“CREOULA” e “SANTA MARIA MANUELA”
![]() |
Em construção, os dois irmãos, lado a lado. "CREOULA", à esquerda, na carreira nº 2 e "SANTA MARIA MANUELA", à direita, na carreira nº 1 |
em http://lmc-creoula.blogspot.pt
Aproveitando
a preia-mar, pouco depois das 16 horas, nesse dia foi lançado ao Tejo o lugre
CREOULA, acabado de construir para a Parceria Geral de Pescarias e destinado à
pesca do bacalhau.
Uma
depressão na Biscaia condicionou o estado do tempo nessa tarde, num dia com
algum vento, instabilidade e chuviscos. Tal não obstou à realização de uma
grande festa, pois além do nosso CREOULA procedeu-se ainda ao lançamento do seu
gémeo SANTA MARIA MANUELA.
![]() |
O "SANTA MARIA MANUELA", na carreira nº 1, perante a ansiedade dos presentes, aguarda a entrada nas calmas águas do rio Tejo! |
Um dos
privilégios de me dedicar à história dos navios é poder viajar no tempo, pelo
que estive lá. Logo pela manhã ultimaram-se os trabalhos decorativos para a
cerimónia do lançamento dos navios. Quando pouco depois das 15H30 começaram a
chegar ao estaleiro as entidades oficiais convidadas, já lá se encontrava uma
grande multidão, com destaque para as centenas de operários do estaleiro.
Uma
companhia de Marinha, do Navio-escola SAGRES, com a respectiva banda, prestava
a guarda de honra. O Chefe do Estado, General Óscar Fragoso Carmona presidiu ao
lançamento do CREOULA, tendo-se registado o cerimonial de uso em tais actos.
O navio deslizou suavemente a carreira, levando a bordo engenheiros, contramestres e operários e foi depois rebocado enquanto um hídro-avião da Aviação Naval executava impressionantes evoluções, a banda da SAGRES tocava, as sereias dos navios em porto apitavam e a multidão se manifestava com entusiásticos vivas. O CREOULA entrou no Tejo com a maior felicidade.
O navio deslizou suavemente a carreira, levando a bordo engenheiros, contramestres e operários e foi depois rebocado enquanto um hídro-avião da Aviação Naval executava impressionantes evoluções, a banda da SAGRES tocava, as sereias dos navios em porto apitavam e a multidão se manifestava com entusiásticos vivas. O CREOULA entrou no Tejo com a maior felicidade.
Durante a
construção dos dois CREOULAS trabalhou-se no estaleiro dia e noite tendo
participado nos trabalhos 540 técnicos e operários. Segundo Alfredo da Silva,
responsável máximo da Companhia União Fabril e anfitrião por ocasião do
lançamento do CREOULA, "o navio foi construído com uma perfeição de
acabamento como não se faz já hoje (em 1937, claro) no estrangeiro, onde se
quer principalmente produzir depressa e barato." Passados 74 anos o
CREOULA navega orgulhosamente ao largo de Sesimbra, confirmando Alfredo da
Silva...”
Mais apressado, 15 minutos antes, já o “SANTA MARIA MANUELA” tinha descido
a carreira e baloiçava o seu casco nas águas do Tejo.
E, no dia 30 de Junho de 1937, após a bênção da frota bacalhoeira, o
“CREOULA” e o “SANTA MARIA MANUELA” e alguns mais, partiam rumo à Terra Nova e
Groenlândia!
Como embarcações gémeas, as suas características principais são quase idênticas.
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS:
Armador : Parceria Geral de Pescarias / Empresa de Pesca de Viana, Viana do
Cast. ( * )Assentamento da quilha: 03/02/1937
Lançamento: 10/05/1937
Entrega: Junho de 1937
Construção: nº 32 e nº 33 ( * )
Comprimento fora a fora: 67,365 m / 62,830 m ( * )
Comprimento entre pp : 52,765 m
Boca : 9,90 m
Pontal : 5,94 m
Calado : 4,15 m
Aguada : 120 ton
Deslocamento máx.: 1055 ton
Deslocamento leve: 818 ton
Potência: 480 BHP
Velocidade máx.: 6 nós
( * ) Estas anotações, referem-se ao “SANTA MARIA MANUELA”
Ambos foram construídos em chapa de aço, destinada à construção de dois
navios de guerra que por algum motivo não chegaram a ser construídos (terá sido
porque o dinheiro, como de costume, era escasso ou, porque o Estado Novo ainda
tinha bem presente que um dos navios, de construção bem recente, o “Dão”,
esteve “metido” na “Revolta dos Marinheiros” e não havia que dar “armas” ao
“inimigo”?).
Efectivamente havia relativamente pouco tempo (entre 1932 e 1935)
que ali mesmo, naquelas carreiras, haviam sido construídos os contratorpedeiros,
"Tejo", "Dão" e "Douro".
![]() |
Na foto, na carreira nº 1, o que terá sido a construção de um dos contratorpedeiros |
O "SANTA MARIA MANUELA", dir-se-ia que mudou de nome à vista da “pia baptismal”!
Estava-lhe destinado o nome de “ARGUS” mas, ainda na carreira de construção,
mudou de pai, foi cedido à Empresa de Pesca de Viana, Viana do Castelo, que
entendeu por bem mudar-lhe o nome para “SANTA MARIA MANUELA”. Questão de
devoção? Ninguém sabe! Porém, parece ter sido por iniciativa de Vasco Albuquerque d'Orey, que o baptizou com o nome da sua esposa, Maria Manuela.
Entretanto o Estaleiro atravessou períodos críticos, tais foram as várias
carências, de materiais e equipamentos, devidas à 2ª Guerra Mundial, bem como
surtos grevistas, o mais importante dos quais teve lugar de 26 a 29 de Agosto
de 1943, greve de braços caídos que alastrou da Caldeiraria e Fundição a todo o
Estaleiro, paralisando-o. Após muitas prisões, alguns reocuparam os seus locais
de trabalho mas outros continuaram presos, foram deportados e outros ainda,
mortos. Só depois de terminar a Guerra, os trabalhadores obtiveram aumentos de
salário e reforço de ração de pão.
Outra importante greve, ocorreria nos dias 12 e 13 de Novembro de 1969.
Das greves, após o 25 de Abril de 1974, não irei falar pois ainda me estão
frescas na memória e não me deixariam elaborar um texto de modo a não molestar
ninguém e o que me levou a escrever o presente documento foi apenas e só o
desejo de que a memória dos homens não seja fraca e relembre os sacrifícios e
as obras do passado!
(continua)
(continua)