quarta-feira, 31 de março de 2010

Santa e Feliz Páscoa !

( Gravura retirada do blog servimariae.blogspot.com )


A todos os seguidores e visitantes deste blog, os votos de Santa e Feliz Páscoa!!!

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Bodo de Salvaterra do Extremo - ( A Festa de Nossa Senhora da Consolação )



É já neste fim de semana, dias 3, 4 e 5 que se realiza a Festa de Nossa Senhora da Consolação, em Salvaterra do Extremo, que culminará com o Bodo no dia 5.
A quantos quiserem, aqui deixo o convite que não seria necessário pois, como já alguém disse, é "tudo à borla e sem convite"!

A seguir transcrevo um texto que já por mim foi divulgado no blogue "Aldeia da minha vida"


"Num ermo, pertencente à freguesia e concelho de Salvaterra do Extremo, chamado de Monfortinho, ergueu-se nos princípios do século XVII ou ainda antes (não se sabe ao certo), um convento franciscano e com ele, uma capela devota a Nossa Senhora da Consolação.
Com o fim da dominação filipina, vieram as guerras da Restauração da Independência e a completa destruição do convento. Restou apenas a capela e manteve-se a devoção das gentes das redondezas. Sabe-se que, em 1758, essa devoção era celebrada no dia de N. S. dos Prazeres e que era em intenção de que a Senhora livrasse os campos das pragas de gafanhotos. Porém, no século XIX, por alturas da década de 70, a praga de gafanhotos foi tal que provocou enorme destruição nas culturas e originou uma vaga de fome nas populações.
Basta dizer que, no dia 2 de Junho de 1876, 30 pessoas, em 45 minutos, apanharam 60 alqueires deles!
Nos concelhos de Elvas, Salvaterra do Extremo (hoje Idanha-a-Nova) e Figueira de Castelo Rodrigo, foram então apanhados 44.400 kg de gafanhotos!
Pediu-se, mais uma vez, a intercessão de Nossa Senhora da Consolação e prometeu-se fazer um Bodo em sua honra. As preces foram ouvidas e, todos os anos, na segunda-feira, de Pascoela, quer chovesse ou fizesse sol, era ver a romaria que, de Salvaterra do Extremo, se dirigia para o lugar de Monfortinho percorrendo, por aqueles campos fora, as cerca de 3 léguas de caminho, a pé, a cavalo ou de carro, levando cruzes, pendões e a bandeira do Espírito Santo, à frente, para cumprir a promessa e agradecer a Nossa Senhora.
Diz a tradição que faziam uma paragem para retemperar forças, num sítio denominado Vale do Pereiro, e onde além de se servirem dos seus farnéis (pão e vinho não faltavam), tinham um costume curioso, qual era o de que os maridos com suas mulheres e os namorados com suas conversadas se abraçarem e entrelaçando as pernas se rebolavam desde o cimo até ao fundo do Vale. As mulheres, que não se prestassem a tal prática, deviam ser lestas a sentar-se para não serem abraçadas pelos maridos ou namorados, caso contrário teriam que se sujeitar à mesma.
Os produtos da terra e o gado para a matança e confecção do Bodo era oferta de todos, lavradores, pastores, patrões e criados.
Entretanto, em 1846, a fortaleza de Salvaterra tinha sido desguarnecida e em 1855, Salvaterra tinha deixado de ser concelho. Em suma, a importância de Salvaterra, passadas que foram as guerras com Castela, entrou em queda! Foi então que, em 1905, um grupo de lavradores de Salvaterra, entendeu que a festa devia ser em Salvaterra e não no pequeno lugar de Monfortinho. Fez erguer, das ruínas do que fora a ermida de Santo Amaro e mais tarde do Senhor de Pedra, no sítio da Devesa, a capela de N. Senhora da Consolação. Após uma acesa disputa com os de Monfortinho, estes não estiveram pelos ajustes e a conclusão ditou que em vez dum Bodo se fizessem dois. Todos ficaram a ganhar! A Senhora, que lhe fazem duas festas, e o povo que come a dobrar, em Salvaterra, agora na 2ª feira a seguir à Páscoa (alteração devida aos ritmos da vida moderna, principalmente férias escolares) e em Monfortinho uns dias depois!
A festa, durante 3 dias, consta de “Boas vindas” e arraial pela noite dentro no primeiro dia; alvorada, início da matança do gado, as populares provas desportivas, lanche com prova dos rins e de novo o arraial nocturno, no segundo dia; por fim, no terceiro dia, haverá alvorada com banda filarmónica percorrendo as ruas de Salvaterra, pequeno almoço (arroz de tripas e chanfana). Segue-se a Procissão, desde a Igreja Matriz para a Capela de Nossa Senhora da Consolação onde se celebra a Missa e se procede à Bênção do BODO, após o que se dá início ao almoço (Sopa de grão, arroz com chouriço e o ensopado de borrego) devidamente acompanhado do tinto e do belo pão (previamente benzido). À noite continuam os festejos até ao seu encerramento e despedidas até para o ano seguinte.
A título de exemplo, em 1999, consumiram-se 1.300 Kg de carne, 200 Kg de arroz, muitos outros de massa, grão de bico, enchidos, azeitonas, hortaliças, pão, bolos e 7.000 litros de vinho tinto.
E é deste modo que se faz a reunião dos filhos da terra, os residentes (poucos) e os que não a esquecem nem a ela nem a Nossa Senhora da Consolação e sempre voltam, todos os anos. Também os vizinhos, espanhóis de Zarza la Mayor, não se esquecem desta festa nem dos tempos em que, durante a Guerra Civil, os amigos deste lado do Erges lhes valiam e mitigavam a fome. Talvez também por isso a Feira de S. Bartolomé, a 23 de Agosto, na Zarza, seja igualmente tão do agrado dos salvaterrenhos.
Mas vai sendo cada vez mais difícil arranjar festeiros e já é a igreja que tem deitado mãos à obra.
E é assim que se mantém uma tradição secular! "

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia

(foto retirada da Internet - http://lerparacrer.wordpress.com)

Associando-me às comemorações do Dia Mundial da Poesia, no dia de hoje, aqui incluo dois sonetos, feitos na minha juventude e em que parece eu ainda não me ter encontrado. O poeta, afinal, é um fingidor e eu não fugia à regra. Aqui ficam eles!

QUEM SOU ?
Quem sou eu ?
Sim, eu quem sou ?
Sei que sou eu !
Mas eu, nada sou !

Olho o passado,
olho o presente.
Tenho o meu fado,
também sou gente !

Ah, sou gente !
Como quem ?
Serei diferente ?

Ou serei também
como essa gente
que não é ninguém ?



NEGAÇÂO !
Pateticamente,
envergonhado de mim,
poeticamente,
faço versos sem fim !

Sem fim, mas porquê?
Pois se esta geração
estes meus versos não lê ?
Sem fim, são sem razão!

Sem razão, sem fim,
sem ponta por onde se lhes pegue,
estes meus versos são assim !

Sem ponta por onde se lhes pegue,
são eles também sem mim.
Não há ninguém que o negue!

terça-feira, 9 de março de 2010

Devaneios Poéticos

(Retirado de studioart.arteblog.com.br)

Na verdura dos meus dezoito anos, julgando-me um émulo de Sá de Miranda, resolvi começar a “atacar” a poesia e logo pelo lado do soneto. Quadras, de pé quebrado, não eram comigo. Assim, arquitectei o soneto que segue e que leva já um pouco da minha desilusão com a Vida. Mesmo assim, para primeira experiência, parece não me ter saído muito mal. Até a métrica, parece estar certinha. Outros o dirão!



JUVENTUDE !

Juventude! Visão tão grande e pura
no fresco alvorecer duma manhã.
Certeza, tão grande quão segura,
na certeza do dia de amanhã!

Para uns, coitados! Foi desventura.
Para outros, foi radiosa e sã.
Para todos ela sempre perdura.
Jamais virá a ser uma palavra vã!

Juventude, dos tristes e chorosos,
maldita desventura que lhes deste.
Porquê não são em ti todos iguais?

Porque serão assim uns mais mimosos,
e porque tu com eles te perdeste,
deixando que os outros soltem ais?

segunda-feira, 8 de março de 2010

A terra onde o meu pai cresceu

(E a Espanha, ali tão perto. O castelo de Peñafiel)

A terra onde o meu pai cresceu, mas não muito, pois a sua estatura, exterior, era pequena, era uma terra sem electricidade, tinha candeias e candeeiros, sem água ao domicílio, tinha cântaros e bilhas para a irem buscar às fontes, da Ribeira, das Fontainhas, aos chafarizes, poucos, e aos poços, de Santo António, de São João, da Rua de cima e da Rua de baixo e ao poço Novo, todos parcos de água e nos quais, no Verão, ainda noite, as mulheres atiravam o caldeiro lá para dentro, passavam umas boas horas até encher a cântara, e punham as conversas em dia. Era uma terra de muito trabalho, quando o havia, e de pouco proveito. Onde se passava o dia, e até a noite, por lá, apascentando rebanhos e sofrendo com cada um dos animais, dormindo mal, por aqui e por ali, mal vestidos, em leito de palha, numa qualquer toca ou palheiro mas, só depois do rebanho estar recolhido. E, havia chuva! E, havia frio! E no Verão, que parecia melhor, lá vinham as "malditas" ceifas na sua dureza e com elas as sezões (ou, maleitas) e outros padecimentos. Padecimentos que se tornavam maiores quando atingiam a cachopada. Maus para elas próprias, e aos quais muitas não resistiam (não chegando ao fim do Verão), e para os próprios pais. Mas era uma terra que vivia as suas festas, com grande devoção. Onde se vivia de portas abertas (não havia alarmes, nem empresas de segurança). Normalmente estavam na cravelha mas, quando estas estavam fechadas, era fácil abri-las pois que a chave, deixada num prego por dentro da porta, devido a um orifício suficientemente largo, na parte inferior da porta e que só era tapado com uma pedra para não permitir a entrada de gatos (podiam ir aos chouricitos, claro!), estava acessível a um qualquer.
Era uma terra onde não havia jornais, nem rádio, nem televisão, as notícias corriam de boca em boca e havia pregoeiros. À noite, ao serão, aproveitando a luz bruxuleante duma vela ou até do luar, os pais ainda arranjavam tempo para ensinar, aos filhos, estórias que já os seus pais lhes tinham contado e que são, hoje, grande parte do que deles resta nas nossas memórias.
Também não havia telefone (talvez só na estação de correio) e o correio era feito por um "carreiro" que, além de levar e trazer cartas e encomendas, a 5 km de distância da terra, também fazia o transporte de pessoas, isto tudo num carro puxado a machos (mais próprios para o trabalho do que os cavalos). Os automóveis eram um objecto raro e receado por alguns. As pessoas deslocavam-se a pé, até para grandes distâncias, ou de burro. Eram, realmente, auto mobilizados pois moviam-se eles mesmo! Os homens muitas das vezes, a primeira vez que saíam da terra era para assentar praça e, as mulheres era para levarem os filhos lá "longe", a Idanha-a-Nova, para fazerem o exame da 4ª classe! Esse exame, era uma festa e um orgulho para a família!
Era uma terra onde os Manéis ainda se casavam com as Marias e não com outros Manéis! Ainda não tinham dado o "salto civilizacional" ou lá o que isso é!
Era esta uma terra, onde não havia quase nada mas, onde havia gente! Gente que vivia com o pouco que tinha e onde todos se respeitavam, ajudavam e tinham 2 escolas. Hoje em dia é uma terra que tem quase tudo (água, electricidade, Centro de Dia, Posto Médico, etc.) mas, ironia das ironias, já não tem escolas e quase não tem pessoas!
Mantém-se nela o ar que se respira, a recordação doutros tempos e o amor que os filhos da terra e seus descendentes lhe devotam!
Seu nome, Salvaterra do Extremo!


Este texto é a minha contribuição para a Blogagem Colectiva do blogue http://aldeiadaminhavida.blogspot.com, " Onde cresceu o meu pai", que decorre de 10 a 31 de Março.
Se quiser ler e comentar outros textos ainda mais interessantes, poderá clicar no selo da barra lateral. Depois de os ler, poderá também votar. A Aldeia agradece!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Nasci ...




Aqui estou eu, no dia do meu 5º mês! Domingo de Verão, em Salvaterra! As minhas “fadas madrinhas” (a Luísa Sousa e outras), arrancaram-me das mãos da minha mãe e, qual “menino nas mãos das bruxas”, levaram-me rua acima, a um retratista que andava ali p’rá rua do Castelo. Puseram-me um fio ao pescoço, coisa que não uso nem nunca usei e, desavergonhadas, arrancaram-me as roupinhas! Pela minha expressão se pode ver que, fiquei sem palavras…



Hoje é 2ª feira, dia da Lua, do mês de Março, em homenagem a Marte, deus da guerra, e dedicado a São Marino (entre outros). É Lua Nova, na fase crescente 6, o Sol nasceu às 05h e 59 min, vai pôr-se às 17h e 21 min, Peixes é o signo zodiacal e Serpente o signo do horóscopo chinês. Os planetas dominantes são Neptuno e Júpiter, a cor é o Turquesa, verde-mar, a pedra é a Água marinha e o número base do nascimento é o 3 (três). O significado do número 3 diz que: “Serei um incurável optimista e que tentarei transmitir aos outros esse ponto de vista fundamental. Dado que inspirarei simpatia e confiança, estarei capacitado para desempenhar lugares de primeiro plano e que decerto não me será difícil fazer muitos amigos, incluindo seguidores”. O mês de Março foi durante muito tempo o primeiro mês do ano. É quando começa a Primavera, daí o Setembro, que é o sétimo, o Outubro, o Novembro e o Dezembro.
Decerto, um dia como tantos outros mas que além de, pelo calendário Gregoriano, ser o 3 de Março de 19.. (d. C.), é também, pelo calendário natural, o 13 de Fevereiro de 5955 (era do Mundo) e ainda o Dia Juliano nº 2.430.057. A este dia não lhe falta nada!

O país está ainda sob o terrível efeito do ciclone, com rajadas de vento de velocidade da ordem dos 200 Km/hora, ocorrido no passado dia 15 de Fevereiro (Sábado Magro), entre o meio-dia e a uma da tarde.

O governo, porém, estava atento e, para combater a desgraça, logo no dia 20 de Fevereiro faz sair o Dec. Lei nº 31.147, o qual abre “um crédito de 20.000 contos para despesas provenientes da reparação de estragos e prejuízos causados pelo ciclone de Fevereiro de 19.., incluindo a intensificação de obras públicas para atenuação da crise de trabalho.”

Em plena época de Carnaval, Salazar mandou proibir todos os festejos. A hora é de trabalhar e não de festejar. Mesmo assim, o Carnaval de Loulé (que desde 1902 era chamado de “Carnaval civilizado”), atendendo a que estava muito arreigado na população e a que a sua receita se destinava a fins beneméritos, foi autorizado.

A Guerra continua, com Carnaval ou sem ele e assim; no dia de Carnaval, tropas britânicas já tinham capturado Mogadíscio, na Somália italiana; no dia 1 de Março, a Bulgária tinha aderido ao Eixo, assinando o Pacto Tripartite (Alemanha, Itália e Japão) o que fez com que ontem, dia 2, o exército alemão tivesse entrado na Bulgária procedendo à sua ocupação, instalando o seu quartel general em Chamkuri, a 100km de Sofia e encerrando as fronteiras.

E é este o cenário que o Mundo tem para me oferecer!
Tenho que tomar uma decisão, porventura não a melhor, e vou escolher o dia 3. Deus sabe porque razão. Talvez pela mesma razão que ele deve saber porque, pela vida fora, algumas vezes iria tomar as piores decisões, julgando serem as melhores. E, outras vezes, nem uma coisa nem outra!


Aqui, em Salvaterra do Extremo, a vida gira dentro desta normalidade! Ontem, domingo, dia 2, durante a tarde, o ti’António “Chavelhão” veio convidar o meu pai para ir passar uma carga (uma arroba) de farinha. Era o contrabando para o lado espanhol, a Zarza la Mayor. O meu pai que trabalhava de jornaleiro, ou seja à jorna, viu ali uma maneira de ganhar alguns parcos cobres, que bem necessários eram e aceitou o trabalho. Depois do jantar pediu à minha mãe para não fazer barulho a lavar a louça pois que ele se ia deitar para descansar um pouco. A minha mãe que durante o dia tinha andado a caiar a cozinha, para não o incomodar, deixou a louça no cesto e já não a arrumou na cantareira. À meia-noite, o meu pai saiu de casa e, carga às costas, só houve que escolher a passagem para o outro lado da fronteira. “Plomes” (deturpação de Pelames, local de tratamento das peles, curtumes), “Salto da Cabra” ou “Vale de Idanha” eram itinerários possíveis. O Vale de Idanha era muito utilizado, principalmente pelas espanholas, que o contrabando também era de lá para cá. Uma noite, a Clementa e as duas irmãs, três filhas da Dona, uma espanhola, não conseguiram vencer a força da água da ribeira e mãos agarradas, em desespero, foram corrente abaixo.
O dia 3 está a chegar! Esta noite andou um baile em casa do “Papum”. Quando acabou, às 2 horas da manhã, a Luísa Sousa e outras moças do seu “partido” bateram à porta. A minha mãe estava deitada e ao perguntar “Quem é?”, respondeu-lhe a Luísa Sousa “Olha, eu estou levantada e é para acordares também!”.
Adivinhando o que se aproximava, seriam umas 3 ou 4 horas da manhã, a minha mãe pôs água ao lume para o meu primeiro banho e, candeia na mão, se bem que estivesse uma noite de Lua Nova, saiu direita às Caganchinhas a chamar a prima Maria Cândida, para que esta por sua vez fosse chamar a ti’”Cambalhotas”, “parteira de serviço”.
Bateu à porta, respondeu o ti’Joaquim “Vapor”. A minha mãe disse ao que ia e ficou à porta, pelo que ele perguntou se ela queria ter o filho ali à porta dele.
Voltou para casa, passou pela porta da ti’Encarnação, que vendia carne e que no dia seguinte no seu modo espanholado de falar, que não tinha perdido, lhe disse que até podia ter tido o filho à porta dela e que ali lhe trazia uns “cotunhos” do porco para fazer sopa. Um arrátel de chocolate quase todos davam. Era para fortalecer!
Mas, voltando ao nascimento, propriamente dito, a ti’”Cambalhotas”, a minha avó Amélia e a prima Maria Cândida, lá tomaram conta da ocorrência. Cerca das 6 horas da manhã, o Sol nascia, e eu aproveitei, tinha cumprido o estágio dos 9 meses e nasci também! Estava escrito, para o bem e para o mal, o dia 3 foi o escolhido para vir ao Mundo, virei o rabo para a Lua, segunda-feira era o meu dia mas, nas mãos da ti’”Cambalhotas”, fazendo jus à alcunha, esta deve ter-me virado ao contrário. Ninguém me avisou do que se passava cá fora! Entrei no Mundo, literalmente de olhos fechados, e assim iria andar muitos anos. Quando os começasse a abrir já ia ser um pouco tarde!
Mas, agora, aqui estou, pronto a assinar o contrato que espero vitalício mas, com termo em aberto. O Criador escolherá a data!
É verdade, já me esquecia, sou um menino!
Depois de me lavarem e fazerem uma observação minuciosa e conveniente, embrulharam-me na baeta e levaram-me à minha mãe, não conseguindo esconder uma certa reserva quanto a uma possível deficiência. Tal facto não passou desapercebido à minha mãe e ali estava eu à espera do veredicto da reunião de “sábios” anatómicos porque haveria dois dedos, em cada pé, que estariam mais juntos do que estaria previsto nos “regulamentos”. Tudo falso alarme e lá fui eu para o primeiro sono ao “ar livre”! No fim a ti’”Cambalhotas” apresentou a conta. Almoço e um avental, era o que dizia o regulamento da “Ordem das Parteiras”!
Entretanto, regressou o meu pai, cansado da tarefa mas satisfeito pela novidade que o esperava! Pouco tempo teve para gozar o momento e saiu de novo, que o Sol já raiava! Agora, ia direito à Devesa onde o esperavam as cabras do Alexandre Romão que aí eram deixadas a pernoitar e que havia que levar a pastar! A vida continuava e havia mais uma boca a sustentar!
Chamaram-me João, como os meus, avô e bisavô, maternos (João Valente e João Belchior).
E, desde a "Quélhinha" até à "volta da estrada" e ao "Castelo", por toda a Salvaterra, correu de boca em boca a nova de que a Maria "Parralinha" teve mais um cachopo!
Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida!