sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO ! ! !



A todos os visitantes deste blogue e em particular aos meus amigos e seguidores, aqui lhes deixo os meus Votos de Feliz Ano de 2011!

Cumpre-me, vir aqui, desejar
além de Paz, Saúde e Amizade!
Que o 2011, que está a chegar,
vos traga Dinheiro e Felicidade!


Nota: A gravura foi retirada do blogue mafuca.bloguedobebe.com

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Madeiro em Salvaterra


Vou falar duma tradição que desconheço, quase totalmente, porque nunca a vivi.
Refiro-me ao “Madeiro”!
É uma tradição milenar que ainda se vai mantendo, principalmente, em terras das Beiras e de Trás-os-montes.
Em Salvaterra do Extremo consta que, nos primeiros dias de Dezembro, (penso que no dia 8), os rapazes, jovens mancebos, em idade de “ir às sortes”, afim de cumprirem o serviço militar, cumprindo um ritual da sua passagem a homens, juntavam-se e pegando numa junta de bois e num carro, durante a noite, iam em busca de lenha. Essa busca, um misto de devoção e irreverência daquela juventude, consistia no “roubo” de troncos de árvores. O “Madeiro” seria tanto melhor quanto maiores e mais grossos fossem os troncos. Tal facto não era muito do agrado dos proprietários a quem fora retirada essa lenha, mas havia que aceitar e mostrar devoção.
Acabado o “golpe de mão”, já alvorada, lá vinha o carro carregado de lenha, no meio de grande festa dos jovens, até que chegava ao Adro, onde era depositado para ficar bem à vista de todos os que, sabedores do que se passava, ali acorriam para admirar aquilo que seria motivo de festa maior quando, na noite de 24, se lhe “apitchasse” um fósforo e ardesse até ao Ano Novo.
O Menino não ia ter frio e o povo também não!
O povo, além da alegria do nascimento do Menino, tinha o hábito de levar algumas brasas para casa para atear a sua lareira e manter o "borralho" que lhes aqueceria o corpo e a alma.
Hoje em dia, tal como em Salvaterra, muitas terras vão ficando desertificadas, os jovens escasseiam e a tradição é mantida pelas poucas pessoas, já sem o aparato de antigamente. Talvez só, na noite de Natal, façam uma fogueira o melhor que podem e sabem e assim revivam os seus tempos da mocidade!



Aproveito para dar a conhecer um belo poema do nosso conterrâneo, tenente Manuel Dias Catana, escrito em Castelo Branco, em 26 de Dezembro de 1970:

O Madeiro
(Em Salvaterra do Extremo)

Dezembro, vinte e quatro. O Madeiro arde
No Largo que defronta a velha Igreja,
Aceso nesse dia, ao fim da tarde,
Conforme a tradição manda que seja.

Os moços cantam loas a Jesus
Em torno do Madeiro incendiado.
Na Igreja, o Presépio é todo luz,
Onde está o menino reclinado.

Para a “Missa do Galo”, as raparigas
Passam no Largo que o braseiro aquece,
Enquanto os moços põem nas cantigas
O fervor e a unção de ardente prece.

Batendo no Madeiro, fazem brasas
Para aquecer Jesus, o Salvador.
Há cheirinho a filhó em muitas casas;
Nos lares há Presépios, paz e amor.

Reúnem-se as famílias, há presentes;
Há cânticos e risos de alegria.
Recordam-se os amigos e os parentes
Que ganham longe o pão de cada dia.

Repicam sinos. Há em toda a terra
Festa em louvor do santo nascimento.
Que ela traga consigo o fim da guerra,
A paz ao mundo, alívio ao sofrimento!

Natal! Festa de amor entre as famílias,
Da qual dimana um fervor divino!
Que saudades eu tenho das vigílias
Dos meus Natais do tempo de menino!



Nota: As fotos são da autoria de Daniel Martins e foram retiradas do Facebook.
A gravura é do livro “Etnografia das Beiras” da autoria de Jaime Lopes Dias.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Salvaterra e os mistérios da História

As Escolas


Certo dia, fartei-me de que os meus amigos de brincadeira, mais velhitos que eu, me deixassem e fossem “brincar” para um sítio que eles chamavam de escola. Até o meu irmão, logo de manhã, pegava na sacola com uns livros, uma ardósia onde com a piçarra (ponteiro) rabiscava umas coisas a que chamava letras, uns cadernos e também uma caneta onde punha uma pontinha metálica e brilhante, quando nova, a que chamava aparo e abalava, direito a essa tal escola.
E, diziam que eu não podia ir. Não estava certo! Também queria ir brincar com eles!
Mas, eu sabia onde eles estariam. Enchi-me de coragem e meti-me terra adentro. Da Quélhinha, em direcção às Caganchinhas, era um pulinho. Logo ao chegar ao forno do Pinheiro, ao fundo do Castelo, era só virar à direita e um pouco mais à frente virar à esquerda. Lá adiante, do lado direito, lá estavam elas, as Escolas (pois eram duas, uma para meninos e outra para as meninas, para não haver confusões). Uma vez lá chegado, o “famoso” João “Parralinha” fez saber que também queria ir brincar “às lições”. Aquilo devia ser bom, uma vez que lá estavam eles todos, os seu amigos da brincadeira. O espanto foi geral e a D. Emília, a professora, lá se encheu de paciência e, fazendo uso das suas melhores faculdades, tratou de mandar de volta o intruso. Diziam-me que eu não podia “brincar”, que ainda não sabia e que quando crescesse é que era. Porém, só conseguiram demover-me, dos meus intentos, com a prestimosa colaboração do meu irmão que se prontificou a ceder-me um aparo. Coisa linda! Dono de tal preciosidade, e pensando no dia em que também iria brincar como eles, lá me resolvi a voltar pelo mesmo caminho, direito a casa. O trânsito não era um perigo, a não ser que aparecesse algum macho desenfreado e, em casa, já alguém andaria preocupado com o meu sumiço!
Estávamos, então no ano da graça de 1944 e eu andava pelos meus 3 anos!

O meu irmão estava, nesta altura, na 4ª classe e quando entrou para a escola, em 1940, apenas andou 2 ou 3 meses nas instalações da escola velha, no edifício da Câmara!

No livro “Monografia de Salvaterra do Extremo”, da autoria do capitão Bargão, na página 44, pode ler-se:
“ A Casa da Câmara foi demolida em 1911 e no seu lugar se constituiu uma casa destinada às escolas oficiais de instrução primária que ficou a funcionar no rez-do-chão, ficando assim 3 salas, duas para o sexo masculino e uma outra para o feminino. Devido às más condições em que já se encontravam as Escolas foram em 1940 mandadas para os novos edifícios que o estado mandou construir no Alto do Forte”.
Ora, pelo que atrás ficou dito, tudo leva a crer que a construção destas escolas, tal como o Cruzeiro, ali bem perto, erguido no Alto do Forte, tenha sido ao abrigo dum qualquer plano de construções, do Estado Novo, para comemorar o chamado Centenário, ou seja, os 800 anos da nacionalidade.
Mas, há sempre um mas! Referindo-se à Casa da Câmara, a placa que em 2005 foi colocada no Pelourinho, reza assim:
“… Em 1911, o seu interior foi demolido, para aqui funcionar uma escola com três salas de aula, até 1945….”

Qual será a estranha razão para aqui aparecer o ano de 1945? É que tudo nos diz ser 1940!
Quem souber, que responda!

Pessoalmente, estas placas (há outra, junto ao Chafariz da Deveza) têm-me intrigado bastante, devido àquilo que julgo serem imprecisões.
De quem será a autoria de tais placas?

Nota: A foto das Escolas, foi retirada do livro do capitão Bargão. A foto da placa do Pelourinho, da autoria de Bruno Carreiro, a quem desde já agradeço, foi retirada do Facebook.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um Sindicato Agrícola em Salvaterra do Extremo !

Foi com alguma curiosidade que soube da criação dum Sindicato Agrícola, em Salvaterra do Extremo, no dia 16 de Dezembro mas... em 1932!

Os Estatutos, impressos em 1935, constam de oito capítulos e quarenta artigos, sendo despachados, em nome do Ministro do Comércio, Indústrias e Agricultura, pelo Sub-Secretário de Estado da Agricultura, José Penha Garcia.

No artº 40, diz-se que, durante o primeiro exercício, a Direcção será formada por:
Alexandre Martins Romão
Manuel Marques Ferreira Proença
José Dias Pinheiro

E o Conselho Fiscal, por:
Dr. Manuel Dias Carreiro
Artur de Paiva Pinheiro
José Maria Gomes Rascão

Os sócios fundadores, foram os seguintes (24):

Domingos Varão
José Dias Pinheiro
José de Campos Monteiro
João Dias Carreiro
António Romão de Azevedo
Manuel Dias Carreiro
José Maria Gomes Rascão
António Folgado Romão
Francisco Fernandes Moreira
Bernardo Pinheiro
João Moreira Magro
José Monteiro
Pde. Manuel Marques Ferreira Proença
José Domingues Remédio
João Varão
António Magro Pinheiro
José Martins Romão
Alexandre Martins Romão
Manuel Delgado Moreira
Artur de Paiva Pinheiro
José Bernardino Borges d’Almeida Ferreira
António Fernandes Moreira
João Martins Romão
António Martins Romão


Se funcionou, ou até quando, desconheço!

Pelos nomes, aqui inscritos, se pode ver que são lavradores e proprietários e não meros trabalhadores. Achei estranho mas, por mero acaso, descobri a razão ao passar pelo blogue "Tudo de novo a ocidente".
Aí se escrevia:
"Devemos esclarecer que estes Sindicatos Agrícolas eram diferentes daquilo que hoje se entende por organização sindical. O Sindicato Agrícola de Colares a exemplo de outros existentes por todo o País, assumiam o carácter de entidades compostas por agricultores donos de terras e nos quais se podiam filiar, também, indivíduos que não sendo agricultores possuíssem lavouras, tratava-se de associações de proprietários cuja origem remontava à Carta de Lei de 3 de Abril de 1896, que a Lei nº215 de 30 de Junho de 1914 confirmou. Com a implantação do Estado Novo estes Sindicatos foram transformados em Grémios da Lavoura de acordo com "Organização Corporativa".

Assunto esclarecido, resta-me apenas notar que eram bastantes os fundadores (24), pois em Colares, zona de bastante agricultura, eram bem menos. Porém, em 1936, estes já tinha fechado portas.
Da qualidade das pessoas, por quase completo desconhecimento, não posso pronunciar-me. Apenas posso dizer que eram a entidade empregadora daqueles tempos e geriam os destinos de Salvaterra!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Santo e Feliz Natal !



A todos os visitantes deste blogue e em particular aos meus amigos e seguidores, aqui lhes deixo os meus Votos de Boas Festas!

NATAL
Do céu cai uma estrela
brilhante, prenhe de luz,
e todo o Mundo, ao vê-la,
vê nela o Menino Jesus!

E, quando na terra caiu
a estrela, enviada do Senhor,
o Mundo, todo ele, viu
o Menino, Paz e Amor!

Algo o Senhor terá esquecido
de fazer cair, cá na terra.
O Mundo parece perdido!
Em vez de Paz, só quer guerra!

Esqueçamos então todo o Mal,
em tempo de Boa Vontade!
Votos de um Santo Natal
e o meu abraço de Amizade!


De nós não se esqueça o Senhor,
pois muitos nos levam ao engano.
Além de muita Paz, muito Amor
e um muito Feliz Bom Ano!

João Celorico

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 2 )






Como prometido, aqui vai mais uma versão de Salvaterra do Extremo, recolhida antes de 1948 e publicada por Jaime Lopes Dias, emérito etnólogo das Beiras e não só.
O tema deste romance, mulher fazer-se passar por homem, ainda hoje é usado no cinema, onde há vários filmes que o tratam. Mito ou realidade, também temos o caso da papisa Joana. Ainda há bem poucos anos, em Portugal, houve o caso da "Generala", mulher que se fez passar por homem e oficial do exército!






Donzela guerreira

--Mal hajas tu, mulher, mais a tua parição,
2 sete filhas que tiveste sem nenhuma ser varão!
--Calese aí, ó meu pai, não nos deite a maldição,
4 que a sua filha mais nova, ela serve de varão.
--Tens o cabelo tão grande, filha, a conhecerte vão.
6 --Dêemme cá uma tesoura, que eu o deito já ao chão.
--Tens uns olhos tão bonitos, filha, a conhecerte vão.
8 --Quando passar pela gente eu os baixarei ao chão.
--Tens uns peitos tão grandes, filha, a conhecerte vão.
10 --Eu os apertarei, meu pai, até metêlos no coração.
--Tens um passo tão curto, filha, a conhecerte vão.
12 --Quando passar pelas ruas darei passos de ganhão.
.......................................................
Foi recebida em casa do filho de um capitão.
.......................................................

14 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
16 --Se o queres conhecer levao a uma loja a comprar
e, se ele for mulher, às fitas se háde agarrar.
18 --Oh, que fitas tão bonitas p’ra uma dama se enfeitar!
--Oh, que espadas e adagas para um homem guerrear!
20 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
22 --Se o queres conhecer trálo contigo a jantar
e, se ele for mulher, [...................................]
24 aos assentos mais baixos decerto se háde agarrar
e aos panos mais sujos se háde alimpar.
26 --Oh, que cadeiras tão baixas para um homem se assentar,
oh, que panos mais sujos para um homem se alimpar!
28 --Os olhos de Leonardo, mãe minha, a matarme vão,
o corpo será de homem, mas os olhos de mulher são.
30 --Se o queres conhecer levao contigo a nadar
e, se ele for mulher, ele se háde acobardar.
32 --Cartas me vêm do céu, cartas de muito pesar,
que tenho a minha mãe morta e meu pai está a acabar.
34 --Alto, alto, meus criados, meus cavalos a ferrar,
que jornada de três numa hora se háde andar.
.....................................................................................
36 Sete anos andei na guerra com o filho de um capitão,
sem nunca me conhecer se era mulher ou varão!

Nota de Jaime Lopes Dias: -14 a Leonardo foi o nome que a filha, que figurou de varão, adoptou.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 1 )





Romanceiro é um género poético de origem medieval, que corresponde, na Península Ibérica à balada narrativa medieval europeia.





Ora, no "Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna", versões publicadas entre 1828 e 1960, I volume, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, na pág.321, podemos ler a versão de Salvaterra do Extremo, recolhida por Jaime Lopes Dias e editada em 1948, intitulada:


"Conde Claros em hábito de frade."

No quintal da Dona Ausência `stá uma árvore bem plantada,
2 aquela que bulir nela logo ficará ocupada.
Dona Ausência buliu nela, por ser a mais desgraçada.
4 Lá no fim de sete meses já seu pai a reparava.
--O que é isso, ó Dona Ausência, o que é isso dessa saia?
6 --Esta saia não tem nada, o que está é mal talhada.
Mandou chamar três mestras das melhores que havia em Braga.
8 --Vejam lá, senhoras mestras, o que é isso dessa saia.
--Esta saia não tem nada. Ela está mui bem talhada,
10 lá no fim de nove meses ela será igualada.
--Prepara-te, ó Dona Ausência, já te podes preparar,
12 que hoje cortam a lenha amanhã te vão a queimar.
Assomou-se a uma janela que deitava para o chão.
14 --Há por aí algum pastor que queira comer do meu pão,
que queira ir levar cartas ao Conde de Montalvão?
16 --Aqui está um pastorinho que quer comer do seu pão,
que quer ir a levar cartas ao Conde de Montalvão.
18 --Se o achares a dormir deixa-o acordar,
se o achares a comer deixa-o acabar,
20 se o achares a passear cartas lhe irás entregar.
Foi em tão boa hora que o achou a passear.
22 --Cartas trago, senhor Conde, cartas de muito pesar,
a pobre da Dona Ausência amanhã a vão queimar.
24 --Não se me dá que a queimem nem que deixem de a queimar,
dá-se-me só do seu ventre que leva sangue real.
26 Não fosse ela tão tola, não se deixasse enganar.
Mas dali por um momento começou a considerar.
28 --Alto, alto, meus criados, meus cavalos a ferrar,
com ferraduras de bronze que esta noite temos de andar
30 lonjura de sete léguas, e numa hora se há-de andar.
Tinham tudo preparado para a irem a queimar.
32 --Alto, alto, meus senhores, má acção vão praticar,
que essa senhora que aí vai, ela vai por confessar.
34 --Confesse-a, senhor vigário, enquanto vamos almoçar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
36 que no meio da confissão um beijinho me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
38 que onde um Conde pôs a boca um frade venha a beijar.
--Confesse-se, menina, confesse-se, confesse-se até acabar,
40 que no meio da confissão um abraço me há-de dar.
--Não permita, Deus do céu, nem os santos do altar,
42 que onde um Conde pôs os braços um frade venha a abraçar.
Montou-a no seu cavalo à sua terra a foi levar.
44 --Acompanhai-me, ó cavaleiros, se me quereis acompanhar.--
Apenas chegou à sua terra, assim se foram casar.

Existem versões de Salvaterra, referentes a outros romances. Em breve espero aqui dar conhecimento delas.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Salvaterra vai ter um hotel ... de palha!

Esperemos que seja mesmo verdade. Salvaterra recusa-se a definhar e vai tentando, dum ou doutro modo, acompanhar o progresso. Desta vez fazendo uso de técnicas ancestrais mas que se estão, cada vez mais, a impôr como técnicas do futuro.

Do Jornal "Reconquista", de 17 de Junho passado, de que só agora tive conhecimento, retirei a seguinte notícia:

Hotel de palha abre em Idanha
O primeiro hotel de Portugal construído em palha vai ser instalado no concelho de Idanha-a-Nova. Aquela estrutura resulta de investimento privado, vai funcionar em Salvaterra do Extremo e terá cerca de 30 quartos.

Por: João Carrega



17 de Junho de 2010 às 17:32h
A freguesia de Salvaterra do Extremo, em Idanha-a-Nova, vai acolher o primeiro hotel, construído em palha. O Hotel Rural Sítio do Calvário, de quatro estrelas, resulta de investidores privados (Paulo Lopes, Carlos Rascão, Anabela Elias e Isabel Lopes), com ligações à região, e surge numa lógica de sustentabilidade ambiental em que a poupança de energia surge como aspecto importante.

Paulo Lopes, em representação da empresa Salvatur, e Armindo Jacinto, vice-presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, confirmaram isso mesmo ao Reconquista. “O projecto já foi aprovado no Turismo de Portugal e já deu entrada na autarquia”, disse o autarca. O investimento será de cerca de dois milhões de euros.

O Hotel, desenhado pelo arquitecto Teixeira Pinto, vai entrar dentro dos Programas de Valorização Económica de Recursos Endógenos (Provere) e tudo indica que o processo possa avançar no decorrer deste ano. “O objectivo é que a construção se inicie em Janeiro de 2010, para que em Novembro esteja a funcionar”, explica Paulo Lopes.

O empresário adianta que o hotel tem duas áreas distintas. Uma para os hóspedes, onde surgem diferentes comodidades, como piscinas interiores e exteriores aquecidas, jacuzzi e espaços de lazer. E outra aberta à comunidade, onde vai ser criado um centro de actividades, com bar, esplanada e um salão com capacidade para 270 pessoas. Promoveremos também a práticas de diversas modalidades”.

O Hotel ocupará uma área de 90 mil metros quadrados, será dividido em vários edifícios, e terá cerca de 30 quartos. É nesses 90 mil metros quadrados que serão instalados outros serviços, já que a construção física das estruturas não ocupará todo o terreno. “Faremos um circuito de manutenção e teremos uma área reservada ao campismo, a qual pode acolher escuteiros, escolas ou outras entidades”, justifica Paulo Lopes.

Na sua construção, em vez dos tradicionais tijolos, vão utilizar-se entre outros materiais, blocos de palha, pedra cortiça, madeira, argila e outros produtos. Paulo Lopes explica que “neste momento, devido ao clima, está fazer-se um estudo sobre os materiais a utilizar”.

Armindo jacinto lembra que “o objectivo é que a construção seja feita de modo a que a sustentabilidade ambiental seja acompanhada da vertente económica. Ou seja, a ideia é que os custos de construção sejam baixos e que as obras não demorem muito tempo”, explica Armindo Jacinto.


Idanha com prémio
O autarca revela que no concelho de Idanha-a-Nova estão “a concentrar-se um conjunto de saberes relacionados com a sustentabilidade ambiental, para que possamos fazer desta área uma actividade económica. A ideia não é só aplicar os nossos conhecimentos em Idanha-a-Nova, mas também exportá-los para fora. Isso já se verifica com a organização do Boom Festival, ou com a instalação de um centro das Nações Unidas em Idanha-a-Nova com vista à criação de soluções amigas do ambiente nas áreas da construção ou tratamento de energia, por exemplo”.

A construção daquele hotel no Concelho vem ao encontro das preocupações ambientais defendidas pela autarquia de Idanha-a-Nova e que recentemente foi distinguido como o Concelho mais Ecológico do País. “Entre vários critérios, destaca-se o consumo de energia. Esta distinção vai ao encontro da nossa estratégia”, assegura.

Oxalá este empreendimento seja um bom augúrio e possa servir de exemplo a outros investidores, em prol da região e de Salvaterra do Extremo em particular que, uma e outra, bem precisam!

Nota: Onde está “O objectivo é que a construção se inicie em Janeiro de 2010, para que em Novembro esteja a funcionar”, deve querer dizer-se "... em Janeiro de 2011,..."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Balio de Leça terá sido Governador de Salvaterra ?...

A coincidência de várias terras com a designação de Salvaterra (casos de Salvaterra de Magos, Salvaterra do Minho e Salvaterra do Extremo que também já foi só Salvaterra e Salvaterra da Beira), dá origem a algumas confusões nos relatos históricos que nos foram chegando.
Assim, vamos tentar decifrar o que se passa com a nomeação do Balio de Leça, para Governador de Salvaterra do Extremo.
De acordo com o livro “Memórias históricas da antiguidade do Mosteiro de Leça, chamada do Balio”, da autoria de António do Carmo Velho de Barbosa, editado em 1852, consta que:
Em carta de 2 de Outubro de 1645, o Balio, Fr. Lopo Pereira de Lima terá oferecido os seus serviços a D. João IV. Estávamos em plena consolidação da Restauração da Independência de Portugal. Consta, então, que o rei lhe terá respondido, nesse mesmo mês de Outubro de 1645, com palavras de muito apreço e afecto, nomeando-o para Governador de Salvaterra do Extremo. Algum tempo depois nomeou-o para governar a guerra do Sertão, em Pernambuco mas Fr. Lopo Pereira de Lima, escusou-se a tal nomeação, invocando a necessidade de ir a Malta render seu irmão, Fr. Diogo de Melo Pereira. No entanto esta escusa e a ida a Malta não teria outro objectivo que não fosse a de criar condições para ser nomeado para o Grã Priorado do Crato, ideia que já traria há algum tempo. D. João IV, porém, em carta datada de 4 de Julho de 1646, escrita em Alcântara (será, em Lisboa?) mostrando grande consideração, sempre lhe foi dizendo que estimava que o seu irmão se encontrasse de boa saúde e pronto a voltar ao reino para que ele, D. João IV, pudesse contar com pelo menos um deles, já que não podia contar com ambos. Bem “mexidos os cordelinhos”, a Ordem de Malta nomeou Fr. Lopo para Prior do Crato. Logo que disso teve conhecimento, o Rei não se mostrou assim tão cordato e tratou de impedir que tal nomeação se tornasse efectiva. Esta atitude do Rei, baseava-se em que ele mesmo pretendia esse lugar para o Infante D. Pedro (que viria a ser D. Pedro II).
Com a morte de D. João IV, voltou Fr. Lopo à carga fazendo diligências, junto de D. Afonso VI, para que os seus anseios fossem concretizados. Debalde o tentou pois que o Rei o honrou apenas com uma carta de louvor pelos seus serviços e de seu irmão, mas lhe proíbe “absolutamente de usar tal nomeação”, nem dalgum título que pudesse advir dela.
No entanto no seu epitáfio sepulcral que ele próprio mandou construir, lá está. “Aqui jaz Fr. Lopo Pereira de Lima, Gran Prior do Crato, Balio de Leça…”

Ora, no site da Câmara Municipal de Ponte de Lima, referindo “Figuras Limianas”, acerca de Frei Diogo de Melo Pereira, diz o seguinte:
Quando se iniciou a Guerra da Restauração foi chamado para prestar serviço como Capitão-mor de Barcelos (carta de 29 de Maio de 1641), governando as Armas da Província, em conjunto com Manuel Teles de Meneses e o Coronel Viole de Athis. Em 1641 governava a praça de Lamas de Mouro na fronteira de Castro Laboreiro e em 1645 tomou Salvaterra da Galiza, que se manteve na mão dos portugueses até ao final da guerra. Entre os diversos folhetos patrióticos que corriam impressos, enaltecendo as vitórias alcançadas e relatando as incursões sobre território inimigo, foram publicadas, a propósito da tomada de Salvaterra, a "Relaçam da entrada que fizeram em Galliza os Governadores das armas da Provincia de entre Douro, & Minho o Mestre de Campo Violi de Athis, que por carta de sua Magestade exercita o cargo de Mestre de Campo General, & Manoel Telles de Menezes Governador do Castello de Vianna, & Frey Diogo de Mello Pereira Comendador de Moura Morta, & Veade da Religiaõ de sam Ioam de Malta, Capitam mor de Barcellos", e a "Relaçam do felice sucesso, que tiveram Fr. Dioguo de Mello Pereira de Britiandos, Commendador de Moura Morta & Fr. Lopo Pereira de Lima, seu irmão Commendador de Barró da Ordem de Malta, a quem o General Dom Gastão Coutinho encarregou do governo das armas, na entrada, que se fez em Galiza...", uma e outra impressas em Lisboa, em 1641 e 1642.
A 7 de Julho de 1645, Diogo de Melo Pereira pede a el-Rei que o liberte da responsabilidade no Governo das Armas do Minho, fazendo-o substituir, para que possa regressar a Malta. A resposta não tarda. É-lhe dada a permissão e confirmado o soldo no posto de Mestre de Campo.


Por aqui se pode ver que Fr. Lopo Pereira de Lima, acompanhava o irmão nas suas lutas fronteiriças no Minho e que, em 1645, Salvaterra (da Galiza) foi tomada. E que Fr. Diogo, estava realmente em Malta em 1646.

Conclusão: Pois, se é exactamente no mês de Outubro de 1645 que D. João IV nomeia Fr. Lopo Pereira de Lima, como Governador, o que parece mais lógico é que tenha sido desta Salvaterra, na Galiza, acabada de tomar e não de Salvaterra do Extremo!
Deste modo, Frei Lopo Pereira de Lima, parece não ter sido nem Prior do Crato, nem Governador de Salvaterra do Extremo!...
Parece aceitável que, em 1852,(mais de 200 anos depois) o autor tenha confundido as "Salvaterras".
Enigmas da História de Portugal!

Nota: A gravura representa Fr. Diogo de Melo Pereira e foi retirada do site da Câmara Municipal de Ponte de Lima

sábado, 20 de novembro de 2010

21 de Novembro ... de 1807 ! Salvaterra e as Invasões Francesas .

Quando Napoleão Bonaparte subiu ao poder, pelos fins do século XVIII, agravaram-se as relações entre a França e a Inglaterra. Esta declarou, em 1806, um bloqueio à navegação francesa e, como resposta, Napoleão, pouco depois, anunciou que consideraria inimigos todos os países que negociassem com a Inglaterra. Portugal dependia fortemente do comércio britânico pelo que só em parte acedeu às exigências do imperador.
Posto isso, Napoleão decidiu então invadir Portugal. Assim, começou a reunir um corpo de exército de uns 25.000 soldados de infantaria e de 3.000 a 5.000 de cavalaria, sob o comando do General Junot, avançando a partir de Bayonne (na Gironda).
A esses juntaram-se espanhóis, 8.000 de infantaria e 3.000 de cavalaria, que entrariam em Portugal. Sabe-se hoje que o percurso inicialmente previsto seria com a entrada pela Beira Alta mas Napoleão ordenou que se fizesse pela margem direita do Tejo, pela Beira Baixa, onde a defesa era mais ténue, para que se atingisse Lisboa mais rapidamente. Há quem diga que eram apenas 26.000 os homens comandados por Junot e que chegaram a Alcântara, a 17 de Novembro de 1807, completamente extenuados, mal vestidos, descalços, e mortos de fome. Ainda no dia 18 (algumas fontes dizem que foi no dia 10) entrou uma companhia de atiradores em Segura, no dia 19 (também se diz ter sido no dia 20) a vanguarda, composta pelo Regimento 72 de Infantarias, por duas companhias de sapadores minadores catalães e pelo Regimento de “hussardos” espanhóis de Maria Luísa, sob o comando do General Antoine Maurin, (feito General de Brigada em Junho desse ano), avançou por Segura, Zebreira, Idanha-a-Nova e no dia seguinte (dia 20, ou 21) entrou em Castelo Branco.
Nesse mesmo dia 20, as restantes forças, a 1ª e a 2ª divisões de infantaria e a do general espanhol Carrafa, saíram de Alcântara onde estavam estacionadas e repartiram-se por vários itinerários, em direcção a Castelo Branco. As forças que tinham ficado em Zarza la Mayor, só depois (muito possivelmente no dia 21) passaram o Erges a vau, onde existem restos da fortaleza (possivelmente será a atalaia) e, sem oposição, porque era essa a ordem oficial que os portugueses tinham recebido, entraram por Salvaterra do Extremo, seguindo por Zebreira, Ladoeiro e Castelo Branco.
O povo, na sua grande maioria assustado, tinha fugido, escondendo-se, a si e a alguns parcos haveres, o melhor que pôde e soube, para evitar males maiores, já que o invasor, cansado e esfomeado, pois em Espanha tinha sido impossível encontrar víveres, saqueava e vilipendiava as indefesas populações. De seguida, os exércitos avançaram para Abrantes onde Junot estabeleceu o seu quartel-general.
Era a 1ª Invasão Francesa!

(A gravura, retirada da net, representa o General Junot)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Agradecimento

Há pouco mais de 1 ano, entenderam criar-me um blogue, "Salvaterra no coração". Fiquei agradecido mas, resolvi criar eu um outro, (este), "Salvaterra e eu", mais ao meu jeito. Não que desmerecesse o primeiro mas, como expliquei nessa altura, sobravam-me as razões para criar o segundo!
Tem sido um trabalho muito gratificante onde novos amigos me foram contactando e, ficando agradados com o meu trabalho, me foram ajudando a continuar.
Não quero pois deixar de referir que neste mês de Novembro, nos dias 5, 11 e 17, fizeram o favor de referenciar o meu trabalho, respectivamente os blogues: www.aldeiadaminhavida.blogspot.com (postando umas quadras minhas sobre Longroiva); "blogcortecega-Noticias da minha terra", da minha amiga bloguista Eugénia Santa Cruz (postando umas quadras minhas sobre um texto acerca do Castelo de Góis" e por último a referência no blogue "Aldeia de Santa Margarida", no concelho de Idanha-a-Nova, da responsabilidade de Helder Robalo e que a seguir transcrevo:

Para os nossos conterrâneos, e todos aqueles que querem conhecer um pouco melhor a região de Idanha-a-Nova, passa hoje a constar mais uma ligação para um espaço sobre freguesias do nosso concelho.

Desta feita é um blogue sobre Salvaterra do Extremo, e não só, e passa a constar, ali na barra lateral, da lista de "Terras e sítios amigos".

Visitem porque, numa primeira vista de olhos, pareceu-me muito interessante


Por tudo isto e por me sentir muito honrado com tais referências, não esquecendo os que me têm comentado, tendo a paciência de ler os meus escritos, aqui venho deixar a todos o meu
Bem hajam!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Salvaterra ... terra de 2 brasões !

No dia 21 de Julho de 2006 a Junta de Freguesia de Salvaterra do Extremo, produzia o seguinte documento:

EDITAL

Brasão e bandeira

António Tomás Lopes, presidente da Junta de freguesia de Salvaterra do Extremo, do concelho de Idanha-a-Nova, torna pública a ordenação heráldica do brasão e bandeira da vila de Salvaterra do Extremo, tendo em conta o parecer da Comissão Heráldica de Arqueólogos Portugueses de 6 de Abril de 2006 e que foi aprovado, sob proposta da Junta de Freguesia, em sessão extraordinária da Assembleia de Freguesia, efectuada em 14 de Julho de 2006:

Brasão - escudo de ouro, com perfil de castelo de negro, acantonado em chefe da Cruz da Ordem do Templo e Cruz da Ordem de Cristo; em campanha, burela ondada de azul. Coroa murada de prata de quatro torres. Listel branco, com legenda a negro: “VILA DE SALVATERRA DO EXTREMO”;
Bandeira - esquartelada de vermelho e amarelo. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.

21 de Julho de 2006. – O Presidente da Junta, António Tomás Lopes.

E é este o brasão que se encontra logo à entrada da terra, na “volta da estrada”!

Pois bem! Mas, chegados um pouco mais acima, junto ao Cruzeiro, deparamos com outro brasão!

Que estranho! Dirá qualquer visitante e talvez os próprios habitantes da terra. Então, Salvaterra não tinha nenhum brasão e, agora, já tem dois?
Até, há quem diga que este é que é o verdadeiro! Será?
O certo é que, para este, existe um parecer da mesma Comissão Heráldica, datado de 16 de Agosto de 2001, que diz o seguinte:

PARECER

Brasão - escudo de prata, pano de muralha de negro, lavrado de prata e firmado nos flancos acompanhado em chefe de uma oliveira arrancada de verde e frutada de negro e, em campanha, de uma lanterna de mineiro de vermelho, acesa e realçada de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com legenda a negro: “SALVATERRA DO EXTREMO”;
Bandeira - esquartelada de verde e branco. Cordão e borlas de prata e verde. Haste e lança de ouro.

Selo: Nos termos da Lei, com a legenda: “Junta de Freguesia de Salvaterra do Extremo – Idanha-a-Nova”

Parecer emitido nos termos da Lei 53/91, de 7 de Agosto.

O Secretário da Comissão de Heráldica

José Bènard Guedes



A justificação para os símbolos é a seguinte:
Oliveira:
representa as principais actividades económicas da freguesia: a agricultura e a olivicultura.
Pano de muralha:
representa o castro lusitano que foi aproveitado pelos romanos e à volta do qual se gerou o desenvolvimento e crescimento da população.
Lanterna de mineiro:
representa aquela que outrora foi a principal actividade económica de Salvaterra do Extremo: a actividade mineira


Sem pôr em causa a bondade de um ou outro brasão, quem souber porque estranha razão se mantém este brasão, poderá avançar com alguma explicação para mais este mistério de Salvaterra! Eu, pessoalmente, agradeço!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Jóias de Salvaterra ( 5 ) - As Capelas

Sendo Salvaterra do Extremo, devota de Santa Maria, tendo por padroeira Nossa Senhora da Conceição (tal como Portugal, desde D. João IV) e tendo sido Comenda da Ordem de Cristo, distribui ainda a sua devoção por Santa Luzia, Santo António e por Nossa Senhora da Consolação que, por obra da sua intersecção durante uma praga de gafanhotos se veio a transformar num símbolo agregador da diáspora salvaterrenha.
Essa devoção é visível nas capelas que lhes foram erigidas e que são:

Capela de Santa Luzia, localizada na rua de Santa Luzia, entre a rua da Corredoura e a Praça. A festa, em sua honra, é em Agosto, no fim de semana anterior ao dia 24. Porém, por estranho que pareça, o vigário de Salvaterra, Frei Sebastião Pires Moreira, em 17 de Maio de 1758, nas “Memórias Paroquiais” escreve que os espanhóis costumavam visitar esta capela no dia 13 de Dezembro. Qual o motivo, desconhece-se!

Capela de Santo António, localizada ao fundo da rua das Cruzes, no caminho da Deveza. Chama-se rua das Cruzes porque era onde estavam colocadas as 3 cruzes (o Calvário) que daí foram retiradas e transferidas, em 1895, para junto do Cemitério Novo, então construído por iniciativa de João Henriques de Carvalho, benemérito salvaterrenho!
A sua festa, embora neste momento me pareça sem especial significado, é em Junho, no dia 13, como é natural!
Esta ermida é bem antiga, sendo já referida em Outubro de 1695, onde se lhe mandam fazer mordomos para que tratassem da manutenção e decoro da ermida, bem como da festa anual em louvor do santo.

Capela de Nossa Srª da Consolação, erguida em 1905, na Deveza, onde outrora existiu a capela de Santo Amaro e, mais tarde, a Capela do Senhor de Pedra.
É aqui que, todos os anos (desde 1905), se faz um Bodo em honra da padroeira em virtude de promessa antiga por via da intersecção de Nossa Senhora da Consolação durante uma praga de gafanhotos que assolou estas terras, pelos anos 80 do século XIX segundo alguns autores, muito embora a devoção a Nossa Senhora da Consolação seja de origem bastante mais remota. Pensa-se que remonte ao século XVI (em Salvaterra, mas no lugar de Monfortinho).

Enquanto a Igreja Matriz, é de suposta construção no séc. XV, pode ver-se nos desenhos de Duarte d’Armas que estas capelas não parecem estar aí representadas, pelo que deverão ter sido construídas no séc. XVI ou XVII, uma vez que a igreja da Misericórdia se supõe da primeira metade, ou do princípio, do séc. XVI. Talvez a de Santa Luzia, por estar dentro dos muros da vila, tenha sido anterior mas as de Santo António e de Santo Amaro serão, porventura, mais tardias. Por isso, talvez fins do séc. XVI ou já no séc. XVII.

Ainda nas “Memórias Paroquiais”, escreve o vigário de Salvaterra, Frei Sebastião Pires Moreira, que:
“Dentro do castelo … há uma capela chamada de S. Benedito sem ornato”…
“Há mais fora dos muros três capelas arruinadas, de sorte que de uma só há vestígios, e das duas ainda se conservam as paredes, e estas se chamam S. Pedro e S. Domingos, e aquela de S. João”.

Da de São Pedro, junto ao que resta do Cemitério Velho (Cemitério de São Pedro), ainda hoje se podem ver as ruínas.

A de São Domingos, consta que se localizasse no Couto, onde se diz haveria um convento e existe a ribeira de S. Domingos.
A de São João, seria no local onde hoje é o Poço de São João.

Nota: As fotos não são as que pretendia apresentar pois que algumas são referentes a momentos da vida pessoal e que nada representam no que concerne à importância do património apresentado. Porém, não tinha outras! Do facto as minhas desculpas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Jóias de Salvaterra ( 4 ) - Igreja da Misericórdia

Tem, Santa Luzia e Santo António,
mais a Igreja da Misericórdia,
para afastar o Demónio
e o povo ter concórdia.


Em 1498 era fundada em Lisboa a primeira irmandade da Misericórdia, sob a égide da rainha D. Leonor, que tinha como objectivo prestar assistência a pobres e enfermos. O exemplo foi seguido por diversas localidades um pouco por todo o território continental, e nos 25 anos que se seguiram foram criadas cerca de 60 irmandades. Na vila de Salvaterra do Extremo, conhecida no início do século XVI como Salvaterra da Beira, a Misericórdia terá sido criada poucos anos depois da irmandade lisboeta, possivelmente no ano de 1505.
Terá sido, então, algum tempo depois de 1505 que a Misericórdia local deu início à construção da sua igreja no centro da vila e, num dos arruamentos laterais ao largo da igreja, foi edificado o hospital da irmandade, que prestava assistência aos enfermos do então concelho de Salvaterra da Beira, havendo comunicação entre este e a igreja pelo interior do quarteirão.
Este hospital, era administrado por um religioso de S. João de Deus a que se chamava prior do dito hospital, ajudado por outro religioso, custeando o Rei as despesas.
Em tempo de guerra era de grande serviço este hospital. Posteriormente, o hospital acabou por perder a sua importância quando o concelho de Salvaterra do Extremo foi extinto em 1855, o que possivelmente levou também à sua extinção.
A fachada principal da igreja apresenta-se simples e depurada de decoração, estando dividida em dois registos. Ao centro foi aberto um portal de volta perfeita com impostas salientes, ladeado por duas pilastras jónicas e enquadrado num alfiz coroado por dois pináculos. No enquadramento do portal, no segundo registo, uma janela de moldura em arco perfeito. A fachada é rematada em empena, coroada ao centro por cruz, tendo sido colocado no extremo esquerdo do remate uma sineira encimada por empena. Na fachada lateral esquerda está adossada uma construção, enquanto que a fachada lateral oposta possui janela no volume correspondente à sacristia, existindo aí uma porta de acesso ao coro-alto com moldura de volta perfeita e impostas salientes, que actualmente se encontra emparedada.
O interior do templo é de nave única, articulada com capela-mor e sacristia. Ao fundo possui coro-alto suportado por pilares toscanos assentes em plintos, ao qual se tem acesso por lanço de escadas do lado do Evangelho. Neste lado, perto dos altares colaterais, foi colocado o púlpito, de secção quadrada assente em pilar. Ao centro, arco triunfal em arco apontado ladeado por dois altares em madeira, elaborados no século XIX. A capela-mor é coberta por tecto de madeira tripartido, e possui retábulo de madeira pintada, com representação do Calvário, estando guardada neste espaço a bandeira da irmandade elaborada no século XVII.
Devido às guerras com os espanhóis muita da documentação existente foi destruída.
Sabe-se também que, até meados do séc. XX, havia sempre um caixão colocado, talvez ao fundo da igreja, para serviço de alguém falecido. Isto porque não havia muita gente com posses para mandar fazer urna para quando ocorresse o seu falecimento. As pessoas de fracos recursos, tentavam arranjar maneira de ter em casa, lençol e duas toalhas, para o dia em que se finassem. Após o serviço fúnebre, corpo lançado à terra, o caixão retornava à igreja.
Recentemente recuperada, reabriu ao culto no dia 13 de Setembro de 2003.
Colocada defronte do adro da Igreja Matriz, com esta dava as boas vindas a quem na vila entrava, pela Porta do Adro. Isto, muito possivelmente até 1882, ano em que esta porta terá sido demolida, devido à chegada da estrada a Salvaterra.

Bibliografia: Descrição baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net, livros e jornais. Foto, retirada da net, www.salvaterrazimbra.blogspot.com
As quadras fazem parte duns versos, da minha autoria, dedicados a Salvaterra.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Jóias de Salvaterra ( 3 ) - Antigos Paços do Concelho e Torre Sineira

Este edifício, localizado na Praça, resultou da demolição da anterior Casa da Câmara, em 1911, e destinou-se, até 1940, às escolas oficiais de instrução primária que ficaram a funcionar no piso inferior. Ali funcionaram a cadeia e os postos da Guarda Nacional Republicana e Guarda-Fiscal. Também ali se faziam os actos solenes e espectáculos (que poucos havia). Hoje a parede exterior, que era rebocada e pintada de branco, encontra-se de pedra à vista, com o seu aspecto granítico muito mais de acordo com o meio que a rodeia.

Esta Praça, onde também se encontra o Pelourinho, foi palco dos episódios mais significativos da vida de Salvaterra.
Era aqui, na Praça, que se montavam tendas e se faziam as trocas comerciais e venda de produtos a portugueses e, aos espanhóis em tempos de tréguas. Era aqui que se liam e deitavam os pregões, fazendo saber aos vilões o que se passava de mais importante, na vila e no reino. Era aqui que se fazia, em tempos carnavalescos, a leitura de episódios caricatos, escarnecendo os merecedores dessa troça. Era aqui que se sentenciavam os malfeitores mas, também era aqui que se louvavam os homens bons. Enfim, era aqui que palpitava o coração de Salvaterra!


No quadro do pintor de ascendência galega, nascido no Porto, José Dominguez Alvarez, pintado a óleo sobre cartão, em 1929, aos seus 23 anos, aquando da sua estadia em casa duma família de Salvaterra, podemos ver, além do acima descrito, o amontoado de sacas de cereal à porta dum forno de pão, hoje já inactivo mas ainda ali existente.
José Alvarez, viria a falecer, com 36 anos de idade, vítima de tuberculose.

Nota: O quadro de José Dominguez Alvarez é uma reprodução de gravura retirada da net.

domingo, 17 de outubro de 2010

Jóias de Salvaterra ( 2 ) - O Pelourinho


O Pelourinho na Praça,
símbolo perfeito e fiel,
representa, para quem passa,
o foral de D. Manuel.


O pelourinho de Salvaterra do Extremo, classificado Imóvel de Interesse Público (Decreto 23122, no Diário do Governo de 11/10/1933), é um monumento quinhentista, erguido na praça central da povoação, junto de uma torre sineira e da antiga Casa da Câmara, ambas de raiz igualmente quinhentista (provavelmente datadas de quando D. Manuel I renovou o foral de Salvaterra, em 1 de Junho de 1510). Assenta em plataforma de feitura recente, datada de uma intervenção de meados do século XX.
Sobre soco moderno, de três degraus quadrangulares de aresta, assenta o conjunto da base, coluna, capitel e remate, de clara tipologia manuelina. A base da coluna é oitavada, de faces ligeiramente côncavas, e decoradas com pequena rosetas. Nela encaixa o fuste, liso e de secção octogonal (de cerca de 3 metros de altura), encimado por capitel oitavado, molduras salientes na zona inferior e no topo. As faces do capitel são decoradas com rosetas e botões lisos. O remate é constituído por um prisma oitavado de boas dimensões, cujas faces alternadas apresentam relevos heráldicos, nomeadamente um escudo nacional coroado, uma esfera armilar, uma cruz da Ordem de Cristo e, possivelmente, uma cruz da Ordem de Avis. O pelourinho é finalmente coroado por pirâmide oitavada de topo truncado, com faces ornadas de séries verticais de três botões, de tamanhos decrescentes.
De realçar a presença do conjunto da heráldica manuelina tradicional, nomeadamente o escudo das quinas, a esfera armilar, símbolo pessoal de D. Manuel e a cruz da Ordem de Cristo, da qual Salvaterra do Extremo foi comenda.
A tradição local afirma ter sido este monumento inspirado no ceptro do monarca.

Bibliografia: Descrição baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net, livros e jornais. Gravura, retirada de carteira de fósforos duma série intitulada “Pelourinhos Portugueses”.
A quadra faz parte duns versos, da minha autoria, dedicados a Salvaterra.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Jóias de Salvaterra ( 1 ) - A Igreja Matriz

A Igreja Matriz, numa aguarela da pintora Maria da Conceição Ventura

A Igreja Matriz de Salvaterra do Extremo (Igreja de Santa Maria) é um templo de tradição medieval, incluindo-se, por isso, no original foco tardo-renascentista da Beira Baixa raiana, apresentando curiosas analogias com outras obras de Idanha-a-Nova e Monsanto. A povoação foi agraciada com foral por D. Sancho II (1229), mas a sua igreja só está documentada no século XV. Em 1505, D. Manuel I mandou reconstruir e alargar a igreja matriz que se encontrava muito danificada e fez erguer a torre sineira e o campanário. Porém, em 1509, a crer no desenho de Duarte D’Armas, as obras não se teriam iniciado, pois pode ver-se o estado lastimável em que se encontrava, completamente destelhada, aquela que parece ser a Igreja Matriz.
Ainda, em 1537, uma visita do Fr. António Lisboa, da Ordem de Cristo, dá conta do mau estado em que se encontrava o monumento, em particular as obras artísticas do interior (pinturas do retábulo e uma caixa de damasco branco, oferecida por D. Manuel I, por ocasião do foral novo, passado à povoação em 1 de Junho de 1510).
Portanto, a actual configuração do templo data de meados do século XVI, altura em que se terá refeito a fachada principal, passando a ostentar portal axial de arco de volta perfeita, inscrito em alfiz limitado por pilastras, e um cenográfico varandim ao nível do segundo andar. Do lado Sul, ergueu-se um poderoso campanário. Admite-se a possibilidade do risco desta igreja ter sido feito pelo arquitecto beirão Pedro Sanches (ou Pêro Sanches) que fez, nesta região, a matriz de Idanha-a-Nova e a de Penamacor, entre outras obras ainda não totalmente identificadas. Quanto ao retábulo do altar-mor, feito ao moderno, é obra barroca do estilo português ou nacional, com colunas e arquivoltas torsas e profusamente decoradas com os motivos mais comuns neste tipo de manifestações, como sejam parras, cachos, fénices, anjinhos, etc., o qual terá substituído um retábulo anterior, mais ou menos contemporâneo da igreja. Foi feito por Francisco Álvares Gramacho, de Penamacor, e dourado em 1724 por Manuel Gomes Calado, de Tortosendo, e José Ramos, de Salvaterra.
O arco triunfal deve também corresponder a finais do séc. XVI ou inícios do XVII, enquanto que os elementos devocionais (retábulos principal e laterais) foram executados na época barroca, provavelmente na primeira metade.
Em 12 de Maio de 1758, dizia nas Memórias Paroquiais, o Vigário de Salvaterra do Extremo, Frei Sebastião Pires Moreira:
“A igreja está dentro dos muros, e orago dela é a Senhora da Conceição; tem cinco altares, a saber: capela maior, com sua tribuna feita de talho de relevo, aonde está o Santíssimo Sacramento e a dita Senhora em o trono da dita tribuna, e nos lados desta S. Domingos e S. Francisco; em um dos colaterais à parte direita está uma imagem de Cristo Crucificado, e em o da esquerda a Senhora do Rosário, aonde está erecta uma irmandade das almas, com tão pequena renda que apenas é bastante para satisfazer à disposição de seu compromisso, e da parte direita da dita igreja há um da Senhora da Conceição que contém em os lados as imagens de S. Pedro e S. Sebastião, e da parte esquerda outro de S. Miguel, que nos lados tem as imagens de Santa Bárbora e S. João, todas estofadas e os altares dourados com talha moderna, e a igreja é de uma só nave”.
Restaurada em 1969, à custa dos seus paroquianos, encerrou durante algum tempo, sendo reaberta ao culto no dia 24 de Maio desse mesmo ano, com a presença de S. Exª Rev.ma o Bispo da nossa Diocese, do Ex.mo Governador Civil do Distrito de Castelo Branco e do Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova. São dessa data os sinos que se encontram hoje no campanário.
Já na década de 70, ou 80, do século passado, o Altar-mor, de bela talha dourada, tinha sido restaurado.
Apenas como curiosidade se refere aqui a existência dum ninho de cegonha, já com alguns anos e que no cimo do campanário serve de ornamento e é quase um “ex-libris”!

Foi considerada “Imóvel de interesse público” pelo decreto nº 67/97, de 31 de Dezembro.


Bibliografia: Esta descrição foi baseada no site www. ippar.pt, e em informação dispersa na net , livros e jornais.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um castelo ... na cidade de Ulisses!

No dia dos 100 anos da República. A seus pés, a urbe e a velhinha Sé

Não! Não vou falar do meu castelo preferido (o de Almourol), apenas porque, infelizmente, o não conheço suficientemente bem. A verdade é que enchia de insondáveis pensamentos a minha cabecita de criança quando, de comboio, pouca-terra, pouca-terra, o avistava ali mesmo, no meio do Tejo, nas poucas viagens à minha terra natal.
Vou, então, falar do castelo que tenho mais à mão, ou seja, mais à vista.

Plantado numa das sete colinas desta Lisboa que eu amo, apesar de tudo, o castelo de S. Jorge, um dos maiores emblemas da cidade, lá está dominando a parte ocidental da cidade e tendo vista privilegiada do imenso estuário do Tejo, outrora pejado de pequenas embarcações, a remos ou de velas bandas ou enfunadas e onde os golfinhos vinham fazer as suas acrobacias.
Com um passado que remontará ao séc. VII a.C., foi abrigo de muitos povos, desde gregos, fenícios, romanos e visigodos. Também aqui estiveram Afonso II, das Astúrias, e Ordonho III, de Leão, nas suas lutas contra a ocupação muçulmana.
Testemunho de grandes momentos da nossa história, a tudo ele assistiu, sempre atento à entrada da barra e a possíveis ataques inimigos.
Conquistado aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1147, após um cerco de cinco meses, com a ajuda dos cruzados (uma frota da Segunda Cruzada) e, segundo a lenda, com a preciosa ajuda dum soldado, Martim Moniz, que terá dado a vida morrendo entalado na porta do castelo, impedindo o seu fecho. Verdade ou lenda, o certo é que lá está, para o perpetuar, a Praça de Martim Moniz, hoje em dia local de concentração multirracial e multicultural.
Devido às guerras sofreu de muita destruição, a última, pior que uma guerra, foi o terramoto de 1755. Mas, tal como as destruições, também as reconstruções se sucederam e, assim, são encontrados muitos vestígios de outras civilizações e também restos das muralhas que foram alargando o perímetro de defesa do castelo. Ainda podemos ver restos da muralha fernandina, mandada construir por D. Fernando I.
É este o Castelo que foi residência de Reis, que hoje é atracção de turistas nacionais e estrangeiros, orgulho da cidade e do país e que no dia 16 de Junho de 1910, por decreto de D. Manuel II, foi considerado Monumento Nacional. Foi apenas há 100 anos, para quem tem tantos séculos de vida!

Este é o texto com que participo na Blogagem de Outubro do Blog "Aldeia da Minha Vida".
A participação é livre, com textos e comentários e, como convém, continua a distribuição de prémios. Não fazem a coisa por menos, exemplares do magnífico "Guia Turístico" editado pela empresa Olho de Turista e da autoria de Susana Falhas. A não perder!
Para aceder ao blog, basta "clicar" no selo, à esquerda!

domingo, 26 de setembro de 2010

Um ano já passou ...




Foi ontem mas, já passou
um ano. Uma eternidade!
E o tempo, esse aumentou
nossa já grande saudade!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Suiça , ou ... uma viagem atribulada !

Ao ver as belas fotos e ler a descrição da viagem à Suíça, da minha amiga Lourdes, do blogue “O Açor”, logo me lembrei dos calendários e duma passagem (terá sido mesmo?) que eu fiz pela Suíça. De tal modo me fez recordar essa viagem que a vou aqui descrever.
Num dia, 17 de Dezembro, ficou aprazada uma viagem profissional à Suécia, mais propriamente a Norrkoping. Durante dias o meu interlocutor sueco me foi avisando que o Inverno estava rigoroso (-20 a -30ºC). Que não haveria problema, dizia eu, e que lá estaria, como combinado.
Pois é, o homem põe e Deus dispõe. Os problemas começaram logo com a marcação de viagem. A proximidade do Natal e as várias ligações aéreas para chegar a Norrkoping, obrigavam a um voo até Genève, daqui outro para Copenhaga e por último para Norrkoping. Porém, de Genève para Copenhaga, parecia estar comprometido devido aos horários, pelo que se achou por bem fazer reserva, também, de Genève para Amesterdão e daqui para Copenhaga. Tudo fácil, no papel!
Nesse tal dia 17, aprontei-me para sair de casa, o táxi estava difícil de arranjar e o tempo urgia. Já um pouco nervoso, lá consegui um táxi mas, teria andado pouco mais de 100 metros, dei conta de me ter esquecido do relógio de pulso. Tentei acalmar-me e de nada valia voltar atrás pois o atraso seria maior. O problema merecia uma solução rápida e ela logo veio. Então, eu não ia passar na Suíça, terra dos relógios? Pois era agora mesmo que eu ia ter um relógio suíço, directamente do fornecedor! Era só pensamentos positivos!
Cheguei ao aeroporto e pude verificar que toda a minha pressa não tinha razão de ser, pois o avião que me levaria a Genève, ainda nem tinha chegado. Que estava mau tempo e que o voo estava bastante atrasado. Ah, ele é isso? Então como é que eu chego a tempo da ligação com Copenhaga? Questionei uma assistente que me tranquilizou, dizendo que eles por vezes davam um bocadinho mais de velocidade, para compensar. Balelas! Só se fosse nas descidas…
A minha cabeça já não parava de pensar na embrulhada que se adivinhava. E eu sem relógio…
Chegou o avião (voo SR 691), embarque acelerado mas os minutos pareciam horas. Dei comigo a pensar que, afinal, tudo se ia resolver. Como eu me enganava!
A viagem decorreu normalmente. Aterrámos e, ao sair do avião, dirijo o olhar na direcção da porta de desembarque e que vejo eu? Por cima da porta um enorme relógio dizia-me que, com o atraso e a mudança de fuso horário, o avião para Copenhaga se não tinha saído, para lá era o caminho.
Verdadeiramente a correr, pois não levava bagagem (essa iria seguir até ao destino, sem problemas), fui direito ao balcão do “check-in” onde, ofegante, expus o meu problema. Que o avião para Copenhaga já tinha terminado o embarque, disseram-me, ao que eu, como que tirando um coelho da cartola, retorqui que então ali estava a reserva para Amesterdão. Pois, mas esse já tinha saído! Fiquei completamente perdido. Então, como é que eu ia chegar a Norrkoping? A assistente começou a bater em teclas a visionar ecrãs, a telefonar a alguém e eu a transpirar em pleno Inverno, até que como uma luz que se acende, a sua face se ilumina (isto era já eu a delirar), e me diz que tinha 3, apenas 3, minutos para me pôr no avião. Muitos e rápidos “merci beaucoup” e uma louca correria pelos corredores do aeroporto levaram-me até ao avião, à pista pois que já tinham tirado a manga de embarque. Desceram, só para mim, a escada da cauda e eu, mais ofegante que nunca, depois de galga-la, acabei por cair, literalmente, no primeiro lugar que encontrei, que era o último e único que estava vago. Claro, faltava o Monsieur Celoricô!

Disfarçado de João "Tovarich"


Acresce agora dizer que, como já aqui leram, estávamos em Dezembro e o aviso de temperaturas bastante negativas. Eu fiz a preparação da viagem como se fosse para o Pólo Norte, só me faltaram uns dias de estágio num qualquer congelador. Um sobretudo que muito raramente usava, gorro qual “Tovarich”, ceroulas que nunca usei e muita roupa de lã. Dá para imaginar, depois de toda aquela correria, como eu me encontrava. Todo eu escorria! Quase me faltava o ar mas, agora sim, mais calmo lá cheguei a Copenhaga (voo SR 422) onde, em trânsito, sempre pensei em comprar o tal relógio que até podia ser chinês mas, os preços eram de tal modo elevados que me fizeram desistir dessa compra. O certo é que não me fez falta nenhuma! Já tudo andava a horas!
Porém, o dia ainda não tinha acabado. A chegada a Norrkoping (voo SK 820), deu-se cerca da meia-noite. A pista tinha um barracão, em madeira, e após a saída só via a noite escura e montes de gelo à volta. Fiquei intrigado mas, surpresa das surpresas, 2 ou 3 minutos depois de ter pedido um táxi, eis que ele surge do meio da escuridão para me levar ao “Standard Hotel”, onde parecia que estavam no Verão pois decorria uma festa e as senhoras iam deixando as peles no bengaleiro e ficavam em vestido de noite, todas fresquinhas.
E ali estava eu, acabadinho de chegar, qual espião que veio do frio!
A temperatura exterior, essa rondava realmente os -25ºC!

Foto tirada da janela do meu quarto no hotel, não na Suiça, mas na Suécia (é quase o mesmo)


E, assim, foi esta a minha passagem, qual meteorito, pela Suíça que continuo a conhecer só pelos calendários!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Jornal "Reconquista" ganha prémio internacional

Mão amiga, fez-me chegar ecos da notícia que transcrevo, directamente da net.
O jornal "Reconquista", semanário editado em Castelo Branco e do qual eu fui leitor, mais ou menos assíduo, nos anos 60 e 70, tinha ganho um prémio internacional.
Para que conste, e se vão desfazendo alguns dos mitos da interioridade, aqui fica essa transcrição, com a devida vénia e os sinceros parabéns a este arauto das gentes beirãs.



Atribuído pela Associação Mundial de Jornais e Editores
Jornal Reconquista ganha prémio internacional
O Reconquista é o primeiro jornal português a ser distinguido pela sua colaboração na área educativa e formação de cidadãos. O prémio será entregue nos Estados Unidos.

O semanário de Castelo Branco foi fundado em 1945.
O projecto Educação para os Média no Distrito de Castelo Branco, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Jornal Reconquista, acaba de ser distinguido com um prémio internacional atribuído pela Associação Mundial de Jornais e de Editores de Notícias no concurso de 2010. A decisão coube a especialistas de países como Austrália, Polónia, Panamá, Brasil e África do Sul. O prémio será entregue em São Francisco, nos Estados Unidos, em Novembro.
O anúncio público teve lugar terça-feira, em Paris e na cidade alemã de Darmstadt, tendo sido distinguidos projectos de 17 jornais de países como a Polónia, Singapura, Reino Unido, Rússia, Índia, Noruega, Alemanha, China e Turquia. O projecto integrado pelo Reconquista recebeu uma menção especial do júri, na categoria de Jornais e Educação, atribuída ex-aequo ao jornal australiano The Age. Esta menção especial refere que estes dois projectos são exemplos a acompanhar de perto.
De acordo com o júri, o projecto desenvolvido no Distrito: "é o princípio de uma abordagem excelente e multifacetada, com potencial de ajudar os cidadãos do século XXI no desenvolvimento de capacidades de literacia crítica na análise de mensagens média, mas também no sentido de serem capazes de produzir as suas próprias mensagens".O júri referiu ainda: "Embora os resultados sejam, para já, modestos, esperamos grandes resultados desta equipa".
A Associação Mundial de Jornais e de Editores de Noticias representa 18 mil publicações e três mil empresas jornalísticas sediadas em 120 países. De acordo com os dados daquela instituição, que atribui estes prémios desde 1998, esta é a primeira vez que um jornal português é distinguido no concurso.
De acordo com a investigadora-responsável do projecto, Helena Menezes, docente na Superior de Educação de Castelo Branco (ESECB), "este prémio é importante para o país, mas também para a região e mostra que é possível desenvolver bons projectos fora dos grandes centros. O apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia foi fundamental, a que se juntou um esforço financeiro considerável por parte do Reconquista".
Já Vitor Tomé, membro da equipa do projecto, docente na ESECB e jornalista do Reconquista, considera que o prémio não poderia ser mais colectivo. "Este prémio tem de ser partilhado com os professores e os alunos das 24 escolas que estão a trabalhar com a equipa de investigação desde 2008. Tem de ser partilhado com a equipa do Reconquista e com muitos colaboradores, desde a empresa Netsigma a alguns docentes da Escola Superior de Artes Aplicadas e a várias outras pessoas que nos incentivaram a apoiaram desde a primeira hora".

Um projecto com continuidade
O projecto Educação para os Média no Distrito de Castelo Branco teve início em Outubro de 2007, com o desenvolvimento de recursos tecnológicos e pedagógicos a disponibilizar às escolas da região. Foi desenvolvido um DVD para apoiar professores e alunos na produção de jornais escolares, além de ter sido criado um sítio Internet, uma plataforma de produção de jornais escolares on-line e um manual de apoio.
Estes recursos foram disponibilizados a 24 escolas ou agrupamentos de escolas da região, onde iniciaram o projecto cerca de 50 professores e mais de 600 alunos. A equipa de investigação, que integra também João Ruivo (Instituto Piaget), Guilhermina Miranda (Universidade de Lisboa) e Cristina Ponte (Universidade Nova de Lisboa), apoiou professores e alunos nas escolas. O Jornal Reconquista imprimiu quase 100 mil exemplares de jornais escolares, além de edições de suplementos com notícias acerca do projecto e outras produzidas por alunos.
Os resultados já eram interessantes em Novembro de 2009, quando os avaliadores internacionais Pier Cesare Rivoltella (Universidade Católica de Milão) e Evelyne Bevort (Ministério da Educação de França) se deslocaram a Castelo Branco para visitarem escolas e conhecerem o trabalho desenvolvido. Os resultados finais serão apresentados a 6 de Novembro próximo, num seminário internacional, a decorrer em Castelo Branco, onde deverão estar todos os elementos envolvidos, além de especialistas como o espanhol Aguaded-Gomez (Universidade de Huelva), Manuel Pinto (Universidade do Minho), Vitor Reia-Baptista (Universidade do Algarve) e António Fidalgo (Universidade da Beira Interior).
"A importância desta reunião é grande para a equipa do projecto, mas terá um alcance maior, pois será a reunião de preparação do I Congresso Internacional de Educação para os Média, que vai decorrer na Universidade do Minho, a 13 e 14 de Março de 2011", refere Helena Menezes.

Reconquista- José Júlio Cruz

Bem hajam

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O "Monte da Lua" - Serra de Sintra

Lá ao longe, no “Monte da Lua” (visto quase da janela do meu quarto), o Palácio da Pena

Desde os meus tenros 4 anos, até aos 9, que me habituei a vê-la todos os dias, logo pela manhã. Todos os dias é uma força de expressão, pois havia dias em que ela se escondia debaixo dum espesso manto, umas vezes duma grande brancura (no Verão), e outras dum plúmbeo carregado (no Inverno). No Verão, significava calor tórrido quando se destapava e no Inverno, tínhamos chuvada certa.
Era assim o Monte da Lua (Mons Lunae para os romanos). Considerado um prolongamento do maciço rochoso que desce da Serra da Estrela, estende o seu manto verde até aos rochedos da ponta mais ocidental da Europa (o Cabo da Roca) onde mergulha nas areias das praias do Atlântico (Praia da Ursa, Praia da Adraga, Praia Grande, Praia das Maçãs, Azenhas do Mar e Magoito).


Mas, não se julgue que esse manto verde é um simples manto. Não! “Cenário grandioso de variedade e beleza”, dizia Byron, preso dos seus encantos. Mão de artista, por entre penhascos, criou-lhe frescos e encantados recantos, quais jardins do Éden, e ornamentou-o com pequenas pérolas. Lá no alto, obra de D. Fernando II, colocou-lhe o Palácio da Pena (onde outrora existia o Convento de Nossa Senhora da Penha), mais abaixo o Castelo, dito dos Mouros, a Cruz Alta, ainda mais abaixo o Palácio dos Seteais, o Parque de Monserrate, o Palácio da Regaleira (do Monteiro dos Milhões) e na vila, a Cynthia dos celtas, o Palácio Nacional de Sintra (vulgo Palácio da Vila). Mais além e em seu redor, distribuídas pelas faldas, além das quintas brasonadas, salpicam-na a Lagoa Azul, a Peninha, o Convento dos Capuchos, e muitas pequenas povoações, entre as quais se destaca a vila de Colares, doada em 1385 a Nuno Álvares Pereira, por D. João I. Hoje em dia, dalgum modo ligado a esta vila, ao observar a serra eu relembro tempos de infância, das visitas ao Palácio da Pena, com subida até ao zimbório (coisa hoje proibida), donde a nossa vista se perdia nos longes do Oceano Atlântico, dos piqueniques no Parque das Merendas, da Sala das Pegas no Palácio da Vila. Porém, outros valores se levantaram e quem passa por Sintra não pode deixar de visitar o Museu de Arte Moderna (no antigo Casino), onde pode ver a Colecção Berardo, o Museu do Brinquedo (no antigo quartel dos Bombeiros), beber água fresquinha (se não houver aviso em contrário) na Fonte da Sabuga e, por fim, deliciar-se com umas queijadas ou uns travesseiros, mas sem abusar, claro.

(Nota: A foto panorâmica é um arranjo de foto original de Publicações Alfa, S.A.)

Este é o texto com que participo na Blogagem de Setembro do Blog "Aldeia da Minha Vida".
A participação é livre, com textos e comentários e, como convém, também tem prémios e não fazem a coisa por menos, exemplares do magnífico "Guia Turístico" editado pela empresa Olho de Turista e da autoria de Susana Falhas. A não perder!
Para aceder ao blog, basta "clicar" no selo, à esquerda!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

15 de Agosto de 2010. Um dia igual aos outros, mas... diferente! (Parte I I I)





E, foi durante a tarde que eu tive a surpresa maior.
Vejam só! Em tempos, uma jornalista do DN (Rita Penedos Duarte) contactou o blogue "Aldeia da Minha Vida", no sentido de obter o meu contacto pessoal. Obtida a minha anuência, o contacto foi feito e essa jornalista mostrou o seu interesse em saber de algumas passagens da minha vida, relacionadas com África. O contacto intensificou-se e ficou estabelecido que iria fazer uma reportagem sobre parte das minhas aventuras (e desventuras). Que depois me diria quando seria a publicação, que talvez não fosse para breve, como era natural. Porém, surpresa das surpresas, até para a própria jornalista, esta telefonou-me neste dia, dizendo-me que a tal reportagem tinha acabado de sair.
Que pena! Nem tive oportunidade de fazer a minha propaganda no sentido de aproveitar o "meu momento de fama".
Pois bem, aqui o deixo para que conste e para alguém que, além de mim, sinta algum interesse no mesmo!
Este dia 15, foi mesmo um dia diferente!

15 de Agosto de 2010. Um dia igual aos outros, mas... diferente! (Parte I I)


AS FESTAS DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO, EM COLARES
Englobada nas Festas de Nossa Senhora da Assunção, como de costume, realizou-se, pelas 17 horas, a procissão solene, percorrendo as ruas da vila.
Todos os anos parece haver menos aderentes a esta manifestação de fé mas ela vai-se mantendo. Até quando, só Deus sabe pois o mundo material tudo vai fazendo desaparecer. Paralelamente, algumas tendas iam mostrando os produtos da terra e a quermesse ia funcionando, além duma área de comes e bebes, tudo tendo em vista angariar fundos para os custos destes eventos. A Banda dos Bombeiros Voluntários de Colares, do alto do coreto, abrilhantou o fim de tarde e animou os visitantes.
Mostro aqui alguns momentos da procissão.




15 de Agosto de 2010. Um dia igual aos outros, mas... diferente! (Parte I )

O passado dia 15 de Agosto foi algo diferente dos outros. Por esse facto, resolvi aqui deixar alguns dos momentos que o (me) marcaram e vou dividi-lo em três partes!
Logo pela manhã, fui surpreendido pela informação de que a Volta a Portugal, a última etapa, ligando Sintra a Lisboa, consagrando o já esperado vencedor, David Blanco, ia passar à minha porta, em Colares!
E, assim foi. Porém, como sairam de Sintra praticamente em passeio, a partida oficial só foi dada em Galamares e a passagem à minha porta foi feita em fila. Tão rápido passaram que ao tirar uma foto, tanto escolhi o momento que já quase os não apanhei. Mesmo assim, aqui fica o instantâneo!
Não sei andar de bicicleta mas sempre foi um desporto de que gostei, desde os tempos do João Lourenço, do Dias Santos, do Alves Barbosa, do Ribeiro da Silva e por último do malogrado Joaquim Agostinho, não esquecendo muitos outros nomes, todos eles merecedores de admiração, mau grado as histórias de "doping" e quejandos e a "Volta" 2010 fez-me esta surpresa!

Música na Casa de Deus

Na minha já longa ausência, fiz um pequeno interregno, para dar notícia das Festas de Nossa Senhora da Assunção, em Colares. Já passaram uns dias, mas não quis deixar de assinalar o facto.
Assim, como consta do programa, houve um recital lírico na Igreja Paroquial. Tal recital foi abrilhantado por Natália Brito (Mezzo soprano) e Ana Serro (Soprano), cantoras que estão ligadas à freguesia de Colares por nascimento ou residência. O acompanhamento foi de Francisco Sales (Órgão) e Rui Moreira (Clarinete)Teve igualmente lugar um Concerto Instrumental, a cargo de "Clarinet Ensemble Chalumeau", composto por músicos da Banda dos Bombeiros Voluntários de Colares, a saber:
Inês Almeida, Luís Filipe Pereira, Nuno Moreira e Rui Moreira, em clarinete soprano e Carlos Covas, em clarinete baixo.E foi assim! Houve música na Casa de Deus e não foi só para os "anjos"!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mais um Portugal - Espanha ! Este, em Salvaterra !

Ainda um pouco abalado com o desaire frente aos nossos "amigos" espanhóis, aqui deixo um relato de mais um confronto em que o ardil, desta vez, funcionou ao contrário. Não é um episódio que honre muito o vencedor mas põe a nú as artimanhas desses "amigos"! Faz hoje, dia 30 de Junho, 355 anos!

Em 1655, passados já 15 anos sobre a restauração da Independência de Portugal, sendo ainda governador da fortaleza de Salvaterra, António Soares da Costa, conhecido por "Machuca", a insídia com que os espanhóis buscavam apoderar-se desta praça portuguesa usava de todos os estratagemas. Assim, foi que o governador de Salvaleão, vila espanhola fronteiriça, D. Alonso de Sande e d’Ávila julgou poder corromper o governador de Salvaterra e apoderar-se desta sem grande esforço. A proposta, ignóbil, foi aceite mas, mal sabia o espanhol o que ia na cabeça do governador português. Acertados os pormenores para 30 de Junho, aproveitando as festas de São Pedro, e posta a operação em marcha, 37 oficiais espanhóis disfarçados de paisanos mal puderam acreditar no que lhes aconteceu. Foram mortos, um após outro, aqueles que iam entrando, e as tropas que ainda estavam esperando para tomar a fortaleza viram o seu governador lançado pelo ar, após ter sido atado à boca de um canhão. Apressaram-se a fugir, mas este trágico fim havia de causar grande mau estar nas cortes, portuguesa e espanhola. Revoltado com tal ocorrência o Duque de San German, juntou quantas forças pôde e, dois dias depois, com o propósito de vingança apresentou-se defronte de Salvaterra. Não podendo fazer nada, face à força portuguesa, resolveu “passar à espada os camponeses que segavam o trigo e até as mulheres e crianças”. A notícia desta tragédia chegou a Lisboa, onde se encontrava o enviado de França, chamado para apoiar o novo poder em Portugal, e há quem diga que a atitude do Governador da praça foi considerada acto de traição e que ele foi destituído, por ordem de El-Rei D. João IV. Porém, talvez tenha sido apenas uma manobra diplomática, uma vez que também consta que El-Rei, ao corrente da dita proposta, teria sido ele próprio a instigar o Governador a tal procedimento!

Mistérios da História de Portugal! Vá-se lá saber a verdade!