Embora esta estadia seja bem curta, vamos aproveitá-la para recordar dias de estadia, mas noutras viagens.
(retirado de http://www.livrariaultramarina.com/) |
Estávamos atracados em Lourenço Marques, tinha saído de quarto às 04.00h, deitado lá para as 05.00h e cerca das 07.00h já tinha alguém a chamar-me para me levantar e vestir a farda branca porque tínhamos que rumar, rio adentro, até à Matola onde o senhor Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, estaria às 07.30h para fazer a inauguração do novo cais! Tudo bonito! Cheio de sono, não tinha outra alternativa! A bem da Nação, não se admitiam “baldas”. Se por acaso não me apresentasse no convés, devidamente fardado, feliz e contente, a coisa podia complicar-se! O senhor Presidente andava em visita oficial e o facto é que ele parecia que não parava durante o dia inteiro. Ele eram inaugurações, almoços e jantares, discursos, deslocações aqui e ali! O homem ia a todas! Apesar disso, estávamos nós atracados no cais da Matola, ele chegou e em passo de corrida nem para o navio olhou! Foi só para chatear branco!
Vem aí borrasca! (retirado de http://www.tempo-dividido.blogspot.com/) |
No mar, o mau tempo apenas provocava os balanços que por vezes eram bastante incomodativos. Umas vezes eram da proa à popa, fazendo levantar e abicar o navio, outras eram de um bordo a outro. Não sei qual seria o pior mas havia, por vezes, no primeiro caso, uma situação em que o navio era levado à crista da onda e de repente era deixado cair. Incomodavam, principalmente, quando queríamos dormir. O nevoeiro também nos deixava um pouco nervosos, já pelo nevoeiro em si, já pelo constante barulho da sirene. As trovoadas, principalmente na zona equatorial, impressionavam pela grandiosidade. Clarões que tudo iluminavam e água que Deus a dava!
Tempestade no mar. Quie desperdício, de electricidade! (retirado de http://www.madeiraminhavida.blogspot.com/) |
Em terra, o mau tempo trazia normalmente invasões de bicharada que vinham em grandes nuvens à frente da tempestade. Tivemos, em Lourenço Marques, uma invasão de gafanhotos e borboletas qualquer coisa de assustador. Os gafanhotos invadiam todo o interior do navio. Nos corredores interiores tivemos de retirar a maioria das lâmpadas. Apenas deixavamos uma para que nos permitisse ver o caminho para os camarotes que fechávamos o mais hermeticamente possível. Pelos corredores íamos pisando gafanhotos e levando com alguns que entretanto iam saltando, dum lado para o outro. Na Casa das Máquinas era uma autêntica carnificina! Eles iam entrando quer pela ventilação natural quer pela forçada e despenhavam-se no chão da Casa. Tínhamos que os apanhar à pá e que sair de debaixo dos ventiladores para que, principalmente, as nossas cabeças não ficassem cheias de restos de gafanhotos. Como se isso não bastasse as borboletas, espécie de traça mas um pouco maior, de cor acastanhada juntaram-se aos gafanhotos e além de invadirem o navio, deram-se ao trabalho de ir depositando milhares de ovos por tudo quanto era sítio. No fundo da Casa das Máquinas os ovos pareciam areia e o problema mantinha-se. Apesar de todos os nossos esforços e tanta carnificina, alguns, ainda bastantes, seguiram connosco durante alguns dias.
Nessa mesma viagem, ou talvez noutra, em Nacala, tivemos nova invasão de borboletas e foi impressionante ver que toda a superestrutura do navio, pintada de branco, era completamente castanha. As luzes quase não se viam e se, ao entrarmos no camarote, acendíamos a luz, imediatamente o vidro da vigia ficava completamente tapado por borboletas.
No meio disto tudo, por vezes vinha o acompanhamento de algumas baratas, ou coisa parecida, voadoras e do tipo “king size”.
(http://www.travel-images.com/) |
Desta vez não há nada disso, mas o tempo está a refrescar e é preciso ter muito cuidado com o "cacimbo" e com os mosquitos. O paludismo, por vezes, é traiçoeiro e os residentes não se esquecem da sua dose de quinino, seja sob a forma de "Resoquina", "Plaquinol", ou outro . Portanto, quem os avisa...
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