Dia 29 :
Neste porto, Moçamedes, praticamente só houve descarga, pelo que a saída do navio se fez às 10.25h.
O tempo refrescou, a água do mar, de ontem para hoje, baixou de 29º para 18º e a ordem foi vestir a farda azul. Começou também algum balanço.
O Cabo já estava próximo!
O Cabo já estava próximo!
Dias 30 e 31 :
O balanço foi-se fazendo sentir e foi pondo à prova os estômagos de alguns passageiros menos dados a náuticas aventuras.
Pela parte que me toca, ou já me tinha habituado a estas lides ou o balanço já tinha abrandado.
Numa das minhas viagens anteriores, aconteceu um facto um pouco insólito.
Foi aqui, mais ou menos nesta zona, entre a costa de África e a América do Sul que o “Angola” recebeu um pedido de “SOS”.
Dava-se o caso de que num cargueiro suiço, talvez “apanhado” pelo clima ou pelas agruras da vida, alguém tentou o suicídio. Assim, pediam o auxílio dum médico dalgum navio que navegasse por perto. O “Angola”, recebeu e deu as coordenadas e prontificou-se a desviar a rota e ir ao encontro do cargueiro. Porém, o médico do “Angola”, do qual eu esperava nunca necessitar, era um senhor já entrado na idade que, vaidoso, se recusava a usar óculos. Daí a alcunha de “Pitosga”! O senhor, quando se passeava pelo navio, cumprimentava tudo quanto lhe parecesse pessoa. Dá para ver o que acontecia, cadeiras e paus de carga eram cumprimentados com frequência. À medida que se ia sabendo da aproximação dos navios, ia crescendo a ansiedade do doutor. Ia olhando para o mar, um pouco alterado, e não se via a embarcar numa "casca de noz" (a pequena lancha) feito Vasco da Gama, enfrentar as ondas e subir ao outro navio para acudir a um indivíduo que, vejam lá, até se queria matar. Assim, que o mar estava difícil, que era perigoso fazer a aproximação, que lhe dessem algum comprimido ou, até seria melhor, que viesse ele (então, não era ele o interessado?) ao “Angola”! Isso é que seria o melhor! A ansiedade e o nervosismo iam aumentando, até que, por fim, o “Angola” recebe novo contacto do navio suiço. O tripulante tinha morrido!
Uff, que alívio! E o senhor doutor, encaminhou-se rapidamente ao bar, pediu um whisky e deu a boa nova a todos os presentes. Ele, já morreu!
Que sorte, digo eu, para o infeliz tripulante que não chegou a saber o que lhe estava reservado!
Dia 01 de Abril : A viagem é virtual mas ...não é mentira!
Às 00.00h, os relógios de bordo foram adiantados 60 minutos.
E como estamos a descer, em direcção ao Pólo Sul, já a temperatura da água do mar desceu aos 17ºC.
Começamos a aproximarmo-nos da costa, já “cheira” a terra e avistamos, imponente, a “Mesa”, ladeada pela “Cabeça do Leão” e o “Pico do Diabo”. A seus pés e sob a sua protecção, lá está Cape Town (Cidade do Cabo).
Cerca das17.00h entramos no porto e às 17.34h, estamos acostados.
Se sairem a terra, poderão olhar a imponência do maciço montanhoso em volta da cidade e passando pela avenida, logo defronte, a Heerengracht, entram na Adderley Street e lá estará o “OK Bazaars”, grandes armazéns onde poderão passar os olhos pelas novidades, comprar alguma coisa, mas não muito porque os Rands desaparecem num instante e o escudo é curto!
Poderão ver os sinais da passagem dos portugueses por esta cidade. Os nomes portugueses (madeirenses, decerto) nas lojas (“stores”), nas ruas, não “streets”, Bartolomeu Dias e Vasco da Gama e na amabilidade com que serão recebidos nas lojas onde entrarem. Nestas lojas, normalmente, compramos os artigos e eles encarregam-se de ir levá-los a bordo. Poderão entrar num café e se repararem em vós, alguém porá, como música de fundo, à falta de melhor, uma música brasileira. Porém, há quem necessite de algum cuidado quando quiser frequentar, um cinema, um bar ou sentar-se num jardim. O português comum é moreno e pode acontecer que a esposa possa entrar e o marido tenha que ficar à porta, ou o contrário. No jardim, o relvado tem a indicação “Not indians or dogs” e os bancos poderão ter pintado “Europeans only”. O “apartheid” tem destas coisas!
A frequência de “boites” também pode trazer problemas porque grande parte das “meninas” lá presentes e muito atenciosas, embora pareçam, não o são!
A saída está prevista para as 23.00h. Vamos para Lourenço Marques mas, como mais uma oferta, farei um desvio até Durban.
Vai valer a pena!
Vai valer a pena!
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