Achando que a minha pesquisa sobre a história de Salvaterra já estava a atingir um ponto em que só podia avançar desde que me deslocasse à minha terra e lá tentasse obter resposta para algumas, muitas, das minhas dúvidas, tratei de aproveitar este período da Páscoa embora, infelizmente, não houvesse o Bodo em honra de Nossa Senhora da Consolação. Se bem o pensei, melhor o fiz e meti pernas (o automóvel, claro) ao caminho.
Uma vez lá chegado, tive o grato prazer de trocar algumas informações com alguns conterrâneos (srs. António Tomás Lopes, José Manuel Moreira e Ramiro Rodrigues), interessados como eu em levantar a poeira dos tempos e trazer, até ao presente, factos mal conhecidos da vida desta terra.
Para culminar, por gentileza dos dois últimos, tive ainda o benefício duma visita guiada até ao “Salto da Cabra” tendo também ocasião de ver as tão faladas “furdas”, já do meu conhecimento mas que pude observar com mais cuidado e verificar quanta técnica aplicada em tais construções tendo em vista “a qualidade de vida” dos animais.
São construções melhores do que muitas destinadas a humanos. Havia o respeito pelos animais que, depois de mortos, lhes valiam como alimento para muito tempo.
Terminámos percorrendo algumas ruas da terra, fazendo reparo nalgumas casas de cristãos novos. Visita pequena para tudo aquilo que havia que ver mas, mesmo assim, muito importante para trabalho futuro. O meu bem hajam!
Posto isto, novas dúvidas e mistérios se puseram.
Assim:
- Que significado terão aquelas 12 pedras, em volta do poço de São João? Será um relógio de sol?
- O número bastante significativo de casas assinaladas como sendo de cristãos novos. Além das cruzes, que são de vários estilos, as ombreiras das portas ostentam igualmente um número gravado. Os vários estilos teriam algum significado especial e será que o número identificava quem era quem, entre os cristão novos? Noutras localidades, parece não existir este procedimento.
Em Salvaterra, há conhecimento de um barbeiro, natural de Idanha-a-Nova,que foi preso pela Inquisição. Após 5 anos de prisão, por ter perdido o juízo, foi entregue à família. Consta que a família estaria toda presa!
O caso destes cristãos novos, de Salvaterra, é matéria para um mais aprofundado estudo, se tal for possível!
Parece também ter ficado esclarecido que D. Afonso Henriques nunca terá estado em Salvaterra. Terá chegado a Idanha-a-Velha, pois Salvaterra, como Peñafiel, seria terreno templário por doação de Afonso VII, de Leão, em 1150, o que não acontecia com Idanha, nas mãos mouriscas.
Também nas guerras da Restauração, não houve combate nem tomada de Salvaterra por D. Sancho Manuel. Tudo indica que Salvaterra, após a Restauração, apenas mudou de mãos. Tanto assim que, logo em Setembro de 1641, D. Álvaro de Abranches, Governador das Armas da Beira, abriu alfândega em Salvaterra, tendo-a encerrado ainda antes de Novembro pois os castelhanos não estavam muito interessados em comerciar.
Passei também pelo que resta da antiga Fábrica da Moagem, magnífico edifício construído em 1919 que mete dó estar em tal estado de degradação. Olhei para ele e imaginei o ti’Pedro, espanhol que se mudou de “armas e bagagem” com a família para Salvaterra, pequenino e sorridente, todo enfarinhado. E, lá “estava” também o filho, Júlio, seu ajudante. E o barulho das máquinas e das suas correias transmitindo o movimento a tudo aquilo.
Depois de tudo isto, o certo é que se cheguei à minha terra com algumas dúvidas, esclareci essas mas trouxe outras que me irão provocar mais algumas “dores de cabeça”!