domingo, 9 de maio de 2010

Tenho um "amigo", chamado Museu...!



Eu sou assim, parece-me ter alguma facilidade em fazer amigos!
Travei conhecimento com ele, por intermédio do meu irmão, teria eu uns 8 ou 9 anos e ele pouco mais de 60. A partir de então e durante a minha adolescência fomos cimentando a nossa amizade e essa foi tal que ficou para a vida!
Ele abria-me o seu “coração” e eu retribuía-lhe, visitando-o.
Por razões de proximidade, de residência, era um “amigo” privilegiado dos passeios domingueiros, até por ser paredes meias com o “Jardim 9 de Abril”, vulgo “Jardim da Rocha do Conde d’Óbidos”, varanda sobre o Tejo, onde rapazes e meninas, imberbes e não só, aproveitavam para pôr em dia os seus devaneios. Que não haja maus entendimentos! Os tempos eram outros! Eu, claro, não fugia à regra!!!
E, das vezes sem conta que o visitei, é desse tempo que retenho as primeiras emoções de rapazinho temente a Deus, perante “As tentações de Santo Antão”, de Jheronymus Bosch (do qual, anos mais tarde, por puro acaso, viria a conhecer a casa onde viveu, em s’Hertogenbosch, capital da Brabantia do Norte, Holanda) que me deixaram verdadeiramente intrigado e temeroso, assim como o quadro “Inferno” de autor desconhecido. Outras pinturas retinham a minha atenção, tais como: “São Jerónimo”, de Albrecht Durer; “O Martírio de São Sebastião”; “Retrato de D. Sebastião”; os “Painéis de S. Vicente”, julgados da autoria de Nuno Gonçalves; os quadros de Domingos Sequeira e de Vieira Portuense; a “Capela das Albertas”, restos do convento de Santo Alberto, ali implantado e destruído pelo terramoto de 1755; os Biombos Namban; a Custódia de Belém, atribuída a Gil Vicente; o mobiliário indo-português, com os seus maravilhosos contadores; as porcelanas e faianças; as peças de ourivesaria, joalharia e arte sacra; o Presépio dos Marqueses de Belas. Pormenor estranhíssimo, para mim, era o elevado número de obras de arte que ostentavam uma pequena placa onde se dizia algo como, “cedido pela Colecção Gulbenkian”. Anos mais tarde eu viria a entender tal mistério! Mas, havia uma pequena sala onde se encontravam desenhos e gessos de trabalhos de Joaquim Machado de Castro que eram o meu enlevo. Foi uma sua gentileza para comigo quando eu andava na Escola Industrial de Machado de Castro!

Esta minha descrição, está bem de ver, é uma pequena súmula do tesouro que o meu “amigo” Museu Nacional de Arte Antiga, vulgo Museu das Janelas Verdes, em Lisboa, nos vai, a todos, dando a conhecer!


(Este texto é a minha participação na Blogagem Colectiva do mês de Maio, levada a efeito pelo blogue http://aldeiadaminhavida.blogspot.com
onde poderá ver e ler outros textos sobre o tema dos museus e, além disso, poderá também comentar os mesmos e habilitar-se a receber um prémio. É só vantagens!)

1 comentário:

  1. Quando a uma criança é dada a possibilidade de entrar num museu e de nele ir entrando várias vezes, tornar-se-á um “curioso”, um buscador de mais conhecimentos, e respostas. Aprenderá a apreciar todas as obras de arte, da escultura à pintura… Tornar-se-á um conhecedor do Mundo.
    E sem dúvida que certas pinturas, “visões” do inferno, impressionam qualquer criança e os deixa temerosos a pensar que talvez, se não se portarem bem, é lá que vão parar…
    Entrar num museu é entrar num local mágico, é entrar numa verdadeira máquina do tempo, que nos proporciona uma viagem pelos séculos. É um local onde se concentra tanto talento e imaginação. Felizes dos que lá trabalham, pois têm a nobre missão de o passado preservar.
    Parabéns pela descrição.

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