terça-feira, 25 de maio de 2010

25 e 26 de Maio de 1914. Chegou à Assembleia Nacional a tempestade em Salvaterra!


No dia 25 de Maio de 1914, na Sessão nº 100, do Senado da República, alguns deputados usaram da palavra para pedir auxílio à população de Salvaterra do Extremo, a passar por grandes dificuldades devido à tempestade que a atingiu. Curiosa a leitura duma exposição, vinda duma antiga funcionária da estação dos Correios.Aqui fica, transcrição de parte dessas declarações:

"O Sr. José de Castro : - eu estava nesta casa quando se recebeu um ofício e se mandava ao mesmo tempo uma representação na qual se descreviam, duma maneira bem sugestiva, os horrores porque está passando a povoação de Salvaterra do Extremo, em virtude dum tufão e duma tempestade que devastou completamente, não só as searas, vinhedos, mas inclusivamente, muitas casas de habitação daquela vila. Parece-me que a conclusão será pedir ao Govêrno que auxilie, com qualquer importância, ou com quaisquer serviços de beneficência, aquela gente, que é muito pobre.
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O Sr. Tasso de Figueiredo : - Sr. Presidente:. Em meu nome e em nome do Sr. Martins Cardoso, que comigo representa aqui o distrito de Castel Branco, deploro o desastre que assolou a freguesia de Salvaterra do Extremo.
Esta freguesia foi vítima no dia 8 do corrente duma trovoada, que devastou cearas, vinhedos e arvoredos.
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Eu pedia a V. Ex.ª que chamasse a atenção do Govêrno sôbre êste assunto, porque é indispensável que êle tome as providências que são precisas, e se faça um inquérito ao estado, em que ficou esta desgraçada gente, a fim de que se providencie de modo a não faltar o estritamente necessário a êsses povos.
É costume nesta ocasiões os povos serem aliviados de contribuições; embora isso represente algum benefício, acho-o contudo muito pequeno, e é minha opinião que mais alguma cousa se deve fazer, pois êsses povos precisam de dinheiro e são extremamente pobres.
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O Sr. Nunes da Mata: - Tratando-se dum acto de justiça, não é demais que eu junte a minha fraca voz a outras mais fortes.
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Os povos pois desta freguesia, alêm de merecerem a protecção do estado, neste momento de desolação e cataclismo, visto serem agricultores cuidadosos e solicitos nos seus rudes labores sôbre o seio da terra, são ao mesmo tempo bondosos e generosos, sempre prontos em acudir em auxílio aos seus visinhos necessitados. A êsse respeito, permita-me o Senado que eu faça a leitura de uma exposição escrita que me mandou a encarregada da estação telégrafo-postal de Parede, a qual durante três anos fez serviço na estação de Salvaterra do Extremo, e na qual exposição faz os mais honrosos elogios àqueles bondosos patriotas e altruistas povos.
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Também na Sessão da Câmara dos Deputados do dia seguinte, 26, vários deputados se pronunciam sobre o mesmo assunto. Como curiosidade, a intervenção do Presidente do Ministério e Ministro do Interior, Bernardino Machado que, no dia 6 de Agosto do ano seguinte seria eleito o 3º Presidente da República portuguesa.


"O Sr. Deputado Manuel Bravo ocupa-se, também, da situação em que se encontram os povos de Salvaterra do Estremo.../
O Sr. Deputado Joaquim Ribeiro pede providências para que sejam socorridos os povos de Salvaterra do Estremo e trata da importação do trigo estrangeiro. Responde-lhe o Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior ( Bernardino Machado ).
O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior ( Bernardino Machado ) :.../
Sr. Presidente: a catástrofe de Salvaterra do Estremo foi, efectivamente, um facto pungitivo para todos os portugueses, e eu, desde a primeira hora, logo que a notícia me chegou, telegrafei ao Sr. governador civil, confiando em que êle iria, pessoalmente, visitar os nossos conterrâneos que tinham sido vítimas dessa catástrofe e recomendando-lhe que se fizesse acompanhar pelo administrador do concelho, para que êle relatasse imediatamente tudo, e, principalmente, a situação daquela pobre gente, a fim do Govêrno lhe prestar a devida assistência.
Assim, creio que correspondo aos desejos do ilustre Deputado, que são também os meus: minorar, o mais possível, a situação aflitiva em que ficam os nossos conterrâneos de Salvaterra do Estremo.
Tenho dito."


E aqui está como, na Assembleia Nacional, se ia falando de Salvaterra ainda que os motivos não fossem os melhores! Terra de sofrimento constante. Ou guerra, ou fome, ou desmandos da Natureza!

4 comentários:

  1. João,belos documentos nos vai colocando aqui,e que a maioris de nós nem sequer temos conhecimento.Vou ser um pouco abusadora e colocar-lhe aqui um Pdf(será que disse bem??)que talvês gostasse de coscuvilhar,trata-se de um documento extenso, sobre um instituto,situado na aldeia onde nasci.É interessante pode ser que goste,
    [PDF] DE COLÉGIO DE S. FIEL A REFORMATÓRIO (SÉCULOS XIX-XX). CONTRIBUTOS ...Formato do ficheiro: PDF/Adobe Acrobat - Visualização rápida
    relíquias do Mártir S. Fiel para a povoação do Louriçal do Campo. ...... Reformatório de S. Fiel (Louriçal do Campo – Castelo Branco) – sexo masculino; ...
    www.faced.ufu.br/colubhe06/.../72ErnestoCandeiasMartins.pdf - Semelhante
    Egas Moniz foi lá aluno!!!!
    boa leitura e um abraço
    Ana Bernardo

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  2. Olá, Ana!
    Não acho que seja abusadora mas, eu não sou tão "coscuvilheiro" assim!
    Gosto de História. Aliás, sempre gostei!
    Do Colégio de S. Fiel, o meu conhecimento vinha-me, talvez dos anos 60, duma equipa de futebol que aí existiria (será que ainda existe?) e eu acompanhava mais ou menos o que se passava no desporto de Castelo Branco.
    Do documento que me indicou, fiquei a saber que grande parte dos alunos desse Colégio era oriunda de outros distritos. Castelo Branco era um distrito de gente de poucas posses.
    Dos nomes referidos, há alguns realmente sonantes mas, é estranho que não seja enfatizado o facto do Hintze Ribeiro que, por 3 vezes, foi Primeiro Ministro de Portugal.
    Como o saber não ocupa lugar, bem haja pela sua indicação. Porém, o que me prende mais é tudo o que diga respeito a Salvaterra. É natural, penso eu!

    Abraço,
    João Celorico

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  3. Olá João eu disse"coscuvilheiro",no bom sentido da palavra!! pois o gosto pela História , e o querer saber mais e mais ,não será que se poderia aplicar esta palavrita??
    Quanto ao dedicar-se a Salvaterra, sua terra, acho muito bem tudo o que aqui espõe.
    Quanto ao documento que lhe enviei para ler foi um aparte,e um orgulhozito da minha muito, mas mesmo muito pequenina aldeia,(850 habitantes mais ou menos).
    Quanto á equipa de futebol, não sei informar.
    Um abraço um bom feriado.

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  4. Olá, Ana!
    Pois, eu entendi que o "coscuvilheiro" era no bom sentido. No mau sentido ninguém teria a "ousadia" de me chamar isso, lol!
    Mas, minha amiga, a sua aldeia só(!) tem 850 habitantes (mais ou menos)? Não me faça sentir pequenino. Então, ando eu aqui a pôr-me em "bicos de pés" e a pôr Salvaterra lá no alto e esta só deve ter cerca de 200 habitantes...
    As terras, são como as pessoas, não se medem aos palmos!
    Abraço e bem haja pelo votos de bom feriado, embora eu, agora, não saiba o que isso seja. Estou sempre em feriado mas, activo quanto possível.

    João Celorico

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