quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Eu e ... o "Argibay" !

Vou agora descrever melhor o que foi a minha vida no “Argibay”
Apresentei-me numa 2ª feira, dia 29 de Agosto de 1955, e comecei a minha vida profissional, como Aprendiz de Serralheiro Mecânico.
Foi-me atribuído um número e passei a ser o operário nº 844. Feita a minha inscrição na Caixa de Previdência dos Técnicos e Operários Metalúrgicos e Metalo-Mecânicos, passei a ser o beneficiário nº 153.329, constando o dia 01/09/1955 como data de admissão.
Saía de casa, na Rua das Trinas, a lancheira numa das mãos e com o meu fatinho de macaco vestido, só para o caminho porque para trabalho tinha outro e, sempre a pé, lá ia eu pelas ruas, Garcia da Orta, de S. Domingos, à Lapa, Travessa da Amoreira, Rua Joaquim Casimiro, Rua Ribeiro Sanches, Rua Maestro António Taborda e finalmente avenida Infante Santo. À tarde o esquema era o inverso.
Visto à distância de quase 50 anos, as instalações onde estavam implantados o Vestiário, Lavabos e Refeitório, eram pouco menos que imundas. Tais instalações, nos dias de hoje, eram inconcebíveis. Era tudo muito escuro, muito interior e pouco ventilado. O refeitório, exíguo, só dava para comermos porque muitos iam almoçar a casa ou nalguma taberna, fora da oficina.
Depois de me ser indicado o armário onde guardaria roupa e lancheira, apresentei-me na oficina e o mestre, Carolino de seu nome, homem do Porto e adepto do FCP, pôs-me a ajudar um oficial, Alberto, que por acaso estava na oficina nessa altura, mas que era um serralheiro que normalmente trabalhava a bordo dos navios em reparação. Era um indivíduo de mais de 50 anos, penso eu, boa pessoa e humilde. Parecia que eu não tinha começado mal! Deu-me umas porcas para eu passar a rosca com um macho e foi o meu primeiro trabalho. Mas, azar dos azares, meti o macho na porca e depois de ter passado toda a rosca, pretendi fazer sair o macho por baixo, senti alguma resistência, forcei e quando dei por ela tinha o desandador na mão só com um bocado do macho, o outro bocado estava na porca e eu não percebia porque não tinha passado. Afinal a explicação era fácil, o macho não tinha saída. Na escola eu só tinha visto e utilizado machos com saída e foi o suficiente para eu partir este macho. E agora como é que eu ia resolver isto? Se calhar tinha que pagar o macho, pensei eu! O oficial e a rapaziada à volta sossegaram-me um pouco, mas não muito. A solução era ir junto do mestre Carolino, com um papel de justificação, passado pela Ferramentaria, para ele assinar e dar baixa do material. Enchi-me de coragem e com muitos nervos à mistura lá fui com o papel. O mestre, com a boina na cabeça, puxada para trás, e os óculos na ponta do nariz, olhou-me por cima dos mesmos e atirou-me “ Já? Começas bem!”. Assinou o papel e eu desandei mais rápido que um rato. Daquela já eu me tinha escapado. A partir daí a coisa foi evoluindo bastante bem. Estive uns tempos a ajudar o Manuel Correia, “Manel dos Compressores”, indivíduo de 25 a 30 anos, cujo trabalho era fazer a manutenção e reparação dos compressores móveis e das máquinas de soldadura “Hobart”, também móveis e que faziam serviço junto dos navios em reparação. O principal cliente do “Argibay”, como já referi, era a “Companhia Marítima de Carregadores Açoreanos”.
Durante o tempo em que estive a ajudar o Manuel Correia, fui trabalhar num domingo, para reparar o motor da camioneta de carga, uma “Buick”. Lembro-me de nesse dia estar a cantar e assobiar uma música da Maria de Lurdes Resende que estava na moda e estava a passar no rádio da camioneta. Ia-me saindo caro, esse dia, porque ao adelgaçar uma chave fendas, esta prendeu-se entre a mó e a espera e se a mó se tem partido não sei se estaria aqui para contar. Doutra vez, também a afiar, talvez uma broca ou um escopro, a cabeça do dedo indicador direito levou uma raspadela que durante bastante tempo me deixou essa zona bastante sensível.
O Manuel Correia tinha uma mota que era a sua paixão. Era boa pessoa, marcava bem a sua posição em relação aos outros oficiais, até porque o trabalho dele era no exterior da oficina, era mais mecânico de automóveis do que serralheiro, pelo que não dava azo a grandes intimidades.
Também ajudei o Sebastião, indivíduo de 30 a 35 anos, casado e amigo do “Manel”, numa altura em que o esteve a substituir.
Noutra altura estive a ajudar o João Baptista, “Taínha”, quando ele regressou da montagem da Fábrica de Celulose do Guadiana, em Mourão. Indivíduo gago, adepto fervoroso de “Os Belenenses”, também de 30 a 35 anos e casado. Boa pessoa e bom profissional. Muito meu amigo, eu às vezes já gaguejava ao falar com ele pelo que ele ficava desconfiado mas passava-lhe porque ele tinha confiança em mim. Contava-me que quando estava a fazer a montagem da fábrica, veio de propósito a Lisboa para ver o jogo Belenenses-Sporting, no último dia do campeonato de 1954/1955 e que em caso de vitória do Belenenses lhe daria o campeonato. Aconteceu o golo do Martins, a 4 minutos do fim e o homem teve um desgosto tal que de noite acordava a sonhar com o golo. Anos mais tarde, quando fui morar para a rua D. João de Castro, soube que ele morava na rua da Aliança Operária.
Num intervalo, coube-me ajudar um oficial de nome Ramos, julgo eu, de perto de 55 anos, profissional competente mas de trato difícil, diziam. Poucos gostavam de o ajudar e mantinha a uma certa distância os outros oficiais que ele considerava pouco menos que uns brutos, salvo raras excepções. Era indivíduo que pouco estava na oficina. O trabalho dele era mais de exterior. Pois bem, tratei de preparar as orelhas e lá fui. Ou porque eu já ia avisado ou porque eu lhe fazia as vontades, o que é certo é que não só me ensinava algumas coisas como não embirrava comigo. Certo, também, é que não se continha em dizer mal de alguns e eu ia ouvindo e achando que por vezes até não deixava de ter razão. Após alguns dias, apareceu-nos um trabalho de exterior para fazer. Foi na Fábrica “Águia”, na rua Vieira da Silva, em Alcântara. Era uma fábrica de rebuçados e íamos reparar a tubagem dum condensador. Nesse dia não faltaram as ofertas de caramelos e a coisa corria bem, só que no dia seguinte tive que sair mais cedo, por problemas de escola, e tive que dizer-lho. Esperava que resmungasse mas só mostrou alguma pena, pois parecia que nos estávamos a dar bem e aceitou o que era inevitável.
Voltei então a ajudar o João “Taínha”, com quem também fui fazer um trabalho de exterior, no refeitório do Banco de Portugal, na Rua do Comércio. Fomos reparar uma caldeira. Ocupou-nos apenas um dia.
 
          (retirado de http://riodasmacas.blogspot.pt)

Foi com este oficial que eu me mantive mais tempo e aprendi a traçar flanges e a fazer a respectiva furação. Lembro-me também de um trabalho de reparação do tambor duma máquina de fazer iogurtes, para a Fábrica de Iogurtes “Veneza”., o tal do “slogan”, “Yogurte Veneza, a saúde à sua mesa”. Costumava lá ir o senhor suíço que era dono da fábrica.
O horário de trabalho desenrolava-se de 2ª a sábado, das 08.00h às 17.00h, com uma hora para almoço, das 12.00h às 13.00h.
No sábado a partir das 15.00h, os aprendizes tinham de fazer a limpeza da oficina. Pegávamos na vassoura e toca a varrer. Como a oficina tinha uns estrados de madeira, tínhamos também que os reparar se necessário fosse. Certo dia calhou-me a mim fazer essa reparação que se limitava a ter de pregar uns pregos. Fácil, fácil, fácil! Pois é, mas eu devia estar com pressa e ao dar a martelada no prego, fui acertar em cheio na cabeça do polegar da mão esquerda que nem sequer estava próximo do prego. Torci-me no chão, cheio de dores e lá tive que me aguentar. Furei a unha, para tirar o sangue pisado, e a unha foi crescendo até cair daí a uns tempos.
O inverno foi bastante frio, chegou mesmo a nevar, e a localização da oficina não dava azo a que o sol a aquecesse. Tínhamos bidões na oficina que faziam de salamandras para aquecer o ambiente. Andava de casaco vestido e toda a roupa era pouca. Anos antes, o frezador, suponho que era catalão, velhote de cerca de 70 anos, tinha enregelado e o mestre Carolino, então, passava o dia a perguntar, “Ó Gillot, estás com frio?”. O velhote, só com as calças e uma casaca de ganga, dizia que não. Estávamos sempre a ver quando é que o homem caía para o lado. Passava o dia agarrado à frezadora, não falava com ninguém e tratava a máquina como se fosse a sua filha. Ele limpava, lixava, oleava, polia, afiava as frezas, só lhe faltava dar-lhes beijinhos!
Na minha lancheira levava o almoço e um suplemento para o caminho de regresso. O almoço constava de sopa, numa panela de litro, uma marmita com bife, o mais normal, ou peixe, uma garrafita com aproximadamente 2 decilitros de vinho (eu era um “alcoólico”), quatro carcaças, duas delas com marmelada, queijo, manteiga ou fiambre, e uma ou duas peças de fruta, nesse tempo eu gostava muito de laranjas. Pelos vistos apetite não me faltava. As duas carcaças arranjadas, eram para comer no caminho de regresso a casa, onde já tinha o jantar à espera pois que antes das 18h.30min eu tinha que sair, rumo à Marquês de Pombal, em Alcântara. Sempre a pé, a não ser que a chuva obrigasse a apanhar o eléctrico 18. A refeição mantinha-se quente, normalmente, desde manhã até à hora do almoço, porque ia embrulhada em jornais. Quando fosse necessário aquecê-la, havia um fogão com uma grande chapa, numa gruta ao fundo da Caldeiraria onde podíamos ir aquecer o comer.
Por vezes, na hora do almoço, ainda havia tempo para vir fora da oficina, junto à avenida Infante Santo, dar uns toques futebolísticos, para aquecer ou para manter a forma. Até com cascas de laranja se jogava!
Qualquer semelhança entre o trânsito dessa altura na avenida e o de hoje é pura coincidência.
Lembro-me de um dia, cerca das 08.00h, quando ia chegando ao Argibay, ter deparado com um prédio, hoje o nº 48, que estava então em construção, logo abaixo do gasómetro que ali existia, completamente desmoronado.
Estive doente com varicela, penso que em princípios de 1956. Chamou-se o médico lá a casa e ele deu-me baixa. Pensava eu que tudo estava bem e que a Caixa de Previdência e a empresa lá se entenderiam. Não comuniquei para a empresa e apresentei-me passadas as duas semanas da baixa. Ninguém sabia nada de mim e julgavam que eu me tinha ido embora sem dizer, água vai! Lá deslindei o caso e a vida continuou.
Em Março de 1956, também meti uma licença numa parte da tarde para ir esperar um tio meu, que regressava da Índia Portuguesa, onde esteve em Pondá, no estado de Goa. Como é natural achou-me muito crescido e já não era o menino de 12 anos que ele tinha deixado ao partir.
Foram 9 meses relativamente bem passados. Eu andava satisfeito e sentia-me cada dia melhor. É certo que, para isso, muito ajudava o acolhimento que fui recebendo de praticamente todos os que ia conhecendo. Penso que isso também seria fruto de eu andar no 4º ano, ao contrário dos outros aprendizes que mesmo sendo mais velhos, andavam no 1º ou no 2º ano. No entanto, também mais vale cair em graça do que ser engraçado e eu, excepção feita ao “desastre” do 1º dia, caí nas graças do mestre Carolino. O FCP estava na mó de cima, o treinador era o Yustrich e na linha avançada, a extremo esquerdo, jogava o Perdigão, jogador de cor com quem ele me achava muito parecido.
Essa parecença era muito ajudada pelo facto de eu, no fim do Verão, passar de moreno a quase preto. Como comecei a trabalhar no dia 29 de Agosto, talvez explique um pouco. Assim, começou a engraçar comigo, a chamar-me de “Perdigão” (ao Verónico chamava-o de “Jaburu”, outro jogador do Porto), a pedir-me para fazer as requisições de material porque tinha boa letra, no seu entender, e a falar comigo com certa afabilidade. Um dia, vinha ele do almoço, sempre bem regado, boina puxada para trás e a propósito dos aumentos de vencimento que tinha havido perguntou-me se eu também tinha sido aumentado. Respondi que não e ele disse-me, “ Não te preocupes. Vai aprendendo que os aumentos virão!”. Embora o aumento fosse de 11$80 para 12$70, por dia, se a memória não me falha, caíram-me bem aquelas palavras que ele não teve com mais ninguém. Ficou muito admirado quando lhe disse que me ia embora para a AGPL, mas desejou-me boa sorte.
Nesse tempo havia clubes que faziam apostas desportivas, baseadas nos jogos da 1ª Divisão. Dois dos mais conhecidos eram o Clube Oriental de Lisboa e o Atlético Clube de Portugal. Os boletins eram distribuídos por operários junto dos seus colegas de trabalho. A classe fabril, onde estes clubes tinham grande massa de adeptos, era o maior suporte destas apostas. Foi num destes concursos, do Atlético, que eu ganhei um 3º prémio, coisa irrisória uma vez que o prémio máximo nunca tinha atingido mais que 1.000$00. Tive que estar até 3ª feira à espera de saber se ganhava alguma coisa, porque um dos jogos foi interrompido, devido ao mau tempo e só na 3ª feira se realizou. O Governo perseguia estes jogos, considerados ilegais, e tratou de criar o Totobola.
Já que estou a falar de futebol, lembro-me que além de ser o ano do FCP, havia também o Campeonato Nacional de Reservas e parece-me também o de Aspirantes. O Sporting jogava no Estádio da Tapadinha porque o Estádio de Alvalade estava em construção.
Por esta altura também começaram a aparecer colecções de cromos. Até aí as colecções eram quase que exclusivamente de “bonecos” a embrulhar um rebuçado. Eram assim as colecções de jogadores da bola, por exemplo. As colecções de cromos, que tinham aparecido até então, destinavam-se principalmente ao público infantil ou juvenil.
 
Porém, em Março de 1956, apareceu uma colecção, “Raças Humanas”, que deve ter ultrapassado as vendas previstas tal era o entusiasmo que eu verificava em muitos dos adultos da oficina, entre os quais me parecia ser o Sebastião o mais entusiasmado.
Já foi atrás aflorado o facto de alguns operários serem só para trabalhos a bordo. Chamavam-lhes serralheiros do “gancho”. Normalmente só trabalhavam quando eram chamados. Viviam na corda bamba! Não tinham trabalho certo, seria já a “flexigurança”? Desses, excepção feita ao meu primeiro oficial, Alberto de seu nome, não me lembro de ninguém em especial, uma vez que não paravam na oficina.
Lembro-me que havia um aprendiz da Caldeiraria, que também vendia jornais, que ganhou o Prémio Vale Flor. Tinha salvo alguém, talvez uma criança de morrer queimada, penso eu. Era um tipo “reguila”, típico de Alcântara e tinha feito qualquer coisa boa. O dinheiro do prémio ficou a aguardar a maioridade, caso contrário era estourado ou por ele ou alguém por ele.
Também na reparação de um navio, “Le Rechin”, que tinha naufragado perto do Cais do Sodré, houve problemas porque começou a desaparecer material de latão lá de bordo, meteu Polícia e foi caçado um aprendiz ou ajudante que parece que afinal não aprendia nem ajudava nada mas já sabia tudo!
Um dia, penso que em fins de Maio ou princípios de Junho de 1956, estava eu muito satisfeito pois no dia anterior tinha-me sido entregue o primeiro trabalho para eu fazer sozinho, marcar e furar umas flanges, para o jardim de inverno do navio dos pilotos da barra “Comandante Pedro Rodrigues” e que eu terminaria na 2ª feira seguinte. Quando o meu pai chegou a casa, deu-me a “agradável” notícia de que nessa 2ª feira me devia apresentar na AGPL, onde iria começar o meu trabalho como “moço de picagem”. Brilhante! Ia passar de cavalo para burro, apesar de ir ganhar mais, penso que 15$70! Até chorei! O meu pai disse-me que tinha pedido ao Eng. Saraiva Cabral e que este tinha dito que para eu ir para as oficinas da AGPL tinha que entrar pela picagem. Estava assim determinado superiormente e ali estava eu sem poder dizer que não!
Assim acabou a minha aventura no “Argibay”!
 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

"O" "Argibay" ... existiu !!!


Porque as pessoas tendem a esquecer o passado e, se esquecem o que durante tantos anos existiu e deu trabalho a muita gente, mais depressa se esquecerão de mim, vou eu lembrar-lhes aquilo que ainda tenho na memória!

 
 “O” "Argibay"

Por conhecimento directo, aqui vou deixar uma dissertação sobre mais uma empresa que também existiu!

 
Anúncio em 1943
(retirado do blogue "Restos de Colecção")
 
O ano lectivo de 1954/55 decorreu um pouco aos solavancos e terminou, apesar dos meus esforços, com os desagradáveis “chumbos” em Matemática, Física e Oficinas de Serralharia. Tal facto, embora parecesse desagradável e contribuísse grandemente para que eu deixasse a escolaridade diurna, contrariamente ao que se possa pensar, não me transtornou muito pois a possibilidade de ir trabalhar não me era penosa e desanuviava-me o espírito, demasiadamente oprimido pelas agruras escolares dum miúdo de 14 anos!

Assim, com um breve “estágio” nas oficinas de serralharia da 10ª Repartição da AGPL, por “imposição” do meu pai e usando o beneplácito do pessoal, ali permaneci até arranjar colocação. Tal aconteceu, então, no fim do mês de Agosto, após uma breve entrevista onde me propuseram vir a ser aprendiz de serralheiro mecânico ou soldador eléctrico. Claro que este último ficou logo de fora. Eu, já que tinha “chumbado” em Oficinas de Serralharia, se tivesse que ser, seria serralheiro e pronto!

O Argibay, era assim que se dizia e não a Argibay, ia ser o meu futuro!

Entretanto, eu iria para o ensino nocturno e o curso industrial havia de ser terminado. Porém, na Machado de Castro, os ingratos, diziam que não tinham vaga para mim. Então eu tinha andado de dia e agora não tinha vaga? Começava a correr mal e eu pensava em fazer as cadeiras como aluno externo no fim do ano. Pensava, é como quem diz, pois eu nem sabia o que pensar e talvez já pensasse era em esquecer essa coisa de estudar. No Argibay só exigiam o 2º ano do Ciclo Preparatório e eu já tinha o 4º ano incompleto, portanto estava livre desse problema! Pensamentos de miúdo que já se via a andar à solta sem ter que “aturar” mais professores. Mas, afinal, lá no Argibay não andavam a dormir! O Chefe do Pessoal (penso que seria o sr. Serra), chamou-me e perguntou onde é que me tinha matriculado. Respondi que não havia vagas para mim e que eu já tinha quase o 4º ano todo. Pois é, mas ali não queriam ninguém que não andasse a estudar e disse-me para ir à Marquês de Pombal. O que se passou a seguir, foi uma odisseia. Também não me queriam! Naquele tempo havia muita gente a estudar à noite. Teve que ir lá também o meu pai falar com o Director que, depois disso, ainda recebeu mais conversa do sr. Serra, até que este me chamou e disse para ir, naquele momento, ao Photomaton no Corpo Santo tirar 18 fotografias e, urgentemente, ir à Escola fazer a matrícula. Era o último dia já com multa e tudo, pelo que o Argibay me adiantou o dinheiro necessário, o qual eu iria amortizando semanalmente ao receber o magro salário de aprendiz de serralheiro e que era de 11$20 vezes 6 dias, igual a 67$20, donde me eram subtraídos 20$00. Tudo certinho!

Hoje, não me canso de agradecer toda a atenção que tiveram comigo!
 

As instalações fabris
 
O Director da empresa, desde 1942, era o Eng. José Honorato Gago da Câmara de Medeiros, 3º visconde do Botelho que tinha sido seu fundador e, entre 1929 e 1936, engenheiro chefe do Serviço de Reparações na empresa “Sociedade de Reparações Navais, Lda”,que explorava o estaleiro da AGPL, aquando da entrada da CUF na sua exploração.

 

Na avenida Infante Santo, em Lisboa, o parque de automóveis e o edifício defronte, ocupam o espaço onde existiram as instalações da Sociedade ARGIBAY de Construções Navais, Lda.
(retirado de Google maps)
As instalações “do” ARGIBAY, ficavam no sítio da Cova da Moura, antiga rua da Torre da Pólvora, “entalada” entre o que já era a avenida Infante Santo e uma parede rochosa que mais parecia uma gruta e onde hoje é o edifício nº 21 dessa avenida, esquina da rua Embaixador Teixeira Sampaio.

E no dia 29 de Agosto de 1955, às 08.00 horas, à porta do que eram as instalações da “Sociedade ARGIBAY de Construções Navais, Lda”, lá estava eu para iniciar o meu percurso de vida activa.

Constavam de. oficina de Mecânica, logo a seguir à entrada, do lado esquerdo, seguia-se a nave da Caldeiraria e lá ao fundo, fora da nave e aproveitando uma gruta, estava um fogão, uma chapa longa onde se poderia aquecer algo para o almoço. Do lado direito, também à entrada, ficava o escritório do Serviço de Pessoal e, penso que ainda antes, a secção de Tubos. Por cima do Serviço de Pessoal, ficava a Sala de Desenho e cá em baixo a seguir a uma escada de acesso a essa Sala de Desenho, havia uma zona para reparação de motores, dos compressores e máquinas de soldar, todos eles móveis, para serviço no exterior (principalmente para a reparação de navios ao cais).

Depois, ainda do lado direito havia o que seria uma “zona morta”, de passagem para as latrinas e urinóis e também para o vestiário/refeitório. As latrinas, talvez uma meia dúzia, eram do tipo “turco” e com murete, velho e sujo, até à altura de cerca de metro e meio. A privacidade era nula mas, pasme-se, havia quem encontrasse ali, naquele local escuro e mal cheiroso, o melhor local para comer uma “bucha” às escondidas. O vestiário/refeitório, com módulos cacifos, cubos de pouco mais de 50 cm, abertos por detrás, em chapa galvanizada e encostados à parede, deixavam livre um espaço central para uma mesa onde caberiam, no máximo, talvez umas 20 pessoas, e uns lavatórios corridos, em zinco, que também não dariam para mais.

E seria este o meu mundo por apenas 9 meses. mas que me ficaram bem na memória!
 

Direcção:

- Eng. Milton, que aparecia esporadicamente e julgo seria o Eng. Chefe.
- Eng. Rui Abrantes, que era o Eng. Em permanência nas instalações da empresa.
- Armando Antunes , a quem poderei chamar o Encarregado Geral e que vivia numa casa contígua às oficinas, mas exteriormente a estas.


Serviço de Pessoal:

- Serra (?), chefe do serviço.
- Olímpio, apontador. Teve um acidente doméstico que o deixou quase cego duma das vistas.

 
Encarregados da reparação de navios:

- Iglésias
- Carmelindo

Havia ainda mais um ou dois encarregados  

Desenhadores:

- Desenhador senior, que não recordo o nome
- Cunha, também desenhador, talvez copista e que era da minha turma no 4º ano, na Marquês de Pombal.

 
A Oficina de Mecânica  

Dentro desta oficina, à entrada, do lado esquerdo, havia uma zona de recepção e saída e materiais, normalmente flanges e válvulas novas ou já reparadas, uma máquina esmeriladora de pedestal e ainda deste lado ficavam os tornos mecânicos que, penso, seriam talvez umas 6 unidades (tendo em conta o pessoal de que me recordo), em frente, na parte central ficavam as bancadas de serralheiro e que teriam, no máximo uns 12 postos de trabalho, 6 de cada lado. Lá ao fundo era a Ferramentaria. Do lado direito e logo á entrada, um Engenho de furar, radial, uma bancada de serralheiro com, talvez 4 postos de trabalho e entre esta e a parede desse lado mais 2 Engenhos de furar, mais pequenos.

Seguindo em frente, estava uma pequena escrevaninha, tipo púlpito, onde normalmente se colocava o Encarregado/Mestre Carolino, a Frezadora e uma máquina de testes das válvulas depois de reparadas. Encostado à parede desse lado ficava o Gabinete/Escritório do Encarregado/Mestre, um Limador e um armário da ferramenta da Frezadora


Encarregado Geral da Oficina de Serralharia:
- Mestre Carolino. Homem de cerca de 50 anos, portuense e portista. Rude no falar mas boa pessoa. A seguir ao almoço, vinha quase sempre mais carrancudo, em vez de vir “alegre”! Boina puxada atrás e as faces mais coradas, eram o sinal de todos conhecido. 

Torneiros e Frezador:
- Alexandre. Era aquele que eu, e não só, considerava o elemento mais válido. Obturador ou sede de válvula, fosse em bronze, latão ou aço inoxidável, ao sair das mãos dele era vedação quase completa, nem quase era necessário fazer o acerto com massa de “carburundum”. Em 1958, penso que devido à mudança das instalações do Argibay para Arcena, Alverca, tal como outros, procurou trabalho no Estaleiro da CUF, na Rocha e por lá ficou, penso que até à reforma. Porém, também era bastante humilde e nunca lhe terão dado o devido valor!
- Reinaldo. Cerca de 25 anos, seria um torneiro em formação, oficial ou ainda ajudante, com alguma qualidade. Bastante expansivo e bom colega, mais tarde penso que terá tirado o curso da Escola Náutica e apareceu na “Frinil”, empresa associada da “Lisnave”.
- Júlio Rato. Cerca de 25 anos, talvez também ajudante, pois de vez em quando estava no torno dedicado à manufactura de flanges e, portanto, o de menor precisão. Também bom rapaz, tirou o curso da Escola Náutica e mais tarde apareceu na “Gaslimpo” e na “Lisnave”, onde já tive bastante contacto com ele.
- João Brito. Aprendiz ou ajudante, brincalhão, morava na calçada da Pampulha, ali bem perto. Suponho que estava quase a ir para a tropa.
- Zé “Saloio”. Aprendiz, bom rapaz. Pouco tempo mais tarde, encontrei-o a trabalhar numa casa na calçada Marquês de Abrantes.

Ainda havia um outro que penso teria regressado da vida militar, e seria este todo o pessoal pois que normalmente havia um torno vago. Certa vez, esse torno até foi ocupado por um indivíduo, à experiência, que se intitulava torneiro e dizendo vir da Venezuela onde trabalhava num torno de 30 metros. Deu-se-lhe um obturador para rectificar e ele, logo aí, fez asneira da grossa. Perante o facto o Mestre mandou-o para o torno das flanges, trabalho de aprendiz. Mas, mesmo aí, desajeitado, ao utilizar uma lima, deixou que os grampos da bucha a apanhassem e lhe provocassem ferimento num braço. Levado ao hospital, por conta do seguro, esteve em tratamento ainda durante largo tempo findo o qual na hora de se apresentar ao serviço teve ordem de “despejo” pois provocava mais estragos que um reles aprendiz
- Gillot. Teria 70 anos, ou mais. Suponho que seria catalão. Fresador, baixo, magro, de óculos, normalmente vestido com calça e casaco de ganga e uma camisola interior sem mangas, excepto talvez no inverno, quando o frio apertava. Nessa altura, vestiria mais alguma coisa mas era um cuidado constante para o Mestre Carolino, porque já noutro inverno ele tinha enregelado, de modo que era ouvir o Mestre Carolino: “Ó Gillot, estás com frio?”. O aquecimento, rudimentar, era um ou outro bidon com lenha a arder, dentro.
No que tocava ao trabalho, além do que normalmente lhe era distribuído, passava o tempo livre a tratar da sua “menina”, a fresadora, e das ferramentas respectivas. Era vê-lo a limpar, lixar, olear ficando tudo num brinco e isto tudo sem quase abrir a boca durante todo o dia.  

Serralheiros:
- Alberto. Na casa dos 55 a 60 anos, talvez não fosse trabalhador efectivo. Talvez fosse, como alguns outros, trabalhadores temporários ou do “gancho”, como chamavam ao pessoal que só era chamado quando havia trabalho. Foi o meu primeiro oficial. Muito calmo, ou seria só aparente pois o receio de ficar sem emprego era bem forte. Os trabalhadores temporários eram, normalmente só utilizados nos trabalhos a bordo, no entanto este esteve ainda algum tempo na oficina.
. Salrreta. O mais idoso e que ia normalmente para os trabalhos a bordo.
- Spínola. Na casa dos 30 a 40 anos, também trabalhava mais a bordo.
- Sebastião. Na casa do 30 e tais. Estava, normalmente, na oficina e era também mecânico da parte de motores. Talvez aquando do fecho das instalações e ida para Alverca, foi trabalhar para a “Petroquímica”. Recordo que naquela altura colecionava os cromos das “Raças Humanas”.
- Ramos, cerca de 60 anos, parecia bastante competente, também de bordo, tinha um comportamento algo agressivo, ou seja, não dava confiança a toda a gente e assumia o seu estatuto algo superior. Ninguém ficava satisfeito quando era escolhido para seu ajudante. Pessoalmente não tenho razão de queixa pois quando me coube ajudá-lo, fui tratado até com certa consideração, talvez porque eu lhe inspirasse essa mesma consideração. Foi mais um, dos tais que eram maus mas dos quais não me posso queixar!
- Humberto, 30 e poucos anos, de bordo ou de trabalho externo. Penso que teria regressado da conclusão dos trabalhos de montagem da “Celulose do Guadiana”, em Mourão. Bom profissional, em 1958 foi para o Estaleiro da CUF e talvez em 1959, emigrou e foi para a fábrica da “Mercedes”, na Alemanha.
- Manuel Correia, “Manel dos compressores”, 30 e poucos anos, era quem tratava dos motores dos compressores, máquinas de soldar “Hobart”, ambos móveis e da frota automóvel. Também boa pessoa, tinha paixão por motas e algumas vezes o estive a auxiliar. Julgo ter ido para a Petroquímica.
- “Joãozinho”, menos de 30 anos, bom moço mas pouco expansivo, emigrou para Angola e, pouco tempo depois de lá chegar, morreu num desastre de automóvel. Esta era a versão que eu tinha, até ao dia 13 de Setembro de 2015, dia em que, para minha alegria, consegui contacto com o meu antigo colega Verónico e ele me informou que essa versão não era verdadeira e o “Joãozinho” tinha ido trabalhar para a “Cometna”!
- Norberto, 20 e poucos anos, pouco expansivo, bom profissional. Saiu e foi trabalhar para a TAP
- “Rato”, cerca de 30 anos, pouco dotado tecnicamente, era mais de trabalhar a bordo. Tentou a admissão ao Estaleiro da CUF mas não foi admitido.
- João Baptista “Taínha”, 30 e poucos anos, bom profissional, com problemas de gaguez, foi o meu oficial durante mais tempo e até ao dia da minha saída. Adepto do Belenenses, ainda sofria devido à perda do campeonato do ano anterior e dizia que, por vezes, até sonhava com o último jogo. Tinha estado a trabalhar na montagem da Celulose do Guadiana, em Mourão. Morava na rua Aliança Operária e encontrei-o várias vezes. Certa vez fui com ele, ao refeitório do Banco de Portugal para reparar uma caldeira.
- António Santos Costa “Compadre”, cerca de 25 anos, ajudante, foi o 1º a ir para a Petroquímica.
- Jacinto, cerca de 25 anos, ajudante, trabalhava mais com os motores, com o Manuel Correia. Também foi para a Petroquímica.
- Santiago, 20 e poucos anos, tinha regressado da tropa e preparava-se para casar. Parecia habilidoso e como ia casar, tentava ir fazendo alguns apetrechos de cozinha em aço inox sempre que conseguia algum tempo disponível e fora das vistas do Mestre Carolino.
- Leal, cerca de 20 anos, em breve ia para a tropa. Já o conhecia do Clube Nacional de Natação
- João “Cantinflas”, cerca de 20 anos, também foi para a tropa. Bom moço.
- “Carlinhos”, talvez 18 anos ou 19 anos, sobrinho do encarregado dos Tubos, era um rapaz alegre. Estava sempre pronto a acompanhar o oficial que fosse em serviço aos Laboratórios J. Neves, onde ele tinha a namorada. Certo dia, estando a trabalhar no limador, que ficava logo atrás da escrevaninha do Mestre Carolino, meteu um bocadinho mais de ferro, o limador até “roncou”, o Mestre Carolino, acto contínuo virou-se para trás e pespego-lhe tal chapada que o “Carlinhos” foi bater na parede e foi de seguida mandado para casa. Não recordo se tornou a regressar mas o caso meteu o tio ao barulho!
- Manuel Carlos, 20 e poucos anos, era novo na empresa e vinha de trabalhar na força aérea. Era primo do João Brito. Não era mau rapaz mas, profissionalmente, era sobre o fraco.
- “Zé”, cerca de 20 anos, pouco expansivo, era bastante solicitado pelo Mestre Carolino para preencher as requisições de material.
- “Zé” “Jardineiro”, cerca de 18 anos, era filho do jardineiro do Visconde de Botelho. Profissionalmente dentro da média.
- Verónico Vargues, algarvio, cerca de 17 anos. Tal como eu, deve ter caído nas graças do Mestre Carolino e recebeu a alcunha de “Jaburú” assim como eu a de “Perdigão”. Tudo porque ele nortenho e ferrenho do Futebol Clube do Porto, tinha de nos atribuir alcunhas de acordo com jogadores do FCP da altura.
A vida dá muitas voltas e é um grato prazer, ao fim de 60 anos, encontrarmos alguém do nosso tempo de juventude, quando nós éramos apenas o João e o Verónico. Foi o que aconteceu!
- Zé “Casa Pia”, 18 a 19 anos, era um moço com quem eu privava bastante, não só porque bastas vezes estivemos a ajudar o mesmo oficial, o Manuel Correia, “Manel dos Compressores”, como também porque era minha companhia durante grande parte do trajecto de saída para casa, e gostava de pedir-me opiniões. Mentalmente fraco, tinha estado na Casa Pia e a mãe algumas vezes foi ao Argibay pedir para o auxiliarem. Nesse ano de 1955/56, matriculou-se na Marquês de Pombal, no 1º ano mas a vida não ia fácil. Dizia ter tocado requinta, na Casa Pia. Bastantes anos mais tarde, encontrámo-nos. Ele reconheceu-me, tinha casado e suponho que tinha uma filha.

Claro que o pessoal não se esgotava na Oficina de Serralharia pois havia o pessoal da Caldeiraria, dos quais apenas recordo o “Chamusca”, que morava na Chamusca e fazia diariamente esse trajecto em transporte público. Não sei quantas horas perderia nisso! O “Cebola”, ajudante de caldeireiro e que, mais tarde vi na Margueira. O Manteigas, soldador, pai do “Matateu”, também soldador, que tocava clarinete e que tinha regressado da “tropa”. O “Barcelinhos”, homem dos seus 40 e tal anos, ajudante de caldeireiro, figura típica e humilde. Um outro, também de cerca de 40 anos, soldador e fanático do Benfica. Dois aprendizes de soldador, o Arlindo e o Américo, por sinal bons profissionais e que, pelo menos o Arlindo, foi para a Lisnave.

Na Caldeiraria de Tubos havia um aprendiz que não recordo o nome.

A Secção Eléctrica, estava instalada na Sociedade de Caldeiraria e Forjas, junto ao topo da Doca de Alcântara.

Os trabalhos mais comuns eram as reparações dos navios da Companhia dos Carregadores Açorianos, tais como o “Pero de Alenquer”, “San Miguel”, “Sete Cidades”, “Lagoa”, “Horta”, “Monte Brasil” e o barco dos Pilotos da Barra de Lisboa, o “Comandante Pedro Rodrigues”. Trabalho também normal eram reparações nos Laboratórios J. Neves. Julgo que, afora o que atrás mencionei, o fabrico de caldeiras e a sua reparação eram as suas principais fontes de trabalho.
 
Em finais dos anos 50 ou princípio dos anos 60, transferiu as suas instalações para Arcena, Alverca, onde, já com carreiras, se dedicou à construção naval.

 
Na carreira o “Cacilhense”, que dava nome a um grupo de novas unidades,

ou um cacilheiro dessa classe


Em 1981, durante um levantamento para o “Estudo Integrado dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sines”, estive nos estaleiros do Argibay, onde se encontravam em construção alguns cacilheiros da classe “Cacilhense” (“Seixalense”, “Palmelense”, “Sintrense”) e onde o engenheiro responsável era o filho do encarregado Armando Antunes!

Os ventos, porém, não iriam ser favoráveis e em 1994, a empresa agora já com o nome de ARGIBAY - Sociedade de Construções Navais e Mecânicas, S.A., entrava em falência!

E lá se colocou mais um prego, no “caixão” da indústria naval portuguesa!
 

domingo, 4 de outubro de 2015

Eleições e tempo de ... reflexão !




O povo anda muito divertido,
o que para mim já não é novo.
Louvam partido e mais partido
mas nenhum é mesmo do povo!

Partidos serão eles, em suma,
bons defensores do nosso bem.
Uns cheios de coisa nenhuma
e os outros sem nada também!

Vá-se lá perceber a lusa gente,
porém, isto só vale o que vale,
não querem ouvir o Presidente
mas, agora, já querem que fale.

Haja quem a este povo acuda,
estamos em tempo de reflexão.
Vou eu dar uma pequena ajuda
neste seu problema da votação.

Aquele jantar ia ser tão bom,
mas acabou por saber a pouco,
pois teve um fadista sem som
e o bom “artista” ficou rouco!

Num pronto tudo se desarranja
e a multidão fica em polvorosa,
numa animada arruada, laranja,
lá aparece uma senhora de rosa!

Porém, lá em Setúbal, também,
saltou de entre todos os demais
uma senhora, fina, muito “bem”.
Surpresa! Uma “tia” de Cascais!

E o maior problema, desta votação,
está na muito bonita conversa fiada
duma tal Catarina, não de Baleizão,
que fala muito bem e não diz nada!

Um partido amante da liberdade,
quando nela muito se embrenha,
dizendo-se em prol da natalidade
mostra-nos uma senhora “prenha”!

Outro, na figura de brilhante advogado,
não sei se em política ainda muito crú,
diz-nos ele não estar a nada enfeudado
e poder fazer acordos até com Belzebú!

Tudo à esquerda, contra a direita!
Não dará tudo isto muita confusão?
Talvez a ideia seja pouco escorreita
na hora de escolher a certa votação!

Pode esta ideia ser um pouco lerda!
Só tornar maior a grande confusão.
Porque, se conduzirem na esquerda,
certo é irem sempre em contramão!

Portanto, tanto à esquerda ou direita,
uma sugestão que não fará nada mal,
para uma condução ser bem perfeita,
na estrada virem sempre, só ao sinal!


Se isto contribuir para a vossa decisão, ainda bem. Se não servir para nada, não há problema. Votem e façam o que quiserem que eu não levarei a mal. Tenham um bom dia!