AO DR. ANTÓNIO FORTE SALVADO
A minha póstuma homenagem
Na vida duma pessoa
há coisas que parecendo pequenas, atingem uma grandeza que só a própria pessoa
lhe pode dar!
Aconteceu que no ano
lectivo de 1959/60, no 2º ano do Curso Nocturno da Secção Preparatória aos
Institutos, me coube ter, como professor de Francês, um jovem alferes que a mim
e aos outros alunos da turma nos dava ideia duma pessoa pouco expansiva. Porventura
fruto da iminência de convocatória para uma missão no ultramar. Ao tempo seria
na Índia.
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Exercício de Francês, no dia 26/03/1960 (faz hoje, exactamente, 63 anos) |
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Dedicatória no livro OUTONO/OUTOÑO, lembrando os bons velhos tempos da "Marquês de Pombal" |
Bom professor, a
quem também os 6 alunos que éramos não lhe causariam problemas de maior.
E era nesta relação
aluno/professor, apenas de respeito mútuo e pouco expansiva que íamos vivendo.
Até que certo dia, eu mais um colega, resolvemos aproveitar um “furo”, para num
café/pastelaria, próximo da escola, passar os olhos por alguma matéria de
estudo. Enquanto ali estávamos, entrou o Dr. António Salvado que nos
cumprimentou, tomou ao balcão a sua “bica” e ao sair se despediu de nós.
A surpresa foi que
quando fomos pagar a nossa despesa, já ela tinha sido liquidada pelo Sr. Dr.
António Salvado. Esse gesto calou fundo e não mais esqueci!
O ano lectivo terminou e não mais tive notícia do Dr. António Salvado, até ao dia em que encontrei numa Feira do Livro, um livro que me chamou a atenção, devido ao seu autor. O título “Equador, Sul”. Adquiri-o e vi que se tratava duma homenagem a um militar que em Angola, morreu para salvar vários dos seus camaradas. O autor do livro, tinha vivido esse acontecimento.
Mais tarde, já anos
70, chamou-me a atenção um artigo no Diário de Notícias, secção de Artes e
Letras, onde se falava do trajecto e das qualidades poéticas de António
Salvado. Posteriormente, já em 2009, nas minhas buscas de documentação sobre a
terra onde nasci, Salvaterra do Extremo, nos Cadernos de Cultura sobre
“Medicina na Beira Interior, da pré-história até ao século XX”, encontrei o seu
nome e fiquei a saber que era beirão, tal como eu. Da surpresa, passei à
tentativa do contacto telefónico sendo recebido afavelmente e com algum
regozijo, o que muito me honrou. Daí resultou, após lhe enviar alguns
despretensiosos trabalhos poéticos, o seu incentivo para que os enviasse ao
Jornal Raiano.
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Simpáticas e amáveis palavras após o reatar do nosso conhecimento |
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A sua última oferta |
A partir daqui, na quadra de Natal, regularmente lhe enviei postais com poema da minha autoria e também, sempre amavelmente, me respondia com a sua amizade e algumas obras suas, o que me deixava imensamente grato e orgulhoso e que passaram a fazer parte do meu acervo, tal como a documentação desde o primeiro contacto. Ainda no passado Natal tal aconteceu e coisa que já andava no meu pensamento, resolvi elaborar algumas palavras e dar a conhecer, no meu blogue, o reviver duma relação aluno/professor, começada no já longínquo ano lectivo de 1959/60, na Escola Industrial Marquês de Pombal.
Infelizmente, não
fui muito rápido na elaboração desse texto e foi com pesar que assistindo a um
programa de televisão fui surpreendido com a notícia, em rodapé, do falecimento
do poeta albicastrense, António Salvado. Desaparecia alguém que fazia o favor
de ser meu amigo e que eu gostaria de lhe ter, algum dia, dito quanto o
admirava como pessoa, apesar do pouco tempo de contacto e lhe deixar o meu bem
haja!
Decerto ficará para
um dia! Por agora, fico a minha gratidão nesta póstuma homenagem!
Repouse em Paz!