sábado, 10 de novembro de 2012

Frei Lopo Pereira de Lima, governador de Salvaterra ... do Extremo ? Coincidência curiosa ou erro histórico ? ( 1 )


A coincidência de várias terras com a designação de Salvaterra (casos de Salvaterra de Magos, Salvaterra do Minho e Salvaterra do Extremo que também já foi só Salvaterra e Salvaterra da Beira), dá origem a algumas confusões nos relatos históricos que nos foram chegando.
Assim, vamos tentar decifrar o que se passa com a nomeação do Balio de Leça, para ... Governador de Salvaterra do Extremo!
De acordo com o livro “Memórias históricas da antiguidade do Mosteiro de Leça, chamada do Balio”, da autoria de António do Carmo Velho de Barbosa, editado em 1852, consta que:
Em carta de 2 de Outubro de 1645, o Balio, Fr. Lopo Pereira de Lima terá oferecido os seus serviços a D. João IV. Estávamos em plena consolidação da Restauração da Independência de Portugal. Consta, então, que o rei lhe terá respondido, nesse mesmo mês de Outubro de 1645 (terá sido a 15 de Outubro!), com palavras de muito apreço e afecto, nomeando-o para Governador de Salvaterra do Extremo. Algum tempo depois nomeou-o para governar a guerra do Sertão, em Pernambuco mas Fr. Lopo Pereira de Lima, escusou-se a tal nomeação, invocando a necessidade de ir a Malta render seu irmão, Fr. Diogo de Melo Pereira. No entanto esta escusa, e a ida a Malta, não teria outro objectivo que não fosse o de criar condições para ser nomeado para o Grã Priorado do Crato, ideia que já traria há algum tempo. D. João IV, porém, em carta datada de 4 de Julho de 1646, escrita em Alcântara (será, em Lisboa?) mostrando grande consideração, sempre lhe foi dizendo que estimava que o seu irmão se encontrasse de boa saúde e pronto a voltar ao reino para que ele, D. João IV, pudesse contar com pelo menos um deles, já que não podia contar com ambos. Bem “mexidos os cordelinhos”, a Ordem de Malta (da qual dependia o priorado do Crato) nomeou Fr. Lopo para Prior do Crato. Logo que disso teve conhecimento, o Rei não se mostrou assim tão cordato e tratou de impedir que tal nomeação se tornasse efectiva. Esta atitude do Rei, baseava-se em que ele mesmo pretendia esse lugar para o Infante D. Pedro (que viria a ser D. Pedro II).
Com a morte de D. João IV, voltou Fr. Lopo à carga fazendo diligências, junto de D. Afonso VI, para que os seus anseios fossem concretizados. Debalde o tentou pois que o Rei o honrou apenas com uma carta de louvor pelos seus serviços e de seu irmão, mas lhe proíbe “absolutamente de usar tal nomeação”, nem dalgum título que pudesse advir dela.
No entanto no seu epitáfio sepulcral que ele próprio mandou construir, lá está. “Aqui jaz Fr. Lopo Pereira de Lima, Gran Prior do Crato, Balio de Leça…”
Túmulos de Frei Lopo Pereira de Lima de seu irmão, Frei Diogo de Melo Pereira
(retirado de www.cm-pontedelima.pt)
Perante o que aqui nos é relatado, surgem-nos algumas dúvidas, pelo que vamos tentar relembrar o trajecto de Fr. Lopo Pereira de Lima, cavaleiro da Ordem de Malta, durante as Guerras da Restauração.

Frontispício do folheto "Relaçam da entrada que fizeram em Galiza
os Governadores das Armas da Provìncia de Entre Douro & Minho"
(retirado de www.cm-pontedelima.pt)
Em 9 de Setembro de 1641, aparece juntamente com seu irmão Fr. Diogo de Melo Pereira, também cavaleiro da Ordem de Malta e governador das Armas de Entre Douro e Minho, na entrada que se fez na Galiza, em Porto de Cavaleiros. Sempre acompanhando o seu irmão, defendendo as fronteiras do Minho, nelas se foi distinguindo, até que em 1644, ainda em data posterior a 17 de Maio, era Governador da Praça de Salvaterra. Esta Salvaterra, era chamada da Galiza, do Minho ou, depois de tomada, Salvaterra de Portugal.
Ora, no dia 2 de Outubro de 1645, Fr. Lopo Pereira de Lima escreveu carta a El-Rei D.João IV, à qual este respondeu no dia 15 desse mesmo mês, e segundo dizem alguns, nomeando-o Governador de Salvaterra ... do Extremo!
Tudo pareceria normal, se não aparecessem vários factos que me permitem duvidar desta nomeação.

(continua)

2 comentários:




  1. João , venho felicitá-lo pelos seus artigos .Acabei de ler agora no Raiano e se não se importa , vou coleccionando ..
    Parabéns !
    Quina

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Quina!
      O que me apraz nisto tudo, é que não me digam que ando "aos tropeções" num caminho que não é o meu!
      Ainda não recebi o "Raiano" e claro que o pode coleccionar, que é ... o que faço também com os seus artigos!!!

      Por tudo, bem haja!

      João Celorico

      Eliminar