segunda-feira, 25 de março de 2013

Santa e Feliz Páscoa !


Nesta quadra festiva, de tempos difíceis e conturbados, aos meus amigos, seguidores e visitantes deste blogue, deixo os sinceros votos de Santa e Feliz Páscoa!





As Quaresmas foram jejuadas!
Junta-se o povo em procissão,
as Almas são encomendadas
e já se prepara para a Paixão.

Celebra a morte de Jesus,
joelho no chão, este povo.
Olhando Cristo, na Cruz,
à espera do Homem novo!

E quando a Páscoa chegou,
o povo, que estava rezando,
porque já Cristo ressuscitou,
soltou as Aleluias! Cantando!

Mas se a Páscoa terminou
e Cristo aos céus ascendeu,
depois que por nós se finou,
o Homem novo ... não nasceu!


E, dois milénios passados,  
renovemos nossa fé em Jesus,
pois Ele, por nossos pecados,
pregado, morreu numa cruz!


quinta-feira, 21 de março de 2013

21 de Março !





(Retirado de blogdaisilda.blogspot.com)



No Dia Mundial da Poesia
se dotes de poeta eu tivera
faria um poema neste dia
enaltecendo a Primavera!

À Primavera florida, 
dos campos tão coloridos. 
À Primavera da Vida, 
e à sinfonia dos sentidos!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Salvaterra ... no Romanceiro Português ( 6 )


Para encerrar este ciclo de “posts”, apresentando alguns romances medievais na versão de Salvaterra do Extremo, aqui fica mais um, tal como os anteriores, inserto no ROMANCEIRO PORTUGUÊS DA TRADIÇÃO ORAL MODERNA, vol. II, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Por fim, resta-me esperar que tenham sido do agrado de quem os tenha lido! 




Conde Alarcos


    
Vindo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2  
tocando numa viola,    muito bem a retinia.
    
Acordou seu pai na cama    pelo motim que fazia.
  4  
--O que é isso, ó Silvana?    O que é isso, ó minha filha?
    
--De três irmãs que nós éramos,    estão casadas, têm família,
  6  
eu, por ser a mais bonita,    porque razão ficaria?
    
--Já não há gente nas cortes    igual à tua valia.
  8  
--`Inda está o conde d` Elvas.    --Está casado, tem família.
    
--Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  10  
`Inda agora vim das cortes    já me mandaram chamar!
    
Não sei se será por meu bem    nem se será por meu mal.
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12  
--Quero que mates a condessa    p`ra casares co` a minha filha.
    
--Como hei de eu matar condessa    se ela a morte não merecia?
  14  
--Mata conde, mata conde,    não procures demasia.
    
Quero que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  16  
Foi o conde para casa    todo cheio de agonia.
    
Foram-lhe a pôr de jantar    nem um nem outro comia,
  18  
as lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
    
--Conta conde, conta conde,    conta-me a tua agonia!
  20  
--Se eu te contara, condessa,    de repente morrerias.
    
Manda el-rei que te mate    p`ra casar co` a sua filha.
  22  
Não me mates com navalhas,    nem com espada luzidia,
    
mata-me com uma toalha,    na minha casa as havia.
  24  
Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
    
Adeus, criadas e criados,    a quem eu tanto queria!
  26  
Deixa-me dar um passeio    da sala para o jardim.
    
Adeus cravos, adeus rosas    que tanto chorais por mim!
  28  
Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
    
amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
  30  
De joelhinho em terra,    com o chapeuzinho no ar.
    
Anda cá, filho do meio,    que te quero ensinar,
  32  
amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
    
De joelhinho em terra    com o chapeuzinho no ar.
  34  
Mama filho, mama filho,    este leite de paixão,
    
amanhã por estas horas    está tua mãe no caixão.
  36  
Mama filho, mama filho,    este leite de amargura,
    
amanhã por estas horas    está tua mãe na sepultura.--
    
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  38  
Já tocam os sinos das Côrtes!    Ai Jesus! Quem morreria?
    
Morreu a dona Silvana    pelas traições que fazia,
  40  
desapartar os bens casados    coisa que Deus não queria.



Nota do editor de Romanceiro Português TOM 2001:

Omitimos as seguintes didascálias: entre -3 e -4; -6 e -7; -8a e -8b.; -11 e -12; -13 e -14 Rei; entre -4 e 5, -7 e -8, -8 e -9 dona Silvana; entre -9 e -10; -12 e -13; -19 e -20 Conde; entre -18 e -19; -21 e -22 Condessa.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Salvaterra ... no Romanceiro Português ( 5 )



Continuando a apresentação de versões de Salvaterra do Extremo, recolhidas e publicadas por Jaime Lopes Dias, aqui  fica mais uma, inserta no ROMANCEIRO PORTUGUÊS DA TRADIÇÃO ORAL MODERNA, vol. II, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian. 
Espero que continue a ser do agrado de quem a ler!




    
--Já os galos cantam,    ó meu amor, vai-te.
  2  
--Onde me hei-de eu ir,    coração, e deixar-te?
    
--Duma mãe que tens,    vai-ma lá chamar,
  4  
as dores são tantas    que eu estou a findar.
    
--Levante-se, ó mãe,    do doce dormir,
  6  
que está Rosa Branca    com dores de sair.
    
--Se quer sair que saia,    saia uma menina,
  8  
arrebente a mãe    mais a sua filha.
    
--Conforta-te, ó Rosa    co` a Virgem Maria.
  10  
Minha mãe não `stá lá    foi à romaria.
    
--Já os galos cantam,    ó meu amor, vai-te.
  12  
--Onde me hei-de eu ir,    coração, e deixar-te?
    
--Duma irmã que tens    vai-ma lá chamar,
  14  
as dores são tantas    que eu estou a findar.
    
--Levanta-te, irmã,    do doce dormir,
  16  
que está Rosa Branca    com dores de sair.
    
--Se quer sair que saia,    que saia um varão,
  18  
arrebente a mãe    pelo coração.
    
--Conforta-te, ó Rosa,    co` a Virgem Maria,
  20  
minha irmã não    `stá lá foi à romaria.
    
--Já os galos cantam,    ó meu amor, vai-te.
  22  
--Onde me hei-de eu ir,    coração, e deixar-te?
    
--Duma mãe que eu tenho    vai-ma lá chamar,
  24  
as dores são tantas    que eu estou a findar.
    
--Levante-se, minha tia,    do doce dormir,
  26  
que está Rosa Branca    com dores de sair.
    
--Se quer sair que saia,    saia uma menina,
  28  
ela seja a serva    da Virgem Maria.
    
Entra, ó meu genro,    a beber uma pinga,
  30  
enquanto eu procuro    minha triste mantilha.
    
Entra, ó meu genro,    a comer um bocado,
  32  
enquanto eu procuro    meu triste calçado.--
    
P` r` ò meio do caminho    os sinos ouviu dobrar
  34  
logo a pobre mãe c    omeçou a chorar.
    
--Quem filhas tiver    case-as cá na terra,
  36  
que eu, de uma que tinha,    já fiquei sem ela.--


Variantes: -31b a beber um trago.



segunda-feira, 4 de março de 2013

Salvaterra ... no Romanceiro Português ! ( 4 )


Aqui venho, trazer mais uma versão de Salvaterra do Extremo, recolhida e publicada por Jaime Lopes Dias e, agora, inserta no ROMANCEIRO PORTUGUÊS DA TRADIÇÃO ORAL MODERNA, vol. II, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian. 
Espero que seja do agrado de quem o ler!




Mala suegra                    
[ Veneno de Moriana ]

    Estando a dona Alina   na sua sala real,
2  com as dores do seu parto,   que se deixava finar,
    desejava por parteira   sua mãe de natural.
4  --Anda, vai, ó minha filha,   que eu te mando a levar,  
    por criados e criadas   que te vão a acompanhar.
6   --Quando vier D. Diogo   quem lhe há-de pôr de jantar?
    --Quando vier D. Diogo,   eu lhe porei de jantar.
8   A caça que ele trouxer   eu ta mandarei a levar,
    coelhos a um a um,   perdizes a par a par.--
10  Dona Alina que abalou,   D. Diogo a chegar.
     --Anda cá, ó meu filho,   que te quero pôr de jantar.
12  --Não procuro por jantar,   tão-pouco por merendar,
     procuro por Dona Alina   que não vejo aqui estar.
14  --Dona Alina abalou   para as cartilhas do mar.
    Desejava por parteira   sua mãe de natural.
16  Anda vai, ó meu bom filho,   anda vai-a a matar,
     que as palavras que aqui disse   nem são para se contar,
18  ela a mim me chamou p…   e a ti ladrão final.
    --Alto, alto, meus criados,   meus cavalos a ferrar,
20  com ferraduras de bronze   para a jornada aturar,
     que jornada de oito dias   numa hora se há-de andar!--
22   Lá para o meio do caminho   um criado encontraria.
     --Aqui lhe trago, D. Diogo,   cartas de muita alegria,
24  que já lá tem um infante   da primeira infantaria.
     --Não se me dá do infante,   nem da mãe que o p…,
26  vai dizer a dona Alina   que lhe vou tirar a vida.
     --Aqui lhe trago, dona Alina,   cartas de muita agonia,
28  que lá vem o D. Diogo   que lhe vem a tirar a vida.
     --Deixa falar, minha filha,   que isso há-de ser mentira!
30  --Cale-se lá, minha mãe,   mais do que verdade seria
     que a p… da minha sogra   muito mal lhe meteria.--
32  Estando nessas razões,   D. Diogo à porta batia.
     --Levanta-te, ó dona Alina   se te queres alevantar,
34  olha que se lá vou dentro   p’las tranças te hei-de arrastar.
     --Cala-te lá, meu bom genro,   que eu te mando a calar,
36  está parida de três dias   não se pode alevantar.
     --Dê cá o meu vestido,   ajude-me a apertar
38  dê-me cá os meus sapatos   ajude-mos a calçar,
     dê-me cá o meu menino   também o quero levar.
40  Fique-se com Deus, minha mãe,   até dia de Juízo,  
     ele há-de ir p’ró Inferno   e eu hei-de ir p’ró Paraíso.--
42   --Olha para trás, D. Diogo,   olha se queres olhar,
     olha as florinhas do campo   todas por mim a chorar.
44   Olha para trás, D. Diogo,   olha se queres olhar,
     um menino de três dias   olha, por Deus a falar
46  --Mal haja a minha avó,   mais o leite que mamou,
     a morte da minha mãe   minha avó é que a causou.
48  --Cala-te lá meu bom filho,   que eu te mando a calar,
     a morte da tua mãe   ‘inda a vais tu a levar.--
50  Um menino de três dias   é um milagre falar.
     --Olha para trás, D. Diogo,   olha se queres olhar,
52  o cavalo era branco   e já vai do meu sinal.
     --Não se me dá do cavalo   que eu outro irei comprar,
54  dá-se-me do teu corpinho   que sem ele vou ficar.
     Fica-te com Deus, dona Alina,   neste belo areal,
56  vou chamar um confessor   que te venha a confessar.
     --Não me enterres, D. Diogo,   neste belo areal,
58   enterra-me naquela ermida   que além está a branquejar.
     --Pois aí, nesse areal,   aí mesmo te hei-de enterrar,
60  co’as patas do meu cavalo   a cova te hei-de acalcar.
     --Toma lá o meu menino,   ajuda-o a criar,
62  não o dês à tua mãe   que ela mo vai a matar,
     Dá-o antes à minha   que é capaz de mo estimar.
64  Não passes à porta de Viana   que ela te vai a matar.
     --Pois à porta de Viana   aí mesmo irei passar.
66  --Dá-me cá, D. Diogo,   o teu menino a beijar.
     Toma lá, ó D. Diogo   do meu vinho a provar.
68  --Que me deste, ó Viana, que me deste tu no vinho?
     Tenho as arrédeas na mão   já não vejo o cavalinho!
70  Que me deste, ó Viana,   que me deste a provar?
     --Três folhinhas de veneno   outras três de resgalgar!
72  A morte da minha mana,   tu ma havias de pagar.--
    
Nota do editor de Romanceiro Português TOM 2001: Omitimos as seguintes didascálias: entre -3 e -4, -6 e -7, -13 e -14, e -34 e -35 a Sogra; entre -5 e -6, -29 e -30, -36 e -37, -50 e -51, -56 e -57, e -60 e -61 Dona Alina; entre -11 e -12, -18 e -19, -24 e -25, -32 e -33, -47 e -48, -52 e -53, -58 e -59, -64 e -65, e -67 e -68 D. Diogo;  entre -22 e -23 e -26 e -27 O criado; entre -28 e -29 A mãe;  entre -45 e -46 O menino;  entre -65 e -66,   e -70 e -71 Viana.


(Nota do autor do blogue: os versos 67-71 correspondem a Veneno de Moriana, ainda que o último verso faça pensar em Brancaflor e Filomena.)