domingo, 12 de fevereiro de 2012

Carnaval ! Talvez... "piegas".

Para os seguidores e visitantes deste blogue, para que se divirtam, mesmo sem "tolerância de ponto", aqui lhes deixo os ecos dum corso de Carnaval para o qual fui convidado mas que, afinal, parece não ser necessário convite. É um corso aberto aos "piegas", aos "não piegas" e a todos que ainda tiverem vontade de brincar a estas coisas! 


Corso do Estoril (premonição dum Carnaval, a preto e branco)
(retirado de www.leme.pt)

Foi-me ontem perguntado 
se pr’ó Carnaval deste pais
eu desejava ser convidado
e, quem tal diria, eu quis!

Foi-me também informado
de a ninguém se permitir,
mesmo a algum mascarado,
gargalhar, ou apenas sorrir.

Com tanta regra a cumprir
e algumas bem fora da lei,
respondi que sim, a fingir,
e, gargalhando, eu aceitei. 

Preparei-me para o cortejo.
Sentei-me no melhor lugar
e olhando ao fundo já vejo
que o Corso vai começar!

Ti’Anibal, vem à frente,
esse “algarvéo marafado”,
mostrando a toda a gente
a folha do seu ordenado!

Grita ele aos quatro ventos
e bem alto, como convém.
Só recebo mil e trezentos!
Ouviu bem? Ouviu bem?

E traz um cartaz, o inocente,
dizendo, e eu isso não o nego
:-O meu dinheiro é insuficiente
para mandar cantar um cego!

Assim, entre tanto mascarado,
vem a medo, mesmo à frente,
este personagem, o coitado,
a que chamamos presidente!

Tudo isto ele diz, sem sorrir,
a quem de pão não tem naco,
que só me apetece é despir
e oferecer-lhe o meu casaco.

Não parece lá muito esperto
pedir ele a quem já precisa.
Pedir-me mais, não é certo,
depois de lhe dar a camisa!

E digo-lhe, bem cá do coração,
quanto me sinto importunado
ao saber da sua mísera pensão.
Sinto-me por Deus abençoado!

Eu sei que, para viver em Belém,
num palácio ou em qualquer lado,
precisa mesmo ganhar muito bem
ou ser, então, juro,muito poupado!

Veja lá não gaste todo o dinheiro,
que este Carnaval não é só um dia.
Depois tem que viver o mês inteiro
só com a sua reforma e a da Maria!

E, lá se foi este Rei do Entrudo
sempre armado em bom rapaz.
O pessoal, pesaroso, fica mudo
e já um outro carro lá vem, atrás.

Um sucateiro de vara na mão,
montado num muitos cavalos,
lá vem arrastando, pelo chão,
uma, só, caixinha de robalos!

Agora vejo lá muito ao fundo,
lento, arrastando-se, feito Job,
prevendo o fim deste mundo,
o  meio alucinado “Rei Ghob”!

Entre os trajes lindos eu distingo,
neste tão lindo corso do Entrudo,
o de um licenciado ao domingo
vendo Portugal por um “canudo”!

Ele é um senhor, o “inginheiro”,
que a todos deu muita arrelia.
Ontem mascarado de Primeiro,
hoje, de estudante de filosofia!

Vejo um lindo carro branco,
branquinho e tão imaculado.
Nele, só vem quem no banco
tem limpo e gordo ordenado!

Traz ex-ministro e deputado
e mais pessoal todo contente
que além do parco ordenado
ainda trata da vida da gente!

Neste pais em que nada muda
cheio de políticos nova vaga
o dinheiro, pr’á gente graúda,
é só o povoléo quem  o paga!

Este cortejo cheira muito mal.
É só podridão em ritmo lento!
Podem chamar-lhe Carnaval
mas eu, perdão, não aguento!

Neste Carnaval em que alguém ri
mas o povo, coitado, esse chora,
sinto que já não faço nada aqui.
Pego na trouxa, vou-me embora!

Levanto-me! Nem vejo o fim!
Para cronista eu não presto
e penso, de mim para mim,
para o ano eu conto o resto.

Gosto dum bom Carnaval.
À brincadeira não me furto,
mas tão comprido está mal!
Será, pr’ó ano, mais curto?

Estes versos que eu aqui fiz
e que ninguém levará a mal,
são bem o retrato deste país.
Pais, com cara de Carnaval!

Divirtam-se! Se puderem...