Este blogue foi criado após insistência de muitas pessoas, amigas (assim as considero). Porém não vou utilizá-lo só para a promoção da minha terra, Salvaterra do Extremo, vila de 780 anos, situada (para que conste) no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, na província da Beira Baixa. Vou igualmente tentar diversificar os assuntos e trazer aqui alguns que são do meu interesse e espero que sejam do interesse de mais alguém. Mais um leitor que seja, já valeu a pena!
terça-feira, 22 de março de 2011
Região da Beira Baixa está a perder costumes característicos da Quaresma
Conforme prometido num comentário que fiz no blogue “Idanhense Sonhadora”, relativamente ao “post” “É Quaresma em Idanha-a-Nova …” e por me parecer dalgum interesse, aqui deixo a transcrição dum artigo inserto no “Diário de Notícias” de 16/02/1989.
Apesar da reabilitação de alguns rituais
Região da Beira Baixa está a perder costumes característicos da Quaresma
O Período da Quaresma já contou com muitos e diversificados rituais, na área da Beira Baixa. Hoje, porém assiste-se a um progressivo desaparecimento de costumes característicos que são parte integrante do património cultural do País.
Embora muitos deles estejam irremediavelmente postos de parte, a data ainda inspira a reabilitação de alguns desses rituais.
Entre eles, integra-se a tradição da “sarração da velha”, que sucedia a um grande período de recolhimento: antes praticado em Idanha-a-Nova e noutras localidades limítrofes, este costume consistia na organização em cortejo dos habitantes mais jovens da vila para, às primeiras horas do dia, percorrerem a área, munidos de uma serra e de um cortiço ( peça de cortiça de forma cilíndrica ), gritando: “Sarra-se a velha, sarra-se a velha”.
O cortejo acabaria por terminar na praça principal, com a serração do cortiço ao som do mesmo grito.
Apesar de tudo ter caído em desuso, os rapazes da vila ainda percorrem as ruas principais, trazendo consigo uma foice ou uma faca e um pau, que fingem cortar, entoando o mesmo grito, o que habitualmente faz correr as habitantes mais idosas às janelas, despejando sobre os “manifestantes” alguns jactos de água perfumada.
Paralelamente a este ritual, as classes mais abastadas costumavam festejar a Quaresma com bailes e outras diversões, sob o nome de Mi-Careme.
Encomendação das almas
Outro ritual ainda em uso em diversas localidades, é a “encomendação das almas”, constituída pelo cantar em voz triste de algumas quadras como esta: “As almas do Purgatório/Já em altas vozes/Co’as mãos postas ao Céu/Irmãos, lembrai-vos de nós”, entre outras possíveis.
Entretanto, na “aldeia mais portuguesa de Portugal”, Monsanto da Beira, é usual, a meio da Quaresma, assistir-se a um cortejo de rapazes, de porta em porta, tocando chocalhos e entoando “Capa-lo, capa-lo, está capado”, sempre que passam pela morada de pessoas menos queridas na área.
Com a aparição do visado, o grupo acaba por fugir com rapidez, para continuar a viagem.
Outros costumes integram o que se efectua em Benquerença, no concelho de Penamacor: no período quaresmal, rapazes e raparigas aproveitam cântaros e panelas de barro para, percorrendo as ruas da vila, os atirarem para quem vem atrás de si.
Em Idanha-a-Nova, podia assistir-se ao encher de cestas velhas de vime, com palha e uma brasa, que passariam que passariam de mão em mão durante o percurso.
A “procissão dos penitentes”
A “encomendação das almas” também era usual bem perto da fronteira espanhola, na freguesia de Salvaterra do Extremo, com a entoação de toadas dolentes, alusivas ao período em causa.
Por outro lado, um dos rituais mais significativos e elaborados, efectua-se em Paul, no Fundão, com a “procissão dos penitentes”, manifestação que, de acordo com o pároco local, constitui algo de “muito tétrico”.
Duas dezenas de jovens, envolvidos em lençóis brancos, percorrem, a partir da meia-noite, as ruas da vila, então totalmente escurecidas e silenciosas, arrastando bolas de ferro e transportando às costas objectos alusivos à “Paixão de Cristo”.
Segundo a tradição, não é autorizada a identificação dos “penitentes”, razão pela qual se mobiliza uma “guarda” especial em serviço ao longo das ruas.
Este tipo de procissão efectuava-se em tempos idos, um pouco por todas as zonas que integram a Beira Baixa, com variantes, por opção dos habitantes de cada lugar.
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João ,eu já sabia que a nossa imprensa deturpava muito os factos ,pois até em relação a familiares bem próximos que por motivos profissionais tiveram que dar ,aqui ou ali ,esta ou aquela entrevista ,eles alteraram radicalmente o que foi dito . Quanto às cerimónias quaresmais creio que logo erraram quando disseram que estavam a definhar ... De facto , se assim fora , como é que se apresentavam como candidatas a património imaterial da Humanidade pela Unesco ? Difícil algo que não exista ser candidato a alguma coisa ,não ?!!!
ResponderEliminarComo eu digo no meu blogue ,nem sempre a imprensa tem passado a melhor ideia das nossas celebrações , chegando mesmo a dar de nós uma imagem de brutos e primitivos ...
Agora quanto às cerimónias . 1º -Nunca ,que eu tenha dado por isso , se fez a Serração da Velha " em Idanha-a-Nova ; sei que se fez ou faz nalgumas terras do concelho , mais propriamente ,creio ser uma dessas terras S: Miguel d'Acha pois sendo a minha avó materna daí ela a referia ...O que referem como cestos de vime a arder, na minha terra , .... desconheço ... O único baile que conheci era o da "pinhata " que se fazia na Assembleia , clube da classe mais abastada ,que já não existe (o dito clube que o edifício está bem aproveitado )
Depois há uma confusão entre actos carnavalescos e quaresmais como sucede com os chocalhos e com as cacadas (estas sim em Idanha -a_Nova ).
Quanto à encomendação das almas , faz-se em várias terras do concelho sendo em Idanha-a-Nova como relatei : a foto é do ano passado ; espero tirar mais e melhores este ano.
Por último : recordo-me de ter ouvido falar de um padre que não queria que se fizessem certas cerimónias e que levou a população quase a rebelar-se ; era novo na região ,desconhecia as tradições e queria impor a sua visão das coisas . Teve de haver aconselhamento feito pelo Pároco da minha terra e também de outras pessoas...
Eis o que lhe posso dizer,acrescentando que não estou um mês sem ir "à Terra " ,senão fico doente !!!,e que nunca passei a Quaresma ,tal como o Natal , sem ser lá .
Entristece-me , pois acho que ainda hoje sucede o mesmo ,que a nossa imprensa continua ou a deitar-nos abaixo ou a ignorar-nos. Mas , mal por mal então que nos ignore e não nos deturpe .Não sei se já se deu ao trabalho de ver a agenda deste ano . O Raiano também a refere.
E , como eu costumo dizer quando já não sei que mais diga , "assim vamos nós andando neste jardim à beira -mar plantado...
"vezinho ,muntas e boas " que é como quem diz , tudo de bom.
Olá, Quina!
ResponderEliminarPor isso é que eu, o ano passado, quando fui contactado por uma jornalista do DN Magazine, quis ler o texto antes da publicação. Mesmo assim, a moça ainda pôs lá algo da lavra dela, mas com o meu consentimento...
Quanto às deturpações neste artigo, eu não sou a pessoa indicada para as detectar. Tenho conhecimento, por transmissão da minha mãe que na minha terra haveriam, o "Sarrar da velha", o "Encontro", a "Encomendação das Almas" e talvez mais alguma coisa. Infelizmente a minha mãe já não está entre nós para esclarecer tudo isso pois a sua memória de 98 anos não a atraiçoava.
Este ano estou com ideia de ir ao Bodo de Salvaterra (Festa da Senhora da Consolação) e talvez vá uns dias antes e possa ver algo do pouco que, na minha terra, ainda resiste.
Abraço,
João Celorico
Pois é João , temos de estar sempre atentos a esta "nossa imprensa "! E a maneira com que continuam a ignorar a agora chamada Beira Interior Sul.... dá-me vontade de lhes bater...
ResponderEliminarSabe, aqui há um ou dois anos ,não sei bem , estava tão cansada de não ouvir referir um só dos muitos acontecimentos da nossa região , que lhes escrevi 1 carta, pouco simpática, juntamente com a Agenda "O ADUFE ". Nem uma mísera resposta recebi...
Espero que possa ir até "à terra "pelo Bodo .Os campos já estão que é uma maravilha ...as FLORES SÃO UM "INSO"
"vesitas "
Quina
João
ResponderEliminarNa minha opinião está a fazer um bom trabalho na divulgação dos nossos usos e costumes. A Quina também e tem razão quando diz que alguma imprensa não só os ignora como os deturpa.
É uma pena pois tudo isto faz parte das nossas tradições e só temos que nos orgulhar delas, que de tão díspares, contribuem para a riqueza do nosso património cultural. Continuem.Eu estou a aprender muito convosco.
Beijinhos
Lourdes