



Mas, voltemos às “letras”.

Entretanto um primo meu, que trabalhava no Cabo Submarino, aproveitando as férias, dava umas lições de Inglês ao meu irmão. Escusado será dizer que eu, à porta da sala, de ouvido à escuta, até já sabia palavras em Inglês. Tal “génio” era aproveitado pelo meu primo nas rodas de amigos e eu, que mal sabia Português, até falava Inglês!



Mas, como o meu padrinho trabalhava nos Correios, enviava-me revistas tais como “O Mosquito”, “Stadium” (eu era fanático da bola), “Diabrete”, “Camarada”, etc. Sem exagero, eu “devorava” tudo de ponta a ponta. Aos 7 anos eu lia as Selecções do Reader’s Digest que me dava uma senhora chinesa, e muitas delas ainda hoje as tenho. Foi por elas que, aos 7 ou 8 anos, fiquei a conhecer o arquitecto Frank Lloyd Wrigth.

De férias, em Lisboa, li as “Pupilas do Senhor Reitor”, livro que tinha saído por ocasião da estreia do filme. Estávamos em 1948! Mais tarde, a leitura desse livro, (facto que já aqui contei)com tão tenra idade, valeu-me num exame de Português feito pelo Dr. David Mourão Ferreira. O homem, ao saber que eu tinha lido tal livro naquela idade, “ficou-me na mão” e fiz um exame em beleza!
Aos 10 anos, já em Lisboa, passei a ter à disposição, só isto: Diário de Notícias; Voz; Diário da Manhã; O Primeiro de Janeiro; Vida Mundial; Diário de Coimbra; Jornal do Comércio; Boletim de Informações; Boletim do Contribuinte e “Modas e Bordados”. Por vezes tinha “O Século” em vez do “Diário de Notícias”. Por aqui se pode ver a informação a que eu tinha acesso e que, posso garantir, fazia questão de ler “de fio a pavio”. Era tudo mas, mesmo tudo! Da 2ª Guerra Mundial, habituei-me a ver nas revistas as fotos da família real inglesa e toda a panóplia de armamento da época. Acompanhei a guerra da Coreia, com o paralelo 38, o general Mc Arthur e o “Vampiro”, 1º avião supersónico, que veio a Portugal; a guerra da Indochina, em Dien Bien Phu, e o general De Castres; a espia Ana Pawker; coisas que eu lia mas que apenas ficavam na memória. Isto já para não falar em tudo quanto era desporto e que era o expoente máximo da literatura…. Só me faltava o jogo do berlinde, que eu praticava mas não vinha nos jornais! No Jornal do Comércio ficava a par do movimento dos navios que iam a este, ou àquele, porto “se convier”. Eu lia com interesse e algum divertimento o Boletim de Informações quando eles anunciavam “Lugares vagos e a concurso”. Achava piada à frase.
Enfim, leitura era coisa que não me faltava e, de vez em quando, ainda ia à Biblioteca do Jardim da Estrela, nos furos do horário escolar, passar a vista por alguma revista mais atraente. Isto quando já andava no Ciclo Preparatório, na Manuel da Maia.
Não tinha telemóvel com jogos, nem “playstation” e ia a correr atrás, ou à frente, do eléctrico, calçada da Estrela abaixo, para poupar 5 tostões!
E , garanto a mim mesma que foi mais feliz que muitos meninos de hoje ,João . Não que eu tenha saudades dos tempos de antigamente na sua totalidade ... ,mas porque acho que o gosto pela leitura é fundamental na formação de qualquer jovem . Sabe , se calhar o ar das terras da velha Egitânia dão esse gosto pelos livros ! Também eu comecei a ler ,escrever e fazer contas com 4anos e chorava quando via passar as outras crianças para a Escola . Era de tal maneira a choradeira que o meu pai acabou por fazer um requerimento ao M.E. para me autorizar a entrar sem ter idade ....Fi-lo gastar um dinheirão , naquela época ... Foi um amor para toda a vida -quis sempre ser professora e nunca me arrependi . No domingo passado ,estive na Casa do Concelho e estava lá uma senhora que era então continua na minha Escola . Abraçando-me dizia : era a mais novinha mas sabia muito , até tinha ,por isso atada à carteira um laço de fita que a D. Emília ( a minha professora ) lá tinha posto por isso ! Já nem me lembrava e fiquei até envergonhada !
ResponderEliminarMas que falta de modéstia a minha ... ou será do ar da Egitânia ?!
Quina
Abençoado tio esse, que soube canalizar as suas potencialidades para a leitura. Ao ver as imagens, foi bom recordar os livros onde também eu iniciei a minha aprendizagem.
ResponderEliminarBeijinhos
Lourdes