade como bombo da festa. Era reguada que até fervia.
Os anos passaram e tive o grato prazer de encontrar o Trindade, agora no estaleiro da Lisnave, nos rebocadores. A vida dá muitas voltas e pelo que me foi dado a conhecer, o Trindade mudou muito e também ele, apesar das reguadas, não esqueceu a D. Maria.
O Campos, suponho que morava na travessa do Judeu. Suponho que também era repetente e não muito frequentador das aulas nem muito interessado nisso.
O Almas, aluno mais velho, morava perto da Professora, na rua dos Cordoeiros. Pouca assiduidade.
O Espadeiro, mais velho, alto, magro, normalmente de casaco. Pouca assiduidade, repetente ou em preparação para o exame de admissão.
O Maximino, andava a preparar o exame de admissão.
Excepção feita ao Trindade, ao Campos, ao Almas e ao Espadeiro, todos os outros fizeram exame de admissão. Ao liceu, só o Machado e o Rato. Ao curso comercial, o Morgado, o Rita, o Salgueiro, o Pernas, o Neto, o Maximino, e eu (que havia de mudar antes de entrar). Ao curso industrial, os restantes. Foi uma boa safra!
Apesar de tudo, não tive grandes problemas de integração, até porque, Morgado à parte, nenhum dos novos colegas me criou problemas, virtude deles ou minha que também os não provocava. Tanto assim que criei realmente amigos que ainda hoje recordo e com quem me dei sempre bem. Claro que em primeiro lugar tenho que colocar o Bastos, que me facilitou a vida não só à minha chegada como durante o período em que estive doente.
Entre 1995 e 2000 um outro antigo aluno da Escola nº 8, por acaso, contactou-me e fiz um trabalho de pesquisa, quase detective. Consegui não só encontrar grande parte desses meus colegas como ainda de nos reunirmos num almoço. Foram momentos de grande emoção e saudade. Já não nos víamos, havia quase 50 anos!
Fenomenal , João !!! Eu ,que andei sempre na mesma Escola e ,com raras excepções, as mesmas colegas , de poucas sei onde estão ...Ainda bem que consigo é diferente pois , deve ser bom rever os colegas de quando eramos tão pequenos .
ResponderEliminar«Vesitas »
Quina
Depois de tanto tempo sem vir visitar este blog,(por motivos de saúde)deparo-me,com todo este historial!!!
ResponderEliminarQue bela memória sim senhor,João muitos parabéns,conseguiu que ao le-lo me viessem á lembrança algumas histórias desse tempo de escola primária,pouquinhas, pois muitos dos meus e minhas colegas não sei de onde andam.
Adorei rever os livros, ver a sua sacola e por aí fora.
Felicidades, gostei muito do que li
Ana Bernardo
Olá, Quina!
ResponderEliminarRealmente comigo, parece que é diferente. Deu-me algum trabalho encontrar 16 deles. Pena foi que só conseguimos reunir 12. Os nomes, eu sabia-os todos, a grande maioria mesmo completos. Foi um grande trabalho de investigação. Muitos já não vivem em Lisboa. Cheguei a alguns que nem pensavam ter andado naquela escola. A uns cheguei através dos filhos ou irmãos. Outros pretendiam manter-se com paradeiro desconhecido e a um outro cheguei a ele através dos cadernos eleitorais (com o nome da esposa). Investigação pura mas, quanto a mim, bem sucedida e que valeu a pena.
No fim deu o resultado que aqui apresento com muito prazer e que, se os meus amigos gostam, é "ouro sobre azul".
Bem hajam,
João Celorico
Olá, Ana!
ResponderEliminarBem aparecida e espero que já esteja restabelecida. Como vê, nem sabe o que perdeu com essa sua ausência, lol...
É assim, eu deleito-me a escrever estas coisas, os amigos gostam e eu já não consigo parar. Estórias destas todos temos, umas melhores outras piores. Estas são as minhas que espero façam reviver também as dos outros.
Quanto ao meu "disco rígido" ainda me parece estar em boas condições. Por isso eu vou aproveitando porque se ele se estragar, quem fez este já cá não está para fazer outro...
Bem haja pelas palavras e gostei de saber que está melhor.
Abraço,
João Celorico
Olá João
ResponderEliminarEsse disco rígido é do melhor.
Adorei percorrer todas as ruas onde moravam os seus coleguinhas da escola de Lisboa. Eu andei lá pertinho, na Escola 22, na Calçada do Combro. Tenho recordações das professoras, mas das alunas nem por isso. As melhores recordações da "primária" são do mês que passava na aldeia, durante as férias do meu pai, que ele fazia coincidir com a época da caça. Assim, de acordo com as professoras das duas escolas, o início do ano escolar era sempre no Sobral Magro.São recordações de liberdade que não tenho de Lisboa onde o recreio era passado numa sala que nem janelas tinha.
Beijinhos
Lourdes
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarO "disco rígido" se se portar como o de quem o "fabricou", que esteve até aos 98 anos quase perfeito, com ligeiras deficiências, não será nada mau. Também é conveniente não o deixar parar, o que eu tento fazer.
Dos meus colegas quase me atrevo a dizer que não escapa um e, isto, até ao fim da vida académica.
Também eu, do recreio em Lisboa, ia dizer que nem lhe senti o cheiro mas não foi bem assim. Era um pátio interior, género de saguão, cheiro desagradável e humidade mas a que só uma vez tive acesso e chegou. No Algueirão, toda a rua era minha. Automóveis quase não havia, só algumas carrocitas e, vá lá, umas "caminétas".
Nessa Escola 22, se era na Calçada do Combro, também lá andou uma prima minha, entre 1954 e 1958. Hoje é professora de Física, reformada.
Abraço,
João Celorico