sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ANO NOVO!!! VIDA NOVA!!! Será ?



2015! Ano do fim da austeridade!
Da morte à taxa da solidariedade!
Milagre, até já sobe a natalidade!
Dizem que mudou a mentalidade!

 
Não sei se a mentalidade mudou,
porque agora o povo tudo aceita.
Só por este governo que chegou,
coitadito, já não ter mão direita!

 
A “canhota” salta e pula de alegria!
É vê-la, só sorrisos, toda contente.
Trabalha, não descansa um só dia,
pensando na vida da nossa gente!

 
Para o aumento da natalidade,
dá direitos aos homossexuais!
Isto é uma boa lei, na verdade,
porque eles cada vez são mais!

 
Para a grande reforma do ensino,
acabaram-se, já, os exames todos.
Ao petiz já não se torce o pepino
mas, dá-se a “rebaldaria” a rodos!

 
Poderia aqui estar muito satisfeito
mas,  amigos, vou ser-vos franco,
depois de ver o meu país sem jeito,
retirei os meus cêntimos do banco!

 
Portugal foi um país de acolhimento,
já era dito na palavra de nossos avós,
hoje, parece-me chegado o momento
em que, refugiados somos todos nós!

 
E o 2016, espreitando, já está à porta,
mal sabendo ele tudo o que o espera!
Este país, a pouco e pouco se entorta
mas, sempre esperando a Primavera!

 
Pode ele vir trajando nova roupagem
que a poucos, ou nenhuns, já engana
na sua bem longa, atribulada, viagem
que terá início já na próxima semana.

 
Mesmo assim, na dúvida, meu benefício
para mais um governo, dito tão acertivo
que, a cada um, não pede nem sacrifício
mas que, docemente, o vai esfolar vivo!

 
Nas Finanças, o Ministro pensa pequeno
mas, é grande especialista a criar ilusões.
Se é um homem, tão apegado ao centeno
porque, vejam lá, só fala ele em milhões?

 
De “são” Jerónimo, contestações
e da má roda de “santa” Catarina,
“santo” António, não de Bulhões,
cabisbaixo, chora a sua má sina!

 
Mas, olha, da sorte não te queixes!
Invoca auxílio ao Papa Francisco
porque, até para pregar aos peixes
tu, coitado, parece já não teres isco!

 
Diz o povo, Ano novo, Vida nova,
mas sem ser com grande convicção,
porque esse ditado nada nos prova
e cada ano nos traz nova desilusão!

 
Portanto, amigos, tenhamos esperança
pois um dia há-de chegar a Primavera
e se, “quem corre por gosto não cansa”,
é bem certo “quem espera desespera”!
 
 
Apesar de tudo o que aqui ficou escrito, desejo aos meus amigos, seguidores e visitantes deste blogue um Ano Novo muito Feliz, se puderem e os deixarem mas que, pelo menos vos dê SAÚDE, para aturar tudo isto!!!!!
 
 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

BOAS FESTAS ! SANTO E FELIZ NATAL !

Como vai sendo hábito, desde 2009, desejo Boas Festas e um Santo e Feliz Natal a todos os meus amigos, aos seguidores e a quantos passarem por este meu local de entretenimento e que com isso tenham aproveitado algo do que aqui vou deixando! 


Quadro da autoria de Gerard van Honthorst
( retirado de https://commons.wikimedia.org )



O Ter, o Ser e… o Natal!
 
Neste mundo, homens sem medo
que pensam ter o mundo nas mãos,
tomam uma arma, qual brinquedo,
e dispõem da vida de outros irmãos.
 
Num mundo em que se venera o Ter,
tenhamos, mesmo assim, Esperança!
Esperança de que valha mais o Ser,
de cada vez que nasce uma criança!
 
E se tudo é quando o homem quiser,
é tudo também, e isso podemos crer,
obra de Deus, do homem e da mulher,
que a criança faça o Homem renascer!
 
O homem espera que tudo aconteça,
num mundo perdido, ardendo em dor.
Pede a Deus que de si não se esqueça
e a todos envie um sinal do seu Amor!
 
E, lá no alto, brilhou num céu de breu
uma estrela e os anjos, o coro celestial,
entoam que Jesus, o Salvador, nasceu
e haja Paz na Terra. É Natal! É Natal!
 
João Celorico

 

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A 10ª Repartição da AGPL ... existiu ! ( 2 )


O material naval

Nesta imagem, dos anos 30 ou 40, além da operação de transferência dum guindaste
efectuado pela cábrea "António Augusto de Aguiar", podem ver-se várias unidades flutuantes
 
Esta Repartição tinha por principal incumbência, providenciar a conservação e manutenção das unidades flutuantes da AGPL, a saber:

Lanchas:
“Lisboa”, “Olivais” e “Bugio”

 
Dragas:
“Santos”, “Santa Apolónia” e “Guadiana”. Todas de baldes. Ao tempo, talvez também a “Alcântara” existisse

“Engenheiro Matos”, de colher e auto propulsionada a vapor.

 

Cábrea:
“António Augusto de Aguiar”

(representada na foto que inicia esta descrição)

Guindaste flutuante:
“Eng. Manuel de Espregueira”

O guindaste flutuante, rebocado pelo "Serra da Arrábida"

Aspirador de cereais:
“Eng. Sá Nogueira” (suponho que era este o nome)

Na muralha, do lado direito, a ré da draga "Eng. Matos", o aspirador de cereais
 

Barcaça de sondagens geológicas:
“Emídio Navarro”

 
Rebocadores:
“Cabo da Roca”, a vapor. Entregue, ainda à EPL, em Abril de 1910

 

“Cabo Espichel”, “Cabo Sardão” e “Cabo Raso”. Entregues, ainda à EPL em 1928, foram os últimos movidos a vapor.

 

 
 





 


“Cabo de Sines”. Já com máquina a Diesel, construído na carreira nº 1 do Estaleiro Naval da CUF, em 1938



 

 
 
 

“Dom Luiz”. De alto mar. Comprado à US Navy em 1949

 


“Serra de Sintra”. Ao serviço desde 1949

 

 

“Serra de Portalegre” e “Serra da Arrábida”. Construídos no Estaleiro Naval da CUF, entraram ao serviço em 1953

 

 
O "Serra da Arrábida" rebocando o guindaste flutuante


“Serra de Montejunto” e “Serra de Palmela”. Ao serviço desde 1956

 

 

 

 

A todas estas unidades, acresciam batelões, barcaças e pontões.

(continua)
 

A 10ª Repartição da AGPL ... existiu ! ( 5 )


O “Faruk”. Pequena homenagem!
 
O "Faruk" seria, talvez, um "rafeiro alentejano", semelhante ao da foto
(retirado de ???? ) 

Não quero terminar esta “viagem” ao passado da 10ª Repartição da AGPL, sem referir um episódio, relacionado com uma das unidades referidas atrás e que, embora triste, não a esqueço.

Foi o caso de que, nos anos 50, a draga “Engenheiro Matos” tinha, na sua tripulação, um tripulante “extra”. O “Faruk”!

Aproveito para dizer que em muitas oficinas era normal haverem animais de estimação. Faziam parte do “pessoal”. Na Oficina de Serralharia da 10ª Repartição da AGPL havia uma cadela, a “Preta”, já velhota e, pasme-se, até havia uma ratazana e seus rebentos que se alimentavam dos restos do almoço de alguns operários e passeavam nas asnas do telhado da oficina, até ao dia em que houve uma acção de desratização.

“Faruk”, rei do Egipto até ser deposto em 1952, era um nome muito falado naquele tempo e, talvez por isso, coube em sorte a um cão que se tornou mascote da draga.

Era um cão de grande porte (talvez um rafeiro alentejano!) e tornou-se não só a mascote da draga como de todo o pessoal da 10ª Repartição.

No Verão, depois das 5 da tarde, o pessoal operário se lhe apetecia refrescar-se ou aprender a dar umas braçadas, mergulhava ali mesmo, junto ao cais. Mas, se a draga estava por perto, era ver o “Faruk” atirar-se à água, ladrando até que todos saíssem da mesma, zelando pela sua segurança, qual nadador salvador!

E os dias iam passando sempre com aventuras do “Faruk”, até que um dia a vida foi-lhe madrasta e o destino quis que ninguém o pudesse socorrer, quando ele tantos tinha socorrido.

A draga, estando ali a trabalhar, encostou ao cais de Cacilhas e o “Faruk” entendeu, por bem, dar uma saltadinha a terra, para distrair um pouco. A distração foi tal que, talvez tenha encontrado alguém com quem “conversar”, o tempo foi passando e o regresso à draga tardou. E tardou tanto que, embora o pessoal em aflição, a draga teve que regressar a Lisboa. Faltava um “tripulante”, mas havia a esperança de que o “Faruk” arranjasse onde passar a noite e no dia seguinte lá estariam de novo. Mas não. Tardiamente, o “Faruk” apercebeu-se de que a draga tinha saído e ao vê-la no meio do rio, atirou-se à água na esperança de alcançá-la. Em vão, a corrente era forte e o rio que ele conhecia tão bem, chamou-lhe seu e ficou, para sempre, com ele!

E, se os animais têm alma, paz à sua alma e a minha recordação!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A 10ª Repartição da AGPL ... existiu ! ( 4 )


Eu e … a 10ª Repartição da AGPL

Para terminar esta minha dissertação vou deixar alguns “flashes” do que foi a minha vida na AGPL.

O primeiro dia, primeiro trabalho, primeiro “desastre”!
Numa segunda-feira do mês de Junho de 1956, talvez meados do mês, contrariado mas obedecendo ao prometido a meu pai, apresentei-me ao trabalho como “moço de picagem” e, continuando a tradição iniciada no “Argibay”, o meu primeiro dia foi marcado por um “desastre”.
 
Foi o caso de que o encarregado, José Sotero, logo que me apresentei ao serviço, me pôs uma picadeira nas mãos e me mandou, com outros, para o “Cabo Espichel”, rebocador que estava na muralha do lado de lá. Uma vez na embarcação, foi-me dito para picar a parte de fora da chapa da borda falsa, a ré. Saltei a borda falsa e pés assentes no verdugo, mão esquerda bem segura à borda e picadeira na mão direita, eis que após uma pancada mais forte, a picadeira parece tomar vida e salta para a água, indo fazer companhia aos peixinhos. Foi prejuízo? Antes ela que eu que, ao tempo, não sabia nadar!
Filho do contínuo do chefe, houve alguma complacência comigo e o caso ficou por ali!

Segundo trabalho
Esquecido o problema inicial, fui escalado para raspar, picar e pintar, o convés da cábrea “António Augusto de Aguiar”. O convés era direito e de boa dimensão, portanto tudo correu normalmente.

Terceiro trabalho
A mim e outro colega foi-nos atribuído o trabalho de limpeza das cavernas dum batelão que se encontrava na doca nº 5 do Estaleiro da CUF.

Nesse dia fiquei a saber como se preparava a iluminação que devíamos utilizar durante o trabalho no interior dessas cavernas. Era um processo fácil! Limitava-se a produzir acetileno. Num reservatório metálico, redondo, espécie de copo, deitávamos umas pedras de carboneto de cálcio, vulgo “carbureto”, cobríamo-las com água e tapávamos com uma campânula na qual existia um bico para saída do gás assim produzido, o acetileno. Depois bastava um fósforo para acender e assim iluminarmos o local de trabalho.
E ali estávamos, calor cá fora mas, lá dentro, depois do trabalho feito, estava-se bem e passámos o resto da tarde descansando, à luz da lamparina! Por vezes ainda saíamos cá fora para nos dessedentarmos num fio de água salobra que, qual bica, corria na parede, a vante da doca.

Quarto trabalho
Fui escalado para pintar a parte interior do bico de proa do “Serra de Portalegre”. Até aí tudo bem. Porém, o rebocador saiu para ir a Xabregas fazer um qualquer serviço e eu ali no bico da proa, baixado a pintar. O rebocador a subir e descer, apesar da pouca ondulação, o cheiro da tinta a ajudar e eu a ter de me levantar para sorver um pouco de ar fresco. Quando, após o regresso, o rebocador atracou, o meu trabalho estava acabado mas eu estava pouco menos enjoado que um “carapau”!

Quinto trabalho
Este trabalho, terá durado talvez 2 semanas. Foi na draga “Guadiana”. Desta vez fomos escalados dois, eu e o “Lambreta”. O trabalho começou por ser, cimentar os tanques de água doce e consistia em “pintar” ou talvez chapinhar interiormente com cimento os tanques. Depois fomos pintar um paiol. Acesso por uma porta de visita, colocámos uma escada e uma vez lá dentro, trincha ou rolo numa mão lá íamos pintando. Porém, como era uma pintura num interior, a renovação de ar era pouca e o cheiro da tinta era intenso pois as tintas daquele tempo eram muito mais agressivas do que as actuais pois possuíam mais chumbo, isso obrigava-nos a vir cá fora tomar ar. Tomar ar e não só porque, quando fazíamos pinturas, tínhamos direito a beber leite que diziam proteger a saúde e os pulmões. Hoje está provado que apenas poderá servir como alimento e não como protector contra a inalação de gases emanados pelas tintas. Esse leite era preparado por nós. Havia cafeteiras de, talvez, cerca de cinco litros, deitava-se água a ferver e uma lata de leite condensado e aí estava o leitinho para os meninos!
Continuando, a pintura do paiol progredia com alguma lentidão, o que desagradava ao contramestre da draga, homem pequenino e que gostava de apoucar-nos. Assim, ele próprio ia para dentro do paiol e desatava a pintar que era um mimo, só para nos dar o exemplo. Claro que ele não sabia com quem se metia! Apanhámos-lhe o ponto fraco e o homem pintou-nos quase o paiol por completo. Só para nos ensinar!
Muito ufano, dizia que a sua filha era um “cérebro” extraordinário pois até já andava no 2º ano do Ciclo Preparatório. Não era como os “calões” e “vadios” da picagem. Fui ouvindo, atentamente, e disse-lhe que eu já tinha passado para o 5º ano do curso industrial e não andava a fazer propaganda. Começou por não acreditar mas depois “amansou” e tivemos um resto de trabalho calmo e sem problemas.

Sexto e último trabalho na Picagem
Fui chamado da draga “Guadiana” para fazer parte duma “brigada” de ataque ao pontão de embarque da Trafaria.
Às 08.00h, embarcávamos numa lancha, a “Olivais” ou a “Bugio”, rumo à Trafaria. Lá chegados, qual condenados das galés, descíamos ao porão e tratávamos de movimentar as pedras que serviam de lastro, dum lado para o outro, para nos permitir actuar na zona que ficava livre. Essa “actuação”, então, consistia em raspar alguma ferrugem e depois cobrir paredes e tecto com “coaltar”, tinta de alcatrão. Dito assim, não parece nada de especial, só que ao calor que se fazia sentir cá fora e lá dentro do porão, acresciam a inalação dos gases da tinta e os pingos da mesma que nos caíam no fato macaco e na própria pele. Esses pingos, queimavam tecido e a pele, pelo que as manchas na cara eram normais. A lavagem da roupa era um suplício para a minha mãe que, antes da lavagem, tinha que aplicar azeite nas manchas de alcatrão, para o diluir, não evitando, no entanto, que o tecido, queimado e enfraquecido, rapidamente rompesse e abrisse buraco. Cerca do meio dia regressávamos a Lisboa, para o almoço, depois repetíamos a dose da parte da tarde, regressando às 17.00 horas. E foi assim, pelo menos durante uma semana, finda a qual tive a grata notícia de que o meu período de “condenado às galés” terminava ali e na segunda-feira seguinte me devia apresentar da oficina da Caldeiraria.

Uma semana, na Oficina de Caldeiraria
A minha permanência nesta oficina, quase não deu para aquecer! Como auxiliar do João, lá fui aprendendo a acender o maçarico de oxi-corte, a rebarbar algumas peças e a tomar contacto com a “segunda-feira” (uma marreta), que eu nem quase levantava do chão quanto mais utilizá-la!
E assim, chegou ao fim a semana e, “eureka”, recebi a ordem para me apresentar na oficina de serralharia na semana seguinte.

 
Enfim, na Oficina de Serralharia!
Fui, então, colocado como ajudante do José “Barreirense”. No entanto, para todos os efeitos, eu continuava a ser um “Moço de Picagem”!
Estávamos ainda no Verão e a Caldeiraria tinha um trabalho que era fabricar os elos da cadeia dos baldes duma draga. Logo fui requisitado e estive, no largo fronteiro à oficina quase uma semana a marcar os malhais, com cércea, riscador, martelo e punção de bico.
 
Neste mesmo largo, em Fevereiro de 1957, estaria em aprestamento o pontão que receberia a galeota transportando a rainha Isabel II e seu séquito.

Entretanto ia aprendendo a afiar ferros de corte e a ter algumas pequenas incursões no torno pequeno e no torno da carpintaria.

Chegou o inverno, o frio apertava e até de casaco vestido eu tinha de andar. E o inverno não ia passar sem que aparecesse, nos inícios de 1957, uma moléstia, a “gripe asiática”! Era ver o pessoal, um a um, a serem atacados pela dita. Começava por uma ligeira dor de cabeça, andar um pouco azamboado e no dia seguinte já havia mais um que não aparecia ao trabalho. Eu, como os outros, também fui apanhado. Sei de quem, ainda em Setembro, não se livrou dela!

Com o tempo fui-me entrosando no trabalho que de mim necessitavam e comecei a ser “requisitado” pelos mais variados colegas para este ou aquele “trabalhinho”.
Assim, o tal contramestre da draga “Guadiana”, agora já me conhecia e pedia os meus préstimos para que lhe fizesse um arranjo numa tampa dum ferro de engomar, a carvão. Pelo que me foi dado observar, o ferro de engomar estava mesmo a pedir sucata, mas o homem não desistia e lá teve que ser.

O Saraiva, que tinha estado no sanatório, aprendeu lá a fazer uns “naperons” e logo tudo se agradou deles. Conclusão, tive uma “encomenda” duma série de agulhas em alumínio, tipo das que servem para arranjar redes de pesca. Feitas as agulhas, passou a “febre” à maioria dos interessados. Fazer acabamento dum martelo de bola, para o Vasco, torneiro, foi mais uma encomenda. Não tiveram conta os cabos para limas. Bastava-me pegar num vergueiro e uma goiva e no torno da carpintaria lá iam eles saindo para serem acabados com uma anilha cortada dum tubo de latão.

Chegámos ao mês de Abril e começou a falar-se dos Jogos Culturais do Pessoal da AGPL, comemorando o Cinquentenário da AGPL, que seria no dia 7 de Maio.
 
Perante tal facto, logo alguns entenderam que era chegado o momento de mostrarem as suas habilidades. Eu não fugi à regra, martelando chapa para um lindo cinzeiro mas tive que colaborar na feitura das “habilidades” dalguns outros.


Foi então que em Setembro, ao José Bispo, torneiro, convalescente dum acidente em que fracturou um braço, lhe foi pedido para tornear umas flanges em ferro fundido. Um “biscate” encapotado! Como ele não estava operacional e eu já era “pau para toda a obra”, lá fui “convocado”. Um pouco contra vontade, fui fazer o trabalho que até meteu horas extra e no dia 19 de Setembro, enquanto ia torneando aproveitava para ir ouvindo, no aparelho já antigo que o Jacinto tinha sobre a sua bancada, o relato do jogo Sevilha, 3 – Benfica, 1, para a Taça dos Campeões Europeus. Desse jogo recordo o defesa central do Sevilha, o Campanal, que parece ter “aviado” bem, tanto o Ângelo como o “Zezinho”, os “maus” do Benfica.
Esse trabalho, em horas extra, não me foi pago em dinheiro mas em folgas. E foi por isso que numa quarta-feira, depois de ter respondido a um anúncio do Diário de Notícias, prometendo um bilhete para um filme com a Sophia Loren e o ter recebido, lá fui direito ao “Condes”.
A meio do filme faltou a luz e julguei que não ia ver a Sophia. Esperou-se bastante tempo mas lá vimos o filme.

Por esta altura, em Setembro, já eu andava com a cabeça no ar porque já me tinha inscrito para admissão no Estaleiro Naval da CUF e por isso também a minha pouca vontade para fazer o trabalho de torneiro.

Estava farto de fazer pequenas coisas para os outros, de tal modo que não tinha paciência para fazer nada para mim e isso começava a cansar-me. Eu que, ao tempo, só queria ser um serralheiro mecânico e não um “topa a tudo”, hoje vejo que não me fez nada mal.

Terminado este trabalho, foi altura de comunicar ao pessoal que, contrariando agora a vontade do meu pai que gostaria de me ver como funcionário público, a minha vida ali já tinha acabado e na 2ª feira, dia 1 de Outubro, eu estaria à “disposição” deles mas ali ao lado na Oficina da Mecânica do Estaleiro Naval da CUF!
 
 
 
 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A 10ª Repartição da AGPL ... existiu ! ( 3 )


O pessoal da 10ª Repartição

Não quero aqui deixar de referir todo o pessoal de que me recordo e de igualmente lembrar toda a amizade e especial carinho que recebi, praticamente de todos com quem convivi. Isso talvez, também, por alguma consideração ao meu pai que ali ingressou em 1947 e soube granjear essas mesmas amizades:

José Celorico
Para mim o funcionário "mais importante" da 10 ª Repartição! 
 
Chefe da 10ª Repartição:
Eng. José de Sousa Saraiva Cabral, a quem devo conselhos, apoio na procura profissional e sempre que a ele recorria.

Agentes Técnicos de Engenharia:
            João de Sousa Costa
Manuel Roque, que promoveu a admissão do meu pai, em 1947.
Manuel Serra

Oficial Maquinista:
Pires

Encarregado Geral:
António Ferreira. Cerca de 35 anos. Tinha sido torneiro mecânico.

Desenhadores:
Eduardo Eurico dos Santos. Desenhador chefe.
Rui Almeida (“Ruizinho”). Cerca de 25 anos.
Luís. Talvez 20 anos. Tirou o curso de Máquinas Marítimas da Escola Náutica e embarcou num butaneiro, o “Cidla” ou o “Bandim” e logo na sua primeira viagem teve o azar de andar à deriva na Biscaia e em risco de explosão.

Contabilidade:
Albano Fernandes. Cerca de 50 anos. Era o Chefe da Contabilidade. Foi Presidente da Assembleia Geral do Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Mantas. Cerca de 25 anos
Soares. Cerca de 25 anos. Irmão de José Mário, jogador de basquetebol do Sporting.
Mário. Cerca de 25 anos. Era do Barreiro
Saraiva. Cerca de 25 anos. Suponho que tinha antecedentes na Caldeiraria, talvez soldador. Como tinha regressado da vida militar e dum Sanatório, estava agora no escritório. Julgo que era familiar do Eng. Saraiva Cabral.
Fernando Catalão. Cerca de 35 anos. Era um torneiro que tinha regressado de internamento num Sanatório e agora estava também no escritório. Também morava no Barreiro.

Contínuo (Vigilante Principal):
José Celorico (meu pai). Como é lógico e natural, para mim, era o elemento mais “importante” na estrutura da Repartição!

Fiscalização:
Completo. Era o chefe da Fiscalização e o mais velho de 3 irmãos também da 10ª Repartição. O do meio estava na Caldeiraria e o mais novo, pequeno e franzino, estava a bordo dum rebocador.
Manuel Afonso Ligório. Cerca de 45 a 50 anos.
Victor. Vinte e poucos anos.
“Jorginho”. Vinte e poucos anos. Era filho do marinheiro que normalmente manobrava a Ponte Giratória.
Contínuo. Não me recordo do nome. Tinha sido polidor de móveis.



A mesa principal dum almoço de confraternização
da esq. para a dir. (?); Eurico Santos; João Sousa Costa; Laureano; Zalpa;
Manuel Roque; António Ferreira; José Nunes Oliveira; (?)
 
Oficina de Serralharia/Carpintaria/Ferramentaria

Mestres:
Laureano. 50 a 60 anos.
Zalpa. Mais de 60 anos. Gordo e baixo. Parecia-me mais ligado ao equipamento flutuante

Escriturário/Apontador:
Jorge. À volta dos 60 anos. Gordo, cara redonda e olhos pequeninos com os óculos na ponta do nariz. Ali passava o dia, sentado ao “guichet” de atendimento.

Serralheiros em permanência na oficina:
Ti’Carlos “Russo”. 50 e tal anos. Era o “enclave” do estaleiro da CUF.
(mudo). Vinte e poucos anos. Oriundo da Casa Pia, como é natural nos surdo mudos. Era adepto do Benfica e mantinha acesas “discussões” com outro mudo, o Jacob, que trabalhava na Caldeiraria.
José Nunes Oliveira, “Barreirense”. Era o meu oficial. Cerca de 35 anos. Baixo e magro. Vivia e era natural do Barreiro.
Eu

Serralheiros mecânicos auto:
Manuel Joaquim. À volta dos 30 anos. Jogava hóquei em campo no Atlético
Felizardo. Cerca de 25 anos. Era o ajudante.

Serralheiros de bordo:
Zé Maria. À volta dos 50 anos.  
José Abreu . 30 e poucos anos. Era médio na equipa de futebol do Atlético.
Victor Lopes, “Piricas”. Cerca de 30 anos. Era o defesa esquerdo da equipa de futebol do Atlético. Pessoa de bom trato e de certo modo indolente, ninguém diria que, em campo, se transfigurava e o seu poder físico vinha ao de cima. Ainda antes de eu ter saído da AGPL, foi transferido para motorista dum rebocador, talvez o “Serra de Montejunto”.
Ponciano. Cerca de 30 anos. Morava na Graça.
Aurélio. Cerca de 35 anos. Boa pessoa, humilde, provinciano e algo ingénuo, matriculou-se na escola industrial, no curso nocturno, e isso levava-o a que tivesse que ter uma atitude de acordo com a de um aluno do 1º ano, miúdo e pouco de acordo com a idade dele o que provocava a brincadeira dos colegas. Com o feitio dele, um pouco envergonhado, tudo “suportava” pois sabia que todos eram seus amigos.
Maldonado. Em idade de ir para a “tropa”, tinha sido meu colega no ano anterior no 4º ano da Escola Industrial Marquês de Pombal, onde foi um dos protagonistas duma pequena “rebelião” em defesa do vendedor de castanhas. A conclusão foi, devido à sua idade, ter ido dormir ao Governo Civil.
Carneiro. Também em idade de quase entrar na vida militar. Era filho do motorista da Repartição. Desentendi-me com ele por coisa de pouca monta mas, para mim era o suficiente e acabou ali o relacionamento. Feitio de miúdo!
Fernando Neves Costa. Talvez 18 ou 19 anos. Também era aquisição recente da oficina de Serralharia. Era um de três irmãos, o do meio. O pai também trabalhava na AGPL mas, suponho que em Santos. Dávamo-nos bem e por vezes éramos companhia domingueira.


Dia 2 de Setembro de 1962
Estádio da Tapadinha
Festa de homenagem a Vitor Lopes e Tomé, consumando assim o seu adeus aos relvados
Torneiros:
Tomé. Cerca de 30 anos. Apesar do José “Barreirense” ser o meu oficial, foi o Tomé o meu iniciador, o que já vinha da minha primeira passagem, quase um ano antes, por aquelas oficinas. Ia tentando convencer-me de que aquilo da “ferrugem” não era vida para mim. Não era saudável o ar duma oficina, dizia ele. Escritório é que era bom. Aí, as pessoas eram tratadas como gente. Entretanto, como ele jogava futebol no Atlético e via já o fim da sua carreira futebolística, mantinha o sonho de embarcar num dos rebocadores, o que acabou por conseguir, não ficando por aí pois tirou o Curso de Máquinas Marítimas da Escola Náutica, depois de conseguir a admissão na mesma após uma extraordinária “odisseia” que até meteu almirante Henrique Tenreiro e tudo. Foi sempre um bom amigo!
José Ferreira Bispo. Cerca de 35 anos. Era o torneiro que alternava com o Tomé. Irmão do encarregado António Ferreira. Devido a um acidente de viação fracturou um braço e isso levou a que também eu começasse a ser “requisitado” para alguns serviços menores, de torneiro. Teve, ao tempo, um problema com a justiça. Diria que não era, propriamente, um exemplo de colega embora nunca tenha notado problemas com ninguém, até porque ele era um pouco reservado.
Vasco Matos Duarte. 30 e poucos anos, era o torneiro do torno mais pequeno e das obras mais miúdas. Não seria especialmente dotado mas era diligente e confiável.
Rui (?). Em idade de entrar na vida militar. Bastante extrovertido. Estava, então, no torno médio e mais antigo, a que chamávamos, "o carrocel", tal era o barulho que ele produzia e as folgas que apresentava. Anos mais tarde encontrei-o como motorista de táxi.

Carpinteiros:
José Clímaco, era o mais velho e seria encarregado. Era mais um que vivia no Barreiro.
Manuel Pires. Cerca de 40 anos. Era o carpinteiro, marceneiro, mais qualificado e frequentemente assediado pelos colegas para um qualquer “trabalhinho” que precisavam, “urgentemente”, lá para casa. O meu pai também não era excepção à regra!
Escaravana. Cerca de 35 anos. Carpinteiro, mais de toscos. Praticava atletismo, era lançador de peso. Não sei se era no Belenenses se nos campeonatos corporativos na FNAT. Foi porta-bandeira na inauguração do recinto desportivo da Casa do Pessoal da AGPL.  
Chico. Cerca de 35 anos. Baixo e forte, era o outro carpinteiro, marceneiro. Morava na Ajuda.
Belmiro. Cerca de 35 a 40 anos. Carpinteiro de machado. Como carpinteiro, propriamente dito, era apenas um ajudante, sobre o fraco. A sua qualidade mental também não parecia ser de grande monta. Era um apaniguado do Benfica, dos chamados “doentes”!
Manuel Neves Costa. Cerca de 25 anos. Ajudante, humilde e pouco activo. O mais velho dos 3 irmãos Neves Costa. Aos domingos de futebol em Alvalade, tentava aumentar o seu parco vencimento, vendendo, bebidas e outros “mantimentos”, para entreter os adeptos durante o intervalo dos jogos.

Electricista:
Jacinto. Cerca de 25 anos. Alegre e extrovertido. Bom colega. Algo vaidoso, iniciou-se na prática do culturismo e cultivava a sua imagem. Isso era o suficiente para ser o motivo de paródia dos amigos. Incauto e crédulo, ia caindo nas partidas desses amigos que lhe arranjavam encontros com amigas “fictícias” para poderem gozar o prazer de o ver aperaltar-se e muito cioso do seu segredo. Segredo que só o era até daí a algumas horas e que seria motivo da risota no dia seguinte. Em 1957, foi trabalhar para Lourenço Marques e eu “herdei” alguns dos “biscates” que ele estava a construir e já não iria acabar.

Servente de Limpeza:
“Joãozinho”. 50 e tal anos. Boçal, nada conversador, ia varrendo ou estando quieto e os dias iam passando.

Ferramenteiro:
Manuel Belfo. 50 e tal anos. Terá vindo da Marinha de Guerra, talvez fosse sargento. Passando o dia dentro da Ferramentaria, mantinha distância com a maioria do pessoal, pouco conversando, fosse com quem fosse, se bem que não rejeitasse a conversa.



De costas: Soares; José Celorico; (?)
De frente: (?); Zé, da Caldeiraria; Victor; José Abreu
Ao fundo, na outra mesa. O 1º à esq. Zé (mudo) da Serralharia e o 1º à direita (?) da Caldeiraria
 
Oficina de Carpintaria Naval/Defensas

Carpinteiros
Manuel “Calafate”. Cerca de 60 anos. Como a alcunha indicava, era calafate.
Chico. Cerca de 35 anos. Alentejano, magro, de bigodinho e cabelo encaracolado.
Constantino. Cerca de 35 anos. Morava na Ajuda.
Diamantino Neves Costa. Talvez 18 anos. Era o irmão mais novo dos Neves Costa. Trabalho para ele era um frete.

Vestiário:
Não me recordo do nome do vigilante, era o pai do José Abreu

Edifício da Oficina de Caldeiraria:

Caldeiraria:
Completo. Cerca de 35 anos. Era o irmão do meio.
“Viana”. Cerca de 40 anos. Penso que seria de Viana do Castelo.  
(?). Talvez 18 anos. Já o conhecia da Escola Industrial Machado de Castro.
Jacob (mudo). Entre os 25 a 30 anos. Gostava muito de “conversar” comigo pois era adepto do Sporting.
João. Devia ter regressado da tropa e daí a uns tempos foi para o escritório. Estive a ajudá-lo durante as, talvez, duas semanas que me fizeram passar pela Caldeiraria.
Hipólito. Cerca de 20 anos. Foi trabalhar para Lourenço Marques onde, em 1964 ou 1965, o encontrei.

Soldador: (?). Cerca de 50 anos. Não faço ideia do nome. Tinha pouco contacto com ele.

Fundidor: (?). 40 e tal anos. Conhecia-o melhor mas também não recordo o nome.

Pintor: Mário. Cerca de 35 anos.

Mergulhador: (?). 40 e tal anos. Forte e relativamente baixo. Recordo que com ácido clorídrico, limpei a oxidação dos componentes do capacete de mergulho, para que tudo ficasse amarelinho.

 



De frente: (?); José Celorico; "Joãozinho"; Manuel Joaquim; Belmiro; (?)
De costas, não conheço.
 
Picagem:
José do Rosário Sotero. Cerca de 35 anos. Era o Encarregado.
Fernando. Cerca de 30 anos. Era o adjunto do Encarregado.

Moços de picagem:
“Seixal”. Morava no Seixal, como é natural.
“Matateu”. Nos anos 70, era encarregado na “Lisnico”
“Lambreta”. Miúdo, franzino, provinciano e diligente, dei-me bem com ele e ainda hoje o vou encontrando, agora muito mais gordo.
Leonel. Também estudava na Marquês de Pombal e passou para o escritório.

Relativamente aos “moços de picagem”, que eram mais uns quantos, cumpre dizer que eram considerados uma espécie de rapazolas pouco menos que vadios, muito embora de lá tenham saído alguns que demonstraram o contrário, cumprindo como que um processo de regeneração. No fundo eram rapazes que, apenas com as habilitações básicas, eram aproveitados para os trabalhos de limpeza e menos qualificados.

Fica por aqui a minha descrição do pessoal da 10ª Repartição da AGPL.

Seguem-se factos da minha vivência.

(continua)