terça-feira, 13 de março de 2012

O "Angola", vai de viagem... virtual! ( 5 )

Vista aérea do porto, artificial, de Leixões
Matosinhos. Porto de abrigo

Ontem, cumprindo o previamente estabelecido, o “Angola”, terminado o carregamento previsto, vai regressar a Lisboa, pelo que o Comandante pôs as Máquinas em “Atenção”, às 17.00h, começando a manobrar às 17h 24 min e dando a manobra por terminada, com “Toda a Força a Vante”, às 17h 40min. E seguiu viagem, rumo ao sul!

Foi assim que, às 02h 41min do dia 13, com o avistar da baía de Cascais, as máquinas foram, de novo, postas em “Atenção” para parar, para meter piloto, às 03h 07min, e seguir para fundear em Santa Apolónia, o que aconteceu às 04h 56min, ficando o navio a aguardar a ordem de “Suspender” e “Atracar”, que começou às 06h 58min e terminou às 08h 27min.

E, isto que não diz nada ao comum dos passageiros, aconteceu depois duma viagem de 172 milhas, que durou 10h 39min, a uma velocidade média horária de 16,1 nós.

Passado este intróito, o “Angola”, depois de, aqui em Lisboa, completar o carregamento e preparar as instalações para os passageiros constantes da lista de embarque, estará pronto para zarpar, no dia 16, rumo ao extremo norte da África Oriental portuguesa.

Entretanto a escala de serviço, agora de 24 horas, diz que eu irei ficar de serviço no dia 15, o que, terminando às 08.00h do dia 16, já nem dará tempo de ir a casa despedir-me da família. Na prática, eu começarei a viagem um dia antes dos outros!

Portanto, vou ter que, nessas 24 horas, preparar as máquinas para o dia seguinte e essa tarefa, já rotineira, traz-me à memória a minha 1ª viagem.
Também dessa vez fiquei de serviço na véspera da saída.
Como o navio saía do cais de Alcântara às 22.00h do dia seguinte, durante o dia anterior tínhamos que “pôr a instalação em cima” começando pela circulação do motor para proceder ao seu aquecimento, acender a caldeira, etc.. Durante a noite, estava eu, o Praticante a Oficial Maquinista, a descansar um pouco, fui chamado pelo 3º maquinista. A bomba de alimentação da caldeira não funcionava! Foi um abrir e fechar de válvulas, mas a única solução foi eu, às 04.00h ir para a cabine telefónica do cais da Fundição tentar descobrir o 1º maquinista. Constava que ele estaria a dormir em casa de um irmão, mas não se sabia o número de telefone, só se sabia que o irmão se chamaria António, ou Alberto Ribeiro. Foi uma odisseia, fui à lista telefónica, liguei até para os A. Ribeiro, desfazia-me em desculpas por acordar todo aquele pessoal e ao fim de um bom número de tentativas e de ouvir alguns impropérios, lá o encontrei. Às 05.00h ele estava a bordo e o problema foi resolvido! Na estadia, durante a reparação, alguém tinha trocado os lembretes das válvulas e baralhou tudo! Lindo! Nós, perante o problema, aplicámos toda a teoria, que vinha nos livros, seguimos as inscrições e fomos enganados, ele aplicou a prática e tudo funcionou às mil maravilhas. Foi a minha primeira lição de prática! Muitas outras iria ter!
A teoria é bonita, mas a prática nunca mais esquece e dá-nos a calma para enfrentar os problemas.

E, sob o olhar do Cristo-Rei, ao fundo, o canhão, no castelo de São Jorge,
 prepara-se para dar a salva de partida para a Grande Viagem


1 comentário:

  1. Muito interessante o seu diário de viagem. Andei no PÁTRIA, da CCN, que fazia mais ou menos a mesma viagem, não ia a Durban, e era a turbinas, claro.

    Nessa época era proíbido os navios atracarem entre as 00H00 e as 08H0, razão pela qual o ANGOLA fundeou em frente a Santa Apolónia e os navios da Colonial fundeavam habitualmente frente à Rocha. Curioso que não se optimizava a velocidade para chegar à hora e atracar logo.
    Ainda parece que estou a ver os navios da CNN bem carregadinhos e pintados para seguir viagem, mudarem do Cais da Fundição para a Estação Marítima de Alcântara, para embarque dos passageiros...

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