(Devido aos problemas do meu computador e à impossibilidade de colocar este "post" no próprio dia 18, embora não tenha o impacto mediático do passado dia 11, aproveitei uma "boleia" amiga e aqui o estou a colocar já hoje).
Este dia deve ter sido previsto uns 8 anos antes. Mais propriamente desde o ano em que nasci!
Deu-se o caso de que no ano em que nasci:
O Sporting ganhou o Campeonato de Lisboa de Futebol.
O Sporting, ganhou o Campeonato Nacional de Futebol.
O Peyroteo marcou 29 golos.
O Sporting ganhou a Taça de Portugal, em Futebol.
O Sporting ganhou o Campeonato Nacional de Atletismo, em pista.
O Sporting ganhou o Campeonato Regional de Andebol, de Onze.
Francisco Inácio e o Sporting ganharam a Volta a Portugal em bicicleta.
Francisco Inácio ganhou a corrida Porto/Lisboa.
João Lourenço foi, pela primeira vez, campeão nacional de velocidade em pista, em amadores. Iria ser campeão, consecutivamente, até 1949!
Era tudo verde! Até os Óscares foram para o filme “O Vale Era Verde”, do John Ford (mais um João, este americano)!

Com todos estes acontecimentos, eu só podia ter “encarnado” (salvo seja) num fervoroso mini adepto “verde”. E foi assim que os acasos da minha vida trouxeram até mim (sim, não fui eu procurá-los) dois dos maiores futebolistas daquela época e de sempre, o João Azevedo, um dos nossos melhores guarda-redes, senão o melhor de sempre e o Peyroteo, um dos nossos melhores avançados.

Hoje, seria como estar com o Figo ou o Cristiano Ronaldo e em minha casa, vejam lá. Tudo isto por interpostas pessoas, essas sim fervorosas adeptas e conhecedoras também da minha “devoção”. Com o primeiro, tinha eu uns 6 anos, mantive uma conversa com ele, acompanhado dum exemplar da revista “Stadium”, procurando saber do seu estado de saúde pois tinha saído duma grave lesão. Com o segundo, talvez nos meus 7 anos, conheci a que iria ser sua esposa e ao seu colo fui debitando os nomes dos jogadores da equipa dos “5 violinos”, tendo o cuidado de, quando cheguei ao nº 9, ter “dobrado” a língua e dito, o sr. Peyroteo. Com 4 ou 5 anos, ainda sem sequer saber ler, eu conhecia os “bonecos da bola”, do Sporting, de tal modo que bastava mostrarem-me os jogadores da cintura para baixo e não falhava um!
Posto isto, valeram-me uns outros fervorosos adeptos ao convidarem-me para me deslocar a Lisboa (eu morava no Algueirão), para no Estádio Nacional assistir a um jogo de futebol. Imaginem qual!

Nem mais nem menos, um Sporting-Benfica! Era o máximo! Não cabia em mim de contente, seria o meu primeiro jogo, ao vivo e a sério. No Algueirão já tinha assistido a alguns, com o Pêro Pinheiro, o Montelavar, o Sabugo e outros mas isso era num campo pelado e sem a emoção dos grandes jogos, se bem que eu vibrasse sempre com eles pois até podia ser um jogo de solteiros e casados que eu lá estava!
Chegado a esse dia, após o almoço, sem pressas porque o jogo principal ainda era antecedido dum jogo das reservas dos mesmos clubes e, por conseguinte, só necessitávamos de estar no Estádio lá para as 17 horas, os meus vizinhos puseram o carro a trabalhar, depois dumas boas voltas da manivela, que antigamente era assim e estávamos prontos para a viagem. Saímos, pela estrada poeirenta, direitos ao Algueirão de Cima, onde entrámos na estrada de Lisboa-Sintra. Passámos à Baratã, à Tala, Meleças, Belas e tudo eu ia observando uma vez que para Lisboa só conhecia a linha do comboio.

Cerca das 4 e meia chegámos ao Estádio, ainda sem muita gente e lá fomos para a bancada do topo norte, atrás duma das balizas. Aquilo sim, era um campo de futebol, à séria! Decorria o jogo de reservas e eu só tinha olhos para aquelas camisolas às riscas verdes e brancas. E lá estavam, o Tormenta, o Silvestre, o Ismael e outros que não eram do meu conhecimento. Terminado o jogo de reservas, penso que empatado 0-0 mas isso era o que menos importava, ficámos a aguardar pelo prato forte. Entretanto, ainda com o jogo de reservas a decorrer, diziam alguns: “Olha eles, já ali estão!” e eu lembro-me de ver, junto ao muro em volta do campo, entre outros, o Moreira e o Rogério. Estavam a chegar e daí a pouco todos entrariam, para gáudio da multidão!
E, quando o jogo começou, o Sporting alinhou com o Azevedo, Passos, Juvenal, Canário, Manuel Marques e Veríssimo e ficámos a saber que os “5 violinos” não estariam todos. Jogavam, Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Albano e faltava o Travaços, em virtude duma das suas já costumadas lesões. Quem o ia substituir seria o “Rola”, moço esguio, vindo do “Estarreja” e que se esperava fosse um bom substituto para o Peyroteo, que estava de saída e que, ficámos depois a saber, esse seria o seu último jogo oficial.
A primeira parte decorreu sem muitas preocupações, o Azevedo estava ali mesmo naquela baliza, perto de mim e o Benfica não atacava muito. Da outra baliza, a do Benfica eu pouco sabia o que lá se passava. Ficava lá ao fundo e bastava-me ver alguma coisa e ouvir o bruaá da multidão. Veio o intervalo e fomos até ao bar, desentorpecer as pernas e aliviar as vias urinárias. Aqui já se podia ver que o pessoal era bastante pois tornava-se difícil atravessar no meio do aglomerado de pessoas, todas a quererem atingir os mesmos objectivos.
Começou a 2ª parte e, agora, era a baliza do Benfica que estava ao pé de mim. Agora é que ia ser! Mas apesar das investidas do ataque do Sporting e do Peyroteo, em particular, às redes do Benfica, defendidas pelo Rogério Contreiras, o tempo ia passando e aparte umas cargas mais duras do Rogério sobre o Jesus Correia, que o faziam estatelar-se na pista de cinza (eles que até eram amigos), nada havia a assinalar. Estava a sentir-me defraudado mas, eis senão quando, a um mísero minuto do fim, só tive tempo de ver, quase no meio campo, sobre o lado esquerdo um molho de jogadores e, de lá de dentro, sair uma bola que parecia um foguete em direcção à baliza “encarnada”. O Contreiras mete as mãos à bola mas, ou pela força que ela trazia, ou por azelhice, a bola entrou na baliza. Foi gooooolo!!! Grande pontapé, do Veríssimo!
E enquanto eu ria e pulava de contente, o azarado do Contreiras, de boné na cabeça, só fazia era esfregar os olhos e queixar-se que teria sido por causa do sol. E, se calhar, até foi, mas ainda bem!
Quase de seguida acabou o jogo e eu todo inchado. Tinha visto o Azevedo e o Peyroteo, o Sporting tinha ganho e com essa vitória tinha assegurado a conquista da “Taça Preparação”! Tudo isto, num só dia!
O sol ia-se escondendo, saímos do Estádio, ainda parámos num café junto ao Colégio Militar e era já noite quando fizemos o retorno a casa. Eu, tinha ganho o dia e não o iria esquecer. De tal modo, que já tenho corrigido alguns afamados cronistas da nossa praça quando ignoram tal jogo. Claro que não posso deixar passar tal falha. Seria quase como dizerem-me que esse dia não tinha existido! Era o que faltava!
Hoje, ainda “verde”, mas mais “maduro”, lembro o tempo em que o desporto, principalmente o futebol, era outro, talvez um pouco ingénuo mas mais verdadeiro e em que eu, e a grande maioria, “corria a foguetes” porque a festa era, realmente, popular.