
Sem verdadeiro conhecimento de causa, pouco poderei dizer, pois saí da minha terra com pouco mais de 3 anos. No entanto vou tentar. Oxalá não ande muito longe da verdade.

Deslocavam-se, com armas e bagagens, que é como quem diz, com o burro, o cão e não levavam o gato e o periquito porque em vez destes levavam galinhas. Todos tinham a sua utilidade. O burro, para o transporte dos seus pertences (normalmente, cada um fazia o percurso a pé, ao lado do animal que já levava carrego que bastasse), o cão para guarda e defesa e as galinhas para irem pondo uns ovitos. Eram galinhas que andavam à solta no campo e o maior problema era saber onde elas punham os ovos. Por vezes atavam-lhes uma linha a uma das patas para poderem seguir até ao seu poiso. Cumpre-me aqui lembrar a nossa “burrica” e o cão, o “Piloto”.
Os locais de trabalho, na ceifa, eram as “Nave Longas”, o “Coito”, a “Apartadura”, a “Batanada” e outros que decerto haveria mas de que não tenho de memória.

Tarefa dura, feita no Verão, sob a inclemência do sol, estava sujeita a todos os problemas da vida no campo. O homem ao lavrar e ao segar as searas, destruía o “habitat” natural de aves e répteis, tais como cobras, lagartos e lacraus e, por vezes, sofria o ataque ou, melhor dizendo a defesa destas.

A alimentação, frugal, eram o “gaspacho”, umas migas, feijão ou grão, azeite, só uns olhinhos dele que não se podia gastar muito, pão, queijo, chouriço e azeitonas, tudo por conta e medida! E, depois dum sono, que não devia tardar, de tal modo o corpo o pedia e que se esperava fosse reparador, o novo dia começava bem cedo!
Hoje, com os campos por cultivar, a vida animal refaz-se um pouco e retornou aos campos deixando mais livres os povoados ou, mais propriamente, os despovoados. As pessoas ouvem falar que a vida era difícil e as “quintas pedagógicas” só lhes podem dizer quão bonito é ver uma planta a crescer ou uma árvore a dar fruto, não lhes diz o quanto sofrimento esteve na sua origem!
Naquele tempo não havia Novas Tecnologias, nem Novas Oportunidades. Não havia nada novo, além dum Estado que diziam Novo. Não havia Serviço Meteorológico. As Oportunidades eram Únicas e eram os velhos que ensinavam, num conhecimento ancestral, olhando para o céu, a saber se ia fazer sol, chover ou ventar. A saber qual a melhor época para semear e para colher. Fazer matanças e preparar as carnes. Fazer queijo e pão. E, dizem, que não tinham tecnologia…
Quem, hoje, é capaz de fazer isso?
( imagens retiradas de portugal.ecovillage.org ; arquivo digital (cena de ceifa em Assequins) ; paradadegonta.blogs.sapo.pt ; oreinodosanimais.blogspot.com )
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