quinta-feira, 21 de julho de 2011

Da origem e nome de Salvaterra.(“Recanto da pátria que até no nome é bonito”)



Depois da campina de Idanha,
do Extremo se chama a terra,
altiva, mirando Espanha,
conhecem-na por Salvaterra!

Salvaterra, que linda terra és!
Sem ver, ninguém se acredita.
Com o Erges, correndo aos pés,
até nesse teu nome és bonita!


Na origem deste topónimo, estará o facto de assinalar um ponto estratégico de defesa que permitiria aos povos, quando atacados, procurarem nele um refúgio seguro. Era uma “terra de acolhimento” ou de “pôr a salvo”, daí o nome de Salvaterra. Terá razão de ser, se se pensar que os mouros invadiram a Península Ibérica pelo sul, empurrando os cristãos para norte e Salvaterra, a norte da linha do Tejo e a quem os mouros chamavam de Sariuta, era por eles considerado um reduto difícil de conquistar.
“Recanto da pátria, que até no nome é bonito”, nas palavras de Miguel Torga, quando se fala de Salvaterra, o mais comum, em Portugal, é as pessoas pensarem em Salvaterra de Magos. Porém, além desta, há também Salvaterra, na Galiza, que se chamou ainda Salvaterra do Minho ou Salvaterra de Portugal. Isto provoca alguma confusão porque, na documentação antiga, todas são, a grande maioria das vezes, referidas apenas como Salvaterra. Fica, pois, ao leitor, o cuidado de descobrir a qual se refere. Tal facto originou enganos até nos historiadores de várias épocas. Portanto, é um topónimo que, facilmente, nos leva a concluir que identifica lugares destinados à defesa das fronteiras dos vários territórios. Por exemplo, em Espanha, onde pelo menos, existiam ao tempo, Salvatierra de Barros, a sul de Badajoz; Salvatierra de Calatrava, perto de Ciudad Rodrigo e entregue à Ordem de Calatrava; Salvatierra de Santiago, perto de Cáceres e entregue à Ordem de Santiago; Salvaléon, também é um nome bastante elucidativo. Estas quatro defendiam o reino de Leão dos ataques dos almóadas. Salvatierra de Alava, na fronteira de Castela com Navarra; Salvatierra de Esca, a norte de Saragoça, defendia a fronteira cristã já na época de Ramiro II. A já referida Salvatierra da Galiza, ou de Pontevedra, na margem direita do Rio Minho, defendia a fronteira entre Portugal e Espanha. Também, em Itália e França (Sauveterre), este topónimo aparece referenciado. O certo é que em 1560, durante o reinado de D. Sebastião, no mapa de Portugal, de Fernando Álvaro Secco, reconhecido como sendo o mais antigo, das poucas terras nele referenciadas, lá aparece escrito, apenas e só Salvaterra, embora já desde 1310 tivesse passado a chamar-se Salvaterra da Beira e foi em 1578 que, fazendo jus à sua posição geográfica e a mostrar quanto estava afastada dos desígnios do poder central, passaria a ser conhecida por Salvaterra do Extremo. Ao longo dos tempos, com a dificuldade de acessos, foi ficando isolada do resto do país e tornada “terra do volta atrás”. Do Extremo foi ficando, cada vez mais, apesar de, em 1910, estar previsto e já adjudicado o ramal de caminho de ferro (qual TGV daquela época) que lhe iria dar notoriedade. A República chegou e o ramal foi mais um sonho que se esfumou. E aquela que foi “terra de pôr a salvo” e de acolhimento de tantos, foi deixando sair os seus filhos por não ter condições para os sustentar. Estes, no entanto e apesar do verso “Salvaterra me desterra”, não a esquecem e sempre que podem recolhem a ela para a acarinhar e repousar no seu regaço, por alguns breves momentos ou esperando nela o fim dos seus dias!
E, é esta a minha terra!

7 comentários:

  1. Muito boa tarde João,mais uma bela narrativa sobre "Salvaterra do Extremo"
    Bem haja por me corrigir quanto á citação do Raul Solnado,falha minha,mas eram dois grandes homens.
    Um óptimo fim de semana,felicidades
    Ana

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  2. João , bela lição de História ...Pena foi que o dito ramal não tivesse sido construído . Certamente , o nosso concelho teria recuperado fulgor e perdido menos gente . Quando será que os senhores do poder se lembram de nós ?
    Muntas vesitas
    Quina

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  3. Olá, Ana!
    As correcçõs, se for caso disso, são para ser feitas, não tem que agradecer. Se tiver que me corrigir, não se acanhe...
    Tenha passado, também, um bom fim de semana.

    Abraço,
    João Celorico

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  4. Olá, Quina!
    Eu, cá vou tentando pôr a minha terra, mais à vista...
    Quanto ao ramal, talvez fosse bom mas,com tudo o que vai acontecendo, era bem capaz de ser um modo de fugir mais depressa?
    Lembrar-se de nós, eles lembram-se mas, normalmente, é pelas piores razões. Já noutros tempos, antes de eleições, os topógrafos punham bandeirinhas como que a marcar trajecto de futuras estradas e, logo a seguir às ditas, lá desapareciam as bandeirinhas e a estrada para Salvaterra ia esperando. É só ver o Diário das Sessões, das Cortes. A conversa dos deputados é sempre a mesma e alguns devem mesmo ter uma forte carga genética pois os apelidos mantêm-se ao longo dos tempos. São, decerto, os predestinados...

    Abraço,
    João Celorico

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  5. Ana e Quina,
    Como eu digo acima, as correcções são para ser feitas e não as "correcçõs".

    Também, ..."era bem capaz de ser um modo de fugir mais depressa!"

    Abraço,
    João Celorico

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  6. Amigo João,
    Hoje, também é Salvaterra o meu “refúgio seguro”. É lá que me sinto bem, em paz e harmonia. É para ela que fujo sempre que posso, e penas tenho, de não poder “fugir” mais vezes.
    É para ela que corro, apressada quando vou, e é dela que parto com tristeza quando venho.
    Quanto à confusão dos nomes, até meu filho já passou por isso este ano, numa certa aula de História. Quando logo no início, a professora falou do tratado de Salvaterra, acordado em 1383, celebrado entre Portugal e Castela para dar por terminadas as Guerras Fernandinas, o miúdo passou o resto da aula a matutar naquilo. Em vez de esclarecer a sua dúvida com a professora, não. Ficou ali a pensar naquilo, e que nunca tinha ouvido falar disto em Salvaterra. Até que no fim da aula a professora falou de maneira mais completa e acrescentou: “Salvaterra de Magos”.
    “-Ah! Agora já percebi!” – diz ele em voz alta e finalmente esclarecido.
    “- Mas não tinhas percebido o quê, Tiago?” – pergunta ela, admirada.
    “- É que há outra Salvaterra em Portugal, Salvaterra do Extremo, a terra dos meus avós. Sabia?” – pergunta ele orgulhoso.
    “- Não conheço!” – responde a professora.
    E aí, foi o aluno que ensinou à professora onde fica esta Salvaterra que nos dá tanto orgulho: Salvaterra do Extremo, Distrito de Castelo Branco, mesmo junto à fronteira com Espanha.
    Mas ao procurarem no mapa de Portugal, afixado na sala de aula, esta terra pequenina, que para nós é tão grande, não vinha mencionada…
    Um abraço!

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  7. Pois é, Cristina, o moço que não se aflija muito, porque eu, ainda até há bem pouco tempo, me custava a acreditar que tivesse sido em Salvaterra de Magos. Fazia mais sentido que tivesse sido numa terra de fronteira pois era aí que eles se guerreavam. Mas, realmente, foi em Salvaterra de Magos.
    As confusões, como eu já disse, até se dão com historiadores ou meros curiosos interessados. Acontece que, por via disso, me desloquei ao Museu Militar, para ver um tal quadro onde estava representada a Tomada de Salvaterra, em 1643, o que era considerado aí em Salvaterra e até por um estudioso da Zarza, como sendo Salvaterra do Extremo. Ora, se mais não fosse, bastava olhar para o quadro para ver que não podia ser Salvaterra do Extremo. Se fosse pintado por mim, eu não deixava de reprentar, ao longe o castelo de Peñafiel. O facto é que representa sim a tomada de Salvaterra da Galiza, que depois de tomada chegou a ser Salvaterra de Portugal, porventura para não se confundir com as já existentes.
    Mas, há mais confusões, pode crer!
    Quanto a procurar no mapa, também eu ficava desiludido. Restava-me a consolação de ver o Erges, primeiro rio a dar as boas vindas ao Tejo.
    Isso também é que me leva a pesquisar e a dar a conhecer aquilo que vou encontrando.

    Abraço e boas férias,
    João Celorico

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