domingo, 10 de maio de 2015

E o ano de início do Bodo de Nossa Senhora da Consolação, terá sido 1877?


 
Mau grado toda a inocência e boa vontade, um facto por muito que repetidamente afirmado, nunca será verdade se não houver algo que o confirme!
Porém, por vezes, o fervor e a fé que pomos em algo que muito desejamos, faz-nos repetir esse mesmo desejo até à exaustão, fazendo-nos e a outros acreditar nele.
Parece ser esse o caso da data, já por muitos propalada, do início do Bodo em honra de Nossa Senhora da Consolação que dizem ser o ano de 1877!
Ora, em boa verdade, parece ninguém poder afirmar tal facto!

Se não, vejamos:

- Em 20 de Abril de 1758, nas Memórias Paroquiais, se refere que no lugar de Monfortinho, “– Em outavário da Páscoa vem a Câmara da vila de Penha Garcia e o povo em satisfação de um voto que fez a dita vila mui antigo com louvores à dita Senhora padroeira do lugar aonde lhe fazem uma festa em o dia de Nossa Senhora dos Prazeres; concorrem da vila de Salvaterra com o mesmo voto, cujos votos fizeram estas duas povoações pelos grandes estragos que lhe faziam nas searas a lagosta, da qual até hoje se tem visto livres por intercessão da Senhora.”

- Pinho Leal, escreve que: Em junho de 1876, foram estas terras invadidas por uma nuvem de gafanhotos que fizeram grandes devastações nos campos e pomares.
Para se fazer ideia aproximada da grande quantidade de gafanhotos que assolaram estas terras, basta dizer que, no dia 2 de junho, 30 pessoas, em 45 minutos, apanharam 60 alqueires d’elles!”
E também: “Ainda no dia 21 de maio de 1877, …; porém a freguezia que mais soffreu, foi esta de Salvaterra do Extremo.
No referido dia 21, foram apanhados 1:291 kilogrammas d’estes insectos - no dia seguinte, 2:208 e meio kilogrammas - e no dia 23, 2:232 e meio kilogrammas.”

- Jaime Lopes Dias, refere uma outra praga, no ano de 1870.

- O cor. António Lopes Mendes, na sua Monografia, em 1914, afirma: “davam bodo aos pobres e aos romeiros, na festa de Monfortinho, antes de 1905.”

- J. D. Bargão, capitão da GNR, na sua “Monografia de Salvaterra do Extremo”, em 1945, decerto também baseado na Monografia do cor. Mendes, escreve: “Em certo ano – 1870 – segundo informação local, Maio de 1877 segundo Pinho Leal, os ubérrimos campos de Salvaterra foram invadidos por grande praga de gafanhotos.”

E mais adiante: “Maldição, diziam uns, castigo do céu lhe chamavam outros. Vá de prometer festa rija à Senhora da Consolação sempre tão solícita e bondosa e procissão e penitência e bodo anual para ser servido a toda a pobreza e a quem mais quisesse. Tudo sairia das ofertas de trigo, azeite, vinho e demais géneros que a terra livre da praga voltaria a dar com fartura.”

- Na Sessão do dia 8 de Maio de 1901, nas Cortes Constituintes, o sr. Conde de Penha Garcia, chamava a atenção da Câmara para a ruína em que se encontrava a sua província e entre outras coisas, dizia: Sou informado de que na zona da fronteira começam os gafanhotos a atravessar para o nosso país e de que já na região de Salvaterra do Extremo teem sido devastadas algumas cearas.”

 
 
 
Perante tudo isto que aqui ficou dito e que parece documentado, além de ter também consultado o livro “A Festa de Nossa Senhora da Consolação”, da autoria do Pd. Bonifácio Bernardo, o que se me oferece dizer, é o que deixo a seguir.

Parece ser comum, as promessas serem feitas com o objectivo de obter algo em troca, pagando-as depois, muito embora haja quem ache por bem pagar primeiro e aguardar ser atendido no seu pedido.
No caso presente, se o pagamento da promessa, isto é, a realização do Bodo foi anterior à intercessão da Senhora, isso quererá dizer que qualquer data será válida e até poderá ser muito anterior a 1877. Isto porque pragas de gafanhotos terá havido anteriormente e muitas. Disso já nos falam as Memórias Paroquiais, em 1758.
Se, por acaso, o povo as sentiu mais nesses anos relatados, 1876 e 1877 e fez então a promessa do Bodo, não é muito crível que o mesmo se tenha realizado em 1877. Aliás, lendo o que o cap. Bargão diz: “Tudo sairia das ofertas de trigo, azeite, vinho e demais géneros que a terra livre da praga voltaria a dar com fartura.”
Ora, nem em 1876, nem em 1877, após tamanha desgraça, “a terra livre da praga voltaria a dar com fartura”. Na melhor das hipóteses, só em 1878, depois da intercessão da Senhora, haveria razões e celeiros cheios para a realização do Bodo.
Porém, também nunca essas pragas foram referidas nas Cortes Constituintes, onde apenas conseguirmos ver o que se diz no dia 8 de Maio de 1901!

Posto isto:

a)      Nunca, em documento algum, se refere a data em que se realizou o 1º Bodo.
b)      Também não é muito crível a data 1877.
c)      Na melhor das hipóteses, só no ano de 1878. Mesmo assim, não seria fácil, depois de tanta desgraça nos 2 anos anteriores, que já nesse ano houvesse fartura suficiente, atendendo a que a última praga, em 1877, foi em Junho e que a festa do ano seguinte foi em 29 de Abril. Nessa data, decerto, ainda a colheita não tinha sido feita. Portanto, talvez só em 1879!

Finalmente, para quê todo este trabalho? Dir-me-ão!
Diz-se que “Voz do povo é voz de Deus” e eu não quero que a voz de Deus, por pouco cuidado do povo, seja desacreditada!
E acontece que, nos tempos que correm, se vai afirmando muita coisa sem haver certeza nenhuma do que se fala!

Por tudo o que atrás ficou escrito, parece-me ser mais correcto dizer-se que é uma tradição já muito antiga e que, provavelmente, remonta à década de 70 do século XIX! Tudo o resto, parece-me ser efabulação!

Bem hajam pelo tempo que se dispuseram a ler isto!

domingo, 3 de maio de 2015

Dia da Mãe ! Dia de todas as mães !




Eu bem sei! Esta tão pequena flor,
é menos de que uma mãe merece
pois uma mãe se desfaz em amor
e um filho nunca mais a esquece!

 
 
 
Mal da mãe que uma vez por ano,
só é assim lembrada, por tradição!
A minha trago-a, não me engano,
guardada bem fundo, no coração!