sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO ! ! !



A todos os visitantes deste blogue e em particular aos meus amigos e seguidores, aqui lhes deixo os meus Votos de Feliz Ano de 2011!

Cumpre-me, vir aqui, desejar
além de Paz, Saúde e Amizade!
Que o 2011, que está a chegar,
vos traga Dinheiro e Felicidade!


Nota: A gravura foi retirada do blogue mafuca.bloguedobebe.com

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Madeiro em Salvaterra


Vou falar duma tradição que desconheço, quase totalmente, porque nunca a vivi.
Refiro-me ao “Madeiro”!
É uma tradição milenar que ainda se vai mantendo, principalmente, em terras das Beiras e de Trás-os-montes.
Em Salvaterra do Extremo consta que, nos primeiros dias de Dezembro, (penso que no dia 8), os rapazes, jovens mancebos, em idade de “ir às sortes”, afim de cumprirem o serviço militar, cumprindo um ritual da sua passagem a homens, juntavam-se e pegando numa junta de bois e num carro, durante a noite, iam em busca de lenha. Essa busca, um misto de devoção e irreverência daquela juventude, consistia no “roubo” de troncos de árvores. O “Madeiro” seria tanto melhor quanto maiores e mais grossos fossem os troncos. Tal facto não era muito do agrado dos proprietários a quem fora retirada essa lenha, mas havia que aceitar e mostrar devoção.
Acabado o “golpe de mão”, já alvorada, lá vinha o carro carregado de lenha, no meio de grande festa dos jovens, até que chegava ao Adro, onde era depositado para ficar bem à vista de todos os que, sabedores do que se passava, ali acorriam para admirar aquilo que seria motivo de festa maior quando, na noite de 24, se lhe “apitchasse” um fósforo e ardesse até ao Ano Novo.
O Menino não ia ter frio e o povo também não!
O povo, além da alegria do nascimento do Menino, tinha o hábito de levar algumas brasas para casa para atear a sua lareira e manter o "borralho" que lhes aqueceria o corpo e a alma.
Hoje em dia, tal como em Salvaterra, muitas terras vão ficando desertificadas, os jovens escasseiam e a tradição é mantida pelas poucas pessoas, já sem o aparato de antigamente. Talvez só, na noite de Natal, façam uma fogueira o melhor que podem e sabem e assim revivam os seus tempos da mocidade!



Aproveito para dar a conhecer um belo poema do nosso conterrâneo, tenente Manuel Dias Catana, escrito em Castelo Branco, em 26 de Dezembro de 1970:

O Madeiro
(Em Salvaterra do Extremo)

Dezembro, vinte e quatro. O Madeiro arde
No Largo que defronta a velha Igreja,
Aceso nesse dia, ao fim da tarde,
Conforme a tradição manda que seja.

Os moços cantam loas a Jesus
Em torno do Madeiro incendiado.
Na Igreja, o Presépio é todo luz,
Onde está o menino reclinado.

Para a “Missa do Galo”, as raparigas
Passam no Largo que o braseiro aquece,
Enquanto os moços põem nas cantigas
O fervor e a unção de ardente prece.

Batendo no Madeiro, fazem brasas
Para aquecer Jesus, o Salvador.
Há cheirinho a filhó em muitas casas;
Nos lares há Presépios, paz e amor.

Reúnem-se as famílias, há presentes;
Há cânticos e risos de alegria.
Recordam-se os amigos e os parentes
Que ganham longe o pão de cada dia.

Repicam sinos. Há em toda a terra
Festa em louvor do santo nascimento.
Que ela traga consigo o fim da guerra,
A paz ao mundo, alívio ao sofrimento!

Natal! Festa de amor entre as famílias,
Da qual dimana um fervor divino!
Que saudades eu tenho das vigílias
Dos meus Natais do tempo de menino!



Nota: As fotos são da autoria de Daniel Martins e foram retiradas do Facebook.
A gravura é do livro “Etnografia das Beiras” da autoria de Jaime Lopes Dias.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Salvaterra e os mistérios da História

As Escolas


Certo dia, fartei-me de que os meus amigos de brincadeira, mais velhitos que eu, me deixassem e fossem “brincar” para um sítio que eles chamavam de escola. Até o meu irmão, logo de manhã, pegava na sacola com uns livros, uma ardósia onde com a piçarra (ponteiro) rabiscava umas coisas a que chamava letras, uns cadernos e também uma caneta onde punha uma pontinha metálica e brilhante, quando nova, a que chamava aparo e abalava, direito a essa tal escola.
E, diziam que eu não podia ir. Não estava certo! Também queria ir brincar com eles!
Mas, eu sabia onde eles estariam. Enchi-me de coragem e meti-me terra adentro. Da Quélhinha, em direcção às Caganchinhas, era um pulinho. Logo ao chegar ao forno do Pinheiro, ao fundo do Castelo, era só virar à direita e um pouco mais à frente virar à esquerda. Lá adiante, do lado direito, lá estavam elas, as Escolas (pois eram duas, uma para meninos e outra para as meninas, para não haver confusões). Uma vez lá chegado, o “famoso” João “Parralinha” fez saber que também queria ir brincar “às lições”. Aquilo devia ser bom, uma vez que lá estavam eles todos, os seu amigos da brincadeira. O espanto foi geral e a D. Emília, a professora, lá se encheu de paciência e, fazendo uso das suas melhores faculdades, tratou de mandar de volta o intruso. Diziam-me que eu não podia “brincar”, que ainda não sabia e que quando crescesse é que era. Porém, só conseguiram demover-me, dos meus intentos, com a prestimosa colaboração do meu irmão que se prontificou a ceder-me um aparo. Coisa linda! Dono de tal preciosidade, e pensando no dia em que também iria brincar como eles, lá me resolvi a voltar pelo mesmo caminho, direito a casa. O trânsito não era um perigo, a não ser que aparecesse algum macho desenfreado e, em casa, já alguém andaria preocupado com o meu sumiço!
Estávamos, então no ano da graça de 1944 e eu andava pelos meus 3 anos!

O meu irmão estava, nesta altura, na 4ª classe e quando entrou para a escola, em 1940, apenas andou 2 ou 3 meses nas instalações da escola velha, no edifício da Câmara!

No livro “Monografia de Salvaterra do Extremo”, da autoria do capitão Bargão, na página 44, pode ler-se:
“ A Casa da Câmara foi demolida em 1911 e no seu lugar se constituiu uma casa destinada às escolas oficiais de instrução primária que ficou a funcionar no rez-do-chão, ficando assim 3 salas, duas para o sexo masculino e uma outra para o feminino. Devido às más condições em que já se encontravam as Escolas foram em 1940 mandadas para os novos edifícios que o estado mandou construir no Alto do Forte”.
Ora, pelo que atrás ficou dito, tudo leva a crer que a construção destas escolas, tal como o Cruzeiro, ali bem perto, erguido no Alto do Forte, tenha sido ao abrigo dum qualquer plano de construções, do Estado Novo, para comemorar o chamado Centenário, ou seja, os 800 anos da nacionalidade.
Mas, há sempre um mas! Referindo-se à Casa da Câmara, a placa que em 2005 foi colocada no Pelourinho, reza assim:
“… Em 1911, o seu interior foi demolido, para aqui funcionar uma escola com três salas de aula, até 1945….”

Qual será a estranha razão para aqui aparecer o ano de 1945? É que tudo nos diz ser 1940!
Quem souber, que responda!

Pessoalmente, estas placas (há outra, junto ao Chafariz da Deveza) têm-me intrigado bastante, devido àquilo que julgo serem imprecisões.
De quem será a autoria de tais placas?

Nota: A foto das Escolas, foi retirada do livro do capitão Bargão. A foto da placa do Pelourinho, da autoria de Bruno Carreiro, a quem desde já agradeço, foi retirada do Facebook.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um Sindicato Agrícola em Salvaterra do Extremo !

Foi com alguma curiosidade que soube da criação dum Sindicato Agrícola, em Salvaterra do Extremo, no dia 16 de Dezembro mas... em 1932!

Os Estatutos, impressos em 1935, constam de oito capítulos e quarenta artigos, sendo despachados, em nome do Ministro do Comércio, Indústrias e Agricultura, pelo Sub-Secretário de Estado da Agricultura, José Penha Garcia.

No artº 40, diz-se que, durante o primeiro exercício, a Direcção será formada por:
Alexandre Martins Romão
Manuel Marques Ferreira Proença
José Dias Pinheiro

E o Conselho Fiscal, por:
Dr. Manuel Dias Carreiro
Artur de Paiva Pinheiro
José Maria Gomes Rascão

Os sócios fundadores, foram os seguintes (24):

Domingos Varão
José Dias Pinheiro
José de Campos Monteiro
João Dias Carreiro
António Romão de Azevedo
Manuel Dias Carreiro
José Maria Gomes Rascão
António Folgado Romão
Francisco Fernandes Moreira
Bernardo Pinheiro
João Moreira Magro
José Monteiro
Pde. Manuel Marques Ferreira Proença
José Domingues Remédio
João Varão
António Magro Pinheiro
José Martins Romão
Alexandre Martins Romão
Manuel Delgado Moreira
Artur de Paiva Pinheiro
José Bernardino Borges d’Almeida Ferreira
António Fernandes Moreira
João Martins Romão
António Martins Romão


Se funcionou, ou até quando, desconheço!

Pelos nomes, aqui inscritos, se pode ver que são lavradores e proprietários e não meros trabalhadores. Achei estranho mas, por mero acaso, descobri a razão ao passar pelo blogue "Tudo de novo a ocidente".
Aí se escrevia:
"Devemos esclarecer que estes Sindicatos Agrícolas eram diferentes daquilo que hoje se entende por organização sindical. O Sindicato Agrícola de Colares a exemplo de outros existentes por todo o País, assumiam o carácter de entidades compostas por agricultores donos de terras e nos quais se podiam filiar, também, indivíduos que não sendo agricultores possuíssem lavouras, tratava-se de associações de proprietários cuja origem remontava à Carta de Lei de 3 de Abril de 1896, que a Lei nº215 de 30 de Junho de 1914 confirmou. Com a implantação do Estado Novo estes Sindicatos foram transformados em Grémios da Lavoura de acordo com "Organização Corporativa".

Assunto esclarecido, resta-me apenas notar que eram bastantes os fundadores (24), pois em Colares, zona de bastante agricultura, eram bem menos. Porém, em 1936, estes já tinha fechado portas.
Da qualidade das pessoas, por quase completo desconhecimento, não posso pronunciar-me. Apenas posso dizer que eram a entidade empregadora daqueles tempos e geriam os destinos de Salvaterra!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Santo e Feliz Natal !



A todos os visitantes deste blogue e em particular aos meus amigos e seguidores, aqui lhes deixo os meus Votos de Boas Festas!

NATAL
Do céu cai uma estrela
brilhante, prenhe de luz,
e todo o Mundo, ao vê-la,
vê nela o Menino Jesus!

E, quando na terra caiu
a estrela, enviada do Senhor,
o Mundo, todo ele, viu
o Menino, Paz e Amor!

Algo o Senhor terá esquecido
de fazer cair, cá na terra.
O Mundo parece perdido!
Em vez de Paz, só quer guerra!

Esqueçamos então todo o Mal,
em tempo de Boa Vontade!
Votos de um Santo Natal
e o meu abraço de Amizade!


De nós não se esqueça o Senhor,
pois muitos nos levam ao engano.
Além de muita Paz, muito Amor
e um muito Feliz Bom Ano!

João Celorico

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 2 )






Como prometido, aqui vai mais uma versão de Salvaterra do Extremo, recolhida antes de 1948 e publicada por Jaime Lopes Dias, emérito etnólogo das Beiras e não só.
O tema deste romance, mulher fazer-se passar por homem, ainda hoje é usado no cinema, onde há vários filmes que o tratam. Mito ou realidade, também temos o caso da papisa Joana. Ainda há bem poucos anos, em Portugal, houve o caso da "Generala", mulher que se fez passar por homem e oficial do exército!






Donzela guerreira

--Mal hajas tu, mulher, mais a tua parição,
2 sete filhas que tiveste sem nenhuma ser varão!
--Calese aí, ó meu pai, não nos deite a maldição,
4 que a sua filha mais nova, ela serve de varão.
--Tens o cabelo tão grande, filha, a conhecerte vão.
6 --Dêemme cá uma tesoura, que eu o deito já ao chão.
--Tens uns olhos tão bonitos, filha, a conhecerte vão.
8 --Quando passar pela gente eu os baixarei ao chão.
--Tens uns peitos tão grandes, filha, a conhecerte vão.
10 --Eu os apertarei, meu pai, até metêlos no coração.
--Tens um passo tão curto, filha, a conhecerte vão.
12 --Quando passar pelas ruas darei passos de ganhão.
.......................................................
Foi recebida em casa do filho de um capitão.
.......................................................

14 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
16 --Se o queres conhecer levao a uma loja a comprar
e, se ele for mulher, às fitas se háde agarrar.
18 --Oh, que fitas tão bonitas p’ra uma dama se enfeitar!
--Oh, que espadas e adagas para um homem guerrear!
20 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
22 --Se o queres conhecer trálo contigo a jantar
e, se ele for mulher, [...................................]
24 aos assentos mais baixos decerto se háde agarrar
e aos panos mais sujos se háde alimpar.
26 --Oh, que cadeiras tão baixas para um homem se assentar,
oh, que panos mais sujos para um homem se alimpar!
28 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
30 --Se o queres conhecer levao contigo a nadar
e, se ele for mulher, ele se háde acobardar.
32 --Cartas me vêm do céu, cartas de muito pesar,
que tenho a minha mãe morta e meu pai está a acabar.
34 --Alto, alto, meus criados, meus cavalos a ferrar,
que jornada de três numa hora se háde andar.
.....................................................................................
36 Sete anos andei na guerra com o filho de um capitão,
sem nunca me conhecer se era mulher ou varão!

Nota de Jaime Lopes Dias: -14 a Leonardo foi o nome que a filha, que figurou de varão, adoptou.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 1 )





Romanceiro é um género poético de origem medieval, que corresponde, na Península Ibérica à balada narrativa medieval europeia.





Ora, no "Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna", versões publicadas entre 1828 e 1960, I volume, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, na pág.321, podemos ler a versão de Salvaterra do Extremo, recolhida por Jaime Lopes Dias e editada em 1948, intitulada:


"Conde Claros em hábito de frade."

No quintal da Dona Ausência `stá uma árvore bem plantada,
2 aquela que bulir nela logo ficará ocupada.
Dona Ausência buliu nela, por ser a mais desgraçada.
4 Lá no fim de sete meses já seu pai a reparava.
--O que é isso, ó Dona Ausência, o que é isso dessa saia?
6 --Esta saia não tem nada, o que está é mal talhada.
Mandou chamar três mestras das melhores que havia em Braga.
8 --Vejam lá, senhoras mestras, o que é isso dessa saia.
--Esta saia não tem nada. Ela está mui bem talhada,
10 lá no fim de nove meses ela será igualada.
--Prepara-te, ó Dona Ausência, já te podes preparar,
12 que hoje cortam a lenha amanhã te vão a queimar.
Assomou-se a uma janela que deitava para o chão.
14 --Há por aí algum pastor que queira comer do meu pão,
que queira ir levar cartas ao Conde de Montalvão?
16 --Aqui está um pastorinho que quer comer do seu pão,
que quer ir a levar cartas ao Conde de Montalvão.
18 --Se o achares a dormir deixa-o acordar,
se o achares a comer deixa-o acabar,
20 se o achares a passear cartas lhe irás entregar.
Foi em tão boa hora que o achou a passear.
22 --Cartas trago, senhor Conde, cartas de muito pesar,
a pobre da Dona Ausência amanhã a vão queimar.
24 --Não se me dá que a queimem nem que deixem de a queimar,
dá-se-me só do seu ventre que leva sangue real.
26 Não fosse ela tão tola, não se deixasse enganar.
Mas dali por um momento começou a considerar.
28 --Alto, alto, meus criados, meus cavalos a ferrar,
com ferraduras de bronze que esta noite temos de andar
30 lonjura de sete léguas, e numa hora se há-de andar.
Tinham tudo preparado para a irem a queimar.
32 --Alto, alto, meus senhores, má acção vão praticar,
que essa senhora que aí vai, ela vai por confessar.
34 --Confesse-a, senhor vigário, enquanto vamos almoçar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
36 que no meio da confissão um beijinho me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
38 que onde um Conde pôs a boca um frade venha a beijar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
40 que no meio da confissão um abraço me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
42 que onde um Conde pôs os braços um frade venha a abraçar.
Montou-a no seu cavalo à sua terra a foi levar.
44 --Acompanhai-me, ó cavaleiros, se me quereis acompanhar.--
Apenas chegou à sua terra, assim se foram casar.

Existem versões de Salvaterra, referentes a outros romances. Em breve espero aqui dar conhecimento delas.