quinta-feira, 28 de abril de 2011

As voltas da História, em Salvaterra !


Achando que a minha pesquisa sobre a história de Salvaterra já estava a atingir um ponto em que só podia avançar desde que me deslocasse à minha terra e lá tentasse obter resposta para algumas, muitas, das minhas dúvidas, tratei de aproveitar este período da Páscoa embora, infelizmente, não houvesse o Bodo em honra de Nossa Senhora da Consolação. Se bem o pensei, melhor o fiz e meti pernas (o automóvel, claro) ao caminho.
Uma vez lá chegado, tive o grato prazer de trocar algumas informações com alguns conterrâneos (srs. António Tomás Lopes, José Manuel Moreira e Ramiro Rodrigues), interessados como eu em levantar a poeira dos tempos e trazer, até ao presente, factos mal conhecidos da vida desta terra.


Para culminar, por gentileza dos dois últimos, tive ainda o benefício duma visita guiada até ao “Salto da Cabra” tendo também ocasião de ver as tão faladas “furdas”, já do meu conhecimento mas que pude observar com mais cuidado e verificar quanta técnica aplicada em tais construções tendo em vista “a qualidade de vida” dos animais.





São construções melhores do que muitas destinadas a humanos. Havia o respeito pelos animais que, depois de mortos, lhes valiam como alimento para muito tempo.






Terminámos percorrendo algumas ruas da terra, fazendo reparo nalgumas casas de cristãos novos. Visita pequena para tudo aquilo que havia que ver mas, mesmo assim, muito importante para trabalho futuro. O meu bem hajam!







Posto isto, novas dúvidas e mistérios se puseram.
Assim:
- Que significado terão aquelas 12 pedras, em volta do poço de São João? Será um relógio de sol?

- O número bastante significativo de casas assinaladas como sendo de cristãos novos. Além das cruzes, que são de vários estilos, as ombreiras das portas ostentam igualmente um número gravado. Os vários estilos teriam algum significado especial e será que o número identificava quem era quem, entre os cristão novos? Noutras localidades, parece não existir este procedimento.
Em Salvaterra, há conhecimento de um barbeiro, natural de Idanha-a-Nova,que foi preso pela Inquisição. Após 5 anos de prisão, por ter perdido o juízo, foi entregue à família. Consta que a família estaria toda presa!
O caso destes cristãos novos, de Salvaterra, é matéria para um mais aprofundado estudo, se tal for possível!

Parece também ter ficado esclarecido que D. Afonso Henriques nunca terá estado em Salvaterra. Terá chegado a Idanha-a-Velha, pois Salvaterra, como Peñafiel, seria terreno templário por doação de Afonso VII, de Leão, em 1150, o que não acontecia com Idanha, nas mãos mouriscas.
Também nas guerras da Restauração, não houve combate nem tomada de Salvaterra por D. Sancho Manuel. Tudo indica que Salvaterra, após a Restauração, apenas mudou de mãos. Tanto assim que, logo em Setembro de 1641, D. Álvaro de Abranches, Governador das Armas da Beira, abriu alfândega em Salvaterra, tendo-a encerrado ainda antes de Novembro pois os castelhanos não estavam muito interessados em comerciar.

Passei também pelo que resta da antiga Fábrica da Moagem, magnífico edifício construído em 1919 que mete dó estar em tal estado de degradação. Olhei para ele e imaginei o ti’Pedro, espanhol que se mudou de “armas e bagagem” com a família para Salvaterra, pequenino e sorridente, todo enfarinhado. E, lá “estava” também o filho, Júlio, seu ajudante. E o barulho das máquinas e das suas correias transmitindo o movimento a tudo aquilo.






Depois de tudo isto, o certo é que se cheguei à minha terra com algumas dúvidas, esclareci essas mas trouxe outras que me irão provocar mais algumas “dores de cabeça”!

3 comentários:

  1. João , viva !Também eu estive por aí .Agora já voltei ao que chamo de meu desterro... Fiquei intrigada com "as furdas ". De certeza que são furdas ou foram utilizadas como tal ? Ficam ,acaso , numa elevação ? São todas circulares ? Estão próximas e cercadas dum muro como o que se vê na foto ?Desculpe tanta pergunta , mas sucede que muitos castros foram utilizados como furdas ...Que lhe parece?
    E as 12 pedras , parecem ser tambores de fuste de colunas ?!

    Quanto aos cristãos- novos muitos são os vestígios deles pelo nosso concelho ... Muitas são as pessoas que são suas descendentes sem o saberem , pois os judeus desde o séc.IIIAC que andaram pelo nosso concelho ,mas a grande afluência deu-se nos sécS XV,XVI e até XVII .Há uns livrinhos muito interessantes da "Cotovia " e num até chegamos à conclusão que muitas das nossas orações de criança têm aí origem .
    E não o maço mais hoje com este "meu converse "!!
    Muntas vesitas

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  2. Pois é, Quina, cá estou de novo, depois de ter aspirado um pouco dos ares despoluídos da minha terra. Só que, foi bom mas, soube a pouco!
    Quanto às “furdas”, são mesmo furdas! A que está na foto, é uma que está próxima das casas como, aliás, estão mais algumas. No entanto, visitei o que se pode chamar um complexo de furdas. Num “chão”, estão implantadas 3 unidades. Uma, a maior, chamada do porqueiro, destina-se ao porco cobridor e chama-se do porqueiro porque, em caso de intempérie aí se abrigava o porqueiro e o porco teria de procurar melhor sítio. Outra, uma furda mais pequena, com um pequeno espaço exterior e murada, destinava-se a uma porca em trabalhos de parto, isolando-a do porco e das outras porcas. Terminado o “recobro” passava, então para um “condomínio” privado de 4 ou 5 furdas, geminadas, com espaço exterior destinado a zona de alimentação, também murado, onde se encontravam as porcas, cada uma com sua furda e os seus porquinhos lá dentro. Não havia misturas, estavam a salvo do porco e criavam os seus bacorinhos em sossego. Como pode ver, tudo pensado ao pormenor. Não leve a mal mas em Penha Garcia, ouvi um turista dizer para a sua criancinha que aquilo eram casas dos anõezinhos de antigamente. Realmente custa a crer, tanto cuidado com um “simples” animal, quando há muito humano a viver em condições muito mais degradantes!
    Quanto às pedras do poço de São João, até prova em contrário, para mim é um relógio de sol. Até porque, à boca pequena, já ouvi qualquer coisa…
    O que realmente me surpreendeu bastante, foi ver o número bastante significativo de cristãos novos, em Salvaterra, quando nunca tinha tido conhecimento de tal. E as marcas são bem visíveis! O facto é que o povo tinha mais que fazer e para ele tanto fazia ver lá uma cruz, como ver um “pirolito”. A vida era dura demais para essas preocupações.
    Quanto a maçar-me com o alongar dos seus comentários, não tenha problemas. Eu pago-lhe na mesma moeda.

    Abraço,
    João Celorico

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  3. João , bem-haja pelas explicações .Desconhecia esse tipo de furdas com tão perfeita organização e, por defeito de formação, começo logo a pensar em algo que veio de há muitos séculos e teve depois um outro tipo de aproveitamento .Mas é fenomenal!!! Para o verão hei-de passar por lá e tentar encontrá-las . Quanto aos cristãos- novos , está aqui alguém a falar consigo que do lado do avô materno se integra nesse grupo...Na minha terra, tempos houve em que tudo o que era comércio , manufacturas e artes era desempenhado por cristãos -novos ou mesmo por judeus . Nunca houve problemas , apenas aqueles que não o eram se referiam aos outros chamando-lhe de "judeus ". Mas ,isso nada significava ... No meu caso a minha família era de tal modo católica que meu pai disse "vai para a universidade mas , tem de ir para um lar de freiras , senão nada feito ..."
    Pronto , já falei mais um bocado...
    Vesitas
    Quina
    PS. Não andam por aí nazis à solta....ah, ah....

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