terça-feira, 13 de novembro de 2012

Frei Lopo Pereira de Lima, governador de Salvaterra ... do Extremo ? Coincidência curiosa ou erro histórico ? ( conclusão )


São eles, por exemplo:
a)      Tudo leva a crer que Fr. Lopo Pereira de Lima, sempre se manteve nas lutas da fronteira minhota, na companhia de seu irmão. Em 1643, esteve na tomada de Salvaterra, praça de que era seu governador no ano de 1644 e cujo cargo  exerceu, pelo menos, até Maio de 1645. Tudo isto faz sentido.
b)      O que cria algumas dúvidas, é o porquê da nomeação, em Outubro de 1645, para governador de Salvaterra do Extremo, praça a que nada o ligava. E essas dúvidas não parecem ser esclarecidas quando se lê na “Nova Malta Portuguesa”, escrita em 1800, o seguinte:
“Nela lhe certificou o mesmo Sr. Rei D. João IV, ter recebido a sua carta de 2 do presente, dando conta do bom ânimo em que se achava de se empregar no Real Serviço, no governo dessa Praça de Salvaterra (do Extremo), de que o tinha encarregado, com o zêlo e cuidado com que até então o fizera na mesma Fronteira.”

Quando se diz “dessa Praça”, parece estar a referir-se a uma Praça na qual Lopo Pereira estaria. A colocação de “(do Extremo)”, parece ser uma interpretação do autor, pois não parece crível que esteja assim, entre parêntesis, no documento real, uma vez que é normal, nos documentos conhecidos, Salvaterra do Extremo ser identificada apenas por Salvaterra ou, por vezes, Salvaterra da Beira. Por último diz o autor também, “de que o tinha encarregado, com zêlo e cuidado com que até então o fizera na mesma Fronteira”. Diz “que o tinha encarregado” e não de que o ia encarregar. Diz “com zêlo e cuidado com que até então o fizera na mesma Fronteira”, quando é sabido que, “até então”, Lopo Pereira sempre o fizera noutra e não na “mesma Fronteira”!

Ora o que nos parece é que Frei Lopo Pereira de Lima, nunca terá sido nomeado Governador de Salvaterra do Extremo, mas apenas foi reconduzido no governo da praça de Salvaterra (de Portugal, do Minho, ou da Galiza, conforme as conveniências) que, embora se tenha mantido portuguesa até ao fim das guerras da Restauração, foi devolvida a Espanha.

Pedra de armas, seiscentista, com o brasão dos Pereiras, na Casa de Bertiandos
(retirado de www.cm-pontedelima.pt)
Já vimos, pois, que Frei Lopo Pereira de Lima que tanto ansiava o cargo de Prior do Crato, muito embora nomeado, nunca o pôde utilizar na sua plenitude com as mordomias a ele devidas.
Por outro lado, também se vê o quanto ele ansiava esse cargo e rejeitava tudo o resto. Se não, vejamos:
-         A sua carta de 2 de Outubro de 1645 obtém resposta de D. João IV a 15 do mesmo mês. Não se sabe qual a sua reacção a essa carta, mas julga-se não ter sido de muita satisfação. Já antes, no dia 7 de Julho, o seu irmão, Diogo de Melo Pereira, tinha enviado uma carta a D. João IV, pedindo licença para se deslocar a Malta, e para a qual obteve uma honrosa carta de permissão, no dia 5 de Novembro de 1645.
-         No entanto, Diogo de Melo Pereira, só em Maio de 1646, usou da licença que D. João IV lhe havia dado!
-         Entretanto, D. João IV resolve nomear Fr. Lopo Pereira de Lima para governar a guerra do Sertão, em Pernambuco, escusando-se este a tal nomeação, invocando a necessidade de ir a Malta render seu irmão.
-         D. João IV, porém, em carta datada de 4 de Julho de 1646, escrita em Alcântara (será, em Lisboa?) mostrando grande consideração, sempre lhe foi dizendo que estimava que o seu irmão se encontrasse de boa saúde e pronto a voltar ao reino para que ele, D. João IV, pudesse contar com pelo menos um deles, já que não podia contar com ambos.
-         Em Outubro de 1646, sabe-se que o governador da praça de Salvaterra do Extremo já era o capitão Simão Fernandes Faria.

Para terminar, talvez possamos concluir que a Lopo Pereira de Lima, que andava sempre na sombra do seu irmão, a partir de 2 de Outubro de 1645 e até, no máximo, ao mês de Julho do ano seguinte, só o norteava o ambicionado cargo de Prior do Crato. Portanto, mesmo que tenha sido Governador de Salvaterra do Extremo (o que me permito duvidar), foi um governador ausente, uma vez que nunca sequer é referido nalgum episódio de guerra ocorrido naquela terra.

Assim, Fr. Lopo Pereira de Lima, terá sido um Prior do Crato sem honras (honras de conde, ou ainda mais que isso), um Governador da Praça de Salvaterra sem se saber ao certo de qual Salvaterra e sem deixar rasto e poderia ser Governador da Guerra do Sertão mas, a sua ambição era outra! Aliás, a sua carta de 2 de Outubro parece fazer parte dum plano destinado a, previamente, obter as boas graças de D. João IV, de modo que a sua aceitação à nomeação do novo Prior do Crato fosse quase certa e não apenas para “oferecer os seus serviços”, que era coisa que ele vinha fazendo já desde 1641!

2 comentários:



  1. Olá João ,muito interessantes estes seus "documentos " , para a História do nosso concelho. Eles colocam-nos , inclusivo , várias questões que ,para quem tem o bichinho da História fica com vontade de investigar . Qual é a sua base de pesquisa , pode saber-se?
    Ab.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Quina!
      Bem haja pelas suas palavras, às quais me apetece responder, qual Sherlock Holmes: - “Rudimentar”, cara Quina!
      A minha base de pesquisa é isso mesmo, rudimentar! O que eu faço, como já deve ter percebido, é tentar encaixar o que vou descobrindo aqui e ali. Neste caso, como noutros, tem-me valido a “História de Portugal Restaurado”. No caso presente, servi-me também dos livros que indico no “post”: “Memórias históricas da antiguidade do Mosteiro de Leça, chamada do Balio” e “Nova História da Militar Ordem de Malta, e dos Senhores Grão Priores......”. Não desprezando algumas notas soltas que por vezes se encontram e servem para testar alguma veracidade das mesmas. E é tudo, assim a “internet” nos vá dando mais...

      Abraço,
      João Celorico

      Eliminar