
NOITES DE JUNHO NAS TERMAS DE MONFORTINHO
A água azul da noite filtra estas estrelas familiares, e tão distantes!, a lua, quase amarela, anuncia mais uma trovoada para amanhã; adolescentes, que soltaram as tranças, pulam a fogueira de São João; e a grafonola manhosa, que às vezes repete incansavelmente uma só palavra perdida, fez voltear dez pares no terreiro de baile improvisado, junto da estação de serviço. A noite cheira a flores, a essas flores brancas, suaves, adocicadas, do Parque da Fonte Santa. Nos fins do mês de Junho, diminui o afluxo de aquistas às Termas de Monfortinho. E, contudo, a avaliar por este ano não deve haver melhor época para banhos e repouso, com tempo sereno e morno, que uma ou outra trovoada breve não deixa aquecer em demasia: os montados fronteiriços, quietamente dramáticos, os trigais de um louro torrado, os visos rochosos e os fundos verdes da mata que conferem às Termas a sua dignidade, recortam-se na mais pura atmosfera que se possa imaginar, rival das terras secas do leste mediterrânico reportadas pela sua claridade imarcescível.
Até a voz da Amália, esta noite, aqui chega. Algures, numa vivenda de persianas já cerradas ou numa das muitas pensões onde a luz continua a palpitar, magicamente essa voz, envolta em febre, nasce, brusca, fonte de tristeza exaltante, corre pela noite tépida, e fere: “Ao menos ouves o vento” “Ao menos ouves o mar!”.
As raparigas dançam, mesmo umas com as outras, à falta de varões, embora daqui não tenham seguido muitos para o Ultramar. O estridor dos “paso-dobles”, vindo do lado de lá da fronteira, cornetim de bilhetes postais de há vinte anos, abafa o lamento que a grande trágica do fado arranca deste poema tão belo do David Mourão-Ferreira.
A iluminação das Termas de Monfortinho, que se vê de muitas léguas em redor, recompõe as casas, as árvores, que ficam poalhadas de ouro, matéria escultórica de um luxo fugadíssimo, embebido de noite, desta mesma noite plena de grilos, de ralos, de gritos de pássaros, da respiração olente da terra, do chiar do saibro sob os passos...

Se a hora é de atenção ao turismo no domínio económico, não há dúvida de que esta terra privilegiada pela natureza, que a dotou, ademais da beleza, com águas que tantos males suavizam e curam (os hepáticos que o digam e os reumáticos, os nefríticos e, entre outros pobres de Cristo ou ricos pobres pelas maleitas, os que padecem de dermatoses e alergoses), estas Termas de excepcional encanto e virtude merecem, de facto, a melhor das atenções, para que depressa se convertam no centro internacional que nos parece ser o seu próximo destino.
Joâo , belo texto que culmina com o nosso já "quase " eterno problema...muitas auto-estradas ...mas tudo longe de nós . A eterna espera pelo dito IC31...Até quando..
ResponderEliminarMuntas vesitas
Quina