O pessoal da 10ª Repartição
Não quero aqui deixar de referir todo o pessoal de que me recordo e de
igualmente lembrar toda a amizade e especial carinho que recebi, praticamente
de todos com quem convivi. Isso talvez, também, por alguma consideração ao meu
pai que ali ingressou em 1947 e soube granjear essas mesmas amizades:
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José Celorico
Para mim o funcionário "mais importante" da 10 ª Repartição! |
Chefe da 10ª Repartição:
Eng. José de Sousa Saraiva Cabral, a quem devo conselhos, apoio na procura
profissional e sempre que a ele recorria.
Agentes Técnicos de Engenharia:
João de Sousa Costa
Manuel Roque, que promoveu a admissão do meu pai, em 1947.
Manuel Serra
Oficial Maquinista:
Pires
Encarregado Geral:
António Ferreira. Cerca
de 35 anos. Tinha sido torneiro mecânico.
Desenhadores:
Eduardo Eurico dos Santos. Desenhador chefe.
Rui Almeida (“Ruizinho”).
Cerca de 25 anos.
Luís. Talvez 20 anos. Tirou o curso de Máquinas Marítimas da Escola Náutica e
embarcou num butaneiro, o “Cidla” ou o “Bandim” e logo na sua primeira viagem
teve o azar de andar à deriva na Biscaia e em risco de explosão.
Contabilidade:
Albano Fernandes. Cerca de 50 anos. Era o Chefe da Contabilidade. Foi Presidente
da Assembleia Geral do Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Mantas. Cerca de 25 anos
Soares. Cerca de 25 anos. Irmão de José Mário, jogador de basquetebol do
Sporting.
Mário. Cerca de 25 anos. Era do Barreiro
Saraiva. Cerca de 25 anos. Suponho que tinha antecedentes na Caldeiraria, talvez
soldador. Como tinha regressado da vida militar e dum Sanatório, estava agora
no escritório. Julgo que era familiar do Eng. Saraiva Cabral.
Fernando Catalão. Cerca de 35 anos. Era um torneiro que tinha
regressado de internamento num Sanatório e agora estava também no escritório.
Também morava no Barreiro.
Contínuo (Vigilante Principal):
José Celorico (meu pai). Como é lógico e natural, para mim, era
o elemento mais “importante” na estrutura da Repartição!
Fiscalização:
Completo. Era o chefe da
Fiscalização e o mais velho de 3 irmãos também da 10ª Repartição. O do meio
estava na Caldeiraria e o mais novo, pequeno e franzino, estava a bordo dum
rebocador.
Manuel Afonso Ligório. Cerca de 45 a 50 anos.
Victor. Vinte e poucos
anos.
“Jorginho”. Vinte e
poucos anos. Era filho do marinheiro que normalmente manobrava a Ponte
Giratória.
Contínuo. Não me recordo
do nome. Tinha sido polidor de móveis.
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A mesa principal dum almoço de confraternização
da esq. para a dir. (?); Eurico Santos; João Sousa Costa; Laureano; Zalpa;
Manuel Roque; António Ferreira; José Nunes Oliveira; (?) |
Oficina de Serralharia/Carpintaria/Ferramentaria
Mestres:
Laureano. 50 a 60 anos.
Zalpa. Mais de 60 anos. Gordo
e baixo. Parecia-me mais ligado ao equipamento flutuante
Escriturário/Apontador:
Jorge. À volta dos 60 anos. Gordo, cara redonda e olhos
pequeninos com os óculos na ponta do nariz. Ali passava o dia, sentado ao
“guichet” de atendimento.
Serralheiros em permanência na
oficina:
Ti’Carlos “Russo”. 50 e tal anos. Era o “enclave” do estaleiro da
CUF.
Zé (mudo). Vinte e poucos anos. Oriundo da Casa Pia, como é natural nos surdo
mudos. Era adepto do Benfica e mantinha acesas “discussões” com outro mudo, o
Jacob, que trabalhava na Caldeiraria.
José Nunes Oliveira, “Barreirense”. Era o meu oficial.
Cerca de 35 anos. Baixo e magro. Vivia e era natural do Barreiro.
Eu
Serralheiros mecânicos auto:
Manuel Joaquim. À volta
dos 30 anos. Jogava hóquei em campo no Atlético
Felizardo. Cerca de 25
anos. Era o ajudante.
Serralheiros de bordo:
Zé Maria. À volta dos 50 anos.
José Abreu . 30 e poucos anos. Era médio na equipa de futebol do Atlético.
Victor Lopes, “Piricas”. Cerca de 30 anos. Era o defesa esquerdo da equipa de futebol
do Atlético. Pessoa de bom trato e de certo modo indolente, ninguém diria que, em
campo, se transfigurava e o seu poder físico vinha ao de cima. Ainda antes de
eu ter saído da AGPL, foi transferido para motorista dum rebocador, talvez o
“Serra de Montejunto”.
Ponciano. Cerca de 30 anos. Morava na Graça.
Aurélio. Cerca de 35 anos. Boa pessoa, humilde, provinciano e algo ingénuo,
matriculou-se na escola industrial, no curso nocturno, e isso levava-o a que
tivesse que ter uma atitude de acordo com a de um aluno do 1º ano, miúdo e
pouco de acordo com a idade dele o que provocava a brincadeira dos colegas. Com
o feitio dele, um pouco envergonhado, tudo “suportava” pois sabia que todos
eram seus amigos.
Maldonado. Em idade de ir para a “tropa”, tinha sido meu colega no ano anterior no
4º ano da Escola Industrial Marquês de Pombal, onde foi um dos protagonistas
duma pequena “rebelião” em defesa do vendedor de castanhas. A conclusão foi,
devido à sua idade, ter ido dormir ao Governo Civil.
Carneiro. Também em idade de quase entrar na vida militar. Era filho do motorista
da Repartição. Desentendi-me com ele por coisa de pouca monta mas, para mim era
o suficiente e acabou ali o relacionamento. Feitio de miúdo!
Fernando Neves Costa. Talvez 18 ou 19 anos. Também era aquisição recente da oficina
de Serralharia. Era um de três irmãos, o do meio. O pai também trabalhava na
AGPL mas, suponho que em Santos. Dávamo-nos bem e por vezes éramos companhia
domingueira.
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Dia 2 de Setembro de 1962
Estádio da Tapadinha
Festa de homenagem a Vitor Lopes e Tomé, consumando assim o seu adeus aos relvados |
Torneiros:
Tomé. Cerca de 30 anos. Apesar do José “Barreirense” ser o meu oficial, foi o
Tomé o meu iniciador, o que já vinha da minha primeira passagem, quase um ano
antes, por aquelas oficinas. Ia tentando convencer-me de que aquilo da
“ferrugem” não era vida para mim. Não era saudável o ar duma oficina, dizia
ele. Escritório é que era bom. Aí, as pessoas eram tratadas como gente.
Entretanto, como ele jogava futebol no Atlético e via já o fim da sua carreira
futebolística, mantinha o sonho de embarcar num dos rebocadores, o que acabou
por conseguir, não ficando por aí pois tirou o Curso de Máquinas Marítimas da
Escola Náutica, depois de conseguir a admissão na mesma após uma extraordinária
“odisseia” que até meteu almirante Henrique Tenreiro e tudo. Foi sempre um bom
amigo!
José Ferreira Bispo. Cerca de 35 anos. Era o torneiro que alternava com o
Tomé. Irmão do encarregado António Ferreira. Devido a um acidente de viação
fracturou um braço e isso levou a que também eu começasse a ser “requisitado”
para alguns serviços menores, de torneiro. Teve, ao tempo, um problema com a
justiça. Diria que não era, propriamente, um exemplo de colega embora nunca
tenha notado problemas com ninguém, até porque ele era um pouco reservado.
Vasco Matos Duarte. 30 e poucos anos, era o torneiro do torno mais pequeno e das
obras mais miúdas. Não seria especialmente dotado mas era diligente e
confiável.
Rui (?). Em idade de entrar na vida militar. Bastante extrovertido. Estava,
então, no torno médio e mais antigo, a que chamávamos, "o carrocel", tal era o
barulho que ele produzia e as folgas que apresentava. Anos mais tarde
encontrei-o como motorista de táxi.
Carpinteiros:
José Clímaco, era o mais velho e seria encarregado. Era mais um que vivia no Barreiro.
Manuel Pires. Cerca de 40 anos. Era o
carpinteiro, marceneiro, mais qualificado e frequentemente assediado pelos
colegas para um qualquer “trabalhinho” que precisavam, “urgentemente”, lá para
casa. O meu pai também não era excepção à regra!
Escaravana. Cerca de 35 anos. Carpinteiro, mais de toscos. Praticava atletismo, era
lançador de peso. Não sei se era no Belenenses se nos campeonatos corporativos
na FNAT. Foi porta-bandeira na inauguração do recinto desportivo da Casa do
Pessoal da AGPL.
Chico. Cerca de 35 anos. Baixo e forte, era o outro carpinteiro, marceneiro.
Morava na Ajuda.
Belmiro. Cerca de 35 a 40 anos. Carpinteiro de machado. Como carpinteiro,
propriamente dito, era apenas um ajudante, sobre o fraco. A sua qualidade
mental também não parecia ser de grande monta. Era um apaniguado do Benfica,
dos chamados “doentes”!
Manuel Neves Costa. Cerca de 25 anos. Ajudante, humilde e pouco activo. O mais
velho dos 3 irmãos Neves Costa. Aos domingos de futebol em Alvalade, tentava
aumentar o seu parco vencimento, vendendo, bebidas e outros “mantimentos”, para
entreter os adeptos durante o intervalo dos jogos.
Electricista:
Jacinto. Cerca de 25 anos. Alegre e extrovertido. Bom
colega. Algo vaidoso, iniciou-se na prática do culturismo e cultivava a sua
imagem. Isso era o suficiente para ser o motivo de paródia dos amigos. Incauto
e crédulo, ia caindo nas partidas desses amigos que lhe arranjavam encontros
com amigas “fictícias” para poderem gozar o prazer de o ver aperaltar-se e
muito cioso do seu segredo. Segredo que só o era até daí a algumas horas e que
seria motivo da risota no dia seguinte. Em 1957, foi trabalhar para Lourenço
Marques e eu “herdei” alguns dos “biscates” que ele estava a construir e já não
iria acabar.
Servente de Limpeza:
“Joãozinho”. 50 e tal anos. Boçal, nada conversador, ia
varrendo ou estando quieto e os dias iam passando.
Ferramenteiro:
Manuel Belfo. 50 e tal anos.
Terá vindo da Marinha de Guerra, talvez fosse sargento. Passando o dia dentro
da Ferramentaria, mantinha distância com a maioria do pessoal, pouco
conversando, fosse com quem fosse, se bem que não rejeitasse a conversa.
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De costas: Soares; José Celorico; (?)
De frente: (?); Zé, da Caldeiraria; Victor; José Abreu
Ao fundo, na outra mesa. O 1º à esq. Zé (mudo) da Serralharia e o 1º à direita (?) da Caldeiraria |
Oficina de Carpintaria
Naval/Defensas
Carpinteiros
Manuel “Calafate”. Cerca de 60 anos. Como a alcunha indicava, era calafate.
Chico. Cerca de 35 anos. Alentejano, magro, de bigodinho e cabelo encaracolado.
Constantino. Cerca de 35 anos. Morava na Ajuda.
Diamantino Neves Costa. Talvez 18 anos. Era o irmão mais
novo dos Neves Costa. Trabalho para ele era um frete.
Vestiário:
Não me recordo do nome do vigilante, era o pai do José Abreu
Edifício da Oficina de
Caldeiraria:
Caldeiraria:
Completo. Cerca de 35
anos. Era o irmão do meio.
“Viana”. Cerca de 40
anos. Penso que seria de Viana do Castelo.
Zé (?). Talvez 18 anos.
Já o conhecia da Escola Industrial Machado de Castro.
Jacob (mudo). Entre os 25
a 30 anos. Gostava muito de “conversar” comigo pois era adepto do Sporting.
João. Devia ter
regressado da tropa e daí a uns tempos foi para o escritório. Estive a ajudá-lo
durante as, talvez, duas semanas que me fizeram passar pela Caldeiraria.
Hipólito. Cerca de 20
anos. Foi trabalhar para Lourenço Marques onde, em 1964 ou 1965, o encontrei.
Soldador: (?). Cerca de
50 anos. Não faço ideia do nome. Tinha pouco contacto com ele.
Fundidor: (?). 40 e tal
anos. Conhecia-o melhor mas também não recordo o nome.
Pintor: Mário.
Cerca de 35 anos.
Mergulhador: (?). 40 e
tal anos. Forte e relativamente baixo. Recordo que com ácido clorídrico, limpei
a oxidação dos componentes do capacete de mergulho, para que tudo ficasse
amarelinho.
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De frente: (?); José Celorico; "Joãozinho"; Manuel Joaquim; Belmiro; (?)
De costas, não conheço. |
Picagem:
José do Rosário Sotero.
Cerca de 35 anos. Era o Encarregado.
Fernando. Cerca de 30 anos. Era o adjunto do Encarregado.
Moços de picagem:
“Seixal”. Morava no
Seixal, como é natural.
“Matateu”. Nos
anos 70, era encarregado na “Lisnico”
“Lambreta”. Miúdo,
franzino, provinciano e diligente, dei-me bem com ele e ainda hoje o vou
encontrando, agora muito mais gordo.
Leonel. Também estudava
na Marquês de Pombal e passou para o escritório.
Relativamente aos “moços de picagem”, que eram mais uns quantos, cumpre
dizer que eram considerados uma espécie de rapazolas pouco menos que vadios,
muito embora de lá tenham saído alguns que demonstraram o contrário, cumprindo
como que um processo de regeneração. No fundo eram rapazes que, apenas com as
habilitações básicas, eram aproveitados para os trabalhos de limpeza e menos
qualificados.
Fica por aqui a minha descrição do pessoal da 10ª Repartição da AGPL.
Seguem-se factos da minha vivência.
(continua)