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Vindo a dona
Silvana pelo corredor acima,
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tocando numa
viola, muito bem a retinia.
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Acordou seu
pai na cama pelo motim que fazia.
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--O que é
isso, ó Silvana? O que é isso, ó minha filha?
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--De três
irmãs que nós éramos, estão casadas, têm família,
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eu, por ser a
mais bonita, porque razão ficaria?
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--Já não há
gente nas cortes igual à tua valia.
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--`Inda está
o conde d` Elvas. --Está casado, tem família.
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--Mande-o
chamar, meu pai, da sua parte e da minha.
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`Inda agora
vim das cortes já me mandaram chamar!
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Não sei se
será por meu bem nem se será por meu mal.
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12
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--Quero que
mates a condessa p`ra casares co` a minha filha.
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--Como hei de
eu matar condessa se ela a morte não merecia?
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--Mata conde,
mata conde, não procures demasia.
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Quero que me
tragas a cabeça nesta dourada bacia.--
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Foi o conde
para casa todo cheio de agonia.
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Foram-lhe a
pôr de jantar nem um nem outro comia,
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as lágrimas
eram tantas que até os pratos enchia.
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--Conta
conde, conta conde, conta-me a tua agonia!
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--Se eu te
contara, condessa, de repente morrerias.
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Manda el-rei
que te mate p`ra casar co` a sua filha.
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Não me mates
com navalhas, nem com espada luzidia,
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mata-me com
uma toalha, na minha casa as havia.
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Deixa-me dar
um passeio da sala para a cozinha.
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Adeus,
criadas e criados, a quem eu tanto queria!
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Deixa-me dar
um passeio da sala para o jardim.
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Adeus cravos,
adeus rosas que tanto chorais por mim!
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Anda cá,
filho mais velho, que te quero ensinar,
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amanhã tendes
mãe nova, como lhe haveis de chamar.
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De joelhinho
em terra, com o chapeuzinho no ar.
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Anda cá,
filho do meio, que te quero ensinar,
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amanhã tendes
mãe nova, como lhe haveis de chamar.
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De joelhinho
em terra com o chapeuzinho no ar.
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Mama filho,
mama filho, este leite de paixão,
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amanhã por
estas horas está tua mãe no caixão.
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Mama filho,
mama filho, este leite de amargura,
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amanhã por
estas horas está tua mãe na sepultura.--
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Já tocam os
sinos das Côrtes! Ai Jesus! Quem morreria?
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Morreu a dona
Silvana pelas traições que fazia,
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desapartar os
bens casados coisa que Deus não queria.
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