
No dia 25 de Maio de 1914, na Sessão nº 100, do Senado da República, alguns deputados usaram da palavra para pedir auxílio à população de Salvaterra do Extremo, a passar por grandes dificuldades devido à tempestade que a atingiu. Curiosa a leitura duma exposição, vinda duma antiga funcionária da estação dos Correios.Aqui fica, transcrição de parte dessas declarações:
"O Sr. José de Castro : - eu estava nesta casa quando se recebeu um ofício e se mandava ao mesmo tempo uma representação na qual se descreviam, duma maneira bem sugestiva, os horrores porque está passando a povoação de Salvaterra do Extremo, em virtude dum tufão e duma tempestade que devastou completamente, não só as searas, vinhedos, mas inclusivamente, muitas casas de habitação daquela vila. Parece-me que a conclusão será pedir ao Govêrno que auxilie, com qualquer importância, ou com quaisquer serviços de beneficência, aquela gente, que é muito pobre.
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O Sr. Tasso de Figueiredo : - Sr. Presidente:. Em meu nome e em nome do Sr. Martins Cardoso, que comigo representa aqui o distrito de Castel Branco, deploro o desastre que assolou a freguesia de Salvaterra do Extremo.
Esta freguesia foi vítima no dia 8 do corrente duma trovoada, que devastou cearas, vinhedos e arvoredos.
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Eu pedia a V. Ex.ª que chamasse a atenção do Govêrno sôbre êste assunto, porque é indispensável que êle tome as providências que são precisas, e se faça um inquérito ao estado, em que ficou esta desgraçada gente, a fim de que se providencie de modo a não faltar o estritamente necessário a êsses povos.
É costume nesta ocasiões os povos serem aliviados de contribuições; embora isso represente algum benefício, acho-o contudo muito pequeno, e é minha opinião que mais alguma cousa se deve fazer, pois êsses povos precisam de dinheiro e são extremamente pobres.
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O Sr. Nunes da Mata: - Tratando-se dum acto de justiça, não é demais que eu junte a minha fraca voz a outras mais fortes.
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Os povos pois desta freguesia, alêm de merecerem a protecção do estado, neste momento de desolação e cataclismo, visto serem agricultores cuidadosos e solicitos nos seus rudes labores sôbre o seio da terra, são ao mesmo tempo bondosos e generosos, sempre prontos em acudir em auxílio aos seus visinhos necessitados. A êsse respeito, permita-me o Senado que eu faça a leitura de uma exposição escrita que me mandou a encarregada da estação telégrafo-postal de Parede, a qual durante três anos fez serviço na estação de Salvaterra do Extremo, e na qual exposição faz os mais honrosos elogios àqueles bondosos patriotas e altruistas povos.
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Também na Sessão da Câmara dos Deputados do dia seguinte, 26, vários deputados se pronunciam sobre o mesmo assunto. Como curiosidade, a intervenção do Presidente do Ministério e Ministro do Interior, Bernardino Machado que, no dia 6 de Agosto do ano seguinte seria eleito o 3º Presidente da República portuguesa.
"O Sr. Deputado Manuel Bravo ocupa-se, também, da situação em que se encontram os povos de Salvaterra do Estremo.../
O Sr. Deputado Joaquim Ribeiro pede providências para que sejam socorridos os povos de Salvaterra do Estremo e trata da importação do trigo estrangeiro. Responde-lhe o Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior ( Bernardino Machado ).
O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior ( Bernardino Machado ) :.../
Sr. Presidente: a catástrofe de Salvaterra do Estremo foi, efectivamente, um facto pungitivo para todos os portugueses, e eu, desde a primeira hora, logo que a notícia me chegou, telegrafei ao Sr. governador civil, confiando em que êle iria, pessoalmente, visitar os nossos conterrâneos que tinham sido vítimas dessa catástrofe e recomendando-lhe que se fizesse acompanhar pelo administrador do concelho, para que êle relatasse imediatamente tudo, e, principalmente, a situação daquela pobre gente, a fim do Govêrno lhe prestar a devida assistência.
Assim, creio que correspondo aos desejos do ilustre Deputado, que são também os meus: minorar, o mais possível, a situação aflitiva em que ficam os nossos conterrâneos de Salvaterra do Estremo.
Tenho dito."
E aqui está como, na Assembleia Nacional, se ia falando de Salvaterra ainda que os motivos não fossem os melhores! Terra de sofrimento constante. Ou guerra, ou fome, ou desmandos da Natureza!