domingo, 15 de janeiro de 2012

"Angola" , já foi ... nome de navio ! ( 1 )

A vida dum navio é idêntica à de qualquer ser humano. É construído com mil cuidados. Depois de concluído é colocado no seu meio ambiente, a água, são-lhe feitas as provas de mar e é, por assim dizer, testada a capacidade para enfrentar as vagas, suaves ou alterosas, da sua vida. Melhor, ou pior, lá vai cumprindo, enfrentando o que a vida lhe vai dando, até ao dia em que já considerado velho, terá um tratamento de rejuvenescimento e servirá para acabar os seus dias, navegando em águas calmas ou, pura e simplesmente, qual eutanásia, será levado para abate, feito sucata. Ou, pior ainda, será deixado, abandonado à sua sorte, agonizando em qualquer fundo, mostrando o apodrecimento da sua pobre carcaça. Isto se, entretanto, não vir a sua vida encurtada por trágico acidente. Tal como na vida, afinal!

Posto isto, venho aqui trazer traços da história dalguns navios, cujo principal elo de ligação é o de terem o mesmo nome.
“Angola” é, então, um nome de navio com ... gente dentro!
Isto porque resolvi, juntar à história desses navios, alguma gente que neles viajou e que neles teve amores, desamores, alegrias e tristezas.  

Pelo menos desde 1881 que “Angola” tem sido nome de navio. Só em Portugal, a Companhia Nacional de Navegação fê-lo por quatro vezes, sendo as duas primeiras ainda com a designação de Empreza Nacional de Navegação.
No entanto, também no estrangeiro há conhecimento de, pelo menos, dois navios com esse nome.
Um deles, o “Viking II”, foi um navio baleeiro a motor, com 199 ton de tonelagem bruta. Construído em Tonsberg, em Setembro de 1914, para Kaldes Patentslip & Mek. Verksted, Tonsberg, Noruega. Casco em aço, 106,8 pés de comprimento entre perpendiculares, 21,6 pés de boca, 13,7 pés de calado e 207 toneladas brutas de deslocamento, tinha um motor a vapor de tripla expansão de 550 ihp. Ostentou o nome de “Viking II” até 1925, ano em que foi transferido para a Cia. Ballenera del Peru Ltda, Callao, Peru (A/S Tonsberg Hvalfangeri / Hans Borge, Tonsberg), agora com o nome de “Rio Chira”. Comprado por Hvalfanger-I/S Praia Amélia, Haugesund (Knut Knutsen O. A. S.), em Janeiro de 1928 começou a ser utilizado como navio estação junto à costa ocidental africana em Praia Amélia, perto de Moçamedes, Angola, arvorando então o nome de “Angola”. Esta situação manteve-se até Agosto de 1929 mudando o seu nome para “Suderoy III” o qual seria alterado, em Janeiro de 1937, para “Landanes” sendo reconvertido em arrastão, para em 1939 ser de novo reconvertido, agora em navio de turismo e de transporte de tripulações de navios que escalavam os portos da Escandinávia. Durante a II Guerra Mundial foi requisitado pela Kriegsmarine, servindo como “guard boat” em Stavanger sob o nome de “NS 09 Sindbad”. Por fim, no dia 6 de Abril de 1983, velho de quase 70 anos, após muitas reconversões, mudanças de nome e de dono (um dos quais vítima de bancarrota), esventrado, sem o motor que lhe havia sido retirado, agonizante, acabou por se afundar, perto de Svartskjaer off Harstad.

O outro, navio de carga a motor “Angola”, de 5.630 t dw, construído em 1954, nos estaleiros de Bremerhaven Rickmers – Werft, na Alemanha, para a A/S Det Dansk-Franske Dampskibsselsskab, companhia dinamarquesa, fazia carreira do Norte da Europa para África, destinando-se principalmente ao transporte de madeiras.
Foi lançado à água sob o nome de “Kirstine Toft”, desconhecendo eu a razão porque, parece, só com o nome de "Angola" ter começado a navegar.
"Angola"
"Kirstine Toft"






Era um navio com as seguintes características: comprimento de 392,5 pés; boca de 51,9 pés; pontal de 18,2 pés; 3.331 ton de tonelagem bruta; 1.649 ton de tonelagem líquida; 5.360 ton de deslocamento e um motor de 3.644 hp.
"Blue Diamond"
Talvez fruto de dificuldades por que já passaria a sua companhia, que fecharia as portas em 1978, foi vendido, em 1967, a uma companhia panamiana, Western Sg. Enterprises SA,  passando a ostentar o nome de “Blue Diamond”. Em 1979, vendido à empresa Duendes Navieros SA, também panamiana, mudou o nome para “Navieros”. Por último, em 10/03/1980, foi vendido a Tien Cheng Steel Mnfrg. Co. Ltd, passando a chamar-se BU “Kaohsiung”, não parecendo ser muito difícil adivinhar o seu triste fim. Aproximava-se o desmantelamento!

(continua)


(fotos retiradas da net: www.photoship.co.uk e 7seavessels.com )

                                              

2 comentários:

  1. Olá João
    Após mais uma pausa nos comentários, cá estou. Agora penso ter resolvido o problema do meu computador. Arrumei-o e, contra as indicações da Troika, comprei outro.
    Espero ter mais sorte com este.
    Curioso o percurso dum navio ao longo dos tempos. Há tempos visitei a "Sagres" e, nessa altura, apercebi-me que um navio tem muita história para contar. Aguardo o final do "Angola".
    Beijinhos com votos de boa semana.
    Lourdes

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  2. Olá, Lourdes!
    Também eu estou com problemas. Então não é que este "freguês" está a fazer-se esquisito e não me quer deixar aceder aos comentários?
    O facto é que metemo-nos nestas modernices e depois andamos às aranhas...
    Mas, a luta continua (e é contínua) e a vitória será nossa...
    Pois é, se cada navio falasse, teria histórias que, algumas, ninguém acreditaria...
    Quanto à "Sagres", que eu considero mais bonita que a actual, embora sejam as duas de ascendêcia germânica, poderá ainda ser vista no porto de Hamburgo, bem alindada e com o nome de "Rickmer Rickmers". Um mimo...
    As histórias dos "Angola", vai continuar...

    Abraço,
    João Celorico

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